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sexta-feira, 8 de março de 2024

Meditações da Via Sacra no Coliseu 2014

Estamos aproximadamente na metade do Tempo da Quaresma deste ano de 2024. Assim, após propor as meditações da Via Sacra no Coliseu na Sexta-feira Santa de 2004, nesta postagem destacamos as meditações da Via Sacra presidida pelo Papa Francisco há 10 anos, na Sexta-feira Santa de 2014.

Para saber mais, confira nossas postagens sobre a Via Sacra e sobre a Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

As meditações foram preparadas por Dom Giancarlo Maria Bregantini, Arcebispo de Campobasso-Boiano, na região italiana de Molise (Arcebispo Emérito desde dezembro de 2023).

Como ilustrações, propomos a Via Sacra realizada por Giandomenico Tiepolo (ou Giovanni Domenico Tiepolo) entre 1747 e 1749 para a igreja de São Paulo em Veneza (Chiesa di San Polo).

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via Sacra no Coliseu presidida pelo Papa Francisco
Sexta-feira Santa, 18 de abril de 2014

Meditações de Dom Giancarlo Maria Bregantini
Arcebispo de Campobasso-Boiano:
«Rosto de Cristo, rosto do homem»

Canto inicial:
Adoramus te, Chiste, et benedicimus tibi,
quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. R. Amém.

«Aquele que viu, dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. E outra Escritura ainda diz: “Olharão para aquele que transpassaram”» (Jo 19,35-37).

Crucificação - Giandomenico Tiepolo
(Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam)

Amável Jesus, subistes ao Gólgota sem hesitar, obrigação de amor, e vos deixastes crucificar sem lamento. Humilde Filho de Maria, tomastes o peso da nossa noite para nos mostrar com quanta luz quereis dilatar-nos o coração. Nas vossas dores, está a nossa redenção, nas vossas lágrimas se desenha «a Hora» da revelação do Amor gratuito de Deus. Sete vezes perdoados, nos vossos últimos suspiros de Homem entre os homens, a todos nos levais de volta ao coração do Pai, para nos indicar, nas vossas últimas palavras, o caminho da redenção para toda a nossa dor. Vós, o Todo Encarnado, vos aniquilais na Cruz, compreendido apenas por aquela, a Mãe, que fielmente «estava» ao pé daquele patíbulo. A vossa sede é fonte de esperança sempre acesa, mão estendida mesmo para o malfeitor arrependido, que hoje, graças a Vós, doce Jesus, entra no paraíso. A todos nós, Senhor Jesus Crucificado, concedei a vossa infinita Misericórdia, perfume de Betânia sobre o mundo, gemido de vida para a humanidade. E no fim, abandonados nas mãos do vosso Pai, abri-nos a porta da Vida que não morre. Amém.

I Estação: Jesus condenado à morte
O dedo em riste que acusa

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,21-25)
Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-o! Crucifica-o!”. E Pilatos falou pela terceira vez: “Que mal fez este homem? Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei”. Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles aumentava sempre mais. Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam - aquele que fora preso por revolta e homicídio - e entregou Jesus à vontade deles.


Um Pilatos amedrontado que não procura a verdade, o dedo em riste que acusa e o clamor crescente da multidão enfurecida são os primeiros passos do morrer de Jesus. Inocente, como um cordeiro, cujo sangue salva o seu povo. Aquele Jesus que passou pelo meio de nós, curando e abençoando, agora é condenado à pena capital. Nenhuma palavra de agradecimento da multidão, que, em vez d’Ele, escolhe Barrabás. Para Pilatos, torna-se um caso embaraçoso. Abandona-o à multidão e lava as mãos, todo apegado ao seu poder. Entrega-o para ser crucificado. Não quer mais saber d’Ele para nada. Para ele, o caso está encerrado.
A condenação apressada de Jesus reúne assim as acusações fáceis, os juízos superficiais entre o povo, as insinuações e os preconceitos que fecham o coração e se tornam cultura racista, de exclusão e de descarte, juntamente com as cartas anônimas e as calúnias horríveis. Acusados, imediatamente são atirados para a primeira página; declarados inocentes, acaba-se na última!
E nós? Saberemos ter uma consciência reta e responsável, transparente, que nunca volte as costas ao inocente, mas se posicione, com coragem, em defesa dos fracos, resistindo à injustiça e defendendo em todo o lado a verdade violada?

