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sábado, 7 de maio de 2016

Homilia: Ascensão do Senhor - Ano C

São Cirilo de Alexandria
Comentário sobre o Evangelho de São João
Nosso Senhor Jesus Cristo nos inaugurou um caminho novo e vivo

Se na casa de Deus Pai não houvesse muitas moradas - dizia o Senhor - seria causa suficiente para antecipar-me a preparar mansões para os santos; mas como sei que já existem muitas preparadas esperando a chegada dos que amam a Deus, não é esta a causa da minha partida, mas a de preparar-vos o retorno ao caminho do céu, como se prepara uma estância, e aplainar o que um tempo era intransitável. De fato, o céu era absolutamente inacessível ao homem e jamais, até então, a natureza humana tinha penetrado no puro e santíssimo âmbito dos anjos. Cristo foi o que primeiro inaugurou para nós esta via de acesso, e facilitou ao homem o modo de lá subir, oferecendo-se a si mesmo a Deus Pai como primícias dos mortos e dos que jazem na terra. Ele é o primeiro homem que se manifestou aos espíritos celestiais.
Por esta razão, os anjos do céu, ignorando o majestoso e grandioso mistério daquela vinda na carne, contemplavam atônitos e maravilhados àquele que ascendia, e, assombrados frente ao inovador e inaudito espetáculo, não puderam deixar de exclamar: Quem é este que vem de Edom?, isto é, da terra. Mas o Espírito não permitiu que aquela multidão celeste continuasse na ignorância da maravilhosa sabedoria de Deus Pai, antes mandou que se lhes abrissem as portas do céu como a Rei e Senhor do universo, exclamando: Portões! Erguei os frontões, que se ergam as antigas portas, que o Rei da glória vai entrar.
Portanto, nosso Senhor Jesus Cristo nos inaugurou um caminho novo e vivo, como diz Paulo: Entrou em um santuário não construído por homens, mas no próprio céu, para colocar-se diante de Deus, intercedendo por nós. Na realidade, Cristo não subiu ao céu para manifestar-se a si mesmo diante de Deus Pai: ele estava, está e estará sempre no Pai e à vista do que o gerou; ele é sempre o objeto de suas complacências. Porém, agora sobe em sua condição de homem, dando-se a conhecer de uma maneira extraordinária e desacostumada o Verbo que anteriormente estava desprovido da humanidade. E isto por nós e em nosso proveito, de maneira que, apresentando-se como simples homem, apesar de ser Filho onipotente, e tendo ouvido na carne aquele convite real: Senta-te a minha direita, mediante a adoção pudesse transmitir por si mesmo a todo gênero humano a glória da filiação.
Realmente ele é um de nós, enquanto que apareceu á direita de Deus Pai na qualidade de homem, se bem que superior a toda criatura e consubstancial ao Pai, já que ele é o reflexo de sua glória, Deus de Deus, luz da luz verdadeira. Se apareceu, pois, por nós diante do Pai, foi para colocar-nos novamente junto ao Pai, a nós que, em força da antiga prevaricação, tínhamos sido afastados de sua presença. Sentou-se como Filho, para que também nós, como filhos, fôssemos nele chamados filhos de Deus. Por isso, Paulo, que pretende ser portador de Cristo que fala nele, ensina que as coisas acontecidas de forma especial a respeito de Cristo são comuns à natureza humana, dizendo: Nos ressuscitou com Cristo e nos fez assentar no céu com ele.
Propriamente falando, é exclusivo de Cristo enquanto Filho por natureza, a dignidade e a glória de sentar-se com o Pai, glória que afirmamos somente a Ele se há de atribuir de forma adequada e verdadeiramente. Mas dado que quem se senta é nosso semelhante enquanto que se manifestou como homem e ao mesmo tempo é reconhecido como Deus de Deus, resulta que de alguma maneira comunica a nós a graça de sua própria dignidade.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 611-612. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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