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sábado, 19 de junho de 2021

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus meditada por João Paulo II (16)

Quase concluindo a série de meditações do Papa sobre a Ladainha do Sagrado Coração, trazemos aqui as invocações n. 30 e 31:
Cor Iesu, victima peccatorum, miserere nobis.
Cor Iesu, salus in te sperantium, miserere nobis.

Para acessar a apresentação e o sumário com os links de todas as postagens desta série, clique aqui.

31. Coração de Jesus, vítima pelos pecadores
Ângelus do dia 10 de setembro de 1989

Coração de Jesus, vítima pelos pecadores, tende piedade de nós.
1. Caríssimos irmãos e irmãs, esta invocação da Ladainha do Sagrado Coração nos recorda que Jesus, segundo a palavra do Apóstolo Paulo, “foi entregue por nossos pecados” (Rm 4,25); pois, ainda que Ele não tenha cometido pecado, “Deus o fez pecado por nós” (2Cor 5,21). O Coração de Cristo foi sobrecarregado pelo peso do pecado do mundo.
N’Ele se cumpriu de modo perfeito a figura do “cordeiro pascal”, vítima oferecida a Deus para que, no sinal do seu sangue, fossem poupados da morte os primogênitos dos hebreus (cf. Ex 12,21-27). Justamente, portanto, João Batista reconheceu n’Ele o verdadeiro “cordeiro de Deus” (Jo 1,29): cordeiro inocente, que havia tomado sobre si o pecado do mundo para submergi-lo nas águas salutares do Jordão (cf. Mt 3,13-16 e paralelos); cordeiro manso, “levado ao matadouro; como ovelha diante dos que a tosquiam, Ele não abriu a boca” (Is 53,7), para que, por seu divino silêncio, fosse confundida a palavra soberba dos homens iníquos.
Jesus é vítima voluntária, porque se ofereceu “abraçando livremente a Paixão” (Missal Romano, Oração Eucarística II), como vítima de expiação pelos pecados dos homens (cf. Lv 1,4; Hb 10,5-10), que consumiu no fogo de seu amor.

2. Jesus é vítima eterna. Ressuscitado da morte e glorificado à direita do Pai, Ele conserva em seu corpo imortal os sinais das chagas das mãos e dos pés perfurados, do lado transpassado (cf. Jo 20,27; Lc 24,39-40) e os apresenta ao Pai em sua incessante oração de intercessão em nosso favor (cf. Hb 7,25; Rm 8,34).
A admirável Sequência da Missa de Páscoa, recordando este dado de nossa fé, exorta:
“À Vítima pascal ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor.
O Cordeiro resgatou as ovelhas: Cristo, o Inocente, reconciliou com o Pai os pecadores”
E o Prefácio dessa mesma Solenidade proclama: Cristo é “o verdadeiro cordeiro, que tira o pecado do mundo. Morrendo, destruiu a morte e, ressurgindo, deu-nos a vida” (Missal Romano, Prefácio da Páscoa I).

3. Irmãos e irmãs, nesta hora da oração mariana contemplamos o Coração de Jesus, vítima pelos nossos pecados; mas antes de todos e mais profundamente que todos o contemplou a sua Mãe dolorosa, sobre a qual a Liturgia canta: “Pelos pecados do seu povo / ela viu Jesus nos tormentos / do duro suplício” (Sequência Stabat Mater, 7ª estrofe 7) [2].
Na proximidade da memória litúrgica de Nossa Senhora das Dores, recordemos esta presença intrépida e intercessora da Virgem sob a cruz do Calvário, e pensemos com imensa gratidão que, naquele momento, Cristo, que estava para morrer, vítima pelos pecados do mundo, confiou-a a nós como Mãe: “Eis aí a tau Mãe” (Jo 19,27).
Confiemos nossa oração a Maria, enquanto dizemos a seu Filho Jesus:
Coração de Jesus, vítima pelos nossos pecados, acolhe nosso louvor, nossa gratidão perene, nosso arrependimento sincero. Tende piedade de nós hoje e sempre. Amém.