Oração
Senhor Jesus, há mãos que dão apoio e há mãos que assinam sentenças injustas. Fazei que, sustentados pela vossa graça, não descartemos ninguém. Defendei-nos das calúnias e da mentira. Ajudai-nos a procurar sempre a verdade e a estar da parte dos fracos, capazes de acompanhar o seu caminho. E dai a vossa luz a quem deve, por missão, julgar em tribunal, para que pronuncie sempre sentenças justas e verdadeiras. Amém.

Pai nosso...


II Estação: Jesus é carregado com a Cruz
O madeiro pesado da crise

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Da Primeira Carta de São Pedro (1Pd 2,24-25)
Sobre a cruz, [Jesus] carregou nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao Pastor e Guarda de vossas vidas.


Aquele madeiro da cruz pesa, porque nele Jesus leva os pecados de todos nós. Cambaleia sob aquele peso, grande demais para um homem só (Jo 19,17).
Nele está também o peso de todas as injustiças que produziram a crise econômica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego, demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira, suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam os países.
Esta é a cruz pesada do mundo do trabalho, a injustiça colocada sobre os ombros dos trabalhadores. Jesus toma-a sobre os seus ombros e ensina-nos a viver, não mais na injustiça, mas capazes, com sua ajuda, de criar pontes de solidariedade e esperança, para não sermos ovelhas errantes nem extraviadas nesta crise.
Portanto voltemos para Cristo, Pastor e Guarda das nossas almas. Lutemos juntos pelo trabalho na reciprocidade, vencendo o medo e o isolamento, recuperando a estima pela política e procurando juntos a saída para os problemas.
Então, a cruz se tornará mais leve, se levada com Jesus e sustentada conjuntamente por todos, porque «pelas suas feridas - transformadas em frestas - fomos curados» (1Pd 2,24).

Oração
Senhor Jesus, a nossa noite é cada vez mais densa! A pobreza assume o aspecto da miséria. Não temos pão para dar aos filhos e as nossas redes estão vazias. O nosso futuro é incerto. Provede ao trabalho que falta. Suscitai em nós o ardor pela justiça, para que não levemos uma vida arrastada, mas vivida com dignidade! Amém.

Pai nosso...

Cuius ánimam geméntem, / contristátam et doléntem, / pertransívit gládius.

III Estação: Jesus cai pela primeira vez
A fragilidade que nos abre ao acolhimento

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro do Profeta Isaías (Is 53,4-5)
A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura.


É um Jesus frágil, humaníssimo, Aquele que contemplamos, maravilhados, nesta estação de grande sofrimento. Precisamente esta sua queda, no pó, revela-nos ainda mais o seu amor imenso. É empurrado pela multidão, atordoado pelos gritos dos soldados, sofre a ardência das chagas da flagelação, cheio de amargura interior pela imensa ingratidão humana. E cai. Cai por terra.
Mas nesta queda, cedendo ao peso e à fadiga, uma vez mais Jesus faz-se Mestre de vida. Ensina-nos a aceitar as nossas fragilidades, a não desanimar com os nossos fracassos, a reconhecer com lealdade as nossas limitações: «Tenho capacidade de querer o bem, mas não de realizá-lo», diz São Paulo (Rm 7,18).
Com esta força interior, que lhe vem do Pai, Jesus ajuda-nos a acolher também as fragilidades dos outros; a não atacar quem está caído, a não ficar indiferente perante os que caem. E dá-nos a força para não fechar a porta a quem bate às nossas casas, pedindo asilo, dignidade e pátria. Cientes da nossa fragilidade, acolheremos no nosso meio a fragilidade dos migrantes, para que encontrem apoio e esperança.
De fato, é na água suja da bacia do Cenáculo, isto é, na nossa fraqueza, que se reflete o verdadeiro rosto do nosso Deus! Por isso, «todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne mortal é de Deus» (1Jo 4,2).

Oração
Senhor Jesus, que vos fizestes humilde para resgatar as nossas fragilidades, tornai-nos capazes de entrar em verdadeira comunhão com os nossos irmãos mais pobres. Arrancai do nosso coração toda a raiz de medo e de cômoda indiferença, que nos impede de vos reconhecer nos migrantes, para testemunhar que a vossa Igreja é sem fronteiras, verdadeira mãe de todos! Amém.

Pai nosso...

O quam tristis et afflícta / fuit illa benedícta / Mater Unigéniti!

IV Estação: Jesus encontra a Mãe
As lágrimas solidárias

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 2,34-35)
Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. (...) Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.
Da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 12,15-16)
“Chorai com os que choram. Mantende um bom entendimento uns com os outros”.


