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sexta-feira, 4 de março de 2022

Via Sacra: Meditações do Cardeal Ângelo Comastri

Há um ano, na primeira sexta-feira da Quaresma de 2021, publicamos aqui em nosso blog as meditações do Cardeal Camillo Ruini, Vigário Geral Emérito da Diocese de Roma, para a Via Sacra presidida pelo Papa Bento XVI na Sexta-feira Santa de 2010.

Para acessar nossa postagem sobre a história e a espiritualidade da Via Sacra, clique aqui.

Neste ano de 2022 gostaríamos de aproveitar a ocasião para honrar o Cardeal Ângelo Comastri, homem de uma profunda espiritualidade, Vigário Geral da Cidade do Vaticano e Arcipreste da Basílica de São Pedro de 2005 a 2021.


As meditações e orações de Dom Ângelo Comastri (que seria criado Cardeal no ano seguinte) acompanharam a primeira Via Sacra do pontificado do Papa Bento XVI, no dia 14 de abril de 2006:

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via-Sacra no Coliseu presidida pelo Santo Padre Bento XVI
Sexta-feira Santa, 14 de abril de 2006
Meditações e orações de Dom Ângelo Comastri

Apresentação
Duas palavras para te acompanhar no caminho:
Ao percorrer o «Caminho da Cruz», se nos impõem duas certezas: a certeza do poder devastador do pecado e a certeza do poder regenerativo do Amor de Deus.
O poder devastador do pecado: a Bíblia não se cansa de repetir que o mal é mal porque nos faz mal; de fato, o pecado é auto-punitivo, porque contém em si mesmo a sanção. Eis alguns textos muito elucidativos de Jeremias: «Foram após a vaidade dos ídolos, tornando-se eles próprios vãos» (Jr 2,5); «Sirvam-te de castigo as tuas perversidades, e de punição as tuas infidelidades. Sabe, portanto, e vê quão funesta e amarga coisa é o haveres abandonado o Senhor teu Deus, e teres perdido o meu temor» (Jr 2,19); «As vossas iniquidades alteraram esta ordem, os vossos pecados privaram-vos destes bens» (Jr 5,25).
E Isaías não lhe fica atrás: «Por isso, diz o Santo de Israel: “Visto que rejeitais esta palavra, e confiais na opressão e na perversidade e nelas vos apoiais; este pecado será, para vós, como uma fenda que forma saliência numa muralha elevada, até que de repente, num instante, se desmorona; como se quebra uma vasilha de barro feita em cacos, sem piedade, de modo que dos bocados não reste sequer um caco para apanhar as brasas do braseiro, para tirar água da cisterna”» (Is 30,12-14). E, dando voz aos sentimentos mais genuínos do povo de Deus, o profeta exclama: «Todos nós éramos como homens impuros, a nossa justiça como roupa manchada; murchávamos como folhas secas, as nossas iniquidades, como o vento, nos arrastavam» (Is 64,6).
Ao mesmo tempo, porém, os profetas denunciavam o endurecimento do coração que gera uma cegueira terrível e impede de notar a gravidade do pecado. Ouçamos Jeremias: «Desde o maior ao mais pequeno, todos se entregam à ganância desonesta; desde o profeta ao sacerdote todos procedem com dolo. Tratam com negligência as feridas do meu povo e exclamam: “Tudo bem! Tudo bem!”. Quando nada vai bem. Deveriam envergonhar-se pelo seu procedimento abominável, mas nem ao menos conhecem a vergonha, nem o que seja envergonhar-se» (Jr 6,13-15).
Jesus, entrando dentro desta história devastada pelo pecado, deixou-Se agredir pelo peso e violência das nossas culpas: por este motivo, ao contemplar Jesus, nota-se claramente quão devastador é o pecado e quão doente está a família humana: isto é, nós! Tu e eu!

Mas - eis a segunda certeza! - Jesus reagiu ao nosso orgulho com a humildade; reagiu à nossa violência com a mansidão, reagiu ao nosso ódio com o Amor que perdoa: a Cruz é o acontecimento pelo qual o Amor de Deus entra na nossa história, aproxima-se de cada um de nós e torna-se experiência que regenera e salva.
Não podemos deixar de notar um fato: desde o princípio do seu ministério, Jesus fala da «sua hora» (Jo 2,4), uma hora «por causa da qual Ele veio» (Jo 12,27), uma hora que Ele saúda com alegria, exclamando ao início da sua Paixão: «Chegou a hora» (Jo 17,1).
A Igreja guarda zelosamente a memória deste fato e no Credo, depois de ter afirmado que o Filho de Deus «Se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e Se fez homem», logo a seguir exclama: «Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado».
Foi crucificado por nós! Jesus, morrendo, embrenhou-Se na experiência dramática da morte tal como foi construída pelos nossos pecados; morrendo, porém, Jesus encheu de Amor o morrer e, consequentemente, encheu-o da presença de Deus: deste modo, com a Morte de Cristo, a morte foi vencida, porque Cristo encheu a morte precisamente da força oposta ao pecado que o gerou: Jesus encheu-a de Amor!
Através da fé e do Batismo, entramos em contato com a Morte de Cristo, isto é, com o mistério do Amor com que Ele a viveu e venceu... e, assim, tem início a viagem do nosso regresso a Deus, regresso que terá o seu acabamento no momento da nossa morte vivida em Cristo e com Cristo: isto é, no Amor!
Percorrendo o «Caminho da Cruz», deixa Maria guiar-te pela mão: pede-Lhe uma migalha da sua humildade e docilidade, para que o Amor de Cristo Crucificado penetre dentro de ti e reconstrua o teu coração segundo a medida do Coração de Deus.
Boa caminhada!

