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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Mestres das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice

Em postagens anteriores do nosso blog, há cerca de um mês, traçamos um histórico dos Prefeitos e dos Secretários da Congregação para o Culto Divino, responsável por regulamentar e promover a Sagrada Liturgia na Igreja.

Nesta postagem, gostaríamos de traçar o histórico dos Mestres das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, responsáveis por coordenar as celebrações presididas pelo Papa ou realizadas em seu nome.

O primeiro testemunho da presença de um Praefectus Caeremoniarum (Prefeito das Cerimônias) remonta ao ano 710. A partir dos séculos XV e XVI este ofício foi ganhando cada vez mais importância. Citamos, como exemplo, o célebre Johannes Burchard, que sistematizou os ritos para os Jubileus no ano de 1500.

Após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, a então Prefeitura das Cerimônias Pontifícias se torna o Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, e o Prefeito passa a ser chamado de Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, sempre ajudado por um grupo de Cerimoniários Pontifícios (cf. Constituição Pastor Bonus, n. 182).

Além de coordenar as celebrações presididas pelo Papa, o Mestre das Celebrações Litúrgicas é também responsável pela Sacristia Pontifícia, pelas capelas do Palácio Apostólico e, mais recentemente, também pelo coro da Capela Sistina. Também possui importantes funções durante o período da Sede Vacante, desde a eventual morte do Papa até a eleição do seu sucessor.

A seguir apresentaremos brevemente os Prefeitos das Cerimônias Pontifícias e Mestres das Celebrações Litúrgicas do último século.

Carlo Respighi (†): 1918-1947

Filho de Lorenzo Respighi, um célebre astrônomo italiano, nasceu em Roma no dia 18 de novembro de 1873.
Desde jovem nutria um particular interesse pela arqueologia cristã, visitando as catacumbas romanas, onde nasce sua vocação ao sacerdócio, sendo ordenado em 1895. A partir de 1899, integra a Prefeitura das Cerimônias Pontifícias como um dos Cerimoniários auxiliares.

Monsenhor Carlo Respighi

Como sacerdote, dedicou-se também ao estudo da música sacra, tendo colaborado na elaboração do Motu proprio Tra le sollecitudini, promulgado pelo Papa São Pio X em 1903.
Em 1917 o Papa Bento XV o nomeou Secretário da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra. No mesmo ano é nomeado Protonotário Apostólico Supranumerário e Coadjutor do então Prefeito das Cerimônias Pontifícias, Monsenhor Francesco Riggi, a quem sucede no ano seguinte (Riggi ocupava o cargo de Prefeito desde 1895).
Monsenhor Carlo Respighi exercerá o ofício de Prefeito das Cerimônias por quase trinta anos, de 1918 até sua morte em 06 de junho de 1947. Neste período dirigiu os funerais de Bento XV e a eleição de Pio XI (1922); o Jubileu Ordinário de 1925; o Jubileu Extraordinário de 1933; os funerais de Pio XI e a eleição de Pio XII (1939).
Desde 1931 até a sua morte foi também Magister do Collegium Cultorum Martyrum. Neste ofício incentivou a retomada das Estações Quaresmais, antiquíssima tradição da Igreja romana que havia sido abandonada.
Exerceu ainda os ofícios de reitor da Basílica dos Santos Quatro Coroados al Laterano, Protonotário Apostólico Numerário (a partir de 1935) e cônego da Arquibasílica do Latrão.

Mons. Respighi à esquerda do Papa Pio XII

Enrico Dante (†): 1947-1965

Nasceu no dia 05 de julho de 1884, em Roma, e foi ordenado sacerdote em 03 de julho de 1910.
Após obter o Doutorado na Pontifícia Universidade Gregoriana, a partir de 1911 foi professor de Filosofia na Pontifícia Universidade Urbaniana e professor de Teologia a partir de 1928 até 1947.
Desde 1914 passa a integrar a Prefeitura das Cerimônias Pontifícias como um dos Cerimoniários auxiliares. A partir de 1923, por sua vez, trabalha também na Congregação dos Ritos. Em 1943 recebe o título de Monsenhor.
No dia 13 de junho de 1947, após a morte do Mons. Respighi, o Papa Pio XII nomeia o Monsenhor Enrico Dante como novo Prefeito das Cerimônias Pontifícias. Exercerá este ofício por cerca de 18 anos, até 22 de fevereiro de 1965, quando será criado Cardeal.

