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quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses (3)

“Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós” (Cl 3,16).

Nas postagens anteriores desta série sobre a leitura litúrgica dos livros da Sagrada Escritura iniciamos um estudo sobre a presença da Carta de São Paulo aos Colossenses (Cl) nas celebrações do Rito Romano.

Após uma breve introdução, analisamos sua leitura sob o critério da composição harmônica, isto é, da sintonia com o tempo ou a festa litúrgica (cf. Elenco das Leituras da Missa, n. 66) [1] na Celebração Eucarística e nos demais Sacramentos. Para acessar, clique aqui: 1ª parte / 2ª parte.

Agora concluiremos a análise sob esse critério com os Sacramentais e a Liturgia das Horas.

Jesus Cristo, Senhor dos Anjos
(Edward Burne-Jones)

2. Leitura litúrgica da Carta aos Colossenses: Composição harmônica

c) Sacramentais

Quanto aos Sacramentais, consideremos primeiramente aqueles que implicam a consagração de pessoas.

Na Bênção de abade ou abadessa consta dentre as leituras ad libitum (à escolha) o texto de Cl 3,12-17 [2], com a exortação à prática das virtudes. Destaca-se aqui o v. 16: “Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria”, recordando a função do abade ou abadessa como guia da comunidade.

Dessa mesma perícope é tomada uma das opções de aclamação ao Evangelho para essa celebração: “A paz de Cristo reine em vossos corações, para a qual fostes chamados num só corpo!” (Cl 3,15) [3].

Uma versão ligeiramente mais longa desse texto conta como 2ª opção de antífona de entrada para a Missa ritual: “Acima de tudo tende a caridade, que é laço da perfeição; e exulte em vossos corações a paz do Cristo” (Cl 3,14-15) [4].

Para a Consagração das virgens e a Profissão religiosa, que compartilham as mesmas opções de leituras, propõem-se dois textos à escolha: Cl 3,12-17, como acima, e Cl 3,1-4 [5], com a exortação a buscar “as coisas do alto, onde está Cristo”.

Na sequência contemplemos as bênçãos de pessoas, lugares e objetos, nas quais identificamos sete leituras do nosso escrito à escolha:

- Bênção anual de famílias em suas casas: Cl 3,12-25 [6], a exortação à prática das virtudes, como vimos anteriormente em outras celebrações, unida ao “código doméstico”, com conselhos aos esposos, aos pais e filhos.

- Bênção de nova biblioteca: Cl 3,16-17 [7], versão mais breve do texto acima, destacando a busca da sabedoria: “Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria” (v. 16).

- Bênção de imagem de Jesus Cristo para veneração pública: Cl 1,12-20 [8], o “hino cristológico”, com o seu prelúdio. Destaca-se aqui o v. 15, um dos textos que fundamentam a veneração de imagens: Cristo “é a imagem do Deus invisível”.

- Bênção de órgão: Cl 3,12-17 [9], com a exortação a cantar a Deus “salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças” (v. 16).

- Bênção de objetos devocionais: Cl 3,14-17 ou, na forma breve da bênção, Cl 3,17 [10], com a exortação: “Fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus”.

- Bênção em ação de graças: Cl 3,15-17 [11], novamente com o convite a elevar a Deus a nossa ação de graças. Esta bênção, assim como a próxima, mais do que um sentido “descendente” (de invocação da bênção de Deus), possui um sentido “ascendente”, isto é, quer “bendizer” a Deus, agradecendo por seus benefícios.

- Bênção para várias circunstâncias: Cl 1,9b-14 [12], a ação de graças do início da Carta, exortando a “levar uma vida digna do Senhor” e a “produzir frutos em toda boa obra” (v. 10).

“Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo” (Cl 3,1)
(Conversão de Paulo - Cristoforo Gherardi)

d) Liturgia das Horas

Por fim, concluímos nosso percurso pela leitura litúrgica da Carta aos Colossenses em composição harmônica com a Liturgia das Horas.

Iniciamos com as leituras longas do nosso escrito, proferidas no Ofício das Leituras. Temos aqui a mesma leitura proferida em duas ocasiões:

- Ofício das Leituras do II Domingo da Páscoa: Cl 3,1-17 [13], retomando a 2ª leitura do Domingo da Ressurreição: ressuscitados com Cristo pelo Batismo, somos exortados a assumir uma vida nova, buscando “as coisas do alto”.

- Ofício do Comum dos Santos Homens no Tempo Comum (1ª opção): Cl 3,1-17 [14], como acima, destacando-se a exortação à prática das virtudes.

As leituras breves de Colossenses, por sua vez, são mais numerosas, presentes nas Laudes, na Hora Média e nas Vésperas dos diversos tempos do Ano Litúrgico e das celebrações dos santos.

Começamos com o Tempo do Natal, no qual ocorrem quatro leituras de Colossenses:

Na Hora Média da Festa da Sagrada Família, no domingo após o Natal, são três textos, tomados da 2ª leitura da Missa, como vimos na primeira postagem sobre a Carta:
9h: Cl 3,12-13 - lista de virtudes (misericórdia, bondade, humildade...);
12h: Cl 3,14-15 - “o amor é o vínculo da perfeição”;
15h: Cl 3,17 - fazer tudo “em nome do Senhor Jesus Cristo” [15].

