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sábado, 14 de setembro de 2024

Meditações da Via Sacra no Coliseu 2012

No dia 14 de setembro celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Aproveitamos a ocasião para resgatar as meditações da Via Sacra presidida pelo Papa Bento XVI (†2022) junto ao Coliseu romano há 12 anos, na Sexta-feira Santa de 2012, a última do seu pontificado.

Para saber mais, confira nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

Pela primeira vez as meditações foram preparadas por um casal, Danilo Zanzucchi (†2022) e Anna Maria Zanzucchi, iniciadores do Movimento “Famílias Novas”, no contexto do Movimento dos Focolares, que durante muitos anos colaboraram com o Pontifício Conselho para a Família.

O livreto da celebração foi ilustrado com a Via Sacra realizada pelo escultor Benedetto Pietrogrande para uma capela do Movimento dos Focolares na Itália. Nesta postagem, por sua vez, propomos as estações realizadas pela escultora Maria de Faykod para o Santuário de Lourdes (França), em uma área plana para facilitar o acesso aos enfermos e idosos.


Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via Sacra no Coliseu presidida pelo Papa Bento XVI
Sexta-feira Santa, 06 de abril de 2012

Meditações de Danilo e Anna Maria Zanzucchi
Movimento “Famílias Novas”

Introdução
Jesus diz: «Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me» (Lc 9,23). Um convite válido para todos: solteiros e casados, jovens, adultos e idosos, ricos e pobres, desta ou daquela nação. Vale também para cada família, para os seus membros individualmente ou para a pequena comunidade como tal.
Antes de entrar na sua Paixão final, Jesus, no Horto das Oliveiras, deixado só pelos apóstolos adormecidos, teve medo daquilo que o esperava e, dirigindo-se ao Pai, pediu: «Se é possível, afaste-se de mim este cálice». Acrescentando imediatamente: «Contudo, não seja feito como Eu quero, mas sim como Tu queres» (Mt 26,39).
Daquele momento dramático e solene, tira-se uma lição profunda para quantos se puseram a segui-lo. Como cada cristão, também cada família tem a sua “via sacra”: doenças, mortes, dificuldades financeiras, pobreza, traições, comportamentos imorais de um ou de outro, desavenças com os parentes, calamidades naturais.
Mas, neste caminho doloroso, cada cristão, cada família pode levantar o olhar e fixá-lo em Jesus, Homem-Deus.
Revivamos, juntos, a experiência final de Jesus sobre a terra, acolhida pelas mãos do Pai: uma experiência dolorosa e sublime, na qual Jesus condensou o exemplo e o ensinamento mais preciosos para vivermos em plenitude a nossa vida, segundo o modelo da sua vida.

Danilo e Anna Maria Zanzucchi (2020)

Oração inicial
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. R. Amém.

Oremos
Jesus, nesta hora em que recordamos a vossa morte, queremos fixar amorosamente o nosso olhar nos sofrimentos indescritíveis por Vós vividos.
Sofrimentos condensados, todos, no grito misterioso que destes na cruz, antes de expirar: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mt 27,46).
Jesus, pareceis um Deus com o ocaso à vista: o Filho sem Pai, o Pai privado do Filho.
Aquele vosso grito humano-divino que transpassou o ar no Gólgota, ainda hoje nos interroga e impressiona, mostra-nos que algo de inaudito aconteceu.
Algo de salvífico: da morte brotou a vida, das trevas a luz, da separação extrema a unidade.
A sede de nos conformarmos a Vós leva-nos a reconhecer-vos abandonado onde e como quer que seja: nas dores pessoais e coletivas, nas misérias da vossa Igreja e nas noites da humanidade, para enxertar, onde e como quer que seja, a vossa vida, propagar a vossa luz, gerar a vossa unidade.
Hoje, como então, sem o vosso abandono, não haveria Páscoa.

I Estação: Jesus é condenado à morte

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 18,38b-40)
Pilatos saiu ao encontro dos judeus, e disse-lhes: «Eu não encontro nenhuma culpa n’Ele. Mas existe entre vós um costume, que pela Páscoa eu vos solte um preso. Quereis que vos solte o rei dos judeus?». Então, começaram a gritar de novo: «Este não, mas Barrabás!». Barrabás era um bandido.