Dom Enrico Dante assistindo o Papa João XXIII

Como Prefeito, Monsenhor Dante dirigiu: o Jubileu Ordinário de 1950; os funerais de Pio XII e a eleição de João XXIII (1958); a abertura do Concílio Vaticano II (1962); os funerais de João XXIII e a eleição de Paulo VI (1963); e as primeiras Viagens Apostólicas de Paulo VI (à Terra Santa e à Índia em 1964). Além disso, em 1954, organizou um importante restauro do Arquivo Histórico da Prefeitura das Cerimônias.
No dia 05 de janeiro de 1960 João XXIII nomeou Mons. Dante como Secretário da Congregação dos Ritos. O mesmo Papa o nomeou Arcebispo titular de Carpasia em 28 de agosto de 1962 e lhe conferiu a Ordenação Episcopal no dia 21 de setembro do mesmo ano, na Arquibasílica do Latrão, às vésperas da abertura do Concílio Vaticano II.
Próximo à conclusão do Concílio, por sua vez, Dom Enrico Dante é criado Cardeal pelo Papa Paulo VI no Consistório de 22 de fevereiro de 1965, sendo-lhe concedido o Título Presbiteral (elevado pro hac vice) de Santa Ágata dos Godos. Uma vez criado Cardeal, Dom Enrico Dante deixa o cargo de Prefeito das Cerimônias Pontifícias.
Faleceu em Roma dois anos depois, no dia 24 de abril de 1967.

Dom Enrico Dante assistindo o Papa Paulo VI

Vacante: 1965-1970

Após o Cardeal Dante deixar o cargo, não foi nomeado um novo Prefeito das Cerimônias. No contexto das reformas do Concílio Vaticano II, a Prefeitura passa a ser subordinada ao Consilium ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia, sob a responsabilidade do seu Secretário, o célebre Padre Annibale Bugnini (depois nomeado Bispo).
Este, porém, não dirigiria as celebrações, que ficaram à cargo dos Cerimoniários Pontíficios, particularmente os Monsenhores Salvatore Capoferri (1965-1968) e Adone Terzariol (1968-1970).
Em janeiro de 1970, após cinco anos de vacância, seria nomeado não mais um Prefeito, mas sim um Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias.

Monsenhor Salvatore Capoferri à esquerda do Papa Paulo VI
(À direita do Papa vê-se Dom Enrico Dante)

Virgilio Noè (†): 1970-1982

Nasceu em Bereguardo (Itália) no dia 30 de março de 1922 e foi ordenado presbítero no dia 01 de outubro de 1944, incardinado na Diocese de Pavia.
Após obter o Mestrado em História da Igreja na Pontifícia Universidade Gregoriana em 1952, foi professor nos Seminários das Dioceses de Pavia e Tortona. Em 1964 é chamado a Roma para exercer o ofício de Secretário do Centro de Ação Litúrgica da Conferência Episcopal Italiana. Ao mesmo tempo, torna-se professor do Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (1964-1968).
No dia 07 de maio de 1969 o Papa Paulo VI o nomeia Subsecretário da Congregação para o Culto Divino, instituída neste mesmo ano, substituindo a Congregação dos Ritos.
No ano seguinte, em 09 de janeiro de 1970 é nomeado Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, ofício que exercerá pelos próximos 12 anos.

