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terça-feira, 16 de março de 2021

Missas votivas da Terra Santa (8): Betfagé e Monte das Oliveiras

Em nossa série sobre as Missas votivas dos Santuários da Terra Santa, já apresentamos as “Missas votivas do lugar” celebradas nas igrejas ligadas tanto ao mistério da Encarnação quanto à vida pública de Jesus.

Agora iniciamos um novo bloco: os santuários ligados à Paixão do Senhor, começando por Betfagé e dois dos santuários junto ao Monte das Oliveiras, a igreja de Dominus Flevit e a Basílica da Agonia.

Vale recordar que apresentaremos a “oração do lugar”, as indicações de leituras e do prefácio de cada celebração, além de algumas adaptações mais dignas de nota.

1. BETFAGÉ

1a. Santuário das palmas

A localidade de Betfagé, entre Betânia e o Monte das Oliveiras, está associada à entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, atestada pelos quatro Evangelhos (Mt 21,1-11; Mc 11,1-10; Lc 19,28-40; Jo 12,12-16) e celebrada no Domingo de Ramos, abrindo a Semana Santa.

A peregrina Etéria atesta a existência de uma igreja “na estrada de Betânia” já no século IV, que recordava o encontro de Jesus com Marta e Maria antes da ressurreição de Lázaro. A procissão do Domingo de Ramos, porém, partia do Monte das Oliveiras.

No século XII os cruzados construíram uma igreja em Betfagé que comemorava tanto o ingresso de Jesus em Jerusalém quanto seu encontro com Marta e Maria. Uma rocha deste período retratando ambos os eventos foi descoberta nas escavações em 1876.

Santuário das palmas em Betfagé

A Custódia Franciscana da Terra Santa construiu o atual templo sobre os restos da igreja dos cruzados em 1883, sendo reformado em 1954.

Missa votiva da entrada de Jesus em Jerusalém
O único formulário previsto para esta igreja é o seu mistério titular: a entrada de Jesus em Jerusalém (“De commemoratione ingressus Domini in Ierusalem”). Parte das orações e leituras desta Missa é adaptada do Domingo de Ramos (incluindo o Prefácio próprio e as quatro opções de Evangelho), parte são específicas.

Antífona de entrada (1ª opção): “Estando aqui perto de Betfagé e de Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, Jesus disse a seus discípulos...” (Mc 11,1) - Esta opção aparece apenas em português. Em latim a antífona é a mesma do Missal Romano: Mt 21,9;

Oração do lugar (2ª opção): “Ó Deus todo-poderoso e eterno, para realizar o mistério de sua morte e ressurreição, quisestes que o vosso Filo Jesus Cristo entrasse em Jerusalém, montado num jumento. Fazei que acompanhemos nosso Salvador com fé e devoção na sua entrada na cidade santa, e concedei-nos a graça de segui-Lo até a cruz, a fim de que possamos participar da sua ressurreição” (a 1ª opção é a coleta do Domingo de Ramos);

Leituras: Zc 9,9-10 (*) / Sl 23,1-6 (R: v. 6) / Fl 2,6-11 / Mt 21,1-11 ou Mc 11,1-10 ou Lc 19,28-40 ou Jo 12,12-16;
(*) O Missal votivo em português estranhamente propõe Gn 18,1-10a como 1ª leitura. Em português também não aparece o Evangelho de João.

Evangelho: “Naquele tempo, Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram aqui a Betfagé, no monte das Oliveiras” (Mt 21,1) / “Quando se aproximaram de Jerusalém, aqui na altura de Betfagé e de Betânia...” (Mc 11,1) / “Quando aqui se aproximou de Betfagé e Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras...” (Lc 19,29).


2. JERUSALÉM

2a. Santuário Dominus Flevit

O Evangelho de Lucas menciona que, no contexto de sua entrada messiânica, ao contemplar a cidade de Jerusalém, Jesus chora (em latim, “Dominus flevit”, “o Senhor chorou”) e profetiza a destruição da cidade (Lc 19,41-44). Este texto está relacionado a outro lamento de Jesus (Lc 13,34-35).

A devoção a esse acontecimento surgiu entre os séculos XIII-XIV. Os franciscanos adquiriram o terreno e iniciaram as escavações em 1953. Foram descobertos restos de um mosteiro da época bizantina e diversos túmulos: alguns da época cananeia (séc. XVI-XIV a. C.), outros desde a época de Jesus até o século IV.