Pilatos não encontra culpas particulares que possa atribuir a Jesus, cede à pressão dos acusadores e, assim, o Nazareno é condenado à morte.
Temos a sensação de ouvir-vos: «Sim, fui condenado à morte; muitas pessoas, que parecia que me amavam e compreendiam, deram ouvidos às mentiras e me acusaram. Não compreenderam o que Eu dizia. Atraiçoado, me sujeitaram a julgamento e fui condenado. À morte... Crucificado, a morte mais ignominiosa».
Não poucas das nossas famílias sofrem pela traição do cônjuge, a pessoa mais amada. Onde foi parar a alegria da intimidade, do viver em uníssono? Onde está o sentir-se um só? Onde está aquele «para sempre» com que se nos tinha declarado?
Fixar-vos, Jesus, o Atraiçoado, e viver convosco o momento em que desaba o amor e a amizade que se tinham criado no nosso casal, sentir no coração as feridas da confiança atraiçoada, da familiaridade perdida, da segurança sumida.
Fixar-vos, Jesus, precisamente agora que sou julgado por quem não recorda o vínculo que nos unia no dom total de nós mesmos. Só Vós, Jesus, podeis compreender-me, podeis dar-me coragem, podeis dizer-me palavras verdadeiras, embora me custe entendê-las. Podeis dar-me aquela força que permita, por minha vez, não julgar, não sucumbir, por amor daquelas criaturas que me esperam em casa e para as quais agora sou o único amparo.

Pai nosso...


II Estação: Jesus é carregado com a Cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,16-17)
Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado “Calvário”, em hebraico “Gólgota”.


Pilatos entrega Jesus nas mãos dos chefes dos sacerdotes e dos guardas. Os soldados colocam-lhe aos ombros um manto escarlate e, na cabeça, uma coroa feita de ramos com espinhos; durante a noite zombam d’Ele, o maltratam e flagelam. Em seguida, de manhã, carregam-no com um lenho pesado, a cruz onde são pregados os salteadores, para que todos vejam o destino que espera os malfeitores. Muitos dos seus seguidores põem-se em fuga.
O sucedido há 2000 anos repete-se na história da Igreja e da humanidade. Hoje também. É o corpo de Cristo, é a Igreja que é atingida e ferida de novo.
Ao ver-vos, Jesus, neste estado, sangrando, sozinho, abandonado, escarnecido, perguntamo-nos: «Mas aquela gente que tanto tínheis amado, beneficiado e iluminado, aqueles homens, aquelas mulheres, não somos porventura também nós, hoje? Também nós nos escondemos com medo de ser implicados, esquecendo que somos os vossos seguidores».
Mas a coisa mais grave, Jesus, é que também eu contribuí para o vosso sofrimento. Também nós, esposos, e as nossas famílias. Também nós contribuímos para vos carregar com um peso desumano. Todas as vezes que não nos amamos, quando colocamos a culpa um no outro, quando não nos perdoamos, quando não recomeçamos a estimar-nos.
E nós, ao contrário, continuamos a dar ouvidos à nossa soberba, queremos ter sempre razão, humilhamos quem vive junto de nós, incluindo quem uniu a sua própria vida à nossa. Deixamos de nos recordar que Vós mesmo, Jesus, nos dissestes: «Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25,40). Dissestes assim mesmo: «A mim».

Pai nosso...

Cuius ánimam geméntem, contristátam et doléntem, pertransívit gládius.

III Estação: Jesus cai pela primeira vez

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 11,28-30)
«Vinde a mim, todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e Eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve».


Jesus cai. As feridas, o peso da cruz, a estrada a subir, em mau estado.  E os empurrões da multidão. Mas não foi só isto que o reduziu a este estado. Talvez seja o peso da tragédia que tem início na sua vida. Já não se consegue ver Deus em Jesus, homem que se mostra tão frágil, que tropeça e cai.
Jesus, lá, naquela estrada, no meio de toda aquela gente que grita e murmura, depois de terdes caído por terra, levantais-vos e procurais continuar a subida. No fundo do coração sabeis que este sofrimento tem um sentido, vos dais conta de ter carregado o peso das nossas muitas faltas, traições e culpas.
Jesus, a vossa queda faz-nos sofrer porque compreendemos que a causa somos nós; ou talvez a nossa fragilidade, não só física, mas de todo o nosso ser. Quereríamos não cair jamais; mas depois basta pouco, um obstáculo, uma tentação ou um incidente, deixamo-nos levar e caímos.
Prometêramos seguir Jesus, respeitar e cuidar das pessoas que Ele colocara ao nosso lado. Sim, na realidade, nós amamo-las ou pelo menos assim no-lo parece. Se viessem a faltar-nos, sofreríamos não pouco. Mas depois, nas situações concretas de cada dia, cedemos...
Quantas quedas nas nossas famílias! Quantas separações, quantas traições! E, depois, os divórcios, os abortos, os abandonos! Jesus, ajudai-nos a compreender o que é o amor, ensinai-nos a pedir perdão!