Mons. Virgílio Noè com o Papa João Paulo I

Monsenhor Virgílio Noè será o responsável por adaptar as celebrações presididas pelo Papa às reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II. Aplicará estas reformas, por exemplo, no Jubileu Ordinário de 1975, nos funerais de Paulo VI e de João Paulo I e na eleição deste e de João Paulo II em 1978.
Com a criação da nova Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos em 1975, é confirmado como Subsecretário.
Sete anos depois, no dia 30 de janeiro de 1982, Monsenhor Noè é nomeado Secretário-adjunto da Congregação para o Culto Divino e Arcebispo Titular de Voncaria, deixando nesta ocasião o ofício de Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. Receberá a Ordenação Episcopal no dia 06 de março do mesmo ano pela imposição das mãos do Papa João Paulo II.
Em 24 de maio de 1989 o mesmo Papa nomeia Dom Noè como Arcipreste Coadjutor da Basílica de São Pedro. Assume efetivamente como Arcipreste em 01 de julho de 1991, após a renúncia do Cardeal Aurelio Sabattani. Três dias antes (28 de junho) será criado Cardeal Diácono de São João Bosco in via Tuscolana.
Renuncia ao ofício de Arcipreste por limite de idade (80 anos) em 2002. No mesmo ano, ao completar 10 anos como Cardeal, é promovido a Cardeal-Presbítero do Título da Regina Apostolorum.
Faleceu em Roma no dia 24 de julho de 2011.

Mons. Virgílio Noè à esquerda de João Paulo II

John Magee, S.P.S.: 1982-1987

Nasceu em Newry (Irlanda) em 24 de setembro de 1936. Após professar os votos na Sociedade de São Patrício para as Missões Estrangeiras (S.P.S.) em 1958, foi ordenado sacerdote em Roma a 17 de março de 1962.
Logo após a ordenação parte em missão para a Nigéria, onde permanece por seis anos. Em 1968 retorna a Roma como Procurador Geral da sua Congregação, ao mesmo tempo em que trabalha na Congregação para a Evangelização dos Povos.
Em 1975 é nomeado segundo Secretário do Papa, exercendo este ofício até 1982, junto a Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II.
Este último o nomeou Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias em 08 de fevereiro de 1982. Porém, exerceu este ofício por apenas cinco anos, destacando-se durante este período o Jubileu Extraordinário de 1983.

Mons. John Magee à esquerda de João Paulo II

No dia 17 de fevereiro de 1987, com efeito, Monsenhor Magee é nomeado Bispo de Cloyne (Irlanda), recebendo a Ordenação Episcopal no dia 17 de março do mesmo ano, pela imposição das mãos do Papa João Paulo II.
De 1992 a 1997 Dom Magee foi membro da Congregação para os Bispos e de 1994 a 1996 foi também Administrador Apostólico da Diocese de Limerick (Irlanda).
No dia 24 março de 2010 o Papa Bento XVI aceitou sua renúncia ao ofício de Bispo de Cloyne.

Dom John Magee

Piero Marini: 1987-2007

Nasceu em 13 de janeiro de 1942 na cidade de Valverde (Itália) e foi ordenado sacerdote em 27 de junho de 1965, incardinado na Diocese de Bobbio (atualmente Diocese de Piacenza-Bobbio).
No final do mesmo ano é enviado a Roma, onde começa a colaborar no Consilium ad exsequendem Constitutionem de Sacra Liturgia. Em 1970 obtém o Mestrado em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo e começa a trabalhar na Congregação para o Culto Divino (colaborando de modo particular na redação do novo Cerimonial dos Bispos, que será promulgado em 1984), além de auxiliar nas celebrações litúrgicas presididas pelo Papa Paulo VI.
Em 12 de outubro de 1975 é nomeado como um dos Cerimoniários Pontifícios, ofício que exerceu até 1985, quando foi nomeado Subsecretário da Congregação para o Culto Divino.

