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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A celebração da Solenidade da Epifania do Senhor

“Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos com presentes adorar o Senhor” (cf. Mt 2,2; Antífona de Comunhão da Solenidade da Epifania do Senhor).

A Solenidade da Epifania do Senhor, como indica o Cerimonial dos Bispos, “deve-se contar entre as maiores festas do Ano Litúrgico, pois celebra, no Menino nascido de Maria, a manifestação daquele que é o Filho de Deus, o Messias dos Judeus e a Luz das Nações” (n. 240).

A Igreja celebra essa Solenidade no dia 06 de janeiro. Em alguns países, porém, como no Brasil, a Epifania é transferida para o domingo que cai entre os dias 02 e 08 de janeiro de cada ano.

O Papa Francisco incensa as oferendas na Solenidade da Epifania

Indicaremos nesta postagem alguns elementos da tradição litúrgica e da piedade popular que podem enriquecer essa celebração.

Sendo uma Solenidade, vale recordar que sua celebração começa na tarde do dia anterior, com as I Vésperas (cf. Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 11). A 3ª edição do Missal Romano, ainda sem tradução para o Brasil, trará um formulário de orações próprio para ser recitado a partir do pôr-do-sol da véspera: a Missa da Vigília da Epifania.

1. O que se deve preparar

Além de todo o necessário para a celebração da Missa, dado o forte simbolismo da “luz”, referido diversas vezes pelas orações e leituras dessa Solenidade, o Cerimonial dos Bispos recomenda a “profusão de luzes” (n. 240).

Ou seja, além de valorizar a iluminação da igreja como um todo, convém dispor seis velas sobre o altar ou junto dele (ou sete se a Missa for presidida pelo Bispo Diocesano), como indica a Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR, 3ª edição, n. 117).

O uso do incenso, sempre facultativo na Missa (IGMR, nn. 276-277), também é particularmente recomendado nessa Solenidade, uma vez que foi um dos presentes dos Magos.

2. Bênção e aspersão da Água

Como vimos em nossa postagem sobre a história da Epifania, nessa Solenidade celebramos na verdade três “manifestações” do Senhor: a adoração dos Magos, o Batismo no Jordão e as bodas de Caná.

No Evangeliário aberto note-se a imagem das três epifanias:
a visita dos magos, o batismo e as bodas de Caná

Sobre o Evangeliário junto da imagem do Menino Jesus, confira nossa postagem sobre a celebração da Solenidade do Natal do Senhor clicando aqui.

Embora as orações e leituras da Missa no Rito Romano enfatizem a “epifania aos magos”, o tríplice mistério dessa Solenidade é indicado por alguns textos da Liturgia das Horas (como as antífonas do cântico evangélico nas Laudes e nas II Vésperas).

Os cristãos orientais, além disso, uma vez que contemplam a visita dos magos já no Natal, enfatizando na Epifania (ou Teofania) o Batismo do Senhor, realizando a grande bênção das águas.

No Brasil, uma vez que celebramos a Solenidade da Epifania do Senhor no domingo, pode ser realizada a bênção e aspersão da água sobre os fiéis, rito previsto para os domingos, sobretudo no Tempo Pascal, substituindo o Ato Penitencial (IGMR, n. 51).

Aqueles que desejarem, porém, podem reservar esse rito para o domingo seguinte, quando celebramos a Festa do Batismo do Senhor no Rito Romano (cf. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 119)

Contudo, nos anos em que não há um domingo entre os dias 02 e 06 de janeiro, isto é, quando a Epifania é celebrada no dia 07 ou 08 de janeiro, a Festa do Batismo do Senhor é transferida para o dia seguinte, segunda-feira [1]. Nesse caso, convém realizar o rito da bênção e aspersão da água no Ato Penitencial no próprio domingo da Epifania.

O rito celebra-se conforme indicado pelo Missal Romano (pp. 1001-1104): após a saudação inicial, aproxima-se do sacerdote um acólito com a vasilha de água a ser abençoada.

O sacerdote convida à oração com uma monição e, após um momento de silêncio, recita uma das duas orações de bênção da água propostas no Missal. Se for oportuno, o sacerdote pode também abençoar um pouco de sal e misturá-lo na água.

O Papa Francisco asperge os fiéis na Missa do Domingo de Páscoa

O sacerdote passa então a aspergir os fiéis, percorrendo a igreja, enquanto se entoa um canto adequado, preferencialmente inspirado nas antífonas indicadas no Missal (Sl 50,9; Ez 36,25-26).

Por fim, retornando à cadeira presidencial, o sacerdote profere a conclusão do Ato Penitencial própria para esse rito, indicada no Missal: “Que Deus todo-poderoso nos purifique dos nossos pecados...”. Entoa-se então o Glória e a Missa prossegue como de costume.

Sobre o Glória, cujo texto não pode ser substituído (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 53), confira nossa postagem sobre a celebração do Natal do Senhor, na qual indicamos que o canto “Vinde cristãos, vinde à porfia” não é o Glória! 

3. Anúncio das Solenidades Móveis

Após o Evangelho, permanecendo todos em pé, é feito o solene Anúncio das Solenidades Móveis do ano.

Como vimos em nossa postagem sobre a história da Solenidade da Epifania, tal rito remonta ao século IV, quando o Patriarca de Alexandria do Egito, onde eram bem desenvolvidos os estudos astronômicos, enviava a cada ano uma carta a todas as igrejas com as datas da Páscoa e das festas móveis a ela relacionadas. Essas “cartas festivas” eram então lidas aos fiéis por um diácono ou sacerdote após o Evangelho da Missa da Epifania.

O Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia recomenda que tal rito seja conservado, o qual “ajuda os fiéis a descobrirem a ligação entre a Epifania e a Páscoa e a orientação de todas as festas rumo à máxima solenidade cristã” (n. 118) [2].

Papa Francisco ouve o Evangelho da Solenidade da Epifania
(No Anúncio das Solenidades Móveis não se usam nem incenso nem velas)

O texto do Anúncio das Solenidades Móveis é divulgado anualmente, para o Brasil, no Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil publicado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).


A CNBB indica nesse Diretório a possibilidade de proferir o Anúncio das Solenidades Móveis no final da Missa, após a oração a Comunhão. Esse Anúncio é ser feito do ambão, como indica o Cerimonial dos Bispos (n. 240) por um diácono, pelo próprio sacerdote ou por um leitor leigo.

4. Procissão das oferendas

O Cerimonial dos Bispos exorta ainda a “conservar ou restaurar, segundo o costume local e a tradição, uma apresentação especial de oferendas” nessa Solenidade, à luz do gesto dos magos que oferecem seus presentes ao Menino.

Contudo, na ação litúrgica, o sinal sempre deve “realizar aquilo que significa” (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 6). Na procissão das oferendas devem ser entronizadas unicamente “oferendas”, e não meros “símbolos”.

Assim, levam-se nessa procissão apenas o pão e vinho para a Eucaristia, isto é, patena e âmbulas com as hóstias e galhetas com o vinho e a água que serão consagrados, comidos e bebidos; e ofertas materiais para os pobres e o sustento da comunidade (cf. IGMR, nn. 73.140; Cerimonial dos Bispos, n. 145). O que é levado nessa procissão é literalmente oferecido, doado, entregue, “realizando”, portanto, o significado de “oferta”.

Como reza a significativa oração sobre as oferendas dessa Solenidade: “Ó Deus, olhai com bondade as oferendas da vossa Igreja, que não mais vos apresenta ouro, incenso e mirra, mas o próprio Jesus Cristo, imolado e recebido em comunhão nos dons que o simbolizam” (Missal Romano, p. 164).

Fiéis apresentam as âmbulas com as hóstias para a Eucaristia
Solenidade da Epifania 2020

Religiosas apresentam as galhetas com o vinho e a água
Solenidade da Epifania 2018

5. Oração Eucarística e bênção

Nessa Solenidade toma-se, naturalmente, o Prefácio da Epifania, “Cristo, luz dos povos” (Missal Romano, p. 413).

Convém recitar a Oração Eucarística I ou Cânon Romano, uma vez que o texto do Communicantes (Em comunhão com...) é próprio (cf. IGMR, n. 365):
“Em comunhão com toda a Igreja celebramos o dia santo em que vosso Filho único, convosco eterno em vossa glória, manifestou-se visivelmente em nossa carne. Veneramos também a Virgem Maria e seu esposo São José...” (Missal Romano, p. 471).

A Solenidade da Epifania do Senhor possui também um formulário de bênção solene próprio, que convém ser utilizado (Missal Romano, p. 521).

6. Bênção das casas

Ligada à Solenidade da Epifania, a piedade popular valoriza a bênção anual das famílias em suas casas. Embora atualmente se recomende priorizar para essa bênção o Tempo Pascal [3], essa bênção na Epifania pode também ser conservada.

Nessa bênção, o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia recorda em seu n. 118 o costume de escrever com giz sobre a porta da casa (resquício de um antigo ritual de proteção pagão) os algarismos do ano recém-iniciado e as letras GMB ou CMB.

Essas são interpretadas como as iniciais dos tradicionais nomes dos magos (Gaspar, Melchior e Baltasar) e como uma súplica a Cristo: Christus Mansionem Benedicat - Cristo abençoe esta casa.

A inscrição, que em alguns lugares é realizada pelas crianças vestidas como os magos (os chamados “cantores da estrela”), geralmente é feita da seguinte forma (para o ano de 2021): 20+C+M+B+21.

Inscrição com giz em uma porta (2021)

Notas:

[1] Isso acontece nos anos que começam em um domingo ou em uma segunda-feira. Nesse caso, as igrejas que celebram a Epifania no dia 06 de janeiro, celebram no domingo 07 ou 08 de janeiro a Festa do Batismo do Senhor. Isto acontecerá, por exemplo, nos anos de 2023 e 2024.
Nos demais anos, quando há um domingo entre os dias 02 e 06 de janeiro, todas as igrejas celebram a Festa do Batismo do Senhor no domingo seguinte à Epifania.

[2] Como vimos em nossa postagem sobre a história da Solenidade do Natal do Senhor, são vários os paralelos entre a manifestação do Senhor e o Mistério Pascal da sua Morte-Ressurreição. Por exemplo, os magos que trazem presentes ao Menino recordam as mulheres que levam perfumes ao túmulo na manhã da Ressurreição (cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 215-216: “O Natal na perspectiva da Páscoa”).

[3] cf. RITUAL DE BÊNÇÃOS. Tradução portuguesa da edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1990, pp. 31-38.

Referências:

ALDAZÁBAL, José. Instrução Geral sobre o Missal Romano - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007.

CERIMONIAL DOS BISPOS. Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. São Paulo: Paulus, 1988.

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003.

MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.

Postagem publicada originalmente em 04 de janeiro de 2013. Revista e ampliada em 25 de novembro de 2021.

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