Pai nosso...

O quam tristis et afflícta fuit illa benedícta Mater Unigéniti!

IV Estação: Jesus encontra sua Mãe

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,25)
Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena.


Na subida para o Calvário, Jesus entrevê sua mãe. Os seus olhares cruzam-se. Compreendem-se. Maria sabe quem é seu Filho. Sabe de onde vem. Sabe qual é a sua missão. Maria sabe que é sua mãe; mas sabe também que é sua filha. Vê-o sofrer, por todos os homens... de ontem, de hoje e de amanhã. E sofre também ela.
Certamente, Jesus, sofreis por fazer sofrer assim a vossa mãe. Mas deveis envolvê-la na vossa divina e tremenda aventura. É o plano de Deus, para a salvação de toda a humanidade.
Para todos os homens e todas as mulheres deste mundo, mas de modo particular para nós, famílias, o encontro de Jesus com a mãe, lá no caminho do Calvário, é um acontecimento vivíssimo, sempre atual. Jesus privou-se da mãe, para que nós - cada um de nós, incluindo nós esposos - tivéssemos uma mãe sempre disponível e presente. Às vezes, infelizmente, nos esquecemos disso. Mas, quando reentramos em nós, nos damos conta de que, na nossa vida de família, recorremos a ela inúmeras vezes. Quanta assistência nos deu nos momentos difíceis! Quantas vezes lhe recomendamos os nossos filhos, lhe suplicamos que intervisse em favor da sua saúde física e, mais ainda, para ter uma proteção moral.
E quantas vezes Maria nos atendeu, sentimo-la perto de nós, confortando-nos com o seu amor materno.
Na “via sacra” de cada família, Maria é o modelo do silêncio que, mesmo na dor mais pungente, gera a vida nova.

Pai nosso...

Quae maerébat et dolébat pia Mater, cum vidébat Nati poenas íncliti.

V Estação: Jesus é ajudado por Simão Cireneu a levar a Cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,26)
Enquanto levavam Jesus, pegaram certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.


Talvez Simão de Cirene nos represente a todos, quando inesperadamente nos sobrevém uma dificuldade, uma prova, uma doença, um peso imprevisto, uma cruz por vezes pesada. Por que isto? Por que precisamente a mim? Por que neste momento? O Senhor chama-nos a segui-lo, não sabemos onde nem como.
O melhor a fazer, Jesus, é vir atrás de Vós, ser dóceis àquilo que nos pedis. Muitas famílias podem-no confirmar por experiência direta: não serve rebelar-se, convém dizer-vos sim, porque Vós sois o Senhor do Céu e da Terra.
Mas não é só por isto que podemos e queremos dizer-vos sim. Vós nos amais com amor infinito. Mais do que o pai, a mãe, os irmãos, a esposa, o marido, os filhos. Vós nos amais com um amor que vê longe, um amor que, para além de tudo, mesmo da nossa miséria, nos quer salvos, felizes, convosco, para sempre.
Também em família, nos momentos mais difíceis, quando se deve tomar uma decisão importante, se a paz habitar no coração, se estivermos atentos para ver aquilo que Deus quer de nós, somos iluminados por uma luz que nos ajuda a discernir e a levar a nossa cruz.
O Cireneu recorda-nos ainda os inúmeros rostos de pessoas que se solidarizaram conosco nos momentos em que uma cruz pesada se abateu sobre nós ou sobre a nossa família. Faz-nos pensar em tantos voluntários que, em muitas partes do mundo, se dedicam generosamente a confortar e a ajudar quantos se encontram no sofrimento e na adversidade. Ensina-nos a deixarmo-nos humildemente ajudar, quando temos necessidade, e também a sermos “cireneus” para os outros.

Pai nosso...

Quis est homo qui non fleret, Matrem Christi si vidéret in tanto supplício?