Dominus flevit - Jerusalém

A atual igreja foi construída entre 1953 e 1955. Atrás do altar encontra-se a célebre janela de vidro transparente pela qual é possível ver a cidade de Jerusalém.

Missa votiva do pranto do Senhor
Como de costume, a Missa votiva do lugar celebra o mistério titular da igreja. No caso, o pranto do Senhor (“De fletu Domini”) sobre a cidade. Esta é uma Missa específica deste lugar, sem paralelos no Missal Romano, como podemos ver por suas orações e leituras, que indicamos a seguir:

Antífona de entrada (1ª opção): “Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e daqui viu a cidade, começou a chorar...” (Lc 19,41);

Antífona de entrada (2ª opção): “Disse o Senhor Jesus sobre esta cidade: ‘Jerusalém, Jerusalém...’” (Lc 13,34) - Em português a expressão “sobre esta cidade” não aparece, apenas em latim;

Oração do lugar: “Pai de bondade, vosso Filho, Jesus Cristo nosso Senhor, aqui derramou lágrimas de compaixão por causa da situação de Jerusalém: mostrai-nos a vossa compaixão e fazei que pela confissão de nossas culpas obtenhamos o perdão”;


Leituras: Jr 14,17-22 / Sl 78,8-9.11.13 (R: v. 9) / Fl 3,17–4,1 / Lc 19,41-44;

Evangelho: “Naquele tempo, quando Jesus se aproximou de Jerusalém e daqui viu a cidade, começou a chorar...” (Lc 19,41);

Prefácio: O Missal votivo em português indica o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum II, que faz referência à compaixão de Jesus: “Compadecendo-se da fraqueza humana...”. O Missal em latim indica também os Prefácios da Paixão I e Comum I.

2b. Basílica do Getsêmani

O Getsêmani (aramaico para “prensa de azeite”) é um jardim situado no Monte das Oliveiras, onde a Escritura indica que Jesus costumava ir rezar com os Apóstolos (Lc 22,39). Ali Ele rezou após a Última Ceia (Mt 26,36-46 e paralelos) e, traído por Judas, foi preso (Mt 26,47-56 e paral.).

A peregrina Etéria testemunha a existência de uma igreja neste local já no século IV, sob o patrocínio do Imperador Teodósio. Esta, porém, teria sido incendiada pelos persas em 614. Os cruzados ergueram outra igreja no século XII, que ficou em ruínas após o fim do reino cristão de Jerusalém.

Os franciscanos da Custódia da Terra Santa levaram cerca de três séculos para adquirir o terreno do Getsêmani, de 1661 a 1905. A propriedade compreende três lugares: o jardim com as oliveiras centenárias, a Basílica da Agonia e a gruta do Getsêmani, dedicada aos Apóstolos.

Basílica do Getsêmani - Jerusalém

As escavações arqueológicas que iniciaram em 1891 descobriram restos das duas igrejas, do século IV e do século XII, ao redor das quais foi construída a atual Basílica, dedicada em 1924. Esta é conhecida também como “a igreja de todas as nações”, uma vez que dezesseis países colaboraram em sua construção (incluindo o Brasil).

A maioria dos países é homenageada nas doze cúpulas que integram a igreja, enquanto outros três foram responsáveis pelos mosaicos (que retratam a agonia de Jesus e sua prisão) e pela “coroa” que circunda a pedra da agonia. Esta pedra remonta ao menos à igreja do século XII, sendo tradicionalmente venerada como o lugar onde Jesus prostrou-se para rezar e suou sangue.

Cumpre mencionar ainda a Gruta do Getsêmani, próxima à Basílica. Segundo a tradição, era aqui que Jesus costumava rezar com os Apóstolos e, na noite da Última Ceia, teria sido aqui que estes esperaram o Mestre. A pintura sobre o altar da gruta retrata justamente o Senhor em oração com os Doze. Um altar lateral homenageia a Assunção de Maria, uma vez que uma tradição situa este fato também no Getsêmani.

Interior da Basílica da Agonia

Missa votiva da agonia do Senhor
A primeira das Missas votivas do lugar celebra, naturalmente, o mistério titular da Basílica: a agonia do Senhor (“In commemoratione agoniae Domini”). Esta é uma celebração específica desta igreja, tomando do Missal Romano apenas o Prefácio da Paixão I, como veremos a seguir.

