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quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Homilia: Natal do Senhor - Missa do Dia

Orígenes
Sobre os princípios
Temos de contemplar o mistério de Cristo com o maior temor e reverência

Se considerarmos o que a Escritura santa nos refere de sua majestade, e não perdemos de vista que Cristo Jesus é imagem do Deus invisível, primogênito de toda criatura, e que por meio d’Ele foram criadas todas as coisas, as visíveis e as invisíveis; tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele é anterior a tudo, e Ele sustenta todas as coisas, que é a cabeça de todos, comprovamos a impossibilidade de colocar por escrito o mistério da glória do Salvador.
Portanto, se considerarmos tantas e tais coisas como foram ditas sobre a natureza do Filho de Deus, nos encherá de admiração e de assombro que uma natureza tão acima de todo o criado, desde a altura de sua majestade, tenha-se rebaixado até o aniquilamento, fazendo-se homem e vivendo entre os homens.
Ele mesmo, antes de tornar-se visível em um corpo mortal, enviou os profetas na qualidade de precursores e mensageiros de sua vinda. E depois de sua ascensão aos céus, ordenou aos santos Apóstolos, investidos com os poderes de sua divindade - homens inexperientes e iletrados, escolhidos dentre os publicanos e os pecadores -, a percorrer toda a terra, para que, de toda raça e da universalidade dos povos, lhe congregassem um povo santo que cresse n’Ele.
Mas, entre todos os milagres e prodígios que d’Ele conhecemos, há um que excede de forma mais específica a toda capacidade de admiração da inteligência humana: a fragilidade da inteligência mortal não chega a compreender, nem sequer a intuir, que tão imenso poder da divina majestade, o próprio Verbo do Pai e Sabedoria de Deus, por meio do qual foram criadas todas as coisas, visíveis e invisíveis, estava circunscrito dentro dos limites daquele homem que apareceu na Judeia. Ainda mais: essa fé nos convida a aceitar que a Sabedoria de Deus penetrou no seio de uma mulher, que nasceu como menino, que prorrompeu em prantos como qualquer outro menino que chora. E, por fim, o que d’Ele se conta, que se perturbou na presença da morte, como o próprio Jesus confessou dizendo: Minha alma está triste até a morte; e, finalizando, que foi conduzido a uma morte considerada pelos homens como a mais ignominiosa, ainda que ressuscite ao terceiro dia.
Contudo, quando observamos n’Ele características tão profundamente humanas, que em nada parecem se diferenciar do comum dos mortais, e, por outro lado, outras tão tipicamente divinas, que não combinam com nenhum outro, a não ser com aquela primeira e inefável natureza da deidade, a inteligência humana se angustia e, presa por imenso assombro, não sabe ao que se fixar, ao que se segurar, que direção tomar. Se o sente como Deus, o vê mortal; se o considera homem, o vê voltar dos mortos carregado de cativos, depois de ter destruído o domínio da morte. Por isso, temos de contemplá-lo com o maior temor e reverência. 


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 39-40. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Agostinho para esta Missa clicando aqui.

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