Nas Vésperas do dia 02 de janeiro e da quarta-feira após a Epifania lemos Cl 1,13-15 [16], atestando que, em sua Encarnação, Jesus Cristo se tornou a “imagem do Deus invisível”.

Ícone da Sagrada Família

Passando ao Tempo da Páscoa, identificamos outras três leituras breves da Carta, que se repetem a cada semana desse tempo:

- Hora Média (12h) das segundas-feiras do Tempo Pascal: Cl 2,9.10a.12 [17], no Batismo fomos “sepultados com Cristo” para sermos “ressuscitados” por meio d’Ele.

- Hora Média (15h) das terças-feiras do Tempo Pascal e da Solenidade da Ascensão do Senhor: Cl 3,1-2 [18], ressuscitados com Cristo pelo Batismo, somos exortados a buscar “as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus”.

- Hora Média (15h) das quintas-feiras do Tempo Pascal: Cl 1,12-14 [19], exortação a dar graças ao Pai que no Filho nos concedeu “a redenção, o perdão dos pecados”.

No Tempo Comum há também três leituras breves da Carta, na Hora Média da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, tomadas do “hino à soberania de Cristo” e do seu “prelúdio”:
9h: Cl 1,12-13 - Deus “nos recebeu no reino de seu Filho amado”;
12h: Cl 1,16b-18 - tudo foi criado por Cristo e para Ele, que “em tudo tem a primazia”;
15h: Cl 1,19-20 - pelo seu sacrifício na cruz, Cristo realizou a paz, reconciliando todos os seres [20].

Por fim, no Próprio dos Santos, com textos para as celebrações do Senhor, da Virgem Maria e dos santos com data fixa, ocorrem três textos do nosso escrito:

Nas Laudes da Memória de “Nossa Senhora das Dores” (15 de setembro) lemos Cl 1,24-25 [21], recordando a participação de Maria nos sofrimentos de Cristo.

Nas I e II Vésperas da Solenidade de São José, Esposo de Maria (19 de março) e nas Vésperas da Memória facultativa de São José Operário (01 de maio) se prevê a mesma leitura: Cl 3,23-24 [22], com a exortação: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de coração, como para o Senhor”, destacando a obediência de José em todas as dimensões da vida.

Por fim, nas Vésperas da Festa de São Marcos (25 de abril), da Memória de São Barnabé (11 de junho) e da Festa de São Lucas (18 de outubro) lemos Cl 1,3-6a [23]. Aqui se elogiam a fé, o amor e a esperança dos colossenses, uma vez que estes receberam o Evangelho, “Palavra da Verdade”, leitura particularmente adequada nas Festas dos Evangelistas Marcos e Lucas.

Cristo com os quatro Evangelistas
(Fra Bartolomeo)

Encerramos assim a terceira parte do nosso estudo sobre a leitura litúrgica da Carta aos Colossenses e com ela a análise sob o critério da composição harmônica. A quarta e última parte (a ser publicada no dia 09 de outubro) será dedicada à sua leitura semicontínua e às ocasiões em que o “hino cristológico” é entoado como cântico na Liturgia das Horas.

Notas:
[1] cf. ALDAZÁBAL, José. A Mesa da Palavra I: Elenco das Leituras da Missa - Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 76.
[2] LECIONÁRIO IV: Lecionário do Pontifical Romano. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 2000, p. 119.
[3] ibid., p. 122.
[4] MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, p. 815. A outra opção de antífona de entrada é Jo 15,16.
[5] LECIONÁRIO IV, op. cit., pp. 141-142.
[6] RITUAL DE BÊNÇÃOS. Tradução portuguesa da edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1990, p. 33.
[7] ibid., p. 209.
[8] ibid., p. 361. Para a bênção de uma imagem particular, para devoção pessoal, toma-se o formulário para objetos devocionais.
[9] ibid., p. 387.
[10] ibid., pp. 431.434.
[11] ibid., p. 456.
[12] ibid., p. 462.
[13] OFÍCIO DIVINO. Liturgia das Horas segundo o Rito Romano. Tradução para o Brasil da segunda edição típica. São Paulo: Paulus, 1999, vol. II, p. 570.
[14] ibid., vol. III, p. 1685; vol. IV, p. 1697. A 2ª opção de leitura é Rm 12,1-21. Para o Advento, o Natal, a Quaresma e a Páscoa são indicadas outras leituras, oferecendo maior diversidade de textos.
[15] ibid., vol. I, p. 387.
[16] ibid., vol. I, pp. 456.542. A quarta-feira após a Epifania corresponde ao dia 09 de janeiro onde essa Solenidade é celebrada no dia 06.
[17] ibid., vol. II, pp. 501.583.638.691.746.797.879.
[18] ibid., vol. II, pp. 515.590.646.699.754.804.836.887.
[19] ibid., vol. II, pp. 541.606.659.714.768.815.900. Na quinta-feira da VI semana, 40 dias após a Páscoa, a Igreja celebra a Solenidade da Ascensão do Senhor, que no Brasil é transferida para o domingo seguinte.
[20] ibid., vol. IV, p. 505.
[21] ibid., vol. IV, p. 1283.
[22] ibid., vol. II, pp. 1480.1490.1562.
[23] ibid., vol. II, p. 1546; vol. III, p. 1355; vol. IV, p. 1398.

Imagens: Wikimedia Commons.

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