VI Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Da Segunda Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios (2Cor 4,6)
Deus, que disse: «Do meio das trevas brilhe a luz», é o mesmo que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para tornar claro o conhecimento da sua glória na face de Cristo.


A Verônica, uma das mulheres que segue Jesus, que intui quem Ele é, que o ama e por isso sofre ao vê-lo sofrer. Agora entrevê de perto o seu rosto, aquele rosto que tantas vezes falara à sua alma. Vê-o turvado, ensanguentado e desfigurado, embora sempre manso e humilde.
Não resiste. Quer aliviar os seus sofrimentos. Pega um pano, e tenta enxugar sangue e suor daquele rosto.
Às vezes, na nossa vida, tivemos ocasião de enxugar lágrimas e suor das pessoas que sofrem. Talvez tenhamos assistido um doente terminal em um corredor do hospital, ajudado um imigrante ou um desempregado, ouvido um encarcerado. E, procurando animá-lo, talvez tenhamos limpado o seu rosto, olhando-o com compaixão.
E, todavia, poucas vezes nos recordamos de que, em cada irmão nosso que passa necessidade, se esconde Vós, Filho de Deus. Como seria diferente a nossa vida se nos recordássemos disso! Pouco a pouco iremos tomando consciência da dignidade de cada homem que vive sobre a terra. Cada pessoa, linda ou feia, dotada ou não, ainda nos primeiros momentos no ventre da mãe ou então já idosa, sempre vos representa, Jesus. E não só... Cada irmão sois Vós. Contemplando-vos, reduzido a quase nada lá no Calvário, compreenderemos com a Verônica que em cada criatura humana podemos vos reconhecer.

Pai nosso...

Quis non posset contristári, Christi Matrem contemplári, doléntem cum Filio?

VII Estação: Jesus cai pela segunda vez

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Da Primeira Carta do Apóstolo Pedro (1Pd 2,24)
Sobre a cruz, carregou nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados.


Pela segunda vez, enquanto avança pelo caminho estreito do Calvário, Jesus cai. Intuímos a sua fraqueza física, depois de uma noite terrível, depois das torturas que lhe infligiram. A fazê-lo cair, talvez não sejam apenas as torturas, a exaustão, o peso da cruz sobre os ombros. Sobre Jesus grava um peso não mensurável, algo de íntimo e profundo que, a cada passo, se vai fazendo sentir mais nitidamente.
Vemos-vos como um pobre homem qualquer, que errou na vida e agora tem de pagar. E parece que não tendes mais força física ou moral para enfrentar o novo dia... e caís. Ó, como reconhecemo-nos em Vós, Jesus, mesmo nesta nova queda por exaustão! Mas, eis que vos levantais novamente; quereis conseguir... Para nos dar, a todos nós, a coragem de nos levantarmos de novo. A nossa fraqueza existe, mas o vosso amor é maior do que as nossas carências, sempre pode acolher-nos e compreender-nos.
Os nossos pecados, cuja carga assumistes, vos esmagam, mas a vossa misericórdia é infinitamente maior do que as nossas misérias. Sim, Jesus! Graças a Vós, levantamo-nos de novo. Erramos. Deixamo-nos levar pelas tentações do mundo, quem sabe por incandescências de satisfação, para ouvir dizer que alguém ainda nos deseja, que alguém diz que nos quer bem, ou até que nos ama. Às vezes sentimos dificuldade até para manter o compromisso assumido da nossa fidelidade de esposos. Já não temos o vigor e a decisão de outrora. Tudo é repetitivo, cada ato parece pesado, dá-nos vontade de fugir.
Mas procuramos levantar-nos, Jesus, sem ceder à maior de todas as tentações: a de não crer que o vosso amor pode tudo.

Pai nosso...

Pro peccátis suae gentis vidit Iesum in torméntis et flagéllis súbditum.

VIII Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém que choram por Ele

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 23,27-28)
Seguia-o uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por Ele. Jesus, porém, voltou-se e disse: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!».