Carregado de emoção e de lágrimas pungentes é este encontro de Jesus com sua Mãe, Maria. Exprime-se nele a força invencível do amor materno, que supera todo o obstáculo e sabe abrir qualquer estrada. Mas ainda mais vivo é o olhar solidário de Maria, que se solidariza e dá força ao Filho. Assim o nosso coração enche-se de maravilha, ao contemplar a grandeza de Maria precisamente no fato de, sendo ela criatura, se fazer o «próximo» do seu Deus e Senhor.
Nas suas lágrimas reúnem-se todas as lágrimas de cada mãe pelos seus filhos distantes, pelos jovens condenados à morte, trucidados ou enviados à guerra, especialmente as crianças-soldado. Aqui ouvimos o lamento desolador das mães pelos seus filhos, que morrem por causa dos tumores produzidos pela incineração dos resíduos tóxicos.
Lágrimas amarguíssimas! Partilha solidária da angústia dos filhos! Mães de vigia na noite, com as lâmpadas acesas, temendo pelos jovens vítimas da precariedade ou engolidos pela droga e pelo álcool, especialmente nas noites de sábado.
Ao redor de Maria, nunca seremos um povo órfão! Também a nós, como a São Juan Diego, Maria oferece a carícia da sua consolação materna e diz-nos: «Não se perturbe o teu coração. (...) Não estou eu aqui, que sou tua Mãe?» (Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 286).

Oração
Ave, minha Mãe, dá-me a tua santa bênção. Abençoa-me, a mim e a toda a minha casa. Digna-te oferecer a Deus tudo o que hoje tenho de fazer e sofrer, em união com os teus méritos e os do teu santíssimo Filho. Eu te ofereço tudo o que sou e dedico tudo o que tenho ao teu serviço, colocando-me completamente sob o teu manto. Alcança-me, ó minha Senhora, pureza de mente e de corpo e faz que, neste dia, nada faça que possa desagradar a Deus. Peço-te pela tua Imaculada Conceição e pela tua ilibada virgindade. Amém (São Gaspar Bertoni).

Pai nosso...

Quae maerébat et dolébat / pia Mater, cum vidébat / Nati poenas íncliti.

V Estação: Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a Cruz
A mão amiga que levanta

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,21)
Os soldados obrigaram certo Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, que voltava do campo, a carregar a cruz.


Simão de Cirene passa por acaso. Mas torna-se um encontro decisivo na sua vida. Voltava dos campos. Homem de fadiga e de vigor. Por isso, foi forçado a levar a cruz de Jesus, condenado a uma morte infame (cf. Fl 2,8).
Mas, aquele encontro se transformará, de casual, em um decisivo e vital seguimento atrás de Jesus, carregando dia a dia a sua cruz, renegando-se a si mesmo (cf. Mt 16,24-25). Com efeito, Simão é recordado por Marcos como o pai de dois cristãos conhecidos na comunidade de Roma: Alexandre e Rufo. Um pai que, de certeza, imprimiu no coração dos filhos a força da cruz de Jesus. É que a vida, se a guardas demasiado para ti, torna-se bolorenta e árida. Mas, se a ofereces, floresce tornando-se espiga de trigo para ti e para toda a comunidade.
Aqui está a verdadeira cura do nosso egoísmo, sempre à espreita. A relação com os outros nos cura e gera uma fraternidade mística, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe suportar as moléstias da existência, agarrando-se ao amor de Deus. Só abrindo o coração ao amor divino sou impelido a procurar a felicidade dos outros nos variados gestos de voluntariado: uma noite no hospital, um empréstimo sem juros, uma lágrima enxugada em família, a gratuidade sincera, o compromisso clarividente do bem comum, a partilha do pão e do trabalho, vencendo toda e qualquer forma de ciúmes e de inveja.
É o próprio Jesus que no-lo recorda: «Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a Mim que o fizestes!» (Mt 25,40).

Oração
Senhor Jesus, no amigo Cireneu vibra o coração da vossa Igreja, que se fez teto de amor para quantos têm sede de Vós. A ajuda fraterna é a chave para cruzarmos, juntos, a porta da Vida. Não permitais que o nosso egoísmo nos faça passar ao largo, mas ajudai-nos a derramar o óleo da consolação nas feridas alheias, para nos tornarmos companheiros de estrada leais, sem fugas e sem nunca nos cansarmos de optar pela fraternidade. Amém.

Pai nosso...

