Páginas

terça-feira, 21 de abril de 2020

Via Sacra do ano 2000: Meditações do Papa João Paulo II

Por ocasião do Grande Jubileu do ano 2000, as meditações para a tradicional Via Sacra no Coliseu foram escritas pelo próprio Papa João Paulo II.

Confira a seguir as meditações do Santo Padre, ilustradas com a eloquente Via Sacra realizada pelo artista polonês Jerzy Duda-Gracz para o Santuário de Nossa Senhora de Częstochowa:

Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via Sacra no Coliseu
Meditações e orações do Papa João Paulo II
Sexta-feira Santa, 21 de abril de 2000

Oração inicial
Santo Padre: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amém.

Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mt 16,24).
Noite de Sexta-feira Santa.
Há vinte séculos que a Igreja se reúne nesta noite para recordar e reviver os acontecimentos da última etapa do caminho terreno do Filho de Deus. Hoje, como nos demais anos, a Igreja que está em Roma concentra-se no Coliseu, para seguir os passos de Jesus que, “carregando às costas a cruz, saiu para o lugar chamado Crânio, que em hebraico se diz Gólgota” (Jo 19,17).
Encontramo-nos aqui animados pela convicção de que a Via Sacra do Filho de Deus não foi um simples caminhar para o lugar do suplício. Acreditamos que cada passo do Condenado, cada gesto e palavra d’Ele, e tudo o mais que foi vivido e realizado por quantos tomaram parte neste drama, continua incessantemente a falar-nos. Cristo, mesmo no seu sofrimento e na sua morte, desvenda-nos a verdade acerca de Deus e do homem.


Neste Ano Jubilar, queremos refletir mais intensamente no conteúdo daquele acontecimento, para que fique gravado, com uma força nova, nas nossas mentes e nos nossos corações e daí brote a graça de uma autêntica participação.
Participar significa ter uma parte.
E que significa ter uma parte na cruz de Cristo?
Significa experimentar, no Espírito Santo, o amor que a cruz de Cristo encerra.
Significa reconhecer, à luz desse amor, a própria cruz.
Significa retomá-la aos próprios ombros e, por força sempre daquele amor, caminhar...
Caminhar pela vida fora, imitando Aquele que “suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está agora sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12,2).

Oremos:
Senhor Jesus Cristo, enchei os nossos corações com a luz do vosso Espírito, para que, acompanhando-Vos no vosso último caminho, conheçamos o preço da nossa redenção e nos tornemos dignos de participar nos frutos da vossa Paixão, Morte e Ressurreição. Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. R. Amém.

I Estação: Jesus é condenado à morte

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Tu és o rei dos judeus?” (Jo 18,33).
“A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas a minha realeza não é daqui” (Jo 18,36).
Pilatos acrescentou: “Logo Tu és rei?”. Jesus respondeu: “Tu o dizes! Eu sou rei! Para isso nasci e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. Pilatos replicou: “Que é a verdade?”. Dito isto, o Procurador romano considerou encerrado o interrogatório. Foi ter com os judeus e comunicou-lhes: “Não acho n’Ele culpa alguma” (cf. Jo 18,37-38).

O drama de Pilatos está contido na pergunta: Que é a verdade?
Não era uma pergunta filosófica sobre a natureza da verdade, mas uma pergunta existencial que dizia respeito à relação da própria pessoa com a verdade. Era uma tentativa de fugir à voz da consciência, que instava para que reconhecesse a verdade e a seguisse. O homem, que não se deixa guiar pela verdade, é capaz de sentenciar inclusivamente a condenação dum inocente.
Os acusadores intuem esta fragilidade de Pilatos e por isso não cedem. Com determinação, reclamam a morte de cruz. As meias-medidas, a que recorre Pilatos, não o ajudam. Não é suficiente a pena cruel da flagelação, infligida ao Acusado. Quando o Procurador apresenta à multidão Jesus flagelado e coroado de espinhos, usa uma frase que, no seu modo de ver, deveria quebrar a intransigência da praça. Apontando para Jesus, diz: “Ecce homo!”, “Eis o homem!”.
Mas, a resposta foi: “Crucifica-O, crucifica-O!”.
Pilatos procura então fazê-los raciocinar: “Tomai-O vós e crucificai-O; eu não encontro n’Ele culpa alguma” (cf. Jo 19,5-7).
Está cada vez mais convencido de que o Réu é inocente, mas isto não lhe basta para proferir uma sentença de absolvição.
Os acusadores recorrem ao último argumento: “Se O libertares, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei, é contra César” (Jo 19,12).
A ameaça é clara. Pilatos, intuindo o perigo, cede definitivamente e profere a sentença, acompanhada do gesto teatral de lavar as mãos: “Estou inocente do sangue deste justo. Isso é convosco” (Mt 27,24).
E assim Jesus, o Filho de Deus vivo, o Redentor do mundo, foi condenado à morte de cruz.
Ao longo dos séculos, a negação da verdade gerou sofrimento e morte.
São os inocentes que pagam o preço da hipocrisia humana.
As meias-medidas não são suficientes. Nem basta lavar as mãos.
A responsabilidade pelo sangue do justo permanece.
Foi por isso que Jesus rezou, tão ardentemente, pelos seus discípulos de todos os tempos: “Pai, santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade” (Jo 17,17).

