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sábado, 12 de setembro de 2020

Textos de Dom Henrique Soares sobre a Eucaristia 5

Iniciamos no último dia 10 de setembro de 2020 a publicar uma série de textos de Dom Henrique Soares da Costa sobre a Eucaristia, recordando os dois meses da sua morte no próximo dia 18.

Nos últimos dois textos Dom Henrique refletiu sobre "a Eucaristia na Bíblia". Nesta quinta postagem ele apresenta alguns textos dos primeiros escritores cristãos sobre esse sacramento:

A Eucaristia V
11 de junho de 2020

Nos últimos dois tópicos, vimos textos da Sagrada Escritura que tratam da Eucaristia. Agora, veremos alguns textos da Igreja antiga, que mostram bem o quanto a Comunidade cristã sempre celebrou e viveu o Sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor.

Santo Inácio de Antioquia, mártir de Cristo, lá pelo final dos anos 90 do século I da Era cristã, aconselhava aos efésios: “Procurai, pois, reunir-vos com mais frequência, para dar a Deus a ação de graças (fazer a Eucaristia) e louvor. Porque quando vos congregais com frequência num mesmo lugar, quebram-se as forças de Satanás”. Para o santo Bispo de Antioquia, a Eucaristia, único Corpo do Senhor, é sacramento (isto é, sinal eficaz, operante, que torna presente e atuante o que é celebrado nos símbolos e ritos) da unidade da Igreja.

Aos filadélfios, ele exortava: “Esforçai-vos, portanto, para usar uma só Eucaristia, pois uma só é a Carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice que nos une no Seu Sangue, um só altar, como um só Bispo junto com o presbitério e com os diáconos”. É importante observar como a Eucaristia não é uma realidade privada, para simples piedade pessoal e íntima, mas é o Sacramento que nos une a Cristo, como membros do Seu Corpo e, assim, nos une reciprocamente no Senhor, fazendo-nos Igreja Corpo de Cristo. A Eucaristia gera a Igreja e dela é Sacramento!

Sendo conduzido preso para Roma para ser jogado às feras por causa de Cristo, Santo Inácio assim escrevia aos romanos: “Não sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta vida. Quero o pão de Deus, que é a Carne de Jesus Cristo e por bebida, quero o Sangue Dele, o qual é a caridade incorruptível”. Compreendamos: o sangue derramado, isto é, a vida entregue livremente por amor, é a máxima manifestação do amor-caridade do Senhor por nós, caridade incorruptível!

Outro belo testemunho encontra-se na Didaqué, que é praticamente o primeiro catecismo da Igreja, escrito lá pelo final do século I. Com palavras que hoje emocionam qualquer católico, o autor, no início do cristianismo, orienta os cristãos sobre o modo de celebrar o Sacramento da Missa: “No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: primeiro sobre o cálice, dizendo: ‘Nós Te damos graças (eucharistoumen = Te fazemos Eucaristia), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, Teu Servo (a vinha é a Igreja, Davi é o Cristo, o Ungido do Pai), que Tu revelaste por Jesus, Teu Servo. A Ti a glória pelos séculos! Amém’. Sobre o pão a ser fracionado: ‘Nós Te agradecemos, nosso Pai, pela Vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, Teu Servo. A Ti a glória pelos séculos. Amém. Ó Pai, da mesma maneira como este pão partido fora primeiro semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim, das extremidades da terra seja unida a Tua Igreja em Teu Reino!’ Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em Nome do Senhor. Pois a respeito dela o Senhor disse: ‘Não deis aos cães as coisas santas!’”.

Observemos como neste texto a Eucaristia aparece como ação de graças ao Pai por Jesus, o Messias, e como o Sacramento que reúne a Igreja na unidade. Insisto: a Eucaristia nunca foi concebida pelos cristãos simplesmente como comunhão da hóstia, desvinculada do contexto do Banquete sacrifical e nunca foi pensada como uma realidade a ser recebida para o deleite privado! Não: ela é Sacramento da própria Igreja, Corpo do Senhor! Nós dela participamos como membros desse Corpo e para a edificação e divinização do Corpo! É como membros do Corpo do Senhor, membros do Povo santo de Deus, Povo da nova e eterna Aliança, que participamos do Sacrifício eucarístico e comungamos no Corpo eucarístico para estarmos na comunhão do Corpo eclesial!

Mais adiante, ainda na Didaqué, o autor recomenda: “Reuni-vos no Dia do Senhor (Domingo, Dies Domini) para a Fração do Pão e celebrai a Eucaristia, depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso Sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso Sacrifício não seja profanado. Com efeito, deste Sacrifício disse o Senhor: ‘Em todo o lugar e em todo o tempo se Me oferece um Sacrifício puro, porque sou um grande Rei - diz o Senhor - e o Meu Nome é admirável entre todos os povos!’” É emocionante ver um texto do primeiro século cristão que exprime a fé da Igreja apostólica e perceber que ainda hoje, dois mil anos depois, a Igreja de Cristo permanece fiel à fé de nossos antepassados: no Domingo, os cristãos participavam da Eucaristia, sabendo que ela é o Sacrifício do Senhor Jesus! Observa também, mais uma vez: não pode participar do Sacrifício do Corpo de Cristo quem vive na discórdia, na divisão em relação ao Corpo do Senhor! A Eucaristia é Sacramento da unidade do Corpo com Cristo Cabeça e entre os seus membros! Dá pena ver tantos e tantos grupos cristãos que, abandonando a fé católica, recebida desde o início, mutilaram tristemente a fé transmitida pelos Apóstolos!

