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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Participação dos fiéis na Liturgia

Prosseguindo com suas reflexões sobre a relação entre os leigos e a Liturgia, após tratar dos ministérios litúrgicos e da Iniciação Cristã, o site Vatican News dedicou seus últimos três textos do ano de 2020 sobre o tema da participação dos fiéis na Liturgia, fundamentada no sacerdócio batismal:

O sacerdócio dos cristãos
16 de dezembro de 2020

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar hoje sobre o sacerdócio dos cristãos.
“É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas (...). Na reforma e incremento da sagrada Liturgia, deve dar-se a maior atenção a esta plena e ativa participação de todo o povo, porque ela é a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão. Esta é a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida educação” (Sacrosanctum Concilum, n. 14).
A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilum dedica seu capítulo I aos “Princípios gerais em ordem à reforma e incremento da Liturgia”, onde na II parte fala da “Educação litúrgica e participação ativa dos fiéis”. Pelo Batismo, cada cristão passa a ter uma identidade única: é sacerdote, rei e profeta e rei. Por meio de passagens bíblicas e documentos da Igreja, Padre Gerson Schmidt nos ajuda a entender como os cristãos podem exercer o sacerdócio ao qual são chamados:

Ao selar a aliança no deserto do Sinai com o povo libertado da escravidão do Egito, Deus tinha dito: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos... Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19,5-6).
É este texto que ressoa nas palavras de São Pedro em sua Primeira Carta: “Dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo”; e: “Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2,5.9).
No mesmo sentido diz o Livro do Apocalipse que Jesus “fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (Ap 1,6). Como no Antigo, assim também no Novo Testamento este sacerdócio é um sacerdócio espiritual que, no entanto, não exclui, e sim inclui o oferecimento de sacrifícios rituais, na Igreja o sacrifício eucarístico. É igualmente claro que o exercício deste sacerdócio se estende a toda a Liturgia, a todas as celebrações. E, finalmente, não há dúvidas de que este povo sacerdotal são todos os batizados. Como no Batismo nascemos pelo dom do Espírito Santo como filhos e filhas de Deus em Jesus Cristo, assim somos no Batismo ungidos sacerdotes no sumo sacerdote Jesus Cristo.
E o sacerdócio dos ordenados? Como diz o termo que o especifica, “sacerdócio ministerial”: ele está a serviço do sacerdócio comum de todos os batizados. Os ordenados ajudam todo o povo dos batizados a viver e exercer o seu sacerdócio espiritual e ritual.
Sobretudo na Liturgia se exerce o sacerdócio de Jesus Cristo, do qual participam todos os batizados e, de modo particular, os ordenados. É neste sentido que a Constituição sobre a Liturgia - a Sacrosanctum Concilum - fala da “plena, consciente e ativa participação das celebrações, que a própria natureza da Liturgia exige e à qual, por força do Batismo, o povo cristão, geração escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo de conquista tem direito e obrigação” (n. 14).
No mesmo sentido, a Constituição diz ainda: “As ações litúrgicas (...) são (...) celebrações da Igreja, que é o sacramento da unidade, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o Corpo da Igreja, e o manifestam e afetam” (n. 26).
O fiel, por força do Batismo, tem direito e dever dessa integração e participação, que a própria natureza da Liturgia exige. A sagrada Liturgia é a primeira e necessária fonte do genuíno Cristianismo. Não nos adentramos em um verdadeiro ser cristão batizado se não mergulhamos nessa fonte da vida cristã que é a Eucaristia.
Segundo o Discurso do Papa Francisco na 68ª Semana Nacional Litúrgica, “o Concílio Vaticano II fez maturar depois, como bom fruto da árvore da Igreja, a Constituição sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, cujas linhas de reforma geral respondiam às necessidades reais e à esperança concreta de uma renovação: desejava-se uma Liturgia viva para uma Igreja toda vivificada pelos mistérios celebrados. Tratava-se de expressar de maneira renovada a vitalidade perene da Igreja em oração, tendo o cuidado de que «os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente, por meio de uma boa compreensão dos ritos e orações» (SC, n. 48)”.