Oremos:
Cristo, que aceitais uma condenação injusta, concedei-nos, a nós e a todos os nossos contemporâneos, a graça de sermos fiéis à verdade e não permitais que caia sobre nós e sobre quantos hão de vir depois de nós o peso da responsabilidade pelo sofrimento dos inocentes.
Jesus, justo Juiz, a Vós a honra e a glória pelos séculos sem fim. R. Amém.

Pai nosso...


II Estação: Jesus recebe a cruz aos ombros

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


A cruz. Instrumento de morte infame.
Não era lícito condenar um cidadão romano à morte de cruz: era humilhante demais. No momento em que Jesus de Nazaré pegou na cruz para levá-la ao Calvário, a história da cruz conheceu uma inversão do seu valor:
De sinal de morte infame e reservada à classe inferior dos homens, a cruz passa a ser uma chave; doravante, com a ajuda desta chave, o homem abrirá a porta das profundezas do mistério de Deus.
Por obra de Cristo, que aceita a cruz como instrumento do seu despojamento, os homens saberão que Deus é amor.
Amor sem limites: “Amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Esta verdade sobre Deus foi revelada por meio da cruz.
E não podia revelar-se de outro modo?
Talvez sim. Deus, porém, escolheu a cruz.
O Pai escolheu a cruz para o seu Filho, e Este a tomou aos ombros, levou-a até ao monte Calvário e sobre ela ofereceu a sua vida.
“Na cruz, há o sofrimento, na cruz, há a salvação, na cruz, há uma lição de amor. Ó Deus, quem uma vez Vos compreendeu, nada mais deseja, nada mais procura” (Cântico quaresmal polonês).
A Cruz é sinal de um amor sem limites!

Oremos:
Cristo, que aceitais a cruz das mãos dos homens, para fazer dela o sinal do amor salvífico de Deus pelo homem, concedei-nos, a nós e a todos os nossos contemporâneos, a graça da fé neste amor infinito, para que, transmitindo ao novo milênio o sinal da cruz, sejamos autênticas testemunhas da Redenção.
Jesus, sacerdote e vítima, a Vós o louvor e a glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Cuius animam gementem, / contristatam et dolentem / pertransivit gladius.

III Estação: Jesus cai pela primeira vez

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Deus carregou sobre Ele os pecados de todos nós” (cf. Is 53,6).
“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um seguia o seu caminho; o Senhor carregou sobre Ele a iniquidade de todos nós” (Is 53,6).
Jesus cai sob a cruz. Acontecerá o mesmo por três vezes ao longo do caminho, relativamente breve, da “Via Dolorosa”.
Cai exausto. O corpo sangrando pela flagelação, a cabeça coroada de espinhos. Tudo isso faz com que Lhe faltem as forças.
Por isso cai, e a cruz com o seu peso esmaga-O contra o chão.
Convém voltar às palavras do profeta, que prevê esta queda séculos antes. É como se a contemplasse com seus próprios olhos: vendo o Servo do Senhor no chão sob o peso da cruz, o profeta mostra a verdadeira causa da sua queda. É que “Deus carregou sobre Ele os pecados de todos nós”.
Foram os pecados que lançaram por terra o divino Condenado.
Foram eles que determinaram o peso da cruz, que Ele carrega aos seus ombros.
Foram os pecados que causaram a sua queda.
Cristo, a custo, levanta-Se para retomar o caminho. Os soldados, que O escoltam, não cessam de forçá-Lo com seus gritos e golpes.
Passado pouco tempo, o cortejo parte de novo.
Jesus cai e levanta-Se.
Deste modo, o Redentor do mundo fala, sem palavras, a todos aqueles que caem. Exorta-os a levantarem-se.
“Ele suportou os nossos pecados no seu corpo, sobre o madeiro da cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça: pelas suas chagas fomos curados” (cf. 1Pd 2,24).

Oremos:
Cristo, que caís sob o peso das nossas culpas e Vos levantais para nossa justificação, nós Vos pedimos: ajudai-nos a nós e a todos aqueles que são oprimidos pelo pecado a pormo-nos novamente de pé e a retomarmos o caminho. Dai-nos a força do Espírito, para levar convosco a cruz da nossa fragilidade.
Jesus, esmagado pelo peso das nossas culpas, a Vós o nosso louvor e o nosso amor para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

O quam tristis et afflicta / fuit illa benedicta / Mater Unigeniti!

