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segunda-feira, 13 de maio de 2019

A Via Lucis

Uma das práticas de piedade popular mais conhecidas é a Via Sacra, na qual se meditam 14 estações associadas ao mistério da Paixão do Senhor. Já publicamos dois textos aqui no blog sobre esta devoção, tanto em sua forma tradicional quanto em seu formulário alternativo, a Via Sacra Bíblica.

Nem todos os fiéis, porém, conhecem a Via Lucis (Caminho da Luz), que consiste em uma “Via Sacra da Ressurreição”, meditando 14 estações desde a Páscoa até o Pentecostes.

A Ressurreição
Enquanto a Via Sacra da Paixão é a principal devoção durante o Tempo da Quaresma, a Via Lucis pode ser uma excelente opção para o Tempo Pascal, embora possa ser rezada em outros tempos litúrgicos.

Não há, também, um dia específico para rezar a Via Lucis (a Via Sacra geralmente reza-se nas sextas-feiras, dia em que ocorreu a Paixão): embora o dia pascal por excelência seja o domingo, geralmente este dia é reservado à Celebração Eucarística. Nada impede, claro, que seja rezada no domingo, mas pode ser rezada em qualquer dia (por exemplo, na quarta-feira, dia em que por costume se rezam os mistérios gloriosos do rosário).

Sobre a Via Lucis vale a pena reproduzir aqui na íntegra o n. 153 do Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, que apresenta esta devoção:

“Em tempos recentes, em várias regiões, vem se difundindo uma prática de piedade denominada Via Lucis. Nela, como acontece na Via Sacra, os fiéis, percorrendo um caminho, consideram as várias aparições nas quais Jesus - desde a Ressurreição até a Ascensão, na perspectiva da Parusia - manifestou a sua glória aos discípulos na expectativa do Espírito prometido (cf. Jo 14,26; 16,13-15; Lc 24,49), animou a fé deles, levou a cumprimento os ensinamentos do Reino e definiu posteriormente a estrutura sacramental e hierárquica da Igreja.
Através da prática de piedade da Via Lucis, os fiéis recordam o evento central da fé - a Ressurreição de Cristo - e a condição de discípulos que pelo Batismo, sacramento pascal, passaram das trevas do pecado à luz da graça (cf. Cl 1,13; Ef 5,8).
Durante séculos, a Via Sacra mediou a participação dos fiéis no primeiro momento do evento pascal - a Paixão - e contribuiu para fixar seus conteúdos na consciência do povo. Analogamente, em nosso tempo, a Via Lucis, contanto que seja realizada com fidelidade ao texto evangélico, pode mediar eficazmente a compreensão vital dos fiéis do segundo momento da Páscoa do Senhor, a Ressurreição.
A Via Lucis pode se tornar também uma ótima pedagogia da fé, como se diz, per crucem ad lucem. De fato, através da metáfora do caminho, a Via Lucis conduz da constatação da dor, que no plano de Deus não é o ponto de chegada da vida, à esperança da consecução da verdadeira meta do homem: a libertação, a alegria, a paz, que são valores essencialmente pascais.
Enfim, a Via Lucis, numa sociedade que muitas vezes traz a marca da ‘cultura da morte’, com suas expressões de angústia e de aniquilamento, é um estímulo para instaurar uma ‘cultura da vida’, isto é, uma cultura aberta às expectativas da esperança e às certezas da fé” [1].

Jesus caminha com os discípulos de Emaús
Diferentemente da Via Sacra, que já possui suas 14 estações bem definidas na mente dos fiéis, não há uma “lista oficial” das estações da Via Lucis. O único critério proposto pelo Diretório é a fidelidade ao texto bíblico. Segue, portanto, uma proposta de estações, com os respectivos textos bíblicos:

I Estação: As mulheres vão ao sepulcro (Lc 24,1-6)
II Estação: Os Apóstolos correm ao sepulcro (Jo 20,3-8)
III Estação: Maria Madalena encontra o Ressuscitado (Jo 20,11-18)
IV Estação: Jesus caminha com os discípulos de Emaús (Lc 24,13-27)
V Estação: Jesus parte o pão com os discípulos de Emaús (Lc 24,28-35)
VI Estação: Jesus encontra os Apóstolos no Cenáculo (Lc 24,35-41)
VII Estação: Jesus concede aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados (Jo 20,19-23)
VIII Estação: Jesus encontra-se com Tomé (Jo 20,24-29)
IX Estação: A pesca milagrosa (Jo 21,1-14)
X Estação: Jesus confia a Pedro sua missão (Jo 21,15-19)
XI Estação: Jesus envia os Apóstolos em missão (Mt 28,16-20)
XII Estação: A Ascensão de Jesus aos céus (At 1,8-11)
XIII Estação: A espera do Espírito (At 1,12-14)
XIV Estação: A vinda do Espírito Santo (At 2,1-6)
A cada estação quem preside proclama o mistério e convida a assembleia com uma aclamação ao Ressuscitado (por exemplo: “Nós vos adoramos, ó Jesus Ressuscitado. R: Porque nos destes uma vida nova”). Em seguida um leitor proclama o respectivo Evangelho e segue-se uma breve meditação ou oração.

A celebração convém ser realizada de modo processional, da mesma forma que a Via Sacra: geralmente se conduz a cruz (que neste caso poderia ser ornada com um pano branco, em referência à alegria da Ressurreição) ladeada por duas velas através da igreja ou em um ambiente fora dela.

Se a Via Lucis é rezada dentro da igreja, convém acender o círio pascal, que permanece junto do ambão, de onde serão proclamados os Evangelhos, ou no centro do presbitério. Levar o círio em procissão comporta algumas dificuldades (o círio pode apagar-se, a cera pode queimar quem o porta, etc.). A cruz sintetiza muito bem o Mistério Pascal como um todo e adequa-se mais ao caminhar processional.

Que possamos descobrir a beleza desta devoção em nossas comunidades, a fim de que o povo de Deus compreenda ainda mais o mistério central da nossa fé em seus dois aspectos inseparáveis: a Morte e a Ressurreição do Senhor.

A vinda do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos

[1] CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia: Princípios e orientações. São Paulo: Paulinas, 2003, pp. 131-132.

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