Num outro texto desta série sobre a Eucaristia, já citei um belíssimo texto de São Justino, mártir, que lá pelo ano 155, explicava como se celebrava este Sacramento. Agora, cito ainda um texto seu. Vale a pena! “Este alimento é chamado entre nós de Eucaristia, do qual a nenhum outro é permitido participar, senão a quem crê que nossa doutrina é verdadeira e que foi purificado com o Batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração e que vive como Cristo nos ensinou. Porque estas coisas, nós não as tomamos como pão comum nem bebida comum, mas assim como o Verbo de Deus, havendo-Se encarnado em Jesus Cristo, nosso Salvador, tomou carne e sangue para nossa salvação, assim também nos foi ensinado que o alimento eucaristizado mediante a palavra da oração que vem Dele... é a Carne e o Sangue daquele Jesus que Se encarnou!” Notemos como aparece claríssima a convicção de que o pão e o vinho eucaristizados (consagrados pelas palavras de ação de graças, isto é, a Oração Eucarística) são verdadeiramente Corpo e Sangue do Senhor!

Também Santo Irineu, o grande teólogo, Bispo de Lião, na Gália do século II, tem palavras belíssimas sobre a Eucaristia. Tomemos algumas. No primeiro texto, combatendo os hereges gnósticos, que negavam a Ressurreição (avós dos reencarnacionistas atuais e de todos os ramos da Nova Era), ele usa a Eucaristia como prova de que os mortos ressuscitam carnalmente. Eis: “Como (os hereges) podem dizer que a carne se corrompe e não participa da Vida (não ressuscita), ela que é alimentada com o Corpo e Sangue do Senhor? Portanto (os hereges), ou mudem de opinião ou deixem de oferecer as ditas coisas (o pão e o vinho eucarístico, que eles ofereciam nas Missas deles). Para nós, contudo, nossa crença concorda com a Eucaristia e a Eucaristia, por sua vez, confirma a nossa crença. Porque assim como o pão que é da terra, recebendo a invocação de Deus (quando o sacerdote impõe as mãos pedindo o Espírito Santo e pronunciando as palavras da consagração), já não é pão ordinário, mas sim Eucaristia, assim também nossos corpos, recebendo a Eucaristia, não são mais corruptíveis, mas possuem a esperança da ressurreição para sempre!” Este texto é de uma beleza e de uma profundidade impressionantes! Santo Irineu garante: nós ressuscitaremos e já recebemos a garantia da ressurreição, que é a Eucaristia. O pão, depois de consagrado, é o Corpo do Senhor, é pão de Vida divina, assim, nossa carne que recebe a Carne ressuscitada de Cristo, cheia do Espírito Santo, não permanecerá na morte, mas ressuscitará, exatamente como Jesus, nosso Senhor, prometera: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a Vida eterna e Eu o ressuscitarei no Último Dia!” (Jo 6,54). Observe também como, já no século II, o santo Bispo mostra que não pode comungar quem não crê na Ressurreição. É o caso de todo reencarnacionista: de modo algum pode comungar o Corpo ressuscitado e ressuscitante do Salvador! Essa comunhão seria uma mentira, seria uma injúria ao Sacramento, pois seria receber o que se nega!

Ainda um texto de Santo Irineu, para deixar confuso qualquer um que negue que nossa carne ressuscitará: “Quando pois, o cálice misturado (com água) e o pão recebem o Verbo de Deus e se fazem Eucaristia, Corpo de Cristo, com o qual a substância de nossa carne aumenta e se faz, como podem dizer que nossa carne não é capaz do Dom de Deus, que é a Vida eterna, a carne alimentada com o Corpo e o Sangue do Senhor e feita membro d’Eele?” A questão colocada aqui por Santo Irineu é clara: como é que os hereges têm coragem de dizer que nossa carne, nosso corpo, não pode ressuscitar, não pode herdar a Vida eterna, divina, se ela é alimentada com a Eucaristia? A Eucaristia é, portanto, penhor de nossa ressurreição. É por isso que nossa Mãe católica tem tanto cuidado e pede tanto aos seus sacerdotes que assistam os doentes às portas da morte, para que eles recebam em viático a comunhão. Aí, o ministro sagrado diz ao que está morrendo: “O Corpo de Cristo te guarde para a Vida eterna!” Que coisa, que graça: morrer alimentando-se com a Vida que vence a morte; morrer unido - carne na Carne! - Àquele que destruiu a morte! Santa Eucaristia!



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