IV Estação: Jesus encontra sua Mãe

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Não tenhas medo, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, reinará eternamente sobre a casa de Jacó e o seu reinado não terá fim” (Lc 1,30-33).
Maria recordava estas palavras. No segredo do seu coração, frequentemente repensava nelas.
Quando encontrou o Filho no caminho da cruz, pode ser que lhe tenham vindo à mente precisamente estas palavras. Com uma força particular.
“Reinará... o seu reinado não terá fim...”, dissera o mensageiro celeste.
Quando, agora, contempla o Filho condenado à morte que leva a cruz onde há de morrer, Ela poderia, humanamente falando, interrogar-se: Então como irão cumprir-se aquelas palavras? De que modo reinará Ele sobre a casa de David? E como será possível não ter fim o seu reinado?
Humanamente, seriam compreensíveis tais perguntas.
Maria, porém, recorda a resposta que dera então depois de ter ouvido o anúncio do Anjo: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Agora vê que aquela sua resposta se está realizando como palavra da cruz. Sendo mãe, Maria sofre profundamente. Todavia neste momento responde como o tinha feito então, na anunciação: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Deste modo, maternalmente, abraça a cruz juntamente com o divino Condenado.
No caminho da cruz, Maria manifesta-se como Mãe do Redentor do mundo.
“Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se existe dor semelhante à dor que me atormenta” (Lm 1,12).
É a Mãe Dolorosa que fala, a Serva obediente até ao fim, a Mãe do Redentor do mundo.

Oremos:
Ó Maria, Vós que percorrestes o caminho da cruz juntamente com o Filho, sentindo vosso coração de mãe despedaçado pela dor, mas sempre recordada do vosso fiat e intimamente confiante de que Aquele para quem nada é impossível saberia dar cumprimento às suas promessas, implorai para nós e para as futuras gerações a graça do abandono ao amor de Deus. Fazei com que em presença do sofrimento, do desprezo, da prova, ainda que prolongada e dura, nunca duvidemos do seu amor.
A Jesus, vosso Filho, honra e glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Quae maerebat et dolebat, / pia Mater, dum videbat / Nati poenas incliti.

V Estação: Simão de Cirene leva a cruz de Jesus

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Obrigaram Simão (cf. Mc 15,21).
Procederam assim os soldados romanos, porque temiam que o Condenado, exausto, não chegasse com a cruz ao Gólgota. E não poderiam executar a sentença da crucifixão que pesava sobre Ele.
Procuravam um homem que O ajudasse a levar a cruz.
O olhar deles caiu sobre Simão. Obrigaram-no a carregar aquele peso. Pode-se facilmente imaginar que ele não estivesse de acordo e se opusesse. Levar a cruz com um condenado podia ser considerado um ato ofensivo para a dignidade de um homem livre.
Embora contra vontade, Simão pegou na cruz para ajudar Jesus.
Em um cântico quaresmal, ressoam estas palavras: “Sob o peso da cruz, Jesus acolhe o Cireneu”. Estas palavras deixam entrever uma mudança total de perspectiva: o divino Condenado aparece como Alguém que, de certo modo, “dá de presente” a cruz.
Porventura não foi Ele que disse: “Quem não tomar a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim” (Mt 10,38)?
Simão recebe um presente.
Tornou-se “digno” d’Ele.
Aquilo que, aos olhos da multidão, podia ofender a sua dignidade, na perspectiva da redenção conferiu-lhe, pelo contrário, uma nova dignidade.
O Filho de Deus fê-lo participante, de modo singular, na sua obra salvífica.
Será que Simão sabe disto?
O evangelista Marcos identifica Simão de Cirene como sendo “pai de Alexandre e Rufo” (Mc 15,21).
Se os filhos de Simão de Cirene eram conhecidos na primitiva comunidade cristã, pode-se pensar que também o pai, precisamente quando levava a cruz, tenha acreditado em Cristo. Passou livremente da imposição à disponibilidade, como se tivesse ouvido intimamente estas palavras: “Quem não Me segue com a sua cruz, não é digno de Mim”.
Levando a cruz, foi iniciado no conhecimento do Evangelho da cruz.
Desde então, este Evangelho tem falado a muita gente, a cireneus sem conta, chamados no decurso da história a levar a cruz juntamente com Jesus.

Oremos:
Cristo, que conferistes a Simão de Cirene a dignidade de levar a vossa cruz, acolhei-nos também a nós sob o seu peso, acolhei todos os homens concedendo a cada um a graça da disponibilidade. Fazei que não desviemos o olhar daqueles que são oprimidos pela cruz da doença, da solidão, da fome, da injustiça. Fazei que, levando a carga uns dos outros, nos tornemos testemunhas do evangelho da cruz, testemunhas de Vós, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. R. Amém.

Pai nosso...

Quis est homo qui non fleret, / Matrem Christi si videret / in tanto supplicio?

