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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Homilia do Papa: VI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santa Missa e Canonização da Beata Maria Antônia de São José de Paz y Figueroa
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Pedro
Domingo, 11 de fevereiro de 2024

A 1ª Leitura (Lv 13,1-2.45-46) e o Evangelho (Mc 1,40-45) falam da lepra, uma doença que causa a progressiva destruição física da pessoa e que muitas vezes, infelizmente, ainda está hoje associada em certos lugares com atitudes de marginalização. Lepra e marginalização são dois males dos quais Jesus quer libertar o homem que encontra no Evangelho. Vejamos a sua situação.

Aquele leproso é obrigado a viver fora da cidade. Fragilizado pela doença, em vez de receber ajuda dos seus concidadãos, é abandonado a si mesmo, acabando duplamente ferido pelo afastamento e a rejeição. Por quê? Em primeiro lugar, por medo; medo de ser contagiado e acabar como ele: «Que não nos aconteça o mesmo... É melhor não arriscar! Mantenhamo-nos à distância». O medo; depois, por preconceito: «Se lhe veio uma doença assim horrível, com certeza (era opinião comum) é porque Deus o está castigando por qualquer falta que cometeu; ele merece. É bem feito!». Este é o preconceito. E, finalmente, por uma falsa religiosidade: pensava-se então que tocar um morto tornava a pessoa impura, e os leprosos eram pessoas cuja carne lhes «morria no corpo»; por isso tocá-los (assim se pensava!) significava tornar-se impuro como eles: trata-se de uma religiosidade vesga, que levanta barreiras e mina a piedade.


Medo, preconceito e falsa religiosidade: aqui estão três causas de uma grande injustiça, três «lepras da alma» que fazem sofrer uma pessoa frágil, descartando-a como qualquer desperdício. Irmãos, irmãs, não pensemos que se trata de coisas só do passado. Quantas pessoas sofredoras encontramos nas calçadas das nossas cidades! E quantos medos, preconceitos e incoerências, mesmo entre quem acredita e se professa cristão, continuam a ferir ainda mais! Também no nosso tempo há tanta marginalização, há barreiras a derrubar, «lepras» a curar. Mas como? O que podemos fazer? O que faz Jesus? Jesus realiza dois gestos: toca e cura.

Primeiro gesto: tocar. Como resposta à súplica de ajuda daquele homem (cf. Mc 1,40), Jesus sente compaixão, para, estende a mão e toca-o (v. 41), mesmo sabendo que Ele mesmo, ao fazê-lo, se tornará uma «pessoa rejeitada». Mais ainda! Paradoxalmente, invertem-se os papéis: o doente, quando estiver curado, poderá ir ter com os sacerdotes e ser readmitido na comunidade; Jesus, ao contrário, não poderá mais entrar em nenhum centro habitado (v. 45). Ora o Senhor poderia evitar tocar naquela pessoa; bastava «curá-la à distância». Mas Cristo não pensa assim; o seu caminho é o do amor, que o faz se aproximar de quem sofre, entrar em contato, tocar as suas feridas. A proximidade de Deus. Jesus é próximo, Deus é próximo. O nosso Deus, queridos irmãos e irmãs, não se manteve distante no céu, mas em Jesus fez-se homem para tocar a nossa pobreza. E perante a «lepra» mais grave, que é o pecado, não hesitou em morrer na cruz, fora das muralhas da cidade, rejeitado como um pecador, como um leproso, para tocar a fundo a nossa realidade humana. Um santo escreveu: «Fez-se leproso por nós».

E nós, que amamos e seguimos Jesus, sabemos assumir o seu «toque»? Não é fácil e devemos prestar atenção sempre que, no coração, aparecem os instintos opostos àquele seu «aproximar-se» e «fazer-se dom»: por exemplo, quando nos distanciamos dos outros para pensar em nós mesmos, quando circunscrevemos o mundo às muralhas do nosso «estar tranquilos», quando julgamos que o problema são sempre e só os outros... Nestes casos, tenhamos cuidado, porque o diagnóstico é claro: «lepra da alma». Uma doença que nos torna insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói com as «gangrenas» do egoísmo, do preconceito, da indiferença e da intolerância. Tenhamos cuidado também porque, irmãos e irmãs, como acontece na fase inicial da doença, com as primeiras manchas de lepra que aparecem na pele, se não tomarmos medidas imediatas, a infeção cresce e torna-se devastadora. Diante deste risco, da possibilidade desta enfermidade em nossa alma, qual é a cura?