Ângelo Comastri


Oração inicial
Santo Padre: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amém.

Senhor Jesus, a tua Paixão é a história de toda a humanidade: aquela história onde os bons são humilhados, os mansos agredidos, os honestos espezinhados e os puros de coração são cinicamente escarnecidos.
Quem será o vencedor?
Quem dirá a última palavra?
Senhor Jesus, nós cremos que Tu és a última palavra: em Ti os bons já venceram, em Ti os mansos já triunfaram, em ti os honestos são coroados e os puros de coração brilham como estrelas na noite.
Senhor Jesus, esta noite percorremos o caminho da tua cruz, cientes de que é também o nosso caminho. Mas uma certeza nos ilumina: o caminho não termina na cruz, mas continua para além, continua para o Reino da Vida e a explosão da Alegria que ninguém mais nos poderá arrebatar! (Jo 16,22; Mt 5,12).

Leitor: Ó Jesus, detenho-me pensativo aos pés da tua cruz: também eu a construí com os meus pecados! A tua bondade, que não se defende e se deixa crucificar, é um mistério que me ultrapassa e me comove profundamente.
Senhor, Tu vieste ao mundo por mim para me procurares, para me trazeres o abraço do Pai: o abraço que me falta! (Lc 15,20).
Tu é o Rosto da bondade e da misericórdia: por isso queres salvar-me!
Dentro de mim, há muito egoísmo: vem com a tua ilimitada caridade!
Dentro de mim há orgulho e malícia: vem com a tua mansidão e a tua humildade!
Senhor, o pecador a salvar sou eu: o filho pródigo que deve regressar sou eu!
Senhor, concede-me o dom das lágrimas para reencontrar a liberdade e a vida, a paz Contigo e a alegria em Ti.

I Estação: Jesus é condenado à morte

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,22-23.26):
Narrador: Retorquiu-lhes Pilatos:
Leitor: «E que hei de fazer de Jesus que é chamado Messias?».
Narrador: Replicaram todos:
Leitor: «Seja crucificado!».
Narrador: Pilatos insistiu:
Leitor: «Então, que mal fez Ele?».
Narrador: Mas eles gritavam mais ainda:
Leitor: «Seja crucificado!».
Narrador: Soltou-lhes então Barrabás. E a Jesus, depois de O ter mandado açoitar, entregou-O para ser crucificado.

Meditação
Esta cena de condenação, conhecemo-la bem: é notícia de todos os dias! Mas uma pergunta nos arde na alma: porque é possível condenar Deus? Por que Deus, que é Onipotente, Se apresenta com a veste da fragilidade? Por que Deus Se deixa agredir pelo orgulho e a prepotência e pela arrogância humana? Por que Deus Se cala?
O silêncio de Deus é o nosso tormento, é a nossa prova! Mas é também a purificação da nossa pressa, é a cura do nosso desejo de vingança.
O silêncio de Deus é a terra onde morre o nosso orgulho e desabrocha a fé verdadeira, a fé humilde, a fé que não faz perguntas a Deus mas entrega-se a Ele com a confiança de uma criança.

Oração
Senhor, como é fácil condenar! Como é fácil atirar pedras: as pedras do juízo temerário e da calúnia, as pedras da indiferença e do abandono!
Senhor, Tu escolheste estar da parte dos vencidos, da parte dos humilhados e dos condenados (Mt 25,31-46).
Ajuda-nos a não nos tornarmos jamais algozes dos irmãos indefesos, ajuda-nos a tomar corajosamente posição em defesa dos débeis, ajuda-nos a recusar a água de Pilatos porque não lava as mãos; antes, suja-as com sangue inocente.

Todos: Pai nosso...


