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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Discurso do Papa ao Dicastério para o Culto Divino (2024)

No dia 08 de fevereiro de 2024 o Papa Francisco encontrou os membros do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos reunidos em Assembleia Plenária, com o tema “Euntes parate nobis Pascha - Ide preparar-nos a Páscoa (Lc 22,8): Caminhos de formação litúrgica para ministros ordenados e fiéis leigos”.

O encontro deu continuidade à reflexão da Assembleia Plenária de 2019, igualmente dedicada ao tema da formação litúrgica, destacando também os 60 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia, promulgada pelo Concílio Vaticano II em dezembro de 1963.

Confira a seguir o discurso do Papa Francisco aos membros do Dicastério:

Papa Francisco
Discurso aos participantes da Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
Sala Clementina
Quinta-feira, 08 de fevereiro de 2024

Caros irmãos e irmãs!
Encontro-vos por ocasião da vossa Assembleia Plenária. Saúdo o Cardeal Prefeito e todos vós, Membros, Consultores e Colaboradores do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Sessenta anos depois da promulgação da Sacrosanctum Concilium não deixam de nos entusiasmar as palavras que lemos no seu Proêmio, com as quais os Padres declaravam a finalidade do Concílio. São objetivos que descrevem uma precisa vontade de reforma a Igreja nas suas dimensões fundamentais: «fomentar cada vez mais entre os fiéis a vida cristã; adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições que podem ser modificadas; favorecer tudo o que possa contribuir para a união de todos aqueles que creem em Jesus Cristo; e fortalecer tudo o que possa atrair todas as pessoas ao seio da Igreja» (n. 1). Trata-se de um trabalho de renovação espiritual, pastoral, ecumênica e missionária. E para poder realizá-lo os Padres conciliares sabiam bem por onde deviam começar, sabiam que deviam «providenciar, de maneira especial, a reforma e o incremento da Liturgia» (ibid.). É como dizer: sem reforma litúrgica não há reforma da Igreja.


Só podemos fazer tal afirmação se compreendermos o que é a Liturgia no sentido teológico, como os primeiros números da Constituição sintetizam de maneira admirável. Uma Igreja que não sente a paixão pelo crescimento espiritual, que não procura falar de modo compreensível aos homens e mulheres do seu tempo, que não se entristece pela divisão entre os cristãos, que não treme com o anseio de anunciar Cristo às nações, é uma Igreja doente, e estes são os seus sintomas.

Toda instância de reforma da Igreja é sempre questão de fidelidade esponsal: a Igreja Esposa será sempre mais bela quanto mais amar Cristo Esposo, a ponto de pertencer totalmente a Ele, a ponto de conformar-se plenamente a Ele. E, sobre isto, digo uma coisa acerca da ministerialidade da mulher. A Igreja é mulher, a Igreja é mãe, a Igreja tem a sua figura em Maria, e a Igreja-mulher, cuja figura é Maria, é mais do que Pedro, ou seja, é outra coisa. Não se pode reduzir tudo à ministerialidade. A mulher em si mesma tem um símbolo muito grande na Igreja como mulher, sem reduzi-la à ministerialidade. Por isso eu disse que toda instância de reforma da Igreja é sempre questão de fidelidade conjugal, porque ela é mulher. Os Padres conciliares sabiam que deviam colocar no centro a Liturgia, porque é o lugar por excelência do encontro com Cristo vivo. O Espírito Santo, que é o precioso dom que o próprio Esposo, com a sua cruz, proporcionou à Esposa, torna possível aquela actuosa participatio (participação ativa) que continuamente anima e renova a vida batismal.

O objetivo da reforma litúrgica - no quadro mais amplo da renovação da Igreja - é precisamente «suscitar aquela formação dos fiéis e promover aquela ação pastoral que tem como seu ápice e sua fonte a sagrada Liturgia» (Instrução Inter oecumenici, 26 de setembro de 1964, n. 5).

Para que tudo isto possa acontecer, portanto, é necessária a formação litúrgica, isto é, a formação para a Liturgia e pela Liturgia, sobre a qual estais refletindo nestes dias. Não se trata de uma especialização para poucos expertos, mas de uma disposição interior de todo o povo de Deus. Isto naturalmente não exclui que haja uma prioridade na formação daqueles que, em virtude do sacramento da Ordem, são chamados a ser mistagogos, isto é, a tomar os fiéis pela mão e acompanhá-los no conhecimento dos santos mistérios. Encorajo-vos a prosseguir neste vosso compromisso, para que os pastores saibam conduzir o povo à boa pastagem da celebração litúrgica, onde o anúncio de Cristo morto e ressuscitado se torna experiência concreta da sua presença que transforma a vida.

No espírito de colaboração sinodal entre os Dicastérios almejada na Praedicate Evangelium (n. 8), desejo que a questão da formação litúrgica dos ministros ordenados seja tratada também com o Dicastério para a Cultura e a Educação, com o Dicastério para o Clero e com o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, de modo que cada um ofereça a própria contribuição específica. Se «a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte da qual emana toda a sua força» (Sacrosanctum Concilium, n. 10), é preciso fazer com que também a formação dos ministros ordenados tenha sempre mais um cunho litúrgico-sapiencial, tanto no currículo dos estudos teológicos como na experiência de vida dos Seminários.

Por fim, enquanto preparamos novos percursos formativos para os ministros, devemos pensar ao mesmo tempo naqueles destinados ao povo de Deus, partindo das assembleias que se reúnem no dia do Senhor e nas festas do Ano Litúrgico: essas constituem a primeira oportunidade concreta de formação litúrgica. E o mesmo vale para outros momentos nos quais as pessoas participam mais nas celebrações e na sua preparação: penso nas festas dos padroeiros ou nos Sacramentos da iniciação cristã. Preparados com cuidado pastoral, se tornam ocasiões favoráveis para que as pessoas possam redescobrir e aprofundar o sentido de celebrar hoje o mistério da salvação.

«Ide preparar-nos a Páscoa» (Lc 22,8): estas palavras de Jesus, que inspiram as vossas reflexões nestes dias, exprimem o desejo do Senhor de reunir-nos em torno da mesa do seu Corpo e do seu Sangue. São um imperativo que chega a nós como uma súplica amorosa: dedicar-se à formação litúrgica significa corresponder a esse convite, para que “possamos comer a Páscoa” e viver uma existência pascal, pessoal e comunitária.

Caros irmãos e irmãs, a vossa tarefa é grande e bela: trabalhar para que o povo de Deus cresça na consciência e na alegria de encontrar o Senhor celebrando dos santos mistérios e, encontrando-o, tenha vida em seu nome. Agradeço-vos tanto pelo vosso empenho e abençoo-vos de coração. Que a Virgem Santa vos proteja. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado.


Tradução livre nossa a partir do original italiano. Fonte: Santa Sé.

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