Dom Piero Marini

Dois anos depois, no dia 24 de fevereiro de 1987, o Papa João Paulo II nomeou Monsenhor Piero Marini como novo Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. Exerceria este ofício pelos próximos 20 anos, enquanto atuava também como professor no Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo.
No contexto da reforma da Cúria Romana implementada pela Constituição Pastor Bonus (1988), dá uma identidade ao Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontifíce, ao qual foi agregado pouco depois, em 1991, o cuidado da Sacristia Pontifícia e das Capelas do Palácio Apostólico (Sistina, Paulina, Redemptoris Mater).
Como Mestre das Celebrações Litúrgicas, Mons. Piero Marini organizou as celebrações do Ano Mariano (1987-1988), do Grande Jubileu do ano 2000, das exéquias de João Paulo II e da eleição de Bento XVI (2005), além de acompanhar o Papa polonês em suas diversas viagens pelo mundo e particularmente durante sua enfermidade.
Em 14 de fevereiro de 1998 o mesmo João Paulo II o nomeia Bispo titular de Martirano (elevado a Arcebispo titular em 2003) e lhe confere a ordenação episcopal no dia 19 de março do mesmo ano.
No dia 01 de outubro de 2007 o Papa Bento XVI o nomeia Presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais, deixando assim o ofício de Mestre das Celebrações Litúrgicas.
Em 01 de setembro de 2015 o Papa Francisco o nomeou ainda Presidente da Comissão Especial para a Liturgia da Congregação para as Igrejas Orientais e desde 28 de outubro de 2016 é também membro da Congregação para o Culto Divino, além de cônego da Basílica de Santa Maria Maior a partir de 2017.

Dom Piero Marini com João Paulo II

Guido Marini: 2007-2021

Nasceu em 31 de janeiro de 1965 em Gênova (Itália) e foi ordenado sacerdote em 04 de fevereiro de 1989, incardinado na Arquidiocese de Gênova.
Após obter o Doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, exerceu os ofícios de secretário do Arcebispo de Gênova e Mestre de Cerimônias da Arquidiocese, além de professor de Direito Canônico na Faculdade de Teologia da Itália Setentrional.
Em 2002 foi nomeado Cônego da Catedral de São Lourenço e no ano seguinte Reitor da mesma Catedral, além de Diretor Espiritual do Seminário de Gênova (a partir de 2004) e Chanceler da Arquidiocese (a partir de 2005).

Mons. Guido Marini

No dia 01 de outubro de 2007 o Papa Bento XVI nomeou Guido Marini como novo Mestre de Celebrações Litúrgicas Pontifícias, concedendo-lhe, ao mesmo tempo, o título de Monsenhor Prelado de Honra.
Como Mestre de Cerimônias, Mons. Guido Marini realizou pequenas modificações em alguns ritos presididos pelo Papa, como a imposição do pálio, os Consistórios para criação de Cardeais e as canonizações. Destacam-se ainda, durante seu “mandato”, a eleição do Papa Francisco (2013) e o Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015-2016).

Mons. Guido Marini com o Papa Bento XVI

O Papa Francisco confirmou Monsenhor Marini em seu ofício no dia 12 de abril de 2014 (e o reconfirmou por mais cinco anos em 07 de novembro de 2017), dois meses após nomeá-lo, ao mesmo tempo, Consultor da Congregação para as Igrejas Orientais (19 de fevereiro de 2014).
A partir de 17 de janeiro de 2019 o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias se torna também responsável pela Capela Musical Pontifícia, isto é, o Coro da Capela Sistina.

Mons. Guido Marini com o Papa Francisco

[Atualização: No dia 29 de agosto de 2021 Monsenhor Guido Marini foi nomeado Bispo de Tortona]

Concluímos assim este breve percurso histórico dos Mestres das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice nos últimos 100 anos. Na próxima postagem apresentaremos os Cerimoniários Pontifícios, seus colaboradores. Para acessá-la, clique aqui.

Com informações de Cattolici Romani: Liturgie Papali; Wikipedia (página italiana); e Catholic Hierarchy.

Um comentário:

  1. Excelente postagem! Muito obrigado! É por meio de informações assim que o zelo com a santa Liturgia pode ser disseminado. Afinal, como diz Monsenhor Guido Marini: "É por meio da Sagrada Liturgia que obtemos a graça que nos salva".

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