I Estação: Jesus é condenado à morte

II Estação: Jesus é carregado com a Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,27-31)
Narrador: Então, os soldados do governador levaram Jesus consigo para o Pretório e reuniram junto d'Ele toda a companhia. Depois de O terem despido, envolveram-n'O em um manto encarnado. Teceram uma coroa de espinhos, que Lhe puseram na cabeça, e, na mão direita, colocaram-Lhe uma cana. Ajoelharam-se diante d'Ele e escarneceram-n'O dizendo:
Leitor: «Salve, ó rei dos Judeus!».
Narrador: Depois, cuspiram n'Ele e pegaram na cana e puseram-se a bater-Lhe com ela na cabeça. No fim de O terem escarnecido, despiram-Lhe o manto, vestiram-Lhe as suas roupas e levaram-n'O para O crucificarem.

Meditação
Na Paixão de Cristo desencadeou-se o ódio, o nosso ódio, o ódio de toda a humanidade (Lc 22,53). Na Paixão de Cristo a nossa maldade reagiu contra a bondade, o nosso orgulho explodiu, irritado, à vista da humildade, a nossa corrupção ressentiu-se frente à esplendorosa pureza de Deus!
E assim nós... tornamo-nos a cruz de Deus! Nós, insensatamente rebeldes, nós, com os nossos absurdos pecados, construímos a cruz da nossa inquietude e da nossa infelicidade construímos a nossa punição.
Mas Deus toma a cruz sobre os seus ombros, a nossa cruz, e desafia-nos com a força do seu amor.
Deus toma a cruz! Insondável mistério de bondade!
Mistério de humildade que nos faz envergonhar de sermos ainda orgulhosos!

Oração
Senhor Jesus, Tu entraste na história humana tendo-a encontrado hostil a Ti (Jo 1,10-11), rebelde a Deus, louca por causa da soberba, que faz crer ao homem que tem uma estatura grande... como a sua sombra!
Senhor Jesus, Tu não nos agrediste, mas Te deixaste agredir por nós, por mim, por cada um!
Cura-me, Jesus, com a tua paciência, sara-me com a tua humildade, devolve-me a estatura de criatura: a minha estatura de pequenino... infinitamente amado por Ti!

Todos: Pai nosso...


II Estação: Jesus é carregado com a Cruz

III Estação: Jesus cai pela primeira vez

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro do Profeta Isaías (Is 53,4-6)
Narrador: Eram os nossos males que Ele suportava, e as nossas dores que tinha sobre Si. Mas nós víamos n’Ele um homem castigado, ferido por Deus e sujeito à humilhação. Ele foi trespassado por causa das nossas culpas, e esmagado devido às nossas faltas. O castigo que nos salva, caiu sobre Ele, e por causa das suas chagas é que fomos curados.
Leitor: Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada qual o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre Ele as faltas de todos nós.

Meditação
Segundo o modo humano de pensar, Deus não pode cair... e todavia cai. Por quê? Não pode ser um sinal de debilidade, mas apenas um sinal de amor: uma mensagem de amor para nós.
Caindo sob o peso da cruz, Jesus recorda-nos que o pecado pesa, o pecado rebaixa e destrói, o pecado pune e faz-nos mal: por isso o pecado é um mal! (Jr 2,5.19; 5,25).
Mas Deus ama-nos e quer o nosso bem; e o amor impele-o a gritar aos surdos, a nós que não queremos ouvir: «Saí do pecado, porque vos faz mal. Tira-vos a paz e a alegria; separa-vos da vida e faz secar dentro de vós a fonte da liberdade e da dignidade».
Saí! Saí!

Oração
Senhor, perdemos o sentido do pecado! Hoje se vai difundindo, com insidiosa propaganda, uma insensata apologia do mal, um absurdo culto de Satanás, um louco desejo de transgressão, uma liberdade enganadora e inconsistente que exalta o capricho, o vício e o egoísmo, apresentando-os como conquistas de civilização.
Senhor Jesus, abre-nos os olhos: faz que vejamos a lama e a reconheçamos por aquilo que é, para que uma lágrima de arrependimento reconstrua em nós a limpeza e o espaço duma verdadeira liberdade.
Abre-nos os olhos, Senhor Jesus!

Todos: Pai nosso...


III Estação: Jesus cai pela primeira vez

IV Estação: Jesus encontra sua Mãe

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 2,34-35.51)
Narrador: Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe:
Leitor: «Ele foi estabelecido para a queda e o ressurgir de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada Te há de trespassar a alma. Assim se deverão revelar os intentos de muitos corações».
Narrador: Depois Jesus desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava no coração todas estas recordações.

Meditação
Cada mãe é transparência do amor, é domicílio de ternura, é fidelidade que não abandona, porque uma verdadeira mãe ama mesmo quando não é amada.
Maria é a Mãe! N’Ela a feminilidade não tem uma sombra sequer, nem o amor é poluído por regurgitações de egoísmo que prendem e bloqueiam o coração.
Maria é a Mãe! O seu coração está fielmente junto do coração do Filho e sofre e leva a cruz e sente na própria carne todas as feridas da carne do Filho.
Maria é a Mãe!
E continua a ser Mãe: para nós, para sempre!