No meio da multidão que o segue, há um grupo de mulheres de Jerusalém: elas o conhecem. Vendo-o naquelas condições, misturam-se com a multidão e sobem para o Calvário. Choram.
Jesus as vê, entende o seu sentimento de compaixão. E, mesmo em um momento trágico como aquele, quer deixar uma palavra que ultrapasse a simples compaixão. Deseja que nelas, que em nós, não haja apenas comiseração, mas conversão do coração: aquela que reconhece ter errado, que pede perdão, que recomeça uma vida nova.
Jesus, quantas vezes por cansaço ou por inconsciência, por egoísmo ou por medo, fechamos os olhos e não queremos enfrentar a realidade! Sobretudo nós mesmos não nos envolvemos, não nos comprometemos participando profunda e ativamente na vida e nas necessidades dos nossos irmãos, vizinhos e distantes. Continuamos a viver comodamente, deploramos o mal e quem o faz, mas não mudamos a nossa vida e não nos empenhamos pessoalmente para que as coisas mudem e o mal seja debelado e triunfe a justiça.
Muitas vezes as situações não melhoram, porque não nos empenhamos em fazê-las mudar. Retiramo-nos sem fazer mal a ninguém, mas também sem fazer o bem que poderíamos e deveríamos fazer. E talvez alguém esteja sofrendo por isso, pela nossa evasão.
Jesus, que estas vossas palavras nos acordem, nos deem um pouco daquela força que move as testemunhas do Evangelho, muitas vezes também mártires, pais ou mães ou filhos, que, com o seu sangue unido ao vosso, abriram e continuam a abrir também hoje o caminho ao bem no mundo.

Pai nosso...

Eia, mater, fons amóris, me sentíre vim dolóris fac, ut tecum lúgeam.

IX Estação: Jesus cai pela terceira vez

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Lucas (Lc 22,28-30a)
«Vós ficastes comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, Eu também vos confio o Reino. Vós havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino».


A subida da estrada é breve, mas a sua fraqueza é extrema. Jesus está esgotado não só fisicamente, mas também no espírito. Sente sobre si o ódio dos chefes, dos sacerdotes, da multidão; parecem querer descarregar sobre Ele a raiva reprimida pelas opressões passadas e presentes. Como se procurassem uma desforra, fazendo valer o seu poder sobre Jesus.
E caís... caís, Jesus, pela terceira vez. Pareceis sucumbir. Mas eis que, com um esforço extremo, vos levantais e retomais o caminho terrível para o Gólgota. Certamente muitos irmãos nossos em todo o mundo estão sofrendo provações tremendas porque vos seguem, Jesus. Estão subindo convosco para o Calvário e convosco estão também caindo sob as perseguições que, desde há dois mil anos, desferram sobre o vosso Corpo que é a Igreja.
Queremos, com estes nossos irmãos no coração, oferecer a nossa vida, as nossas fraquezas, a nossa miséria, os nossos pequenos e grandes sofrimentos diários. Muitas vezes vivemos anestesiados pelo bem-estar, sem nos comprometermos com todas as forças para nos levantarmos e levantar a humanidade. Mas podemos erguer-nos, porque Jesus encontrou a força de se levantar e retomar o caminho.
Também as nossas famílias são parte deste tecido invertebrado, encontram-se ligadas a uma vida de bem-estar que se torna o objetivo da própria vida. Os nossos filhos crescem: procuramos habituá-los à sobriedade, ao sacrifício, à renúncia. Procuramos dar-lhes uma vida social satisfatória nos ambientes esportivos, associativos e recreativos, mas sem que estas atividades sejam apenas um modo de preencher o dia e ter tudo aquilo que se deseja.
Por isso, Jesus, precisamos escutar as vossas palavras, que queremos testemunhar: «Felizes os pobres, felizes os mansos, felizes os construtores de paz, felizes aqueles que sofrem por amor da justiça...» (cf. Mt 5,3ss).

Pai nosso...

Fac ut árdeat cor meum in amándo Christum Deum, ut sibi compláceam.

X Estação: Jesus é despojado das suas vestes

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,23)
Os soldados repartiram a roupa de Jesus em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo.