VI Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Nos Evangelhos, não aparece mencionada Verônica. Entre as várias mulheres que serviam Jesus, o nome dela não é referido.
Pensa-se, por isso, que o nome possa exprimir sobretudo o que a mulher fez. Com efeito, segundo a tradição, no caminho para o Calvário, uma mulher passou por entre os soldados que escoltavam Jesus e, com um véu, enxugou o suor e o sangue do rosto do Senhor. Aquele rosto ficou gravado no véu: um reflexo fiel, uma verdadeira imagem, “vera icon”. Desta expressão derivaria o nome de Verônica.
Se assim fosse, este nome, que recorda o gesto realizado pela mulher, encerraria simultaneamente a verdade mais profunda dela mesma.
Um dia, perante a crítica dos presentes, Jesus tomou a defesa de uma mulher pecadora, que tinha derramado um perfume sobre os seus pés, enxugando-os depois com os cabelos. À objeção então levantada, Ele responde: “Porque afligis esta mulher? Ela praticou para comigo uma boa obra (...). Derramando este perfume sobre o meu corpo, fê-lo preparando-Me para a sepultura” (Mt 26,10.12). As mesmas palavras poderiam aplicar-se a Verônica.
Fica assim patente o profundo significado do acontecimento.
O Redentor do mundo dá a Verônica uma autêntica imagem do seu rosto.
O véu, onde fica impresso o rosto de Cristo, torna-se uma mensagem para nós. De certo modo, diz: Eis como toda a boa obra, todo o gesto de amor para com o próximo reforça, em quem o pratica, a semelhança com o Redentor do mundo.
Os atos de amor não passam. Cada gesto de bondade, de compreensão, de serviço deixa no coração do homem um sinal indelével, que o torna cada vez mais semelhante Àquele que “Se despojou a Si mesmo, tomando a condição de servo” (Fl 2,7).
Assim se forma a identidade, o verdadeiro nome da pessoa.

Oremos:
Senhor Jesus Cristo! Vós que aceitastes o gesto de amor desinteressado duma mulher e fizestes com que, em troca, as gerações a recordassem com o nome do vosso rosto, concedei que as nossas obras e as de todos quantos virão depois de nós, nos tornem semelhantes a Vós e ofereçam ao mundo o reflexo do vosso infinito amor.
Jesus, esplendor da glória do Pai, a Vós louvor e glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Quis non posset contristari, / Christi Matrem contemplari, / dolentem cum Filio?

VII Estação: Jesus cai pela segunda vez

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Eu sou um verme, e não um homem, o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe” (Sl 21,7).
Acorrem à mente estas palavras do Salmo ao contemplarmos Jesus que cai, pela segunda vez, sob a cruz.
Eis caído no pó da terra o Condenado!
Esmagado pelo peso da sua cruz.
As forças vão abandonando-O cada vez mais.
Embora com dificuldade, mas levanta-Se, para continuar o caminho.
Que nos diz a nós, homens pecadores, esta segunda queda?
Parece exortar, ainda mais que a primeira, a levantarmo-nos, a levantarmo-nos outra vez no nosso caminho da cruz.
Cyprian Norwid escreveu: “Não atrás de si próprio com a cruz do Salvador, mas atrás do Salvador com a própria cruz”.
Uma máxima breve, mas muito expressiva. Explica em que sentido o cristianismo é a religião da cruz.
Dá a entender que todo o homem encontra, aqui na terra, Cristo que leva a cruz e cai sob ela.
Cristo por sua vez, no caminho do Calvário, encontra todo o homem e, embora caindo sob o peso da cruz, não cessa de anunciar a boa nova.
Há dois mil anos que o evangelho da cruz fala ao homem.
Vinte séculos são passados com Cristo a levantar-Se da queda para Se encontrar com o homem que cai.
Ao longo destes dois milénios, muitos experimentaram que cair não significa o fim do caminho.
Encontrando o Salvador, ouviram-No encorajar-lhes:
“Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente” (2Cor 12,9).
Revigorados, levantaram-se e transmitiram ao mundo a palavra da esperança que brota da cruz.
Hoje, cruzando o limiar do novo milênio, somos chamados a aprofundar o conteúdo deste encontro.
É necessário que a nossa geração transmita aos séculos futuros a boa nova de que podemos levantar-nos em Cristo.

Oremos:
Senhor Jesus Cristo, que caís sob o peso do pecado do homem e Vos levantais para o assumir como vosso, cancelando-o, concedei-nos a nós, homens frágeis, a força para levarmos a cruz diária e nos levantarmos das nossas quedas a fim de transmitirmos às gerações que hão de vir o Evangelho da vossa força salvadora.
Jesus, sustentáculo da nossa fraqueza, a Vós o louvor e a glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Pro peccatis suae gentis, / vidit Iesum in tormentis, / et flagellis subditum.