Oração
Senhor Jesus, todos temos necessidade da Mãe! Temos necessidade de um amor que seja verdadeiro e fiel. Temos necessidade de um amor que nunca vacile, um amor que seja refúgio seguro no tempo do medo, do sofrimento e da provação.
Senhor Jesus, temos necessidade de mulheres, de esposas, de mães que restituam aos homens o rosto belo da humanidade.
Senhor Jesus, temos necessidade de Maria: a mulher, a esposa, a mãe que não deforma nem renega jamais o amor!
Senhor Jesus, nós Te pedimos por todas as mulheres do mundo!

Todos: Pai nosso...


IV Estação: Jesus encontra sua Mãe

V Estação: Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,32; 16,24)
Narrador: Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no para levar a cruz de Jesus.
Narrador: Jesus disse aos seus discípulos:
Leitor: «Se alguém quiser seguir-Me, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me».

Meditação
Simão de Cirene, tu és um pequeno, um pobre, um desconhecido agricultor, de quem não falam os livros de história.
E todavia tu fazes a história!
Escreveste um dos capítulos mais belos da história da humanidade: tu levas a cruz de um Outro, tu levantas o patíbulo impedindo que esmague a vítima.
Tu devolves dignidade a cada um de nós recordando-nos que só seremos nós mesmos se deixarmos de pensar em nós próprios (Lc 9,24).
Tu nos recordas que Cristo nos espera na estrada, no vão das escadas, no hospital, na prisão... nas periferias das nossas cidades. Cristo espera-nos! (Mt 25,40).
Será que O reconhecemos?
Iremos socorrê-Lo?
Ou morreremos no nosso egoísmo?

Oração
Senhor Jesus, vai-se apagando o amor e o mundo torna-se frio, inóspito, inabitável. Quebra as cadeias que nos impedem de correr ao encontro dos outros. Ajuda a reencontrarmo-nos a nós mesmos na caridade.
Senhor Jesus, o bem-estar vai nos desumanizando, a diversão tornou-se uma alienação, uma droga: e a monótona publicidade desta sociedade é um convite a morrer no egoísmo.
Senhor Jesus, reacende em nós a centelha da humanidade que Deus nos depositou no coração ao início da criação. Liberta-nos da decadência do egoísmo e imediatamente acharemos a alegria de viver e o desejo de cantar.

Todos: Pai nosso...


V Estação: Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a Cruz

VI Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro do Profeta Isaías (Is 53,2-3)
Narrador: Cresceu sem distinção nem beleza que atraia o nosso olhar, nem aspecto agradável que possa cativar-nos. Desprezado e repelido pelos homens, homem de dores, afeito ao sofrimento, é como aquele a quem se volta a cara.

Do Livro dos Salmos (Sl 42,2-3)
Leitor: Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim minha alma suspira por Vós, Senhor. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo, quando irei contemplar o rosto de Deus?

Meditação
O rosto de Jesus está banhado de suor, irrigado de sangue, coberto de escarros insolentes. Quem terá a coragem de se aproximar?
Uma mulher!
Uma mulher adianta-se mantendo acesa a lâmpada da humanidade... e enxuga o Rosto: e revê o Rosto!
Quantas pessoas há hoje sem rosto!
Quantas pessoas são empurradas para a margem da vida, no exílio do abandono, na indiferença que mata os indiferentes.
De fato, só está vivo quem arde de amor e se inclina sobre Cristo que sofre e espera em quem sofre: hoje!
Sim, hoje! Porque amanhã será demasiado tarde! (Mt 25,11-13).

Oração
Senhor Jesus, bastaria um passo e o mundo poderia mudar!
Bastaria um passo e, em família, voltaria a paz; bastaria um passo e o mendigo deixaria de estar só; bastaria um passo e o doente sentiria uma mão que lhe aperta a mão... para ambas se curarem.
Bastaria um passo e os pobres poderiam sentar-se à mesa afastando a tristeza da mesa dos egoístas que não podem fazer festa sozinhos.
Senhor Jesus, bastaria um passo!
Ajuda-nos a dá-lo, porque estão a exaurir-se no mundo todas as reservas da alegria
Ajuda-nos, Senhor!

Todos: Pai nosso...


VI Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus

VII Estação: Jesus cai pela segunda vez

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro do Profeta Jeremias (Jr 12,1)
Narrador: Vós, Senhor, sois demasiado justo, para que eu possa queixar-me de Vós. Quero, contudo, propor-Vos um caso de justiça: Porque prospera o caminho dos maus? Porque vivem em paz os pérfidos traidores?

Do Livro dos Salmos (Sl 37,1-2.10-11)
Leitor: Não te irrites contra os que fazem o mal, nem invejes os que praticam a iniquidade. Pois bem cedo secarão como o feno, e como a erva viçosa murcharão. Ainda um pouco, e o ímpio desaparecerá; se procurares o seu lugar, não o encontrarás. Os mansos, porém, possuirão a terra, e gozarão de imensa paz.

Meditação
A nossa arrogância, a nossa violência, as nossas injustiças pesam sobre o corpo de Cristo. Pesam... e Cristo cai de novo para nos mostrar o peso insuportável do nosso pecado.
Mas o que é que hoje fere, de modo particular, o corpo santo de Cristo?
Certamente é dolorosa paixão de Deus a agressão contra a família. Hoje parece estar em ato uma espécie de “anti-Gênesis”, um “anti-desígnio”, um orgulho diabólico que pensa em cancelar a família.
O homem quer reinventar a humanidade modificando a própria gramática da vida tal como Deus a pensou e quis (Gn 1,27; 2,24).
Mas, substituir a Deus sem ser Deus é a mais louca arrogância, é a aventura mais perigosa.
Que a queda de Cristo nos abra os olhos e nos faça ver de novo o rosto belo, o rosto verdadeiro, o rosto santo da família. O rosto da família do qual todos temos necessidade.

Oração
Senhor Jesus, a família é um sonho de Deus confiado à humanidade; a família é uma centelha de Céu partilhada com a humanidade; a família é o berço onde nascemos e onde continuamente renascemos no amor.
Senhor Jesus, entra nas nossas casas e entoa o canto da vida. Acende de novo a lâmpada do amor e faz-nos sentir a beleza de estar ligados uns aos outros num abraço de vida: a vida alimentada pela própria respiração de Deus, a respiração de Deus-Amor.
Senhor Jesus, salva a família, para que a vida seja salva!
Senhor Jesus, salva a minha, a nossa família!

Todos: Pai nosso...


VII Estação: Jesus cai pela segunda vez

VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,27-29.31)
Narrador: Seguia-O grande massa de povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:
Leitor: «Mulheres de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. Pois dias virão em que se dirá: “Felizes as estéreis, as entranhas que não tiveram filhos e os peitos que não amamentaram...”. Porque, se fazem assim no madeiro verde, que será no madeiro seco?».

Meditação
O pranto das mães de Jerusalém inunda de piedade o caminho do Condenado, atenua a atrocidade de uma execução capital e recorda-nos que somos todos filhos: filhos saídos do abraço de uma mãe.
Mas o pranto das mães de Jerusalém é apenas uma pequena gota do rio de lágrimas vertidas pelas mães: mães de crucificados, mães de assassinos, mães de drogados, mães de terroristas, mães de estupradores, mães de loucos... mas sempre mães!
O pranto, porém, não basta. O pranto deve transbordar em amor que educa, em fortaleza que guia, em severidade que corrige, em diálogo que constrói, em presença que fala!
O pranto deve impedir outros prantos!

Oração
Senhor Jesus, Tu conheces o pranto das mães, Tu vês em cada casa o canto do sofrimento, Tu ouves o gemido silencioso de muitas mães feridas pelos filhos: feridas de morte... permanecendo vivas!
Senhor Jesus, dissolve os coágulos de dureza que impedem a circulação do amor nas artérias das nossas famílias.
Faz-nos sentir uma vez mais filhos para darmos às nossas mães - na terra e no céu - a ufania de nos terem gerado e a alegria de poderem abençoar o dia do nosso nascimento.
Senhor Jesus, enxuga as lágrimas das mães, para que volte o sorriso ao rosto dos filhos, ao rosto de todos.

Todos: Pai nosso...


VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

IX Estação: Jesus cai pela terceira vez

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Livro do Profeta Habacuc (Hab 1,12-13; 2,2-3)
Narrador: Não sois Vós, Senhor, desde o princípio o meu Deus, o meu Santo? Os vossos olhos são puros demais para verem o mal, e não podeis contemplar a opressão. Porque olhais então para os malvados, e ficais em silêncio quando o ímpio devora o justo?
Leitor: «Põe por escrito esta visão, inscreve-a em placas com toda a nitidez, de modo que possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela tende para o seu termo e não enganará. Se tardar em cumprir-se, deves aguardá-la, pois há de realizar-se infalivelmente, a seu tempo».

Meditação
Pascal argutamente observou: «Jesus estará em agonia até ao fim do mundo; é preciso não dormir durante este tempo» (Blaise Pascal, Pensamentos, 553).
Mas, neste tempo, onde agoniza Jesus?
A divisão do mundo em zonas de bem-estar e em zonas de miséria... é, hoje, a agonia de Cristo. De fato, o mundo é formado por dois compartimentos: num compartimento desperdiça-se, no outro se definha; num morre-se de abundância e no outro se morre de indigência; num teme-se a obesidade e no outro se invoca a caridade.
Por que é que não abrimos uma porta? Por que não formamos uma única mesa? Por que não entendemos que os pobres são a cura dos ricos? Por quê? Por quê? Por que somos tão cegos?

