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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O rito de fechamento da Porta Santa no Jubileu do ano 2000

“Através da Porta Santa, simbolicamente mais ampla porque aberta ao fim de um milênio, Cristo nos integrará mais profundamente na Igreja, seu Corpo e sua Esposa” (Incarnationis Mysterium, n. 8).

Ao longo dos últimos meses temos recordado aqui em nosso blog os 20 anos do Grande Jubileu do ano 2000. Se em dezembro de 2019 analisamos o Rito de abertura da Porta Santa, que teve lugar na Basílica de São Pedro na Noite de Natal de 1999 (seguida pelas demais Basílicas Maiores nos dias seguintes), cabe-nos agora falar do Rito de fechamento da Porta Santa.

(Para conhecer o simbolismo das 16 imagens da Porta Santa, clique aqui)

Na Bula Incarnationis Mysterium, com a qual o Papa São João Paulo II convocou o Grande Jubileu, definiu-se sua conclusão no dia 06 de janeiro de 2001, Solenidade da Epifania do Senhor. A escolha da data reforça o alcance universal do Jubileu, uma vez que na Epifania se celebra a manifestação de Jesus Cristo a todos os povos, representados pelos magos do Oriente (cf. Mt 2,1-12).

Recordemos, pois, algumas linhas gerais do rito utilizado na ocasião, conforme a apresentação feita pelo então Mestre das Cerimônias Litúrgicas Pontifícias, Dom Piero Marini, e que se encontra disponível no site da Santa Sé:

1. As Basílicas Maiores

No início do Jubileu o Papa abriu pessoalmente as quatro Portas Santas, algo único na história. Na conclusão, porém, limitou-se a fechar a Porta Santa da Basílica de São Pedro, conforme o costume.

As Portas Santas das outras três Basílicas Maiores foram fechadas pelos Cardeais Legados nomeados pelo Papa:
Basílica de São João do Latrão: Cardeal Camillo Ruini, Arcipreste;
Basílica de São Paulo fora dos muros: Cardeal Roger Etchegaray, Presidente do Comitê Central do Jubileu (na época a Basílica não tinha um Arcipreste);
Basílica de Santa Maria Maior: Cardeal Carlo Furno, Arcipreste.

O fechamento da Porta Santa das três Basílicas ocorreu na tarde do dia 05 de janeiro de 2001, antes da celebração das I Vésperas da Solenidade da Epifania. Basicamente foi seguido o mesmo rito da Basílica de São Pedro, que veremos a seguir.

2. A Basílica de São Pedro

Na manhã do dia 06 de janeiro o Papa João Paulo II presidiu o rito do fechamento da Porta Santa da Basílica Vaticana, seguido da Santa Missa da Solenidade da Epifania do Senhor na Praça de São Pedro.


A celebração teve início junto à Porta Santa, no átrio da Basílica, para onde se dirigiu a procissão de entrada, acompanhada pelo canto do Salmo 94 com a antífona: “Venite, adoremus eum quia ipse est Dominus Deus noster” (“Vinde, adoremos o Senhor, porque Ele é nosso Deus”).

Como no início do Jubileu, participaram da procissão jovens leigos representando os cinco continentes, com flores, lamparinas e incensários ladeando o Livro dos Evangelhos.

O Santo Padre iniciou a celebração com o sinal da cruz, uma invocação da Santíssima Trindade, a saudação litúrgica e uma monição introdutória.

Na sequência o Papa dirigiu-se a um genuflexório preparado diante da Porta e recitou uma oração. Em seguida o coro entoou a antífona O Clavis David:

O Clavis David, et sceptrum domus Israel: qui aperis,et nemo claudit; claudis, et nemo aperit: veni et educ vinctum de domo carceris, sedentem in tenebris et umbra mortis

(Ó Chave de Davi e cetro da casa de Israel: que abris, e ninguém fecha; que fechais e ninguém abre: vinde e libertai o homem prisioneiro, que nas trevas e na sombra da morte está sentado) [1].


Terminada a antífona, o Pontífice recebeu dos Cerimoniários (Dom Guido Marini e Monsenhor William Millea) a mitra e a férula e, subindo os degraus, ajoelhou-se por alguns instantes no limiar da Porta, rezando em silêncio.

O Papa então se levantou e, depondo a férula, fechou a Porta igualmente em silêncio. Uma vez fechada, o coro entoou a mesma antífona da abertura:

Christus heri et hodie, finis et principium; Christus Alpha et Omega, ipsi gloria in sæcula!
(Cristo, ontem e hoje, fim e princípio; Cristo Alfa e Ômega, a Ele a glória pelos séculos!).

Esta antífona serviu de refrão ao canto de entrada, uma versão adaptada do “Hino a Cisto, Senhor dos milênios”, entoado no início do Jubileu, enquanto a procissão dirigia-se ao altar preparado na Praça.


O diácono depositou o Evangeliário no trono preparado à direita do altar (o mesmo usado sempre durante o Tempo de Natal no Vaticano), ladeado pelas flores e lâmpadas depositadas pelos jovens representantes dos continentes.

Chegando ao altar, o Papa depôs o pluvial e revestiu a casula e o pálio para a celebração da Missa, a qual prosseguiu como de costume, a partir do canto do Glória.

Após o Evangelho o diácono fez o anúncio das solenidades móveis, como previsto para a Epifania: o “ano da graça do Senhor” (Lc 4,19) continua na celebração dos mistérios da salvação no Ano Litúrgico.

A única particularidade foi a oferta do incenso em um braseiro preparado diante do altar após cada invocação da Oração Universal (Preces).

Depois da oração após a Comunhão, o Papa assinou a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, sobre a Igreja no terceiro milênio (sobre a qual falaremos em uma postagem futura). Em seguida agradeceu todos os responsáveis pela realização do Grande Jubileu e saudou os peregrinos em várias línguas.

Seguiu-se o canto do Te Deum em ação de graças pela realização do Ano Santo, após o qual a celebração encerrou-se com a Bênção Apostólica.


3. A “muratura” das Portas

Nos dias seguintes as Portas Santas foram fechadas por um muro, uma vez que elas só são abertas durante os Jubileus. Este muro só seria derrubado em 2015, por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

O breve rito, presidido pelos Arciprestes das quatro Basílicas Maiores, prevê a leitura e a assinatura da ata de abertura e fechamento da Porta, a composição do conteúdo da urna (a ata, algumas moedas comemorativas e as chaves da Porta) e o levantamento do muro pelos pedreiros.

Confira o vídeo completo do fechamento da Porta Santa da Basílica de São Pedro:


[1] Esta é a “Antífona do Ó” para o dia 20 de dezembro, inspirada em Is 22,22-23; Ap 3,7; Lc 1,79.


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