VIII Estação: Jesus exorta as mulheres de Jerusalém

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos, pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Hão de então dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’, e às colinas: ‘Cobri-nos’. Porque se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?” (Lc 23,28-31).
São as palavras de Jesus às mulheres de Jerusalém que, compadecidas, choravam pelo Condenado.
“Não choreis por Mim, mas por vós mesmas e pelos vossos filhos”. Por certo, naquele momento era difícil compreender o sentido destas palavras. Continham uma profecia, que bem depressa se tornaria realidade.
Pouco tempo antes, Jesus tinha chorado por Jerusalém, preanunciando a sorte horrível que haveria de lhe tocar.
Parece que Ele agora Se refere àquela previsão, quando diz: “Chorai pelos vossos filhos...”.
Chorai por eles, porque serão precisamente eles as testemunhas e vítimas da destruição de Jerusalém, daquela Jerusalém que “não soube reconhecer o tempo em que foi visitada” (cf. Lc 19,44).
Enquanto seguimos Cristo no caminho da cruz, se por um lado sentimos despertar em nossos corações a compaixão pelo seu sofrimento, por outro não podemos esquecer aquela admoestação:
“Se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?”.
Para a nossa geração que deixa para trás um milénio, mais do que chorar por Jesus martirizado, é hora de “reconhecer o tempo em que é visitada”. Já resplandece a aurora da ressurreição. “É este o tempo favorável; este é o dia da salvação” (2Cor 6,2).
A cada um de nós, Cristo dirige estas palavras do Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo. Ao que vencer, concederei que se sente comigo no meu trono, assim como Eu venci e Me sentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3,20-21).

Oremos:
Cristo, que viestes a este mundo para visitar todos aqueles que esperam a salvação, fazei que a nossa geração reconheça o tempo em que é visitada e participe nos frutos da vossa redenção. Não permitais que, sobre nós e sobre as pessoas do novo século, se deva chorar por termos recusado a mão do Pai misericordioso.
Jesus, nascido da Virgem, Filha de Sião, a Vós, honra e glória pelos séculos sem fim. R. Amém.

Pai nosso...

Tui Nati vulnerati, / tam dignati pro me pati / poenas mecum divide.

IX Estação: Jesus cai pela terceira vez

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


De novo vemos Cristo tombado por terra, sob o peso da cruz. A multidão observa, curiosa, se ainda terá forças para Se levantar.
São Paulo escreve: “Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens. Tido pelo aspecto como homem, humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,6-8).
Parece que a terceira queda exprime precisamente isto: o despojamento, a kenosis do Filho de Deus, a humilhação sob a cruz.
Aos discípulos, Jesus tinha dito que não viera para ser servido, mas para servir (cf. Mt 20,28).
No Cenáculo, quando Se ajoelhara por terra e lhes lavou os pés, Ele quis de algum modo habituá-los a esta sua humilhação.
Caindo a terceira vez por terra no caminho da cruz, grita-nos também em voz alta o seu mistério.
Ouçamos a sua voz!
Este Condenado no chão, sob o peso da cruz, já perto do lugar do suplício, diz-nos: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). “Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Não nos confunda o fato de ver um Condenado que cai por terra, exausto, sob a cruz.
Este sinal visível da morte, que se vai aproximando, esconde em si a luz da vida.

Oremos:
Senhor Jesus Cristo, que, pela vossa humilhação sob a cruz, revelastes ao mundo o preço da sua redenção, concedei às pessoas do terceiro milénio a luz da fé, para que, reconhecendo em Vós o Servo que sofre por amor de Deus e do homem, tenham a coragem de seguir o mesmo caminho que, através da cruz e do despojamento, leva à vida que não tem fim.
Jesus, sustentáculo da nossa fraqueza, a Vós louvor e glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Eia, Mater, fons amoris, / me sentire vim doloris / fac, ut tecum lugeam.

X Estação: Jesus é despojado das suas vestes e lhe dão vinagre e fel a beber

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Mas, provando-o, não quis beber” (Mt 27,34).
Não quis calmantes, que Lhe teriam obnubilado a consciência durante a agonia.
Queria estar consciente enquanto agonizava na cruz, cumprindo a missão recebida do Pai.
Isto ia contra os métodos usados pelos soldados encarregados da execução. Tendo eles de cravar o condenado na cruz, procuravam aturdir-lhe a sensibilidade e a consciência.
No caso de Cristo, não podia ser assim. Jesus sabe que a sua morte na cruz deve ser um sacrifício de expiação.
Por isso quer conservar a consciência desperta até ao fim.
Privado dela, não poderia abraçar, de forma completamente livre e na sua medida plena, o sofrimento.
Sim, Ele deve subir à cruz, para oferecer o sacrifício da Nova Aliança.
Jesus é sacerdote. Deverá entrar com o próprio sangue nas moradas eternas, depois de ter efetuado a redenção do mundo (cf. Hb 9,12).
Consciência e liberdade: são atributos imprescindíveis para um agir plenamente humano. O mundo conhece muitos meios para debilitar a vontade e ofuscar a consciência. É preciso defendê-las zelosamente de todas as violências.
Mesmo o esforço, legítimo, de aturdir a dor há de ser realizado sempre no respeito da dignidade humana.
É necessário compreender profundamente o sacrifício de Cristo, é preciso unir-se a este sacrifício para não ceder, para não permitir que a vida e a morte percam o seu valor.