Quis est homo qui non fleret, / Matrem Christi si vidéret / in tanto supplício?

VI Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus
A ternura feminina

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro dos Salmos (Sl 26,8-9)
Meu coração fala convosco confiante, e os meus olhos vos procuram. Senhor, é vossa face que eu procuro; não me escondais a vossa face!
Não afasteis em vossa ira o vosso servo, sois vós o meu auxílio! Não me esqueçais nem me deixeis abandonado, meu Deus e Salvador!


Jesus vai se arrastando com dificuldade, ofegante. Mas a luz no seu rosto permanece intacta. Não há ofensa que possa sobrepor-se à sua beleza. Os escarros não a obscureceram. As bofetadas não conseguiram apagá-la. Aquele rosto apresenta-se como uma sarça ardente: quanto mais é ultrajado, mais consegue emanar uma luz de salvação. Caem lágrimas silenciosas dos olhos do Mestre. Carrega o peso do abandono. E, no entanto, Jesus avança, não para, não volta atrás. Enfrenta a opressão. Perturba-o a crueldade, mas Ele sabe que o seu morrer não será em vão.
Jesus então para diante de uma mulher que vem ao seu encontro, sem qualquer hesitação. É a Verônica, verdadeira imagem feminina da ternura.
Aqui o Senhor encarna a nossa necessidade de amorosa gratuidade, de nos sentirmos amados e protegidos por gestos de carinho e cuidado. As carícias desta criatura ficam banhadas pelo sangue precioso de Jesus e parecem cancelar os atos de profanação que Ele recebeu naquelas horas de tortura. A Verônica consegue tocar o doce Jesus, roçar a sua candura. Não só para aliviar, mas também para participar no seu sofrimento. Em Jesus, reconhece todo o próximo que deve consolar com um toque de ternura, querendo chegar aos gemidos de dor de quantos, hoje, não recebem assistência nem calor de compaixão. E morrem de solidão.

Oração
Senhor Jesus, como pesa o afastamento de quem julgávamos estar ao nosso lado nos dias da desolação! Mas, Vós, envolvei-nos com aquele pano que traz impresso o vosso sangue precioso, derramado ao longo do caminho do abandono, que, também Vós, sofrestes injustamente. Sem Vós, não temos nem podemos dar qualquer alívio. Amém.

Pai nosso...

Quis non posset contristári, / Christi Matrem contemplári, / doléntem cum Filio?

VII Estação: Jesus cai pela segunda vez
A angústia da prisão e da tortura

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro dos Salmos (Sl 117,11.12-13.18)
Eles me cercaram... Como um enxame de abelhas me atacaram, como um fogo de espinhos me queimaram, mas em nome do Senhor os derrotei.
Empurraram-me, tentando derrubar-me, mas veio o Senhor em meu socorro.
O Senhor severamente me provou, mas não me abandonou às mãos da morte.


Em Jesus cumprem-se verdadeiramente as antigas profecias do Servo humilde e obediente, que toma sobre os seus ombros toda a nossa história de sofrimento. E assim Jesus, empurrado para a frente à força, cai sob a fadiga e a opressão, rodeado, circundado pela violência, já sem forças. Cada vez mais só, sempre mais nas trevas. Dilacerado na carne, debilitado nos ossos.
N’Ele reconhecemos a amarga experiência dos encarcerados de cada prisão, com todas as suas desumanas contradições. Rodeados e cercados, «empurrados violentamente para cair». Hoje, a prisão continua a ser demasiado distante, esquecida, repudiada pela sociedade civil. Existem os absurdos da burocracia, a lentidão da justiça. Dupla pena é ainda a superlotação: é um sofrimento agravado, uma opressão injusta, que consome a carne e os ossos. Alguns - demasiados! - não conseguem resistir... E mesmo quando um irmão nosso sai, ainda o consideramos um «ex-presidiário», fechando-lhe deste modo as portas do resgate social e laboral.
Mais grave, porém, é a prática da tortura, infelizmente ainda espalhada em várias partes da terra e sob variadas formas. Tal como sucedeu com Jesus: também Ele foi espancado, humilhado pelos soldados, torturado com a coroa de espinhos, flagelado cruelmente.
Hoje, à vista desta queda, como sentimos verdadeiras as palavras de Jesus: «Eu estava na prisão e fostes me visitar» (Mt 25,36). Em cada prisão, junto de cada torturado, está sempre Ele, o Cristo sofredor, preso e torturado. Quando provados, mesmo duramente, é Ele o nosso auxílio, para não se apoderar de nós o pavor. Só juntos nos levantamos, acompanhados por válidos agentes sociais, apoiados pela mão fraterna dos voluntários e erguidos por uma sociedade civil que faz suas as inúmeras injustiças dentro dos muros de uma prisão.