Jesus está nas mãos dos soldados. Como todo o condenado, é despojado das vestes, para humilhá-lo, reduzi-lo a nada. A indiferença, o desprezo e a negligência pela dignidade da pessoa humana juntam-se com a avidez, a cobiça e os interesses privados: «Repartiram a roupa de Jesus».
A vossa túnica, Jesus, era sem costuras. Isto exprime o cuidado que tinham por Vós a vossa mãe e as pessoas que vos seguiam. Agora vos encontrais sem roupa, Jesus, e sentis o incômodo de quem está à mercê de gente que não tem respeito pela pessoa humana.
Quantas pessoas sofreram, e sofrem, por causa desta falta de respeito pela pessoa humana, pela sua intimidade. Às vezes talvez nós tenhamos também faltado ao respeito devido à dignidade pessoal de quem está ao nosso lado, nos «apoderando» de quem nos está próximo: filho ou marido ou esposa ou parente, conhecido ou desconhecido. Em nome da nossa suposta liberdade, ferimos a dos outros: quanta negligência, quanto descuido nos comportamentos e na maneira de nos apresentarmos um ao outro!
Jesus, que Se deixa expor deste modo aos olhos do mundo de então e aos olhos da humanidade de sempre, lembra-nos a grandeza da pessoa humana, a dignidade que Deus concedeu a cada homem, a cada mulher e que nada e ninguém deveria violar, porque são plasmados à imagem de Deus. A nós está confiada a tarefa de promover o respeito da pessoa humana e do seu corpo. Em particular a nós, esposos, cabe a tarefa de conjugar estas duas realidades fundamentais e indivisíveis: a dignidade e o dom total de si mesmo.

Pai nosso...

Sancta Mater, istud agas, Crucifíxi fige plagas cordi meo válide.

XI Estação: Jesus é pregado na Cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,18-19)
Ali o crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: «Jesus o Nazareno, o Rei dos Judeus».


Chegados ao lugar chamado «Calvário», os soldados crucificam Jesus. Pilatos manda escrever: «Jesus o Nazareno, Rei dos Judeus», para zombar d’Ele e humilhar os judeus. Mas esta inscrição, embora sem pretendê-lo, atesta uma realidade: a realeza de Jesus, Rei de um Reino que não tem fronteiras de espaço nem de tempo.
Mal podemos imaginar o sofrimento de Jesus durante a crucificação, cruenta e dolorosíssima. Entra-se no mistério: por que Deus, que se fez homem por nosso amor, se deixa pregar num madeiro e erguer da terra entre atrozes espasmos físicos e espirituais?
Por amor. Por amor. É a lei do amor que leva a dar a própria vida pelo bem do outro. Confirmam-no aquelas mães que aguentaram a própria morte para dar à luz o seu filho. Ou aqueles pais que perderam um filho na guerra ou em atos de terrorismo, e decidem não se vingar.
Jesus, no Calvário, personificais todos nós, todos os homens de ontem, hoje e amanhã.
Na cruz, ensinastes-nos a amar. Agora começamos a compreender o segredo daquela alegria perfeita que proclamáveis aos discípulos na Última Ceia. Tivestes de descer do Céu, fazer-vos menino, depois adulto e por fim sofrer no Calvário para nos dizer, com a vossa vida, o que é o verdadeiro amor.
Contemplando-vos lá no alto da cruz, também nós, enquanto família, esposos, pais e filhos, estamos aprendendo a amar-nos e a amar, a revigorar entre nós aquele acolhimento que é dar-se a si mesmo e saber-se acolhido com gratidão; que sabe sofrer, que sabe transformar o sofrimento em amor.

Pai nosso...

Tui Nati vulneráti, tam dignáti pro me pati, poenas mecum dívide.

XII Estação: Jesus morre na Cruz

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo Mateus (Mt 27,45-46)
Desde o meio-dia até às três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: «Eli, Eli, lamá sabactâni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?».


Jesus está na cruz. Horas de angústia, horas terríveis, horas de dores físicas desumanas. Jesus diz: «Tenho sede» (Jo 19,28). E levam-lhe à boca uma esponja ensopada em vinagre.
Um grito ergue-se inesperado: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». Blasfêmia? O condenado grita o Salmo? Como aceitar um Deus que grita, que se lamenta, que não sabe, não compreende? O Filho de Deus feito homem que se sente morrer abandonado por seu Pai?
Jesus, até este ponto vos fizestes um de nós, um conosco, à exceção do pecado! Vós, Filho de Deus feito homem, vos identificastes conosco até ao ponto de experimentar, Vós que sois o Santo, a nossa condição de pecadores, a separação de Deus, o inferno daqueles que estão sem Deus. Vós experimentastes a escuridão para nos dar a luz. Vivestes a separação para nos dar a unidade. Aceitastes a dor para nos deixar o Amor. Provastes a exclusão, abandonado e suspenso entre Céu e Terra, para nos acolher na vida de Deus.
Um mistério nos envolve revivendo cada passo da vossa Paixão. Jesus, não considerais ciosamente como um tesouro a vossa igualdade com Deus, mas vos fazeis pobre de tudo para nos enriquecer.
«Em tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46). Como conseguistes, Jesus, naquele abismo de desolação, confiar-vos ao Amor do Pai, abandonar-vos a Ele, morrer n’Ele? Somente olhando para Vós, somente convosco podemos enfrentar as tragédias, os sofrimentos dos inocentes, as humilhações, os ultrajes, a morte.
Jesus vive a sua morte como dom por mim, por nós, pela nossa família, por cada pessoa, por cada família, por cada povo, pela humanidade inteira. Naquele ato, renasce a vida.