Antífona de entrada (1ª opção): “Chegando a este lugar chamado Getsêmani, Jesus disse aos discípulos: 'Orai para não entrardes em tentação’” (Lc 22,40) - Esta opção aparece apenas em português. Em latim a 1ª opção de antífona é Mt 6,9-10.13. A 2ª opção é a mesma tanto em latim como em português: Sl 17,5-7;

Oração do lugar: “Deus eterno e todo-poderoso que escutastes o grito de oração do vosso Filho Jesus Cristo, quando passava por profundas angústias aqui no Getsêmani, fazei que, (instruídos pela fraqueza dos Apóstolos), aprendamos a conformar-nos sempre com a vossa vontade, e que, por uma vida de oração e de vigilância, possamos ficar livres da escravidão do mal” - A frase entre parênteses não aparece em português;

Leituras: Is 53,1-7 com o Sl 30,2.6.12-13.15-17.25 (R: Lc 23,46) ou Is 38,1-6 com Sl 70,3-6.10-11.14-15 (R: v. 1) / Hb 5,7-9 / Mt 26,36-46 ou Lc 22,39-46 (*);
(*) A 2ª opção de 1ª leitura com o salmo e a 2ª opção de Evangelho aparecem só em português.

Evangelho: “Naquele tempo, Jesus foi com eles a este lugar chamado Getsêmani...” (Mt 26,36) / “Jesus saiu e, como de costume, veio aqui para o monte das Oliveiras” (Lc 22,39).


Missa votiva do Preciosíssimo Sangue do Senhor
Em referência ao “sudor sanguineus” (suor de sangue) mencionado em Lc 22,44, pode-se celebrar também a Missa votiva do Sangue do Senhor. Esta toma as orações e leituras do respectivo formulário no Missal Romano (incluindo o Prefácio da Paixão I).

Oração do lugar: “Ó Deus, que resgatastes a todos pelo Sangue precioso do vosso Filho, conservai em nós a obra de vossa misericórdia para que, celebrando sem cessar o mistério de nossa salvação, posamos alcançar os seus frutos”;

Leituras: Ex 12,21-28 ou 1Pd 1,17-21 (*) / Sl 115,12-.1315-18 (R: 1Cor 10,16) / Ap 7,9-14 / Lc 22,39-44;
(*) O Missal em português indica 1Pd 1,17-21 como única leitura.

Evangelho: “Chegando a este lugar, Jesus lhes disse: 'Orai para não entrardes em tentação’” (Lc 22,40).

A "pedra da agonia"

Missa votiva da prisão do Senhor
Como temos visto, o Missal votivo em português costuma omitir alguns textos presentes em outras línguas. Porém, aqui acontece o oposto: o Missal em português é o único a propor a Missa votiva da prisão do Senhor.

Esta também é uma Missa específica, sem paralelos no Missal Romano, tomando deste apenas o Prefácio da Paixão I. A 1ª leitura e o salmo, por sua vez, são os da segunda-feira da II semana da Quaresma.

Oração do lugar: “Olhai, Senhor, esta vossa família pela qual nosso Senhor Jesus Cristo, traído por Judas com um beijo, se entregou nas mãos de seus algozes para libertar-nos da escravidão do pecado”;

Leituras: Dn 9,4b-10 / Sl 78,8-9.11.13 (R: Sl 102,10a) / At 1,15-17 / Mc 14,43-52.

Gruta dos Apóstolos no Getsêmani

Missa votiva da Assunção de Maria
Como afirmamos acima, uma das tradições coloca a morte e a Assunção de Maria no Getsêmani (outra tradição localiza estes eventos no Monte Sião, junto ao Cenáculo). Ao lado da Gruta do Getsêmani há a igreja da Tumba de Maria, pertencente aos ortodoxos.

Fiel a esta tradição, a Custódia celebra a Solenidade da Assunção, no dia 15 de agosto, na Basílica da Agonia. Portanto, propõe-se também aqui a Missa votiva deste mistério, com as orações e leituras da respectiva Solenidade.

Oração do lugar: “Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória”;

Leituras: Ap 11,19a; 12,1-6a.10ab / Sl 44,10-12.16 (R: v. 10) / 1Cor 15,20-27a ou 1Cor 15,53-57 (*) / Lc 1,39-56;
(*) A 2ª opção da 2ª leitura aparece só em latim.

Prefácio: Em português indica-se o Prefácio próprio da Assunção (omitindo apenas a palavra “hoje”), enquanto que em latim é indicado o Prefácio da Virgem Maria I.

Altar da Assunção na Gruta dos Apóstolos

Imagens: Wikimedia Commons

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