32. Coração de Jesus, salvação dos que esperam em vós
Ângelus do dia 17 de setembro de 1989

1. Caríssimos irmãos e irmãs,
Nesta hora do Ângelus, paremos durante alguns instantes para refletir sobre essa invocação da Ladainha do Sagrado Coração que diz: Coração de Jesus, salvação dos que esperam em vós, tende piedade de nós.
Na Sagrada Escritura aparece constantemente a afirmação de que o Senhor é “um Deus que salva” (cf. Ex 15,2; Sl 51,16; 79,9; Is 46,13) e a salvação é um dom gratuito de seu amor e de sua misericórdia. O Apóstolo Paulo, em um texto de alto valor doutrinal, afirma incisivamente: Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4; cf. 4,10).
Esta vontade salvífica, que se manifestou em tantas intervenções admiráveis de Deus na história, alcançou seu ápice em Jesus de Nazaré, Verbo encarnado, Filho de Deus e Filho de Maria, pois n’Ele se cumpriu em plenitude a palavra dirigida pelo Senhor a seu “Servo”: “Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra” (Is 49,6; cf. Lc 2,32).

2. Jesus é a epifania do amor salvífico do Pai (cf. Tt 2,11; 3,4). Quando Simeão tomou em seus braços o Menino Jesus, exclamou: “Meus olhos viram tua salvação” (Lc 2,30).
Em Jesus, de fato, tudo está em função da sua missão de Salvador: o nome que leva (“Jesus” significa “Deus salva”), as palavras que pronuncia, as ações que realiza e os sacramentos que institui.
Jesus é plenamente consciente da missão que o Padre lhe confiou: “O Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). De seu Coração, isto é, do núcleo mais íntimo do seu ser, brota esse zelo pela salvação do homem que o impulsiona a subir, como manso cordeiro, ao monte Calvário, a estender seus braços na cruz e a “dar a sua vida como resgate por muitos” (Mc 10,45).

3. No Coração de Cristo nós podemos, portanto, colocar nossa esperança. Esse Coração - diz a invocação - é salvação “para os que esperam n’Ele”. O próprio Senhor que, na véspera da sua Paixão, pediu aos Apóstolos que tivessem confiança n’Ele - “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” (Jo 14,1) - hoje nos pede que confiemos plenamente n’Ele: pede-o porque nos ama; porque, para nossa salvação, tem seu Coração transpassado e seus pés e mãos perfurados. Quem confia em Cristo e crê no poder do seu amor, renova em si a experiência de Maria Madalena, como nos apresenta a Liturgia pascal: “Ressuscitou Cristo, minha esperança:” (Domingo de Páscoa, Sequência Victimae paschali laudes, 6ª estrofe).
Refugiemo-nos, pois, no Coração de Cristo! Ele nos oferece uma palavra que não passa (cf. Mt 24,25), um amor que não desfalece, uma amizade que não se quebra, uma presença que não cessa (cf. Mt 28,20).
A Bem-aventurada Virgem, que “acolhendo a Palavra no coração sem mancha, mereceu concebê-la no seio virginal” (cf. Missal Romano, Prefácio da Missa votiva de Nossa Senhora, Mãe da Igreja), nos ensine a depositar no Coração de seu Filho nossa total esperança, na certeza de que esta não será defraudada.

O Coração de Jesus, refúgio dos aflitos e pecadores
(Igreja da Sagrada Família - Cidade do México)

Fonte: Santa Sé - 10 de setembro e 17 de setembro de 1989 (italiano; tradução nossa).

Notas:
[1] Dada a pobreza da tradução litúrgica deste texto para o Brasil, usamos aqui a tradução de Portugal.
[2] Esta é uma tradução do texto italiano citado pelo Papa: “Per i peccati del popolo suo / ella vide Gesù nei tormenti / del duro supplizio”. O texto original, em latim, diz: “Pro peccátis suae gentis / Vidit Iésum in torméntis, / Et flagéllis súbditum”.

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