Oração
Senhor Jesus, uma comoção sem fim se apodera de mim ao ver-vos caído no chão por mim. Nenhum mérito tenho, só uma multidão de pecados, incoerências, fragilidades. Por resposta, um grande Amor de predileção! Expulsos da sociedade, mortos pelo julgamento, Vós nos abençoastes para sempre. Felizes de nós, se hoje estamos contigo, aqui no chão, resgatados da condenação. Concedei-nos que não fujamos das nossas responsabilidades; dai-nos a graça de habitar na vossa humilhação, a salvo de qualquer pretensão de onipotência, para renascer para uma vida nova como criaturas feitas para o Céu. Amém.

Pai nosso...

Pro peccátis suae gentis / vidit Iesum in torméntis / et flagéllis súbditum.

VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
Partilha e não comiseração

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,28)
“Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!”.


Como tochas acesas, aparecem as figuras femininas ao longo da via dolorosa. Mulheres de fidelidade e coragem, que não se deixam intimidar pelos guardas nem escandalizar pelas chagas do Bom Mestre. Estão prontas a encontrá-lo e a consolá-lo. Jesus está ali na frente delas. Há quem o espezinhe no momento em que cai por terra exausto. Mas as mulheres estão ali, prontas a oferecer-lhe aquele palpitar caloroso que o coração já não consegue conter. Primeiro, olham-no de longe, mas depois aproximam-se d’Ele como faz todo o amigo, todo o irmão ou irmã, quando percebe a dificuldade que vive a pessoa amada.
Jesus é sensível às suas lágrimas amargas, mas exorta-as a não consumirem o coração vendo-o assim maltratado, a não serem mais mulheres lacrimantes, mas crentes! Pede uma dor compartilhada e não uma comiseração estéril e lacrimosa. Não mais lamentações, mas vontade de renascer, olhar em frente, avançar com fé e esperança para aquela aurora de luz que surgirá ainda mais deslumbrante sobre a cabeça de quantos caminham rumo a Deus. Choremos sobre nós mesmos, se ainda não acreditamos naquele Jesus que nos anunciou o Reino da salvação. Choremos pelos nossos pecados não confessados.
Mais, choremos por aqueles homens que descarregam sobre as mulheres a violência que têm dentro. Choremos pelas mulheres escravizadas pelo medo e a exploração. Mas não basta bater no peito e sentir comiseração. Jesus é mais exigente. As mulheres devem ser tranquilizadas como Ele fez, devem ser amadas como um dom inviolável para toda a humanidade. Para o crescimento dos nossos filhos, em dignidade e esperança.

Oração
Senhor Jesus, detém a mão de quem espanca as mulheres! Levanta o coração delas do abismo do desespero quando se tornam presa de violência. Visita o seu choro, quando se encontram sozinhas. E abre o nosso coração à partilha de cada dor, com sinceridade e fidelidade, ultrapassando a compaixão natural, para nos tornarmos instrumentos de verdadeira libertação. Amém.

Pai nosso...

Eia, mater, fons amóris, / me sentíre vim dolóris / fac, ut tecum lúgeam.

IX Estação: Jesus cai pela terceira vez
Vencer a má nostalgia

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8,35.37)
“Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? (...) Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou!”.


São Paulo enumera as suas provações, mas sabe que, antes dele, Jesus passou por elas, o qual, no caminho para o Gólgota, cai uma, duas, três vezes. Destroçado pelas tribulações, a perseguição, a espada, oprimido pelo madeiro da cruz. Exausto! Parece dizer, como nós em muitos momentos sombrios: Não aguento mais!
É o grito dos perseguidos, dos moribundos, dos doentes terminais, dos oprimidos sob o jugo.
Mas, em Jesus, é visível também sua força: «Embora [Deus] aflija, tem compaixão» (Lm 3,32). Indica-nos que, na aflição, há sempre a sua consolação, um “mais além” a vislumbrar na esperança. Como se faz na poda das árvores, com igual sabedoria procede o Pai Celeste precisamente com os ramos que produzem fruto (cf. Jo 15,8). Nunca o faz pela amputação em si, mas sempre em prol de um reflorescimento. Como uma mãe, quando chega a sua hora: está aflita, geme, sofre no parto. Mas sabe que são as dores do parto de uma vida nova, da primavera em flor, precisamente como na referida poda.
A contemplação de Jesus, caído, mas capaz de levantar-se, nos ajude a saber vencer os isolamentos que o medo do amanhã imprime no nosso coração, sobretudo neste tempo de crise. Superemos a má nostalgia do passado, a comodidade do imobilismo, do «sempre se fez assim»! Aquele Jesus que cambaleia e cai, mas depois se levanta, é a certeza de uma esperança que, nutrida pela oração intensa, nasce precisamente dentro da provação e não depois da provação nem sem a provação. Seremos mais do que vencedores, graças ao seu amor.

