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terça-feira, 25 de abril de 2023

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (33)

A quinta e última meditação do Papa Bento XVI sobre a oração dos Atos dos Apóstolos dentro do seu ciclo de Catequeses sobre a oração foi dedicada ao episódio da libertação de Pedro da prisão.

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Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 09 de maio de 2012
A oração (33):
A oração da Igreja por Pedro (At 12)

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de meditar sobre o último episódio da vida de São Pedro narrado nos Atos dos Apóstolos: o seu aprisionamento por vontade de Herodes Agripa e a sua libertação através da intervenção prodigiosa do Anjo do Senhor, na vigília do seu processo em Jerusalém (At 12,1-17).

A narração é mais uma vez caracterizada pela oração da Igreja. Com efeito, São Lucas escreve: «Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele» (v. 5). E, depois de ter deixado milagrosamente o cárcere, por ocasião da sua visita à casa de Maria, mãe de João chamado Marcos, afirma-se que «numerosos fiéis estavam reunidos rezando» (v. 12). Entre estas duas anotações importantes que explicam a atitude da comunidade cristã diante do perigo e da perseguição, são narradas a detenção e a libertação de Pedro, que dura a noite inteira. A força da oração incessante da Igreja eleva-se até Deus e o Senhor ouve e realiza uma libertação impensável e inesperada, enviando o seu Anjo.

A libertação de São Pedro da prisão (Federico Zuccari)

A narração evoca os grandes elementos da libertação de Israel da escravidão do Egito, a Páscoa judaica. Como aconteceu naquele evento fundamental, também aqui o gesto principal é levado a cabo pelo Anjo do Senhor, que liberta Pedro. E se as próprias ações do Apóstolo - ao qual se pede que levante depressa, ponha o cinto e cinja os rins - corroboram as do povo eleito na noite da libertação por intervenção de Deus, quando foi convidado a comer depressa o cordeiro com os rins cingidos, as sandálias aos pés, o cajado na mão, pronto para sair do país (Ex 12,11). Assim, Pedro pode exclamar: «Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes» (At 12,11).

Mas o Anjo evoca não apenas aquele da libertação de Israel do Egito, mas também o da Ressurreição de Cristo. Com efeito, narram os Atos dos Apóstolos: «Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: “Levanta-te depressa!”» (At 12,7). A luz que enche o espaço da prisão e o próprio gesto de acordar o Apóstolo estão relacionadas com a luz libertadora da Páscoa do Senhor que vence as trevas da noite e do mal. Finalmente, o convite: «Vem comigo!» (v. 8), faz ressoar no coração as palavras da chamada inicial de Jesus (Mc 1,17), repetida depois da Ressurreição no lago de Tiberíades, onde o Senhor diz duas vezes a Pedro: «Segue-me» (Jo 21,19.22). É um convite urgente ao seguimento: só vivemos a liberdade verdadeira se sairmos de nós mesmos, para nos colocarmos a caminho com o Senhor e cumprirmos a sua vontade.

Gostaria de ressaltar também outro aspecto da atitude de Pedro no cárcere; com efeito, notemos que, enquanto a comunidade cristã reza com insistência por ele, «Pedro dormia» (At 12,6). Em uma situação tão crítica e de sério perigo, é uma atitude que pode parecer estranha, mas que ao contrário denota tranquilidade e confiança; ele confia em Deus, sabe que está circundado pela solidariedade e pela oração dos seus e abandona-se totalmente nas mãos do Senhor. Assim deve ser a nossa oração: assídua, solidária com os outros, plenamente confiante em relação a Deus, que nos conhece no íntimo e cuida de nós, a tal ponto que - diz Jesus - «até os cabelos da cabeça estão todos contados»; portanto, «Não tenhais medo!» (Mt 10,30-31).

Pedro vive a noite do cativeiro e da libertação do cárcere como um momento do seu seguimento do Senhor, que vence as trevas da noite e liberta da escravidão das correntes e do perigo de morte. A sua libertação é prodigiosa, caracterizada por vários trechos descritos cuidadosamente: orientado pelo Anjo, não obstante a vigilância dos guardas, atravessa o primeiro e o segundo posto de guarda, até à porta de ferro que introduz na cidade: e a porta abre-se sozinha diante deles (At 12,10). Pedro e o Anjo do Senhor percorrem juntos uma parte do caminho até que, voltando a si, o Apóstolo se dá conta de que o Senhor realmente o libertou e, depois de ter meditado, vai à casa de Maria, mãe de Marcos, onde muitos dos discípulos estão reunidos em oração; mais uma vez, a resposta da comunidade à dificuldade e ao perigo é confiar em Deus, intensificar a relação com Ele.