Oremos:
Senhor Jesus, que aceitastes, com total devotamento, a morte de cruz pela nossa salvação, a nós e a todas as pessoas do mundo, fazei-nos participantes do vosso sacrifício na cruz, para que a nossa existência e a nossa atividade tomem a forma duma participação livre e consciente na vossa obra de salvação. Jesus, Sacerdote e Vítima, a Vós honra e glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Fac ut ardeat cor meum / in amando Christum Deum, / ut sibi complaceam.

XI Estação: Jesus é pregado na Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Transpassaram as minhas mãos e os meus pés; posso contar todos os meus ossos” (Sl 21,17-18).
Cumprem-se as palavras do profeta.
Tem início a execução.
As marteladas dos algozes esmagam contra o madeiro da cruz as mãos e os pés do Condenado.
No carpo das mãos, são espetados os pregos com prepotência.
Aqueles pregos terão o condenado suspenso durante os tormentos inexprimíveis da agonia.
No seu corpo e na sua alma sensibilíssima, Cristo sofre indizivelmente.
Juntamente com Ele, são crucificados dois verdadeiros malfeitores, um à sua direita e o outro à sua esquerda. Cumpre-se a profecia: “Foi contado entre os pecadores” (Is 53,12).
Quando os algozes levantarem a cruz, começará uma agonia que há de durar três horas. É preciso que se cumpra também esta palavra: “Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo 12,32).
O que é que “atrai” neste Condenado que agoniza na cruz?
Certamente a vista de um sofrimento tão intenso desperta compaixão. Mas a compaixão é demasiado pouco para levar a vincular a própria vida com Aquele que está pregado na cruz.
Como se explica que tão pavorosa vista tenha atraído, de geração em geração, inumeráveis multidões de pessoas que fizeram da cruz o distintivo da sua fé?
Multidões de homens e mulheres que, ao longo dos séculos, viveram e deram a vida com os olhos fixos naquele sinal?
A partir da cruz, Cristo atrai com a força do amor, daquele Amor divino que não se esquivou ao dom total de Si mesmo;
Daquele Amor infinito, que levantou da terra sobre a árvore da cruz o peso do corpo de Cristo, para compensar o peso da culpa antiga;
Daquele Amor ilimitado, que colmou toda a ausência de amor e permitiu que o homem encontrasse novamente refúgio nos braços do Pai misericordioso.
Que Cristo, elevado na cruz, nos atraia também a nós, homens e mulheres do novo milénio!
À sombra da cruz, “caminhemos na caridade, porque Cristo também nos amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se a Deus como sacrifício de agradável odor” (cf. Ef 5,2).

Oremos:
Cristo erguido ao alto, Amor crucificado, enchei os nossos corações do vosso amor, para reconhecermos na vossa cruz o sinal da nossa redenção e, atraídos pelas vossas chagas, vivermos e morrermos convosco, que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo agora e pelos séculos sem fim. R. Amém.

Pai nosso...

Sancta Mater, istud agas, / crucifixi fige plagas, / cordi meo valide.

XII Estação: Jesus morre na Cruz

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
No auge da Paixão, Cristo não esquece o homem, especialmente não esquece aqueles que são a causa direta do seu sofrimento. Ele sabe que, mais do que qualquer outra coisa, o homem precisa de amor; precisa da misericórdia que naquele momento se está derramando sobre o mundo.
“Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).
Jesus responde assim ao pedido que Lhe fez o malfeitor crucificado à sua direita: “Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no teu reino” (Lc 23,42).
A promessa de uma nova vida: eis o primeiro fruto da paixão e morte iminente de Cristo. Uma palavra de esperança para o homem.
Ao pé da cruz, estava a Mãe e, junto dela, o discípulo, João evangelista. Jesus diz: “Mulher, eis aí o teu filho”; e ao discípulo: “Eis aí a tua mãe” (Jo 19,26-27).
“E, desde aquela hora, o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19,27).
É o testamento para as pessoas que o coração d’Ele mais estima.
O testamento para a Igreja.
Quando está para morrer, Jesus quer que o amor materno de Maria abrace a todos aqueles por quem Ele oferece a vida, ou seja, a humanidade inteira.
Logo em seguida, Jesus exclama: “Tenho sede” (Jo 19,28). Frase que traduz a secura terrível que abrasa todo o seu corpo.
É a única palavra que fala diretamente do seu sofrimento físico.
Depois Jesus acrescenta: “Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?” (Mt 27,46; cf. Sl 21,2). Ele está rezando com as palavras do Salmo. A frase, não obstante o seu teor, mostra a sua profunda união com o Pai.
Nos últimos momentos da sua vida sobre a terra, Jesus dirige o pensamento para o Pai. Doravante o diálogo desenrolar-se-á apenas entre o Filho que morre e o Pai que aceita o seu sacrifício de amor.
Ao chegar a hora nona, Jesus exclama: “Tudo está consumado” (Jo 19,30).
A obra da redenção foi levada a termo.
A missão, que O trouxe à terra, atingiu o seu objetivo.
O resto pertence ao Pai: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Dito isto, expirou.
“O véu do templo rasgou-se em dois...” (Mt 27,51).
O “Santo dos Santos” no templo de Jerusalém abre-se no momento em que entra lá o Sacerdote da Nova e Eterna Aliança.