Oração
Senhor Jesus, nós vos pedimos, erguei do pó o miserável, levantai os pobres da miséria, fazei-os sentar com os chefes do povo e atribuí-lhes um trono de glória. Quebrai o arco dos fortes e revesti de vigor os fracos, porque só Vós nos fazeis ricos precisamente com a vossa pobreza. Amém (cf. 1Sm 2,4-8; 2Cor 8,9).

Pai nosso...

Fac ut árdeat cor meum / in amándo Christum Deum, / ut sibi compláceam.

X Estação: Jesus é despojado das vestes
A unidade e a dignidade

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,23-24)
Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. Disseram então entre si: “Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será”. Assim se cumpria a Escritura que diz: “Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica”.


Nem sequer um pedaço de pano deixaram a cobrir o corpo de Jesus. Desnudaram-no. Não tinha manto nem túnica, não tinha veste alguma. Desnudaram-no como ato de extrema humilhação. Só o cobria o sangue, que brotava das suas inúmeras feridas.
A túnica fica intacta: símbolo da unidade da Igreja, uma unidade a ser reencontrada em um caminho paciente, em uma paz artesanal, construída cada dia, em um tecido composto com os fios de ouro da fraternidade, na reconciliação e no perdão recíproco.
Em Jesus inocente, desnudado e torturado, reconhecemos a dignidade violada de todos os inocentes, especialmente dos humildes. Deus não impediu que o seu corpo, nu, fosse exposto na cruz. Fê-lo para resgatar todo o abuso, injustamente coberto, e demonstrar que Ele, Deus, está irrevogavelmente e sem meios termos da parte das vítimas.

Oração
Senhor Jesus, queremos voltar a ser inocentes como crianças, para podermos entrar no Reino dos céus, purificados das nossas imundícies e dos nossos ídolos. Tirai do nosso peito o coração de pedra das divisões, que tornam pouco credível a vossa Igreja. Dai-nos um coração novo e um espírito novo, para vivermos segundo os vossos preceitos e observarmos e pormos em prática as vossas leis. Amém.

Pai nosso...

Sancta Mater, istud agas, / Crucifíxi fige plagas / cordi meo válide.

XI Estação: Jesus é pregado na Cruz
No leito dos doentes

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,24-28)
Então o crucificaram e repartiram as suas roupas, tirando a sorte, para ver que parte caberia a cada um. Eram nove horas da manhã quando o crucificaram. E ali estava uma inscrição com o motivo de sua condenação: “O Rei dos Judeus”. Com Jesus foram crucificados dois ladrões, um à direita e outro à esquerda. Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: “Foi contado entre os malfeitores”.


E crucificaram-no! A punição dos infames, dos traidores, dos escravos rebeldes. Esta é a condenação reservada a Jesus, nosso Senhor: cravos ásperos, dores pungentes, a angústia da Mãe, a vergonha de ser agregado a dois bandidos, as vestes divididas como despojo entre os soldados, as zombarias cruéis dos transeuntes: « A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! (...) Desça agora da cruz, e acreditaremos» (Mt 27,42).
E crucificaram-no! Jesus não desce, não abandona a cruz. Permanece, profundamente obediente à vontade do Pai. Ama e perdoa.
Também hoje, como Jesus, muitos dos nossos irmãos e irmãs estão cravados em um leito de sofrimento, nos hospitais, nas casas de repouso, nas nossas famílias. É o tempo da provação, com dias amargos de solidão e mesmo de desespero: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27,46).
A nossa mão nunca se levante para transpassar, mas sempre para aproximar, consolar e acompanhar os doentes, levantando-os do seu leito de sofrimento. A doença não pede licença. Chega sempre inesperada. Às vezes transtorna, limita os horizontes, põe à dura prova a esperança. Amargo é o seu fel. Só se encontrarmos junto de nós alguém que nos ouça, esteja ao nosso lado, se sente no nosso leito, só então a doença pode tornar-se uma grande escola de sabedoria, encontro com o Deus Paciente. Quando alguém toma sobre si as nossas enfermidades, por amor, a própria noite do sofrimento abre-se à luz pascal de Cristo Crucificado e Ressuscitado. E aquilo que humanamente é uma condenação, pode transformar-se em uma oblação redentora, para bem das nossas comunidade e famílias. A exemplo dos Santos.