A participação ativa dos fiéis leigos
22 de dezembro de 2020

No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar hoje sobre a participação ativa dos fiéis leigos na Liturgia.
Em nosso último programa, Padre Gerson Schmidt nos propôs uma reflexão sobre o sacerdócio dos cristãos, que pelo Batismo são chamados a ser sacerdotes, reis e profetas. Dando continuidade ao estudo dos documentos conciliares, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre amplia o tema sobre a participação ativa dos fiéis na Liturgia:

Um dos aspectos importantes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II é a participação ativa dos fiéis leigos. Já comentamos aqui em outra oportunidade, mas queremos acentuar mais uma vez esse aspecto tão relevante. A participação mais ativa e consciente foi acentuada por diversas vezes na Constituição Sacrosanctum Concilium. Os Bispos brasileiros que tiveram participação no Concílio Vaticano II apontam que essa participação ativa dos fiéis foi uma das grandes bandeiras firmemente levantadas pelo episcopado brasileiro por ocasião dos debates nas sessões de aprovação do Documento da reforma litúrgica.
A permissão do uso da língua vernácula já trazia a possibilidade dessa participação mais ativa e consciente, bem como a renovação dos ritos, das aclamações e dos cantos mais populares. São inúmeros os textos da Sacrosanctum Concilium que falam dessa participação ativa, inclusive com o título em destaque: “Participação ativa dos fiéis”, mais de uma vez no Documento. O número 48 afirma assim: “Por isso, a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos ou expectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, piedosa e ativamente, por meio de uma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos na palavra de Deus”. Ou seja: participação da Missa consciente, piedosa e ativa.
Por isso, nós não vamos “assistir” a Missa - como era a expressão até então, usada antes do Concílio -, como se a gente fosse a um espetáculo, a um cinema ou a um teatro muito bem montado e ensaiado. Precisamos participar de maneira consciente, mesmo se for no silêncio. Também quem celebra não é somente o sacerdote. Somos todos nós que celebramos. Por isso é incorreto, na motivação inicial da Santa Missa, o animador dizer: “Vamos receber o celebrante”. O padre não é somente ele o celebrante. Todos celebramos. O sacerdote é o celebrante principal ou o presidente da celebração. É correto dizer simplesmente: “Vamos receber a procissão de entrada com o canto tal...”.
Nesse prisma, os números 30 e 31 da Sacrosanctum Concilium afirmam, tendo como título “Participação ativa dos fiéis:
30. Para promover a participação ativa, cuide-se de incentivar as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as ações, gestos e atitudes. Seja também observado, a seu tempo, o silêncio sagrado.
31. Na revisão dos livros litúrgicos, procure-se que as rubricas prevejam também as partes dos fiéis.
É importante ver que os Padres conciliares viram aqui que para acontecer essa participação ativa, consciente e plena dos fiéis, tão claramente desejada por eles, há mais de 50 anos, é necessário que haja, em nossas bases paroquiais, uma verdadeira formação cristã e litúrgica. O fiel, por força do Batismo, tem direito e dever a essa integração e participação que a própria natureza da Liturgia exige. A sagrada Liturgia é a primeira e necessária fonte de vivência cristã. Não nos adentramos em um verdadeiro ser cristão se não mergulhamos nessa fonte que é a Liturgia. Pois ninguém ama o que não conhece. Precisamos conhecer a natureza da Liturgia.