Oremos:
Senhor Jesus Cristo, Vós que na hora da agonia não ficastes indiferente à sorte do homem mas juntamente com o vosso último respiro confiastes amorosamente à misericórdia do Pai os homens e mulheres de todos os tempos com as suas fraquezas e os seus pecados, enchei-nos a nós e às gerações futuras do vosso Espírito de amor, para que a nossa indiferença não inutilize em nós os frutos da vossa morte.
Jesus crucificado, sabedoria e força de Deus, a Vós honra e glória pelos séculos sem fim. R. Amém.

Pai nosso...

Vidit suum dulcem Natum / morientem desolatum / dum emisit spiritum.

XIII Estação: O corpo de Jesus é descido da cruz e entregue à Mãe

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta Mater Unigeniti.
Repuseram nas mãos da Mãe o corpo sem vida do Filho. Os Evangelhos não falam do que Ela sentiu naquele momento.
Parece até que os Evangelhos, com o seu silêncio, quiseram respeitar a sua dor, os seus sentimentos, as suas recordações. Ou, simplesmente, não se consideraram capazes de exprimi-los.
Apenas a devoção plurissecular nos conservou a imagem da “Pietà”, gravando assim na memória do povo cristão a expressão mais dolorosa daquele inefável vínculo de amor que desabrochou no coração da Mãe no dia da anunciação e foi amadurecendo enquanto esperava o nascimento do divino Filho.
Aquele amor manifestou-se na gruta de Belém, foi posto à prova já durante a apresentação no Templo, ganhou profundidade com os sucessivos acontecimentos, guardados e meditados no seu coração (cf. Lc 2,51).
Agora, este vínculo íntimo de amor deve transformar-se numa união que supera os confins da vida e da morte.
E assim será até ao fim dos séculos: as pessoas detêm-se diante da Pietà de Michelangelo; ajoelham-se diante da imagem da Benfeitora Aflita (Smetna Dobrodziejka), na igreja dos franciscanos de Cracóvia; diante da Mãe das Sete Dores, Padroeira da Eslováquia; veneram Nossa Senhora das Dores em tantos santuários do mundo.
Eles aprendem assim aquele amor difícil que não foge diante do sofrimento, mas abandona-se confiadamente à ternura de Deus, para Quem nada é impossível (cf. Lc 1,37).

Oremos:
Salve, Regina, Mater misericordiae, vita, dulcedo et spes nostra, salve. Ad te clamamus... illos tuos misericordes oculos ad nos converte et Iesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exilium ostende. Alcançai-nos a graça da fé, da esperança e da caridade, para que, como Vós, também nós saibamos perseverar junto da cruz até ao último respiro. Ao vosso Filho, Jesus, nosso Salvador, com o Pai e o Espírito Santo, toda a honra e glória pelos séculos dos séculos. R. Amém.

Pai nosso...

Fac me vere tecum flere, / Crucifixo condolere, / donec ego vixero.

XIV Estação: O corpo de Jesus é sepultado

V. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


“Foi crucificado, morto e sepultado...”.
O corpo sem vida de Cristo foi depositado no sepulcro. Mas, a pedra sepulcral não é o sigilo definitivo da sua obra.
A última palavra não pertence à falsidade, ao ódio e à prepotência.
A última palavra será pronunciada pelo Amor, que é mais forte do que a morte.
“Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12,24).
O sepulcro é a última etapa deste morrer de Cristo ao longo de toda a sua vida terrena; é sinal do seu supremo sacrifício por nós e pela nossa salvação.
Bem depressa, este sepulcro se tornará o primeiro anúncio de louvor e exaltação do Filho de Deus na glória do Pai.
“Foi crucificado, morto e sepultado... ao terceiro dia ressuscitou dos mortos”.
Com a deposição do corpo sem vida de Jesus no sepulcro, aos pés do Gólgota, a Igreja começa a vigília de Sábado Santo.
Maria guarda no fundo do seu coração e medita a Paixão do Filho; as mulheres põem-se de acordo para, na manhã a seguir do sábado, irem ungir com aromas o corpo de Cristo; os discípulos recolhem-se, no esconderijo do Cenáculo, até que passe o sábado.
Esta vigília terminará com o encontro no sepulcro, o sepulcro vazio do Salvador.
Então o sepulcro, testemunha muda da Ressurreição, falará.
A pedra rolada, o interior vazio, as ligaduras por terra, eis o que verá João, quando chegar ao sepulcro juntamente com Pedro: “Viu e acreditou” (Jo 20,8).
E com ele acreditou a Igreja, que, desde então, não se cansa de transmitir ao mundo esta verdade fundamental da sua fé: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20).
O sepulcro vazio é sinal da vitória definitiva da verdade sobre a mentira, do bem sobre o mal, da misericórdia sobre o pecado, da vida sobre a morte.
O sepulcro vazio é sinal da esperança que “não nos deixa confundidos” (Rm 5,5).
“A nossa esperança está cheia de imortalidade” (cf. Sb 3,4).

