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sábado, 5 de junho de 2021

Homilia: X Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santo Irineu de Lião
Do Tratado contra as heresias
Acorrentou o forte e arrebatou-lhe os bens

Quem é, então, o Senhor Deus do qual Cristo deu testemunho, ao qual ninguém tentou e ao qual devemos adorar e só a Ele servir? Sem dúvida alguma é o mesmo Deus autor da Lei, pois tudo tinha sido prescrito pela Lei, e o Senhor mostrou, usando as palavras da Lei, que a Lei do Pai proclama o Deus verdadeiro.

O anjo apóstata de Deus fica desmascarado ao declarar seu nome, derrotado como foi e vencido pelo Filho do homem, obediente ao preceito divino. Como ao princípio persuadiu ao homem a transgredir o preceito do Criador, e assim o submeteu ao seu poder, que consiste na transgressão e na apostasia, com as quais atou o homem, era preciso que fosse vencido pelo próprio homem, e atado com as mesmas cordas com as quais ele tinha amarrado ao homem. Desta forma, o homem, desatado, podia regressar ao seu Senhor, abandonando ao diabo os laços com os quais este o havia ligado, pois ninguém pode penetrar a casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, se primeiro não amarrar ao forte.

O Senhor, com sua palavra, provou-lhe que tudo que era seu se opunha ao Deus Criador de todas as coisas, e lhe submeteu por sua obediência ao mandamento - e este mandamento é a Lei de Deus: enquanto homem, o despejou como desertor, transgressor da Lei e apóstata de Deus; e, mais tarde, como Verbo, o acorrentou fortemente, como a seu próprio fugitivo, e lhe arrebatou os bens, ou seja, os homens dos quais ele tinha se apoderado e dos quais injustamente se servia. Assim foi justamente mantido cativo aquele que injustamente tivera prisioneiro ao homem; mas acabou livre o homem submetido ao poder desse amo, segundo a misericórdia de Deus Pai, que se compadeceu de sua criação e lhe concedeu a salvação por meio de seu Verbo. Assim o reparou, a fim de que o homem aprenda por experiência própria que não se torna incorruptível por si mesmo, mas por dom de Deus. Este foi o modo como o Senhor revelou claramente que o único Deus e Senhor verdadeiro é Aquele que a Lei anunciou - pois Aquele mesmo Deus ao qual a Lei havia proclamado de antemão, Cristo o mostrou como Pai, o único ao qual devem servir os discípulos de Cristo.

Por outro lado, a ignorância não pode desfazer-se por outra ignorância, assim como a culpa não se apaga por outra culpa. Portanto, se a Lei fosse produto de ignorância e de culpa, como podiam as palavras nela contidas dissolver a ignorância do diabo e vencer ao forte? Porque o forte não pode ser vencido por alguém inferior ou igual a ele, mas somente por um mais poderoso. E o mais forte sobre todas as coisas é o Verbo de Deus, que proclama: Escuta, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás ao Senhor teu Deus com toda a tua alma, adorarás a Ele e só a Ele servirás. Também no Evangelho com as mesmas palavras destrói a apostasia, e com a voz do Pai derrota ao forte, e proclama em seus próprios termos o mandamento da Lei, quando responde: Não tentarás ao Senhor teu Deus. Assim, não destruiu o adversário e venceu o forte com palavras alheias, mas com as palavras de seu próprio Pai.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 403-405. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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