Tríplice missão do povo de Deus
23 de dezembro de 2020

No nosso espaço “Memória História - 50 anos do Concílio Vaticano II”, vamos falar hoje sobre a tríplice missão do Povo de Deus.
Participação ativa dos fiéis leigos, Iniciação Cristã dos adultos e diretrizes da formação cristã foram os temas abordados pelo Padre Gerson Schmidt em nossos três últimos programas, sempre inspirados nos Documentos conciliares, em particular, na Constituição Sacrosanctum Concilium. Mas já em programa anterior, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre havia acenado que o Povo de Deus, incorporado a Cristo pelo Batismo, é profeta, sacerdote e rei. No programa de hoje, Padre Gerson aprofunda este tema, falando sobre a “tríplice missão do Povo de Deus”:

O Concílio Vaticano II deu destaque à tríplice missão do leigo - o múnus sacerdotal, profético e real. Múnus é um substantivo masculino na língua portuguesa que significa a função, missão ou obrigação que deve ser exercida por alguém. A palavra múnus se originou diretamente do latim munus, que quer dizer “dever”, “ônus”, “função” e “encargo”. O termo múnus é principalmente utilizado dentro do âmbito jurídico, como um conjunto de obrigações de um indivíduo. O múnus também pode ser considerado o emprego ou cargo de uma pessoa, levando em consideração a necessidade de cumprir obrigações durante o trabalho.
O Catecismo da Igreja Católica aponta assim no número 1268: “Os batizados tornaram-se ‘pedras vivas’ para a ‘construção de um edifício espiritual, para um sacerdócio santo’ (1Pd 2,5). Pelo Batismo, os batizados participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia; ‘sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para sua luz maravilhosa’ (1Pd 2,9). O Batismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis. São Pedro em sua Primeira Carta diz: ‘Dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo’ (1Pd 2,5)”.
Na Missa inaugural de seu Pontificado, em 22 de outubro de 1978, o Papa eleito João Paulo II já dizia assim: “O II Concílio do Vaticano recordou-nos o mistério de tal poder e o fato de que a missão de Cristo - Sacerdote, Profeta, Mestre e Rei - continua na Igreja. Todos, todo o Povo de Deus é partícipe desta tríplice missão. E talvez que no passado se pusesse sobre a cabeça do Papa o trirregno, aquela tríplice coroa, para exprimir, mediante tal símbolo, o desígnio do Senhor sobre a sua Igreja; ou seja, que toda a ordem hierárquica da Igreja de Cristo, todo o seu ‘sagrado poder’ que nela é exercido mais não é do que o serviço, aquele serviço que tem como finalidade uma só coisa: que todo o Povo de Deus seja partícipe daquela tríplice missão de Cristo e que permaneça sempre sob a soberania do Senhor, a qual não tem as suas origens nas potências deste mundo, mas sim no Pai celeste e no mistério da Cruz e da Ressurreição. O poder absoluto e ao mesmo tempo doce e suave do Senhor corresponde a quanto é o mais - profundo do homem, às suas mais elevadas aspirações da inteligência, da vontade e do coração. Esse poder não fala com a linguagem da força, mas exprime-se na caridade e na verdade”.
Posteriormente, na Exortação Apostólica pós-sinodal Cristhifideles Laici, João Paulo II afirmava assim: “Nas pegadas do Concílio Vaticano II, propus-me, desde o início do meu serviço pastoral, exaltar a dignidade sacerdotal, profética e real de todo o Povo de Deus, afirmando: ‘Aquele que nasceu da Virgem Maria, o Filho do carpinteiro - como o julgavam - o Filho do Deus vivo, como confessou Pedro, veio para fazer de todos nós um reino de sacerdotes. O Concílio Vaticano II recordou-nos o mistério deste poder e o fato de que a missão de Cristo - Sacerdote, Profeta-Mestre, Rei - continua na Igreja. Todos, todo o Povo de Deus participa nesta tríplice missão’”.
“Com esta Exortação - dizia o Papa João Paulo II - mais uma vez convido os fiéis leigos a reler, a meditar e a assimilar com inteligência e com amor a rica e fecunda doutrina do Concílio sobre a sua participação no tríplice múnus de Cristo”.
Nos próximos programas nos dedicaremos a cada aspecto dessa tríplice missão.

Todos os santos unidos na adoração ao Cordeiro
(Painel central do Retábulo de Ghent)


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