Nisto ajuda-nos o segundo gesto de Jesus, que cura (cf. Mc 1,42). De fato, aquele seu «tocar» não indica apenas proximidade, mas é o início da cura. E o estilo de Deus é a proximidade: Deus é sempre próximo, compassivo e terno. Proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus. E nós, estamos abertos a isto? Pois é deixando-nos tocar por Jesus que nos curamos intimamente, no coração. Se nos deixarmos tocar por Ele na oração, na adoração, se lhe permitirmos agir em nós através da sua Palavra e dos Sacramentos, o seu contato realmente nos transforma, nos cura do pecado, nos liberta de fechamentos, nos transforma para além daquilo que podemos fazer sozinhos, com os nossos esforços. As nossas partes feridas - as do coração e da alma -, as doenças da alma, devem ser levadas a Jesus. É isto que faz a oração; não uma oração abstrata, feita apenas de repetição de fórmulas, mas uma oração sincera e viva, que depõe aos pés de Cristo as misérias, as fragilidades, as falsidades, os medos. Pensemos e perguntemo-nos: Deixo Jesus tocar as minhas «lepras» para que me cure?

Com efeito, ao «toque» de Jesus, renasce o melhor de nós mesmos: os tecidos do coração regeneram-se; o sangue dos nossos impulsos criativos recomeça a fluir cheio de amor; as feridas dos erros do passado cicatrizam-se e a pele das relações recupera a sua consistência sadia e natural. Assim retorna a beleza que possuímos, a beleza que somos; a beleza de sermos amados por Cristo, redescobrimos a alegria de nos doar aos outros, sem medos nem preconceitos, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão; retoma força em nós a capacidade de amar, para além de todo e qualquer cálculo e conveniência.

Então, como diz uma página muito bela da Escritura, daquilo que parecia um vale de ossos secos, ressurgem corpos vivos e renasce um povo de salvados, uma comunidade de irmãos (cf. Ez 37,1-14). Mas seria enganador pensar que este milagre, para se realizar, requeira formas grandiosas e espetaculares. Na verdade, acontece principalmente na caridade sem alarde de cada dia: a caridade que se vive na família, no trabalho, na paróquia e na escola; na rua, no escritório e no mercado; a caridade que não busca publicidade nem precisa de aplausos, porque ao amor basta o amor (cf. Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos 118, 8, 3). Jesus sublinha isto hoje, quando ordena ao homem curado que não fale do caso a ninguém (cf. Mc 1,44): proximidade e discrição. Irmãos e irmãs, é assim que Deus nos ama e, se nos deixarmos tocar por Ele, também nós, com a força do seu Espírito, poderemos tornar-nos testemunhas do amor que salva.

E hoje pensemos em Maria Antônia de São José, «Mama Antula». Foi uma peregrina do Espírito. Percorreu milhares de quilômetros a pé, através de desertos e de estradas perigosas, para levar Deus às pessoas. Hoje é para nós um modelo de fervor e de audácia apostólica. Quando os jesuítas foram expulsos, o Espírito acendeu nela uma chama missionária fundada sobre a confiança na Providência e sobre a perseverança. Invocou a intercessão de São José e, para não cansá-lo muito, também a de São Caetano de Thiene. Por este motivo, introduziu a devoção a este último, e a sua primeira imagem chegou a Buenos Aires no século XVIII. Graças à «Mama Antula» este santo, intercessor da Divina Providência, fez caminho entre as casas, os bairros, nos meios de transporte, nos locais de comércio, nas fábricas e nos corações, para oferecer uma vida digna através do trabalho, da justiça e do pão de cada dia na mesa dos pobres. Peçamos hoje a Santa Maria Antônia de São José, que nos ajude muito. O Senhor nos abençoe a todos.


Fonte: Santa Sé.

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