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sábado, 19 de junho de 2021

Homilia: XII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Orígenes
Sermão sobre São Mateus
Para que fossem confirmados na fé

Senhor, salva-nos, que estamos perecendo. Era tanto o temor que tinham, estavam tão perturbados e tão fora de si, que chegaram ao Senhor com grande alteração, sem descanso nem sossego, mas muito apressados, e lhe disseram assim: Senhor, salva-nos, que estamos perecendo. Ó bem-aventurados e verdadeiros discípulos de Deus! Tendes convosco ao verdadeiro Senhor e Salvador do mundo, e temeis algum perigo? Tendes convosco a vida, e temeis a morte? Tendes presente ao Criador do mar, e lhe despertais com medo da tempestade? Como? Pois não basta seu poder, mesmo que com o corpo durma, para amansar as ondas e aplacar a tempestade?

Mas a isto responderão estes santos e tão amados discípulos: “Agora nós somos pequenos, somos fracos, não estamos fortificados na fé, e por isso tememos, ainda não vimos a cruz do Senhor; ainda não fomos confirmados na gloriosa Paixão e triunfante Ressurreição; na sua maravilhosa Ascensão aos céus; não nos visitou com a vinda do Espírito Santo sobre nós, e desta forma não vos maravilheis de que sejamos fracos e temamos, e por isso mesmo ouvimos muitas vezes que, repreendendo-nos, o Senhor nos chama homens de pouca fé, e tudo o sofremos com amor e humildade para segui-lo”.

Por que estais tão medrosos, homens de pouca fé? Por que não tendes fortaleza? Por que não tendes perfeita confiança e segurança? Como? E se a morte vos viesse, não seria motivo que com muita constância a sofrêsseis? Não sabeis que a fortaleza é virtude necessária para sofrer tudo o que nos sobrevém? Qualquer perigo e tribulação, até a própria morte se sofre com a fortaleza: a fortaleza também é útil contra os prazeres, riquezas e honras do mundo, porque com ela nos defendemos para não nos ensoberbecermos, para não desvanecermos.

Porque a fortaleza nos ensina a não menosprezar aos nossos inimigos, nem ter em pouca consideração aos pobres humildes; ensina-nos como não devemos esquecer-nos de Deus, nem desamparar ao nosso Criador, nem ser-lhe ingratos; e de uma coisa vos aviso: que se é necessária a virtude da fortaleza para combater as adversidades e as dificuldades, para armar-se da fé e sofrer tudo por Deus, não é menos necessária para saber usar das honras, riquezas e prosperidades que o mundo nos dá, para que não nos sirvam de ciladas em que o diabo nos amarre.

Portanto, por que estais perturbados, ó homens de pouca fé? Se crestes que Eu sou verdadeiramente Deus, Criador de todas as coisas, e por isso me seguistes e me tomastes por Mestre, como duvidais que o que Eu criei esteja em meu poder e ao meu comando? Por que duvidastes, ó homens de pouca fé? Não sabeis que está escrito que aquele que pouco crê será repreendido; e o que nada crê, será menosprezado? Os fracos na fé serão repreendidos, os que forem completamente alheios à fé serão castigados.

Então, levantando-se, ordenou aos ventos e ao mar, e houve grande calmaria. O grande profeta disse: E levantando-se o Senhor como quem dormia, ou como um poderoso embriagado por vinho, feriu a todos os seus inimigos nas costas; agora, levantando-se, ordenou aos ventos e ao mar, e houve grande calmaria. Ordenou aos ventos e ao mar como seu Criador que era: ordenou aos seus como poderoso, ordenou aos ventos como seu Senhor, e ordenou-lhes antes por seus discípulos, para que eles, vendo-o, fossem confirmados na fé.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 412-414. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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