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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Abertura da Porta Santa: Basílica de Santa Maria Maior - Jubileu 2000

No dia 01 de janeiro de 2000, no início da Missa da Solenidade da Santa Mãe de Deus, o Papa São João Paulo II abriu a Porta Santa da Basílica de Santa Maria Maior no contexto do Grande Jubileu do ano 2000.

Para saber mais detalhes sobre o rito usado na ocasião, clique aqui.

Abertura da Porta Santa da Basílica de Santa Maria Maior
Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus
Homilia do Papa João Paulo II
1° de janeiro de 2000

1. Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher (Gl 4,4).
Ontem à tarde detivemo-nos para meditar sobre o significado destas palavras de Paulo, tiradas da Carta aos Gálatas, e perguntamo-nos em que consiste a plenitude dos tempos de que ele fala, em relação aos processos que assinalam o caminho do homem ao longo da história. O momento que estamos vivendo é mais denso de significado do que nunca: à meia-noite o ano de 1999 entrou no passado, cedeu o caminho a um novo ano. Eis-nos agora, desde há poucas horas, no ano 2000!
O que isto significa para nós? Começa-se a escrever outra página da história. Ontem à tarde dirigimos o nosso olhar para o passado, para o modo como era o mundo quando iniciava o segundo milénio. Hoje, dando início ao ano 2000, não podemos deixar de nos interrogar acerca do futuro: que direção tomará a grande família humana nesta nova etapa da própria história?


2. Tendo em conta um novo ano que começa, a hodierna Liturgia formula a todos os homens de boa vontade os votos com as seguintes palavras: O Senhor te mostre o seu rosto e te conceda a paz! (Nm 6,26).
O Senhor te conceda a paz! Eis os bons votos que a Igreja apresenta à inteira humanidade, no primeiro dia do ano novo, consagrado à celebração do Dia Mundial da Paz. Na Mensagem para essa Jornada recordei algumas condições e urgências, em vista de consolidar o caminho da paz a nível internacional. Um caminho infelizmente sempre ameaçado, como no-lo recordam os dolorosos eventos que várias vezes assinalaram a história do século XX. Por isso devemos, hoje mais do que nunca, desejar a paz em nome de Deus: o Senhor te conceda a paz!

Neste momento, penso no encontro de oração pela paz que, em outubro de 1986, viu reunidos em Assis os representantes das principais religiões do mundo. Estávamos ainda no período da chamada “guerra fria”: reunidos, rezamos para esconjurar a grave ameaça de um conflito que parecia incumbir sobre a humanidade. Num certo sentido, demos voz à prece de todos e Deus acolheu a súplica dos seus filhos. Embora tenhamos testemunhado o início de perigosos conflitos locais e regionais, foi-nos contudo poupado o grande conflito mundial que se anunciava no horizonte. Eis por que, ao cruzarmos o limiar do novo milênio, nos apresentamos reciprocamente com maior consciência os bons votos de paz: O Senhor te mostre o seu rosto. Ano 2000 que vens ao nosso encontro, Cristo te conceda a paz!

3. A plenitude dos tempos!. São Paulo afirma que esta “plenitude” se realizou quando Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher (Gl 4,4). Hoje, oito dias depois da Natividade, primeiro dia do ano novo, evocamos de maneira especial a “Mulher” de que o Apóstolo fala, a Mãe de Deus. Ao dar à luz o Filho eterno do Pai, Maria contribuiu para a obtenção da plenitude dos tempos; contribuiu de forma singular para fazer com que o tempo humano alcançasse a medida da sua plenitude na Encarnação do Verbo.
Neste dia tão significativo, tive a alegria de abrir a Porta Santa nesta veneranda Basílica Liberiana, a primeira no Ocidente dedicada à Virgem Mãe de Cristo. A uma semana do solene rito realizado na Basílica de São Pedro, hoje é como se as comunidades eclesiais de todas as nações e continentes se reunissem idealmente aqui, sob o olhar da Mãe, para cruzar a soleira da Porta Santa que é Cristo.
Efetivamente é a Ela, Mãe de Cristo e da Igreja, que desejamos confiar o Ano Santo há pouco iniciado, a fim de que proteja e encoraje o caminho de quantos se fazem peregrinos neste tempo de graça e de misericórdia (cf. Incarnationis mysterium, 14).

4. A Liturgia da hodierna solenidade possui um caráter profundamente mariano, não obstante nos textos bíblicos isto se manifeste de forma bastante sóbria. O trecho do evangelista Lucas como que resume aquilo que escutamos na Noite de Natal. Ali narra-se que os pastores foram a Belém e encontraram Maria e José, e o Menino na manjedoura. Depois de O terem visto, referiram aquilo que lhes tinha sido dito acerca d'Ele. E todos se admiraram ao ouvirem a narração dos pastores. Maria, porém, conservava todos estes fatos e meditava sobre eles no seu coração (Lc 2,19).
Vale a pena deter-se nesta frase que exprime um aspecto admirável da maternidade de Maria. Num certo sentido, o inteiro ano litúrgico segue as pegadas desta maternidade, a começar pela Solenidade da Anunciação, a 25 de março, precisamente nove meses antes da Natividade. No dia da Anunciação, Maria ouviu as palavras do anjo: “Eis que vais ficar grávida, terás um Filho e dar-lhe-ás o nome de Jesus... O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1,31.35). E respondeu: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38).
Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Como todas as mães, trouxe no próprio seio Aquele que só Ela sabia que se tratava do Filho unigênito de Deus. Deu-O à luz na noite de Belém. Assim tiveram início a vida terrena do Filho de Deus e a sua missão de salvação na história do mundo.

5. “Maria... conservava todos estes fatos e meditava sobre eles no seu coração”. Como se surpreender que a Mãe de Deus se recordasse de tudo isto de modo singular, ou melhor, único?
Cada mãe possui uma análoga consciência do início de uma nova vida nela. A história de cada homem está inscrita em primeiro lugar no coração da própria mãe. Não admira que a mesma coisa se tenha verificado em relação à vicissitude terrena do Filho de Deus.
“Maria... conservava todos estes fatos e meditava sobre eles no seu coração”.
Hoje, primeiro dia do ano novo, no início de um novo ano deste novo milênio, a Igreja evoca esta experiência interior da Mãe de Deus. Fá-lo não só meditando os eventos de Belém, de Nazaré e de Jerusalém, ou seja, as várias etapas da existência terrena do Redentor, mas também considerando tudo aquilo que a sua vida, morte e ressurreição suscitaram na história do homem.
Maria esteve presente com os Apóstolos no dia do Pentecostes, participando diretamente no nascimento da Igreja. Desde então, a sua maternidade acompanha a história da humanidade redimida, o caminho da grande família humana, destinatária da obra da Redenção.
No início do ano 2000, enquanto progredimos no tempo jubilar, confiamos nesta tua “recordação” materna, ó Maria! Colocamo-nos neste singular itinerário da história da salvação, que se conserva vivo no teu coração de Mãe de Deus. Confiamos a ti os dias do novo ano, o futuro da Igreja, da humanidade e do universo inteiro.
Maria, Mãe de Deus, Rainha da Paz, vigia sobre nós!
Maria, Salus Populi Romani, roga por nós! Amém.


Fonte: Santa Sé.

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