Oração
Senhor Jesus, ao homem que vive para acumular Tu chamaste-o insensato! (Lc 12,20).
Sim, é insensato quem pensa que possui qualquer coisa, visto que um só é o Proprietário do mundo.
Senhor Jesus, o mundo é teu, apenas teu. E Tu deste-o a todos para que a terra fosse uma casa que a todos alimenta e a todos protege.
Por isso, acumular é roubar se o acumulado inútil impede a outros de viverem.
Senhor Jesus, faz com que acabe o escândalo que divide o mundo em palácios e barracos.
Senhor, ensina-nos de novo a fraternidade!

Todos: Pai nosso...


IX Estação: Jesus cai pela terceira vez

X Estação: Os soldados repartem entre si as vestes de Jesus

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,23-24)
Narrador: Ao crucificarem Jesus, os soldados ficaram-Lhe com as vestes, das quais fizeram quatro lotes, um para cada soldado, e ficaram também com a túnica. A túnica era sem costura, tecida de alto a baixo como um todo. Disseram, pois, entre si:
Leitor: «Não a rasguemos, vamos tirá-la à sorte, para ver de quem será».
Narrador: Assim se cumpria a Escritura: «Repartiram entre si as minhas vestes, e tiraram à sorte a minha túnica».

Meditação
Os soldados tiram a túnica a Jesus com a violência dos ladrões e tentam roubar-Lhe também o pudor e a dignidade.
Mas Jesus é o pudor, Jesus é a dignidade do homem e do seu corpo.
E o corpo humilhado de Cristo torna-se acusação contra todas as humilhações do corpo humano criado por Deus como rosto da alma e linguagem para exprimir o amor.
Mas hoje muitas vezes o corpo é vendido e comprado nas calçadas das cidades, nas calçadas da televisão, nas casas que fazem de calçadas.
Quando entenderemos que estamos a matar o amor?
Quando compreenderemos que, sem pureza, o corpo não vive nem pode gerar a vida?

Oração
Senhor Jesus, sobre a pureza foi astutamente imposto um silêncio geral: um silêncio impuro! Até se espalhou a convicção - totalmente falsa! - de que a pureza é inimiga do amor.
É verdade o contrário, Senhor! A pureza é a condição indispensável para poder amar: para amar verdadeiramente, para amar fielmente.
Aliás, Senhor, se alguém não é senhor de si mesmo como poderá dar-se a si próprio?
Só quem é puro, pode amar; só quem é puro, pode amar sem enlamear.
Senhor Jesus, pela força do Teu sangue derramado por amor dá-nos corações puros para que renasça no mundo o amor, o amor do qual todos sentimos tanta saudade.

Todos: Pai nosso...


X Estação: Os soldados repartem entre si as vestes de Jesus

XI Estação: Jesus é pregado na Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,35-42)
Narrador: Depois de O terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, e ficaram ali sentados a guardá-Lo. Puseram por cima da cabeça d'Ele um letreiro escrito com a causa da condenação: «Este é Jesus, o Rei dos Judeus». Foram então crucificados com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam dirigiam-Lhe insultos, abanavam a cabeça e diziam:
Leitor: «Tu que demolias o Templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!».
Narrador: De igual modo, também os sumos sacerdotes troçavam, juntamente com os escribas e os anciãos, e diziam:
Leitor: «Salvou os outros e a Si mesmo não pode salvar-Se! É Rei de Israel! Desça agora da cruz, e acreditaremos n'Ele».

Meditação
Aquelas mãos que abençoaram a todos estão agora pregadas na cruz, aqueles pés que tanto caminharam para semear esperança e amor estão agora presos ao patíbulo.
Por que, Senhor? “Por amor!” (Jo 13,1).
Por que a Paixão? “Por amor!”.
Por que a Cruz? “Por amor!”.
Por que é, Senhor, que não desceste da cruz respondendo às nossas provocações? “Não desci da cruz porque, caso contrário, teria consagrado a força como senhora do mundo, quando é o amor a única força que pode mudar o mundo”.
Por que, Senhor, este preço tão oneroso? “Para vos dizer que Deus é Amor (1Jo 4,8.16), Amor infinito, Amor onipotente. Credes-Me?”.

