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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Catequese do Papa: O presépio de Greccio

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 20 de dezembro de 2023 
O presépio de Greccio, escola de sobriedade e de alegria

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Há 800 anos, no Natal de 1223, São Francisco realizou um presépio vivo em Greccio. Enquanto se prepara ou se completa o presépio nas casas e em muitos outros lugares, é bom redescobrirmos as suas origens.

Como nasceu o presépio? Qual era a intenção de São Francisco? Ele dizia assim: «Gostaria de representar o Menino nascido em Belém e, de certo modo, ver com os olhos do corpo as dificuldades em que se encontrou por falta das coisas necessárias para um recém-nascido, como foi colocado numa manjedoura e como se deitava sobre o feno entre o boi e o pequeno burro» (Tomás de Celano, Vita prima, XXX, 84: Fontes Franciscanas 468). Francisco não quer realizar uma bela obra de arte, mas suscitar, através do presépio, a admiração pela extrema humildade do Senhor, pelas dificuldades que padeceu, por amor a nós, na pobre gruta de Belém. Com efeito, o biógrafo do Santo de Assis observa: «Naquela cena comovedora resplandece a simplicidade evangélica, louva-se a pobreza, recomenda-se a humildade. Greccio tornou-se como uma nova Belém» (ibid., 85: FF 46). Frisei uma palavra: admiração. E isto é importante. Se nós, cristãos, fitarmos o presépio como uma coisa bonita, como algo histórico, até religioso, e rezarmos, não é suficiente. Perante o mistério da Encarnação do Verbo, diante do nascimento de Jesus, precisamos desta atitude religiosa da admiração. Se face aos mistérios eu não tiver esta admiração, a minha fé será simplesmente superficial; uma fé “informática”. Não o esqueçais!


E uma característica do presépio é que nasce como escola de sobriedade. E isto tem muito a dizer-nos. Com efeito, hoje o risco de perder o que conta na vida é grande e, paradoxalmente, aumenta precisamente no Natal - a mentalidade do Natal altera-se - imersos em um consumismo que corrói o seu significado. O consumismo do Natal. É verdade, é bom desejar oferecer presentes, é um modo, mas esse frenesi de ir fazer compras chama a atenção para outro lado e não há aquela sobriedade do Natal. Olhemos para o presépio: o enlevo diante do presépio. Às vezes, não há espaço interior para a admiração, mas apenas para organizar as festividades, para fazer festa. 

E o presépio nasce para nos restituir ao que conta: a Deus que vem habitar no meio de nós. Por isso é importante olhar para o presépio, porque nos ajuda a compreender o que conta e também as relações sociais de Jesus naquele momento, a família, José e Maria, e os entes queridos, os pastores. As pessoas antes das coisas. E muitas vezes colocamos as coisas à frente das pessoas. Isto não funciona! 

Mas o presépio de Greccio, para além da sobriedade que manifesta, fala também da alegria, pois a alegria é algo diferente da diversão. Mas divertir-se não é mau, se for feito pelos bons caminhos; não é mau, é algo humano. Mas a alegria é ainda mais profunda, mais humana. E, às vezes, há a tentação de se divertir sem alegria; de se divertir fazendo barulho, mas sem alegria. É um pouco como a figura do palhaço, que ri, faz rir, mas o coração está triste. A alegria é a raiz de uma boa diversão para o Natal. E sobre a alegria, as notícias daquela época dizem: «E chega o dia do júbilo, o tempo da exultação! (...) Francisco está radiante (...). O povo aflui e rejubila com uma alegria nunca antes experimentada (...). Todos voltaram para casa cheios de uma alegria inefável» (Vita prima, XXX, 85-86: FF 469-470). A sobriedade, o assombro, leva-nos à alegria, à verdadeira alegria, não à alegria artificial.

Mas de onde derivava esta alegria natalícia? Não era certamente de ter trazido presentes para casa ou de ter vivido celebrações pomposas. Não, era a alegria que transborda do coração, quando se toca com a mão a proximidade de Jesus, a ternura de Deus, que não deixa sozinho, mas consola. Proximidade, ternura e compaixão: eis as três atitudes de Deus. E olhando para o presépio, rezando diante do presépio, poderemos sentir estas coisas do Senhor, que nos ajudam na vida de todos os dias. 

Amados irmãos e irmãs, o presépio é como um pequeno poço do qual haurir a proximidade de Deus, nascente de esperança e de alegria. O presépio é como um Evangelho vivo, um Evangelho doméstico. É como o poço na Bíblia, é o lugar do encontro, onde apresentar a Jesus, como fizeram os pastores de Belém e os habitantes de Greccio, as expectativas e as preocupações da vida. Apresentar a Jesus as expectativas e as preocupações da vida. Se, diante do presépio, confiarmos a Jesus o que temos no coração, também nós experimentaremos «uma imensa alegria » (Mt 2,10), uma alegria que vem precisamente da contemplação, do espírito de enlevo com que vou contemplar estes mistérios. Aproximemo-nos do presépio. Que cada um contemple e que o coração sinta algo. 


Fonte: Santa Sé.

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