Oração
Senhor Jesus, não estejais longe de mim, sentai-vos no meu leito de sofrimento e fazei-me companhia. Não me deixeis sozinho, estendei a vossa mão e erguei-me. Eu creio que Vós sois o Amor, e creio que a vossa vontade é a expressão do vosso Amor; por isso me entrego à vossa vontade, pois confio no vosso Amor. Amém.

Pai nosso...

Tui Nati vulneráti, / tam dignáti pro me pati, / poenas mecum dívide.

XII Estação: Jesus morre na Cruz
O gemido das sete palavras

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,28-30)
Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse: “Tenho sede”. Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. Ele tomou o vinagre e disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.


As sete palavras de Jesus na cruz são uma obra-prima de esperança. Jesus, lentamente, com passos que também são os nossos, atravessa toda a escuridão da noite, para abandonar-se, confiadamente, nos braços do Pai. É o gemido dos moribundos, o grito dos desesperados, a prece dos falidos. É Jesus!
«Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27,46). É o grito de Jó, de todo o homem atingido pela desventura. E Deus cala-se. Cala-se, porque a sua resposta está ali, na cruz: é Ele, Jesus, a resposta de Deus, Palavra eterna encarnada por amor.
«Lembra-te de mim...» (Lc 23,42). A prece fraterna do malfeitor, feito companheiro de dor, penetra no coração de Jesus, que nela sente o eco da sua própria dor. E Jesus ouve aquela súplica: «Hoje estarás comigo no Paraíso». Sempre redime a dor do outro, porque faz-nos sair de nós mesmos.
«Mulher, eis aí o teu filho!» (Jo 19, 6). Trata-se de sua Mãe, Maria, que se encontrava, juntamente com João, ao pé da cruz, para afastar o pavor. Enche-o de ternura e de esperança. Jesus já não se sente sozinho. Como sucede conosco, quando, junto ao leito do sofrimento, temos quem nos ame! Fielmente. Até ao fim.
«Tenho sede» (Jo 19,28). Como a criança pede de beber à mãe; como faz o doente ardendo de febre... A de Jesus é a sede de todos os sedentos de vida, de liberdade, de justiça. E é a sede do maior sedento - Deus -, o qual, infinitamente mais do que nós, tem sede da nossa salvação.
«Está consumado!» (Jo 19,30). Tudo: cada palavra, cada gesto, cada profecia, cada instante da vida de Jesus. A tapeçaria está completa. As mil e uma cores do amor agora reluzem de beleza. Nada se perdeu. Nada foi desperdiçado. Tudo se tornou amor. Tudo consumado para mim e para ti! E, então, o próprio morrer tem um sentido.
«Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem» (Lc 23,34). Agora, heroicamente, Jesus sai do pavor da morte. Porque, se vivemos no amor gratuito, tudo é vida. O perdão renova, cura, transforma e consola! Cria um povo novo. Põe fim às guerras.
«Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46). Já não há o desespero do nada. Mas confiança plena nas suas mãos de Pai, reclinando-se no seu coração. Porque, em Deus, cada fração se compõe, finalmente, em unidade!

Oração
Ó Deus, que, na Paixão de Cristo, nosso Senhor, nos libertastes da morte, legado do antigo pecado transmitido a todo o gênero humano, renovai-nos à imagem do vosso Filho; e, assim como levamos em nós, pelo nosso nascimento, a imagem do homem terrestre, assim também, pela ação do vosso Espírito, fazei que levemos a imagem do homem celeste. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Pai nosso...

Vidit suum dulcem Natum / moriéntem desolátum, / cum emísit spíritum.

XIII Estação: O corpo de Jesus é descido da Cruz
O amor é mais forte do que a morte

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,57-58)
Ao entardecer, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Ele foi procurar Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe entregassem o corpo.