Oração
Jesus Crucificado, todos nos podem enganar, abandonar, desiludir; só Tu não nos desiludirás jamais!
Tu deixaste que as nossas mãos Te pregassem cruelmente na cruz para nos dizeres que o teu amor é verdadeiro, é sincero, é fiel, é irrevogável.
Jesus Crucificado, os nossos olhos veem as tuas mãos pregadas e todavia capazes de dar a verdadeira liberdade; veem os teus pés fixos com os cravos e contudo ainda capazes de caminhar e de fazer caminhar.
Jesus Crucificado, acabou a ilusão de uma felicidade sem Deus. Voltamos para Ti, única esperança e única liberdade, única alegria e única verdade.
Jesus Crucificado, tem piedade de nós, pecadores!

Todos: Pai nosso...


XI Estação: Jesus é pregado na Cruz

XII Estação: Jesus morre na Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,25-27)
Narrador: Ao pé da cruz de Jesus, estavam a sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria de Magdala. Ao ver a Mãe e o discípulo que amava, ali presente, Jesus disse à Mãe:
Leitor: «Mulher, eis o teu filho».
Narrador: A seguir disse ao discípulo:
Leitor: «Eis a tua Mãe».
Narrador: E, a partir daquele momento, o discípulo recebeu-A em sua casa.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,45-46.50)
Narrador: A partir do meio-dia, houve trevas em toda a região, até às três horas da tarde. E, pelas três horas da tarde, Jesus bradou com voz forte:
Leitor: «Eli, Eli, lemá sabachthani?»,
Narrador: Que quer dizer,
Leitor: «Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?».
Narrador: E Jesus, dando novamente um forte brado, expirou.

Meditação
O homem pensou insensatamente: Deus morreu! Mas, se morre Deus, quem nos dará ainda a vida? Se morre Deus, o que é a vida?
A vida é Amor!
Então, a cruz não é a morte de Deus, mas é o momento em que se rompe a frágil crosta da humanidade assumida por Deus e começa a inundação de amor (Jo 19,30) que renova a humanidade.
Da cruz nasce a vida nova de Saulo, da cruz nasce a conversão de Agostinho, da cruz nasce a pobreza feliz de Francisco de Assis, da cruz nasce a bondade irradiante de Vicente de Paulo; da cruz nasce o heroísmo de Maximiliano Kolbe, da cruz nasce a maravilhosa caridade de Madre Teresa de Calcutá, da cruz nasce a coragem de João Paulo II, da cruz nasce a revolução do amor: por isso a cruz não é a morte de Deus, mas é o nascimento do seu Amor no mundo.
Bendita seja a cruz de Cristo!

Oração
Senhor Jesus, no silêncio desta tarde ouve-se a tua voz: «Tenho sede! Tenho sede do teu amor!» (Jo 19,28).
No silêncio desta noite ouve-se a tua prece: «Pai, perdoa-lhes! Pai, perdoa-lhes!» (Lc 23,34).
No silêncio da história, ouve-se o teu grito: «Tudo está consumado» (Jo 19,30).
O que é que está consumado? «Dei-vos tudo, disse-vos tudo, trouxe-vos a notícia mais bela: Deus é amor! Deus ama-vos!».
No silêncio do coração sente-se a carícia do teu último dom: «Eis a tua Mãe: a minha Mãe!» (Jo 19,27).
Obrigado, Jesus, porque entregaste a Maria a missão de nos recordar cada dia que o sentido de tudo é o Amor: o Amor de Deus plantado no mundo como uma cruz! Obrigado, Jesus!

Todos: Pai nosso...


XII Estação: Jesus morre na Cruz

XIII Estação: Jesus é descido da Cruz e entregue à sua Mãe

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,55.57-58; 17,22-23)
Narrador: Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres, que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para O servirem. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, o qual se tinha tornado também discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo d’Ele. Então Pilatos mandou-lho entregar.
Narrador: Estando reunidos na Galileia, Jesus disse-lhes:
Leitor: «O Filho do Homem tem de ser entregue nas mãos dos homens, que O matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará».
Narrador: E eles ficaram profundamente consternados.

Meditação
O delito está consumado: matamos Jesus! (Zc 12,10).
E as chagas de Cristo reverberam no coração de Maria, visto que uma única dor abraça a Mãe com o Filho.
A Piedade! Sim, a Senhora da Piedade grita, comove e fere mesmo quem já está habituado a ferir.
A Senhora da Piedade! A nós parece-nos ter compaixão de Deus, mas, ao contrário - e uma vez mais -, é Deus que tem compaixão de nós.
A Senhora da Piedade! A dor já não é desesperadora e jamais o será, porque Deus veio sofrer conosco.
E com Deus pode-se desesperar?

Oração
Ó Maria, naquele Filho Tu abraças cada filho e sentes a agonia de todas as mães do mundo.
Ó Maria, as tuas lágrimas correm de século em século e banham os rostos e choram o pranto de todos.
Ó Maria, Tu conheces a dor... mas crês! Crês que as nuvens não apagam o sol, crês que a noite prepara a aurora.
Ó Maria, Tu que cantaste o Magnificat (Lc 1,46-55), entoa-nos o cântico que vence a dor como um parto do qual nasce a vida.
Ó Maria, roga por nós! Roga para que chegue também a nós o contágio da verdadeira esperança.

Todos: Pai nosso...


XIII Estação: Jesus é descido da Cruz e entregue à sua Mãe

XIV Estação: Jesus é sepultado

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,59-61)
Narrador: José pegou no corpo de Jesus, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o no seu túmulo novo, que tinha mandado escavar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra para a porta do túmulo e retirou-se. Entretanto, estavam ali Maria de Magdala e a outra Maria, sentadas em frente do sepulcro.

Do Livro dos Salmos (Sl 16,9-11)
Leitor: O meu coração se alegra e a minha alma exulta, e até o meu corpo descansa tranquilo. Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção. Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida; alegria plena em vossa presença, delícias eternas, à vossa direita.

Meditação
Às vezes a vida se parece com um longo e triste Sábado Santo. Tudo parece ter acabado, parece que triunfa o malvado, parece que o mal é mais forte que o bem (Jr 12,1; Hb 1,13).
Mas a fé faz-nos ver mais longe, faz-nos vislumbrar as luzes de um novo dia para além deste dia. A fé garante-nos que a última palavra cabe a Deus: somente a Deus!
A fé é, na verdade, uma pequena lâmpada, mas é a única lâmpada que ilumina a noite do mundo: e a sua luz humilde funde-se com as primeiras luzes do dia: o dia de Cristo Ressuscitado.
Assim, a história não acaba no sepulcro, antes, explode do sepulcro: assim tinha prometido Jesus (Lc 18,31-33), assim aconteceu e acontecerá! (Rm 8,18-23).

Oração
Senhor Jesus, a Sexta-feira Santa é o dia da escuridão, o dia do ódio sem razão, o dia da morte do Justo!
Mas a Sexta-feira Santa não é a última palavra: a última palavra é a Páscoa, o triunfo da Vida, a vitória do Bem sobre o mal.
Senhor Jesus, o Sábado Santo é o dia do vazio, o dia do medo e da confusão, o dia em que tudo parece ter acabado! Mas o Sábado Santo não é o último dia: o último dia é a Páscoa, a Luz que se reacende, o Amor que vence todo o ódio.
Senhor Jesus, quando está para consumar-se a nossa Sexta-feira Santa e se repete a angústia de tantos Sábados Santos, dá-nos a fé tenaz de Maria para crer na verdade da Páscoa; dá-nos o seu olhar cândido para ver os clarões que anunciam o último dia da história: «um novo céu e uma nova terra» (Ap 21,1) já iniciados em Ti, Jesus Crucificado e Ressuscitado. Amém!

Todos: Pai nosso...


XIV Estação: Jesus é sepultado

Discurso do Santo Padre Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs!
Acompanhamos Jesus na “Via Crucis”. Acompanhamo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos.
E assim compreendemos que a “Via Crucis” não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua “Via Crucis” atravessa os continentes e os tempos. Na “Via Crucis” não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos?
Na “Via Crucis” não existe a possibilidade de ser neutro. Pilatos, intelectualmente cético, procurou ser neutro, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira.
Devemos procurar o nosso lugar.
No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje. Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não veem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede.
Mas vimos também “estações” de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas “estações” de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no “caminho da Cruz”, Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor.
Compreendemos que a “Via Crucis” não é simplesmente uma coleção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesto que nada muda. A “Via Crucis” é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal.
Pedimos ao Senhor que nos ajude, que nos ajude a sermos “contagiados” pela sua misericórdia. Rezemos à Santa Mãe de Jesus, a Mãe da Misericórdia, para que nós possamos ser homens e mulheres da misericórdia e, desta forma, contribuir para a salvação do mundo; para a salvação das criaturas; para sermos homens e mulheres de Deus. Amém!

Bênção Apostólica

Bento XVI carrega a cruz na Via Sacra
Sexta-feira Santa, 14 de abril de 2006


Observação sobre as imagens:
O livreto da celebração foi ilustrado com a Via Sacra realizada por Felix Anton Scheffler (†1760) para a igreja de São Martinho em Ischl, na Arquidiocese de Munique (claramente uma homenagem ao “Papa alemão”, Arcebispo desta diocese de 1977 a 1982).
Como não encontramos imagens em boa resolução dessa obra, ilustramos nossa postagem com a Via Sacra pintada por Gebhard Fugel (†1939), que viveu a maior parte de sua vida em Munique, para a igreja de Santo Antônio em Bad Saulgau (Alemanha).

Imagens: Wikimedia Commons.

Para acessar outros modelos de meditações para a Via Sacra, confira nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

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