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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Homilia do Papa: Vésperas no encerramento do ano

I Vésperas da Solenidade de Maria Mãe de Deus
Te Deum em ação de graças pelo encerramento do ano
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
Terça-feira, 31 de dezembro de 2019

«Chegada a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho» (Gl 4,4).
O Filho enviado pelo Pai armou a sua tenda em Belém de Éfrata, «pequenina entre os mil povoados de Judá» (Mq 5,1); viveu em Nazaré, cidadezinha nunca citada na Escritura senão para dizer: «de Nazaré pode vir algo de bom?» (Jo 1,46), e morreu descartado da grande cidade, de Jerusalém, crucificado fora de seus muros. A decisão de Deus é clara: para revelar o seu amor Ele escolhe a cidade pequena e a cidade despreza, e quando chega a Jerusalém se une ao povo dos pecadores e dos descartados. Nenhum dos habitantes da cidade percebe que o Filho de Deus feito homem está caminhando pelas sua estradas, provavelmente nem os seus discípulos, os quais só compreenderão plenamente o Mistério presente em Jesus com a Ressurreição.
As palavras e os sinais de salvação que Ele realiza na cidade despertam estupor e um entusiasmo momentâneo, mas não são acolhidos no seu pleno significado: em breve não serão mais lembrados, quando o governador romano perguntar: “Quereis livre Jesus ou Barrabás?” Jesus será crucificado fora da cidade, no alto do Gólgota, para ser condenado pelo olhar de todos os habitantes e ridicularizado por seus comentários sarcásticos. Mas dali, da cruz, nova árvore de vida, o poder de Deus atrairá todos a si. E também a Mãe de Deus, que sob a cruz é a Mãe das Dores, está para estender a todos os homens a sua maternidade. A Mãe de Deus é a Mãe da Igreja e a sua ternura materna chega a todos os homens.
Na cidade Deus armou a sua tenda..., e dali nunca mais de afastou! A sua presença na cidade, também nesta nossa cidade de Roma, «não deve ser fabricada, mas descoberta, revelada» (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 71). Somos nós que devemos pedir a Deus a graça de olhos novos, capazes de «um olhar contemplativo, ou seja, um olhar de fé que descubra que Deus habita nas suas casas, nas suas estradas, nas suas praças» (ibid.). Os profetas, na Escritura, advertem contra a tentação de legar a presença de Deus só ao templo (Jr 7,4): Ele habita no meio do seu Povo, caminha com ele e vive a sua vida. A sua fidelidade é concreta, é proximidade à existência quotidiana dos seus filhos. De fato, quando Deus quer fazer novas todas as coisas através do seu Filho, não começa pelo templo, mas pelo ventre de uma mulher pequena e pobre do seu Povo. É extraordinária esta escolha de Deus! Não muda a história através dos homens poderosos das instituições civis e religiosas, mas a partir das mulheres da periferia do império, como Maria, dos seus ventres estéreis, como aquele de Isabel.
No Salmo 147, que rezamos há pouco, o salmista convida Jerusalém a glorificar Deus, porque Ele «manda sobre a terra a sua Palavra, a sua mensagem corre veloz» (v. 4). Por meio do seu Espírito, que pronuncia em cada coração humano a sua Palavra, Deus abençoa os seus filhos e os encoraja a trabalhar pela paz na cidade. Desejo nesta tarde que o nosso olhar sobre a cidade de Roma perceba as coisas do ponto de vista do olhar de Deus. O Senhor se alegra ao ver quantas realidades de bem são realizadas todos os dias, quantos esforços e quanta dedicação em promover a fraternidade e a solidariedade. Roma não é apenas uma cidade complicada, com tantos problemas, com desigualdades, corrupção e tensões sociais. Roma é uma cidade à qual Deus manda a sua Palavra, que se aninha por meio do Espírito no coração dos seus habitantes e leva-lhes a crer, a esperar não obstante tudo, a amar lutando pelo bem de todos.
Penso em tantas pessoas corajosas, crentes e não-crentes, que eu encontrei nestes anos e que representam o “coração pulsante” de Roma. Verdadeiramente Deus nunca parou de mudar a história e o rosto da nossa cidade através do povo dos pequenos e dos pobres que a habitam: Ele os escolhe, os inspira, os motiva à ação, os torna solidários, os impulsiona a criar redes, a criar vínculos virtuosos, a construir pontes e não muros. É justamente através destas milhares de correntes de água viva do Espírito que a Palavra de Deus fecunda a cidade e de estéril a torna «mãe alegre de filhos» (Sl 113,9).
E o Senhor, o que pede à Igreja de Roma? Ele nos confia sua Palavra e nos impulsiona a nos lançarmos ao combate, a nos envolvermos no encontro e na relação com os habitantes da cidade para que “a sua mensagem corra veloz”. Somos chamados a encontrar os outros e colocarmo-nos à escuta da sua existência, do seu grito de ajuda. A escuta é já um ato de amor! Encontrar tempo para os outros, dialogar, reconhecer com um olhar contemplativo a presença e a ação de Deus na sua existência, testemunhar com os atos mais que com as palavras a vida nova do Evangelho, é verdadeiramente um serviço de amor que muda a realidade. Assim fazendo, de fato, na cidade e também na Igreja circula ar fresco, o desejo de recolocar-se a caminho, de superar as velhas lógicas de contraposição e das cercas, para colaborar juntos, edificando uma cidade mais justa e fraterna.
Não devemos ter medo ou sentirmo-nos inadequados para uma missão assim importante. Recordemos: Deus não nos escolhe em razão da nossa “bravura”, mas justamente porque somos e nos sentimos pequenos. Agradecemos-lhe para sua Graça que nos sustentou neste ano e com alegria elevemos a Ele um canto de louvor.


Tradução nossa do original italiano divulgado pela Santa Sé.

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