Aqui, parece-me útil evocar outra situação difícil, que foi vivida pela comunidade cristã das origens. Fala-nos dela São Tiago em sua Carta. Trata-se de uma comunidade em crise, em dificuldade, não tanto devido às perseguições, mas porque no seu interior há invejas e conflitos (Tg 3,14-16). E o Apóstolo interroga-se acerca do motivo desta situação. Ele encontra duas razões principais: a primeira é deixar-se dominar pelas paixões, pela ditadura dos próprios desejos, pelo egoísmo (Tg 4,1-2a); a segunda é a falta de oração - «não pedis» (v. 2b) - ou a presença de uma oração que não se pode definir como tal - «Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres» (v. 3). Segundo São Tiago, esta situação mudaria se a comunidade falasse totalmente unida com Deus, se rezasse realmente de modo assíduo e unânime. Com efeito, também o discurso sobre Deus corre o risco de perder a sua força interior e o testemunho esgota-se se não forem animados, sustentados e acompanhados pela oração, pela continuidade de um diálogo vivo com o Senhor. Uma exortação importante inclusive para nós e para as nossas comunidades, quer pequenas, como a família, quer as mais vastas, como a paróquia, a Diocese e a Igreja inteira. E isto faz-me pensar que rezavam nesta comunidade de São Tiago, mas rezavam mal, somente para satisfazer os próprios prazeres. Temos que aprender sempre de novo a rezar bem, a orar realmente, orientando-nos para Deus e não para o nosso próprio bem.

Ao contrário, a comunidade que acompanha o cativeiro de Pedro é uma comunidade que reza verdadeiramente, durante a noite inteira, unida. E a alegria que invade o coração de todos quando, inesperadamente, o Apóstolo bate à porta é irreprimível. São a alegria e a admiração diante da obra de Deus que ouve. Assim, da Igreja eleva-se a oração por Pedro, e na Igreja ele volta para narrar «como o Senhor o tinha tirado da prisão» (At 12,17). Naquela Igreja onde ele é posto como rocha (Mt 16,18), Pedro narra a sua «páscoa» de libertação: ele experimenta que no seguimento de Jesus encontra a liberdade verdadeira, é envolvido pela luz resplandecente da Ressurreição e por isso pode testemunhar até ao martírio que o Senhor é o Ressuscitado e que «de fato, o Senhor enviou o seu anjo para libertá-lo do poder de Herodes» (At 12,11). O martírio que depois padecerá em Roma o unirá definitivamente a Cristo, que lhe tinha dito: «Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir»; «Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus» (Jo 21,18-19).

Caros irmãos e irmãs, o episódio da libertação de Pedro, narrado por Lucas, diz-nos que a Igreja, cada um de nós, atravessa a noite da provação, mas é a vigilância incessante da oração que nos sustenta. Também eu, desde o primeiro momento da minha eleição como Sucessor de São Pedro, sempre me senti sustentado pela vossa oração, pelas preces da Igreja, principalmente nos momentos mais difíceis. Agradeço de coração. Com a oração constante e confiante, o Senhor liberta-nos das cadeias, guia-nos para atravessar qualquer noite de cativeiro que possa afligir o nosso coração, infunde-nos a serenidade do coração para enfrentar as dificuldades da vida, até a rejeição, a oposição e a perseguição. O episódio de Pedro mostra esta força da oração. E mesmo aprisionado, o Apóstolo sente-se tranquilo, na certeza de que nunca está sozinho: a comunidade reza por ele, o Senhor está próximo; aliás, ele sabe que «é na fraqueza que a força de Cristo se manifesta» (2Cor 12,9). A oração constante e unânime é um instrumento precioso também para superar as provações que podem surgir ao longo do caminho da vida, porque o fato de estarmos profundamente unidos a Deus permite-nos estar também profundamente unidos aos outros.


Fonte: Santa Sé.

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