Pai nosso...

Vidit suum dulcem Natum moriéntem desolátum, cum emísit spíritum.

XIII Estação: Jesus é descido da Cruz e entregue à sua Mãe

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,38)
Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas às escondidas, por medo dos judeus, pediu a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos consentiu. Então José veio tirar o corpo de Jesus.


Maria vê morrer seu Filho, Filho de Deus e também dela. Sabe que é inocente, mas carregou sobre si o peso das nossas misérias. A Mãe oferece o Filho, o Filho oferece a Mãe. A João, a nós.
Jesus e Maria, eis um família que, no Calvário, vive e sofre a separação suprema. A morte divide-os, ou pelo menos parece dividi-los, uma mãe e um filho com um vínculo simultaneamente humano e divino inconcebível. Por amor, o oferecem. Abandonam-se ambos à Vontade de Deus.
Na voragem que se abriu no coração de Maria, entra outro filho, que representa a humanidade inteira. E o amor de Maria por cada um de nós é o prolongamento do amor que ela teve por Jesus. Sim, porque, nos discípulos, verá o rosto d’Ele. E viverá para eles, para sustentá-los, ajudá-los, encorajá-los, levá-los a reconhecer o Amor de Deus, para que, na sua liberdade, se voltem para o Pai.
Que dizem a mim, a nós, à nossa família esta Mãe e este Filho no Calvário? Cada um pode apenas deter-se, atônito, diante de tal cena. Intui que esta Mãe, este Filho estão nos concedendo um dom único, irrepetível. De fato, neles encontramos a capacidade de dilatar o nosso coração e abrir o nosso horizonte à dimensão universal.
Lá, no Calvário, junto de Vós, Jesus, morto por nós, as nossas famílias acolhem o dom de Deus: o dom de um amor que pode alargar os braços até ao infinito.

Pai nosso...

Fac me vere tecum flere, Crucifíxo condolére, donec ego víxero.

XIV Estação: Jesus é depositado no sepulcro

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Do Evangelho segundo João (Jo 19,41-42)
No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Por causa da preparação da Páscoa, e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus.


Um profundo silêncio envolve o Calvário. No seu Evangelho, João atesta que o Calvário se encontra em um jardim, onde existe um sepulcro ainda não usado. E é lá precisamente que os discípulos depõem o seu corpo.
Aquele Jesus, que aos poucos reconheceram como Deus que se fez homem, está lá, cadáver. Na solidão desconhecida, sentem-se perdidos, não sabem que fazer, nem como comportar-se. Nada mais lhes resta que consolar-se reciprocamente, encorajar-se um ao outro, permanecer juntos. Mas é precisamente então que matura nos discípulos o momento da fé, da recordação daquilo que Jesus disse e fez quando estava no meio deles, e que antes só em parte tinham compreendido.
Lá começam a ser Igreja, à espera da Ressurreição e da efusão do Espírito. Com eles, está a mãe de Jesus, Maria, que o Filho entregara a João. Reúnem-se todos com ela, à volta dela. À espera. À espera que o Senhor se manifeste.
Sabemos que aquele corpo, três dias depois, ressuscitou. Assim Jesus vive para sempre e nos acompanha, Ele pessoalmente, ao longo da nossa viagem terrena, entre alegrias e tribulações.
Jesus, fazei que nos amemos mutuamente. Para vos termos de novo no meio de nós, cada dia, como Vós mesmo prometestes: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou aí, no meio deles» (Mt 18,20).

Pai nosso...

Quando corpus moriétur fac ut ánimae donétur paradísi glória. Amen.


Bênção Apostólica

Canto final: Crux fidelis


Fonte: Santa SéPara acessar outros modelos de meditações, confira nossa postagem sobre a história da Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

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