Antes de ser posto na tumba, Jesus é entregue finalmente à sua Mãe. É o ícone de um coração destroçado, que nos diz como a morte não impede o último beijo da mãe a seu filho. Prostrada ante o corpo de Jesus, Maria se une a Ele em um abraço total. Este ícone se chama simplesmente «Pietà», «Piedade». É doloroso, mas demonstra que a morte não quebra o amor. Porque o amor é mais forte do que a morte (cf. Ct 8,6). O amor puro é duradouro. Chegou a tarde. A batalha está vencida. O amor não foi vencido. Quem está disposto a sacrificar sua vida por Cristo, a encontrará. Transfigurada mais além da morte.
Nesta trágica entrega, se mesclam lágrimas e sangue. Como na vida de nossas famílias, atribuladas as vezes por perdas imprevistas e dolorosas, criando um vazio insuperável, sobretudo quando morre uma criança.
«Piedade», então, significa fazer-se próximos dos irmãos em luto e que não se resignam. É uma caridade muito grande cuidar de quem está sofrendo no corpo chagado, na mente deprimida, no ânimo desesperado. Amar até o fim é o supremo ensinamento que nos deixaram Jesus e Maria. E a missão fraterna diária de consolo, que se nos entrega neste abraço fiel entre Jesus morto e sua Mãe Dolorosa.

Oração
Ó Virgem das Dores, que em nossos santuários nos mostras teu rosto de luz, enquanto com os olhos para o céu e as mãos abertas ofereces ao Pai um sinal de oferenda sacerdotal, a vítima redentora de teu Filho Jesus. Mostra-nos a doçura do último fiel abraço e dá-nos teu maternal consolo, para que a dor quotidiana nunca apague a esperança de vida mais além da morte. Amém.

Pai nosso...

Fac me vere tecum flere, / Crucifíxo condolére, / donec ego víxero.

XIV Estação: O corpo de Jesus é depositado no sepulcro
O jardim novo

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,41-42)
No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (...) foi ali que colocaram Jesus.


Aquele jardim no qual se encontra o túmulo onde Jesus é sepultado, lembra outro jardim: o do Éden. Um jardim que, por causa da desobediência, perdeu a sua beleza e tornou-se uma desolação, lugar de morte e já não de vida.
Os ramos selvagens que nos impedem de respirar a vontade de Deus, como o apego ao dinheiro, à soberba, ao desperdício da vida, devem ser cortados e enxertados agora no madeiro da Cruz. É este o novo jardim: a cruz plantada na terra!
Agora, lá de cima, Jesus poderá voltar a trazer tudo à vida. Uma vez regressado dos abismos infernais, onde Satanás encerrou um grande número de almas, terá início a renovação de todas as coisas. Aquele sepulcro representa o fim do homem velho. E também para nós, como fez para Jesus, Deus não permitiu que os seus filhos fossem castigados pela morte definitiva.
Na morte de Cristo, ruíram todos os tronos do mal, fundados sobre a ganância e a dureza do coração. A morte desarma-nos, faz-nos compreender que estamos sujeitos a uma existência terrena que tem um fim. Mas é diante daquele corpo de Jesus, depositado no sepulcro, que tomamos consciência de quem somos: criaturas que, para não morrer, precisam do seu Criador.
O silêncio que envolve aquele jardim permite-nos ouvir o sussurro de uma brisa suave: «Eu sou o Vivente, e estou convosco» (cf. Ex 3,14). O véu do templo rasgou-se. Finalmente vemos o rosto de nosso Senhor. E conhecemos em plenitude o seu nome: misericórdia e fidelidade, para nunca mais ficarmos confundidos, nem mesmo diante da morte, porque o Filho de Deus caminha livre no meio dos mortos (cf. Sl 87,6 Vulgata).

Oração
Protegei-me, ó Deus, em vós me refugio! Vós sois a minha parte na herança e o meu cálice, nas vossas mãos está a minha vida. Tenho-vos sempre diante dos olhos, como meu Senhor, estais à minha direita, não poderei vacilar. Por isso, se alegra o meu coração e exulta a minha alma, e também o meu corpo repousa em segurança. Não abandoneis a minha vida na morada dos mortos nem deixeis que o vosso servo conheça a sepultura. Mostra-me o caminho da vida, alegria plena na vossa presença, doçura sem fim à vossa direita. Amém (cf. Sl 15).

Pai nosso...

Quando corpus moriétur / fac ut ánimae donétur / paradísi glória. Amen.


Bênção Apostólica / Canto final: Crux fidelis

Papa Francisco e Dom Dom Giancarlo Bregantini, autor das meditações

Fonte: Santa Sé / Imagens: Wikimedia Commons.

Confira outros modelos de meditações em nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

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