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quarta-feira, 5 de março de 2025

Homilia do Papa João Paulo II: Quarta-feira de Cinzas (2000)

Nesta Quarta-feira de Cinzas recordamos a homilia proferida pelo Papa São João Paulo II (†2005) há 25 anos, no início da Quaresma do Grande Jubileu do Ano 2000:

Santa Missa, Bênção e Imposição das Cinzas
Homilia do Papa João Paulo II
Basílica de Santa Sabina
Quarta-feira, 08 de março de 2000


É assim que hoje, Quarta-feira de Cinzas, reza o salmista, o Rei Davi: Rei de Israel grande e poderoso, mas ao mesmo tempo frágil e pecador. No início desses quarenta dias de preparação para a Páscoa a Igreja deposita as suas palavras nos lábios de todos aqueles que participam na austera Liturgia da Quarta-feira de Cinzas.

O Papa recebe as cinzas sobre a cabeça

“Criai em mim um coração puro... não retireis de mim o vosso Santo Espírito”. Ouviremos ecoar esta invocação no nosso coração enquanto daqui a pouco nos aproximaremos do altar do Senhor para receber, segundo uma antiquíssima tradição, as cinzas sobre a cabeça. Trata-se de um gesto rico de referências espirituais, um importante sinal de conversão e de renovação interior. Se for considerado em si mesmo, é um rito litúrgico simples e, contudo, muito profundo pelo conteúdo penitencial que exprime: com ele a Igreja recorda ao homem crente e pecador a sua fragilidade diante do mal e, sobretudo, a sua total dependência da infinita majestade de Deus.

A Liturgia prevê que o sacerdote, ao impor as cinzas sobre a cabeça dos fiéis, pronuncie as palavras: “Lembra-te de que és pó e ao pó hás de voltar” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

2. Lembra-te de que... ao pó hás de voltar”.

Desde o princípio a existência terrestre está inserida na perspectiva da morte. O nosso corpo é mortal, ou seja, assinalado pela inevitável perspectiva da morte. Vivemos com esta meta diante de nós: cada dia que passa nos aproximamos dela com progressão irrefreável. E a morte tem em si um pouco da aniquilação. Com a morte parece que tudo termina para nós. E eis que, precisamente perante esta desconsoladora perspectiva, o homem consciente do seu pecado eleva um brado de esperança ao céu: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito”.

Também hoje o fiel, que se sente ameaçado pelo mal e pela morte, assim invoca a Deus, pois sabe que lhe é reservado um destino de vida eterna. Sabe que não é apenas um corpo condenado à morte por causa do pecado, mas que possui também uma alma imortal. Por isso dirige-se a Deus Pai, que tem o poder de criar a partir de nada; a Deus Filho Unigênito que, fazendo-se homem para a nossa salvação, morreu por nós e agora, ressuscitado, vive na glória; a Deus Espírito imortal, que chama à existência e volta a dar a vida.

“Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido”. A Igreja inteira faz sua esta oração do salmista. Tratam-se de palavras proféticas, que penetram no nosso espírito neste dia singular, primeiro no itinerário quaresmal que nos há de levar à celebração da Páscoa do Grande Jubileu do Ano 2000.

3. “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Este convite, que encontramos no início da pregação de Jesus, introduz-nos no tempo quaresmal, tempo a dedicar de maneira especial à conversão e à renovação, à oração, ao jejum e às obras de caridade. Recordando a experiência do povo eleito, preparamo-nos como que para repercorrer o mesmo caminho que Israel realizou através do deserto rumo à Terra Prometida. Também nós alcançaremos a meta; depois destas semanas de penitência, experimentaremos o júbilo da Páscoa. Purificados pela oração e pela penitência, os nossos olhos poderão contemplar com maior clarividência o rosto do Deus vivo, rumo ao qual o homem realiza a própria peregrinação ao longo das veredas da existência terrena.

“Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito”: o homem, criado não para a morte, mas para a vida, reza precisamente assim. Apesar de ser consciente das suas fragilidades, caminha sustentado pela certeza do destino divino.

Queira Deus todo-poderoso escutar as invocações da Igreja que, na hodierna Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, dirige com maior confiança a sua alma rumo ao alto. O Senhor misericordioso conceda a todos nós abrir o coração ao dom da sua graça, a fim de podermos participar com uma nova maturidade no Mistério Pascal de Cristo, nosso único Redentor.


Fonte: Santa Sé.

Confira também algumas reflexões do Papa João Paulo II sobre o Salmo 50 em sua série de Catequeses sobre os Salmos e Cânticos da Liturgia das Horas.

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