Oremos:
Senhor Jesus Cristo, que o Pai conduziu, pela força do Espírito Santo, das trevas da morte à luz duma vida nova na glória, fazei que o sinal do sepulcro vazio nos fale a nós e às gerações futuras e se torne fonte de fé viva, de caridade generosa e de esperança inabalável.
Jesus, presença escondida e vitoriosa na história do mundo, a Vós honra e glória para sempre. R. Amém.

Pai nosso...

Quando corpus morietur, / fac ut animae donetur / paradisi gloria. Amen.


Discurso do Santo Padre

1. “Não tinha o Messias de sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” (Lc 24,26).
Estas palavras de Jesus aos dois discípulos, que iam a caminho de Emaús, acorrem ao nosso pensamento no final da Via Sacra no Coliseu. É que também eles, como nós, tinham ouvido falar do que sucedera a Jesus com a sua Paixão e Crucificação. Quando percorriam a estrada de regresso à sua terra, Cristo aproxima-Se como um peregrino desconhecido, e eles se apressam por contar-Lhe “tudo o que se refere a Jesus de Nazaré, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24,19), acrescentando que os sumos sacerdotes e os chefes do povo O tinham entregue para que fosse condenado à morte, acabando por ser crucificado (cf. Lc 24,20-21). E, tristes, concluem: “Nós esperávamos que fosse Ele quem viria libertar Israel; mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia depois que se deram estes fatos” (Lc 24,21).
“Nós esperávamos...”. Os discípulos sentem-se decepcionados e abatidos. É difícil, também para nós, compreender porque é que o caminho da salvação tinha de passar através do sofrimento e da morte.

2. “Não tinha o Messias de sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” (Lc 24,26). Deixemo-nos interpelar por esta pergunta no final da habitual Via Sacra no Coliseu.
Daqui a pouco, deixaremos este lugar santificado pelo sangue dos primeiros mártires, tomando cada um a própria direção. Regressaremos às nossas casas, meditando nos mesmos acontecimentos em que pensavam os discípulos de Emaús.
Que Jesus se aproxime de cada um de nós; faça-Se também nosso companheiro de viagem! Ele, enquanto nos acompanha, nos explicará que por nós subiu ao Calvário, por nós foi morto, para cumprir as Escrituras. O fato doloroso da Crucificação, que acabamos de contemplar, se tornará assim para cada um de nós um eloquente ensinamento.
Irmãos e irmãs caríssimos! O homem contemporâneo tem necessidade de encontrar Jesus Crucificado e Ressuscitado.
Quem, senão o divino Condenado, pode compreender plenamente a pena de quem padece injustas condenações?
Quem, senão o Rei escarnecido e humilhado, pode dar resposta às expectativas de tantos homens e mulheres sem esperança e sem dignidade?
Quem, senão o Filho de Deus Crucificado, pode compreender a dor e a solidão de tantas vidas destruídas e sem futuro?
O poeta francês Paul Claudel escrevera que o Filho de Deus “nos ensinou o caminho para sair da morte e a possibilidade da sua transformação” (Positions et propositions: Les invités à l’attention, 1934). Abramos o coração a Cristo: será Ele mesmo a responder aos nossos anseios mais profundos. Ele mesmo nos desvendará os mistérios da sua Paixão e Morte na cruz.

3. “Foi então que se lhes abriram os olhos e O reconheceram” (Lc 24,31). À medida que vão ouvindo as palavras de Jesus, os corações dos dois caminhantes desanimados ganham serenidade e começam a arder de alegria. Reconhecem o seu Mestre quando Ele partiu o pão.
Possam os homens de hoje também reconhecer, como eles, ao partir o pão, no mistério da Eucaristia, a presença do seu Salvador. Possam encontrá-Lo no sacramento da sua Páscoa, e acolhê-Lo como companheiro do seu caminho. Ele saberá ouvi-los e confortá-los. Saberá tornar-se seu guia para conduzi-los ao longo das sendas da vida para casa do Pai.
Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum!”.

Bênção Apostólica

Sobre as imagens: A Via Sacra de Jerzy Duda-Gracz (†2004), denominada “Golgota Jasnogórska”, foi realizada entre 2000-2001 e doada pelo artista ao Santuário de Nossa Senhora de Częstochowa em Jasna Góra (Monte Claro). Nela as estações da Paixão de Cristo são entretecidas com os sofrimentos do povo polonês durante o século XX.

Confira também nossa postagem sobre a história da devoção a Nossa Senhora de Częstochowa.

Para acessar outros modelos de meditações para a Via Sacra, confira nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

Postagem publicada originalmente em 21 de abril de 2020. Revista em 06 de agosto de 2022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário