A viagem do Papa Francisco ao Iraque

De 05 a 08 de março de 2021 o Papa Francisco realiza sua primeira Viagem Apostólica desde o início da pandemia de Covid-19, com destino ao Iraque. Esta é sua 33ª viagem internacional e a 10ª ao continente asiático.

Esta será também a primeira visita de um Papa ao Iraque, país de maioria muçulmana (95% da população) e marcado por diversos conflitos.

João Paulo II desejava visitar o país durante o Grande Jubileu do ano 2000, no contexto de sua Peregrinação aos Lugares da História da Salvação, uma vez que em território iraquiano encontra-se a antiga cidade de Ur, de onde partiu Abraão, “nosso pai na fé”, em sua peregrinação rumo à Terra Prometida (cf. Gn 12).

Contudo, devido aos conflitos em curso na época, o Papa polonês não pode realizar esta etapa da sua peregrinação jubilar, substituída por uma celebração em honra de Abraão no Vaticano (para ler a homilia do Santo Padre na ocasião, clique aqui). Agora Francisco realiza o desejo de seu predecessor ao visitar essa terra histórica e tão martirizada.

Partida de Abraão de Ur para Canaã
(Jozsef Molnar; Hungarian National Gallery, Budapest)

A capital do país, Bagdá, é também a sede de uma das Igrejas Católicas Orientais: a Igreja Caldeia, que celebra segundo o Rito Siríaco Oriental ou Caldeu, e possui cerca de 640 mil fiéis no Iraque e em outros países do Oriente e da Diáspora (Canadá, Estados Unidos e Austrália).

O Papa Francisco manifestou sua atenção a esta igreja em 2018, quando criou Cardeal o Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Louis Raphaël I Sako.

Criação cardinalícia do Patriarca Louis Raphaël Sako (2018)

Outras Igrejas Católicas Orientais presentes no país são a Armênia, a Siríaca e a Melquita. Juntos, os fiéis orientais correspondem a cerca de metade dos católicos iraquianos.

Na cidade de Erbil, por sua vez, encontra-se a sede de uma das Igrejas Ortodoxas Orientais: a Igreja Assíria do Oriente, que também celebra segundo o Rito Siríaco Oriental ou Caldeu e possui cerca de 500 mil fiéis.

Apesar de aceitar apenas os dois primeiros Concílios Ecumênicos (Niceia e Constantinopla), esta Igreja possui um caminho de diálogo com a Igreja Católica. Em 2018 o Papa Francisco recebeu no Vaticano o atual Patriarca, Gewargis III. Os dois hierarcas rezaram juntos e assinaram uma declaração conjunta.

Francisco e Gewargis III rezam juntos no Vaticano

Outras Igrejas Ortodoxas presentes no país são a Igreja Sírio-Ortodoxa de Antioquia (que aceita os três primeiros Concílios Ecumênicos) e o Patriarcado Ortodoxo de Antioquia (que aceita os sete primeiros Concílios).

Programa da viagem

Dia 05 de março (sexta-feira):

Após partir desde Roma no início da manhã, Francisco chega a Bagdá no início da tarde. Os primeiros encontros são com o Primeiro Ministro, ainda no aeroporto, e com o Presidente da República e autoridades civis no Palácio Presidencial.

O último compromisso oficial deste dia é o encontro com Bispos, sacerdotes, religiosos, seminaristas e catequistas na Catedral Católica Siríaca de Sayidat al Najat (Nossa Senhora da Salvação ou Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) em Bagdá, atingida por um atentado terrorista em 2010.

Catedral Católica Siríaca de Sayidat al Najat - Bagdá

Dia 06 de março (sábado):

Na manhã do sábado o Papa dirige-se à cidade de Najaf, onde encontra o Grande Ayatollah Sayyd Ali al-Husayni al-Sistani, importante líder muçulmano xiita.

A seguir o Pontífice vai até a cidade de Nassiriya, próxima ao local das ruínas da cidade de Ur. Neste local acontece um encontro-religioso recordando a figura de Abraão, grande Patriarca para o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

Na parte da tarde, após o retorno a Bagdá, o Papa celebra a Santa Missa na Catedral Católica Caldeia de Mar Yousef (São José). Será a primeira vez em seu pontificado que Francisco preside a Missa segundo o Rito Siríaco Oriental ou Caldeu (cf. a Homilia do Papa e as Fotos da celebração).

Catedral Católica Caldeia de Mar Yousef - Bagdá

Dia 07 de março (domingo):

O terceiro dia da viagem começa com o deslocamento à cidade de Erbil, onde o Papa encontra as autoridades da região autônoma do Curdistão iraquiano no próprio aeroporto.

Após o breve encontro, o Papa segue de helicóptero para Mosul, uma das regiões do Iraque que mais sofreu com as recentes guerras e onde se encontra a antiga cidade de Nínive. Na Hosh al-Bieaa (“praça da igreja”) de Mosul acontece um momento de oração pelas vítimas da guerra.

Na sequência, Francisco segue para a cidade de Qaraqosh (também chamada Bakhdida), onde recita o Ângelus com os fiéis na igreja católica siríaca de Al-Tahira (Imaculada Conceição), que recentemente iniciou seu processo de reconstrução após os ataques do autodenominado “Estado Islâmico”.

Igreja de Al-Tahira, Qaraqosh, após os ataques

Por fim, na parte da tarde, o Papa dirige-se à cidade de Erbil, onde celebra a Santa Missa do III Domingo da Quaresma em Rito Romano no Estádio Franso Hariri (cf. a Homilia do Papa e as Fotos da celebração). Após a Missa, retorna a Bagdá, chegando à capital no início da noite.

Dia 08 de março (segunda-feira):

Na manhã da segunda-feira Francisco parte do aeroporto de Bagdá com destino a Roma, chegando na “cidade eterna” no início da tarde.

Alguns dados da Igreja Católica no Iraque

Número de católicos: 590 mil (1,5% da população)

Dioceses: 17

Paróquias: 122

Bispos: 19

Sacerdotes diocesanos: 113

Sacerdotes religiosos: 40

Diáconos permanentes: 20

Religiosos (as): 373

Seminaristas: 43

Escolas católicas: 59

Universidades católicas: 09

Hospitais e ambulatórios: 13

Asilos: 05

Orfanatos: 10

Outras instituições sociais: 07

Rezemos pela viagem do Papa, ameaçada tanto pela pandemia quanto pelos riscos à segurança. Que o Bispo de Roma possa levar uma mensagem de paz a este tão martirizado país, recordando o lema da viagem: “Vós sois todos irmãos!” (Mt 23,8).

Grande Zigurate de Ur, cidade associada ao Patriarca Abraão

Programa da viagem e estatísticas: Boletim de imprensa da Santa Sé

Imagens das igrejas: Mesopotamia Heritage