Dando continuidade à sua reflexão sobre a Ressurreição, confira as Catequeses nn. 78-79 do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo, destacando as aparições do Ressuscitado.
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Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO
78. Do sepulcro vazio ao encontro com o Ressuscitado
João Paulo II - 01 de fevereiro de 1989
1. A profissão de fé que fazemos no Creio quando
proclamamos que Jesus Cristo “ressuscitou ao terceiro dia” fundamenta-se nos
textos evangélicos que, por sua vez, nos transmitem e dão a conhecer a primeira
pregação dos Apóstolos. Dessas fontes resulta que a fé na Ressurreição é,
desde o início, uma convicção baseada em um fato, em um acontecimento
real, e não um mito ou uma “concepção”, uma ideia inventada pelos Apóstolos ou
produzida pela comunidade pós-pascal reunida em torno dos Apóstolos em Jerusalém,
para superar junto com eles o sentimento de decepção após a Morte de Cristo na
cruz. Os textos demonstram todo o contrário e, portanto, como dissemos, a hipótese
levantada é também crítica e historicamente insustentável.
Os Apóstolos e os discípulos não inventaram a Ressurreição (e é fácil
compreender que eram totalmente incapazes de semelhante ação). Não há traços de
uma exaltação pessoal ou de grupo que os tenha levado a conjecturar um acontecimento
desejado e esperado e a projetá-lo na opinião e na crença comum como real, quase
por contraste e como compensação pela decepção sofrida. Não há traços de um processo
criativo de ordem psicológico-sociológico-literário nem mesmo na comunidade
primitiva ou nos autores dos primeiros séculos.
Encontro do Ressuscitado com Maria Madalena (Alexander Ivanov) |
Os Apóstolos foram os primeiros a acreditar,
não sem forte resistência, que Cristo tinha ressuscitado simplesmente porque viveram a
Ressurreição como um acontecimento real, do qual puderam convencer-se
pessoalmente encontrando-se várias vezes com Cristo novamente vivo, ao longo de
quarenta dias. As sucessivas gerações cristãs aceitaram esse testemunho, confiando
nos Apóstolos e nos demais discípulos como testemunhas credíveis. A fé cristã na
Ressurreição de Cristo está ligada, portanto, a um fato, que possui
uma dimensão histórica precisa.
2. E, no entanto, a Ressurreição é
uma verdade que, em sua dimensão mais profunda, pertence à Revelação divina:
com efeito, ela foi gradualmente anunciada por Cristo ao longo
da sua atividade messiânica, durante o período pré-pascal. Jesus predisse explicitamente
várias vezes que, após sofrer muito e ser morto, ressuscitaria. Assim,
no Evangelho de Marcos é dito que, após a profissão de fé de Pedro próximo
a Cesareia de Filipe, Jesus “começou a ensinar que o Filho do homem deveria sofrer
muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas,
ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. Falava disso abertamente”
(Mc 8,31-32). Também segundo Marcos, depois da transfiguração, “ao
desceram da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham
visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos” (Mc 9,9).
Os discípulos não compreenderam o significado dessa “ressurreição” e passaram à
questão, já agitada no mundo judaico, do retorno de Elias (v. 11); mas Jesus
reafirmou a ideia de que o Filho do homem deveria “sofrer muito e ser desprezado”
(v. 12).
Depois da cura do endemoniado epiléptico,
no caminho pela Galileia percorrido quase clandestinamente, Jesus volta a instrui-los:
“’O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão; e depois
de morto, aos terceiro dia, ressuscitará’. Eles, porém, não compreendiam o que Ele
dizia e tinham medo de perguntar” (Mc 9,31-32). É o segundo anúncio
da Paixão e da Ressurreição, ao qual segue o terceiro, quando já se encontram a
caminho de Jerusalém: “Eis que estamos subindo a Jerusalém, e o Filho do homem
será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte, o
entregarão aos gentios, zombarão dele, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão, mas
ao terceiro dia ressuscitará” (Mc 10,33-34).
3. Estamos aqui diante de uma
previsão profética dos acontecimentos, na qual Jesus exerce sua função de
revelador, relacionando a Morte e a Ressurreição, unificadas na finalidade
redentora, e referindo-se ao desígnio divino segundo o qual tudo
o que prevê “deve” acontecer. Jesus, portanto, dá a conhecer aos discípulos - espantados
e mesmo assustados - algo do mistério teológico subjacente aos próximos
acontecimentos, como ademais a toda a sua vida. Outros vislumbres desse mistério
se encontram na alusão ao “sinal de Jonas” (Mt 12,40), que Jesus faz seu
e aplica aos dias da sua Morte e Ressurreição, e no desafio aos judeus
sobre a “reconstrução em três dias do templo que será destruído” (cf. Jo 2,19).
João observa que Jesus “se referia ao templo (santuário) que é seu corpo. Depois
que Jesus ressuscitou dentre os mortos, os discípulos recordaram que Ele tinha
dito isso, e acreditaram na Escritura e na palavra que Jesus havia dito” (Jo 2,20-21).
Mais uma vez nos encontramos diante da relação entre a Ressurreição de Cristo e
a sua Palavra, dos seus anúncios ligados “às Escrituras”.
4. Mas, além das palavras de Jesus,
também a atividade messiânica que Ele realizou no período pré-pascal mostra o
poder sobre a vida e a morte do qual Ele dispõe, e a consciência
desse poder, como a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,39-42), a ressurreição
do jovem de Naim (Lc 7,12-15) e sobretudo a ressurreição de Lázaro
(Jo 11,42-44), que é apresentada no Quarto Evangelho como anúncio
e prefiguração da Ressurreição de Jesus. Nas palavras dirigidas a Marta durante
este último episódio há uma clara manifestação da autoconsciência de Jesus sobre
sua identidade de Senhor da vida e da morte e de possuidor das chaves do mistério
da ressurreição: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim,
ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais
morrerá” (Jo 11,25-26). São palavras e fatos que contêm de diversas
formas a revelação da verdade sobre a Ressurreição no período
pré-pascal.
5. No âmbito dos acontecimentos
pascais, o primeiro elemento com que nos deparamos é o “sepulcro vazio”. Sem
dúvida este não é por si mesmo uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no
sepulcro em que foi depositado podia ser explicada de outra forma, como de
fato pensou por um momento Maria Madalena quando, vendo o sepulcro vazio, supôs
que alguém havia roubado o corpo de Jesus (cf. Jo 20,13).
O Sinédrio até tentou espalhar o rumor de que, enquanto os soldados dormiam, o corpo
havia sido roubado pelos discípulos. “Essa versão foi divulgada entre os judeus
até o dia de hoje” (Mt 28,15), observa Mateus.
No entanto, o “sepulcro vazio” foi
um sinal impressionante para todos, amigos e inimigos. Para as pessoas de boa vontade,
sua descoberta foi o primeiro passo para reconhecer o “fato” da Ressurreição
como uma verdade que não podia ser rejeitada.
6. Assim foi antes de tudo para
as mulheres, que foram de madrugada ao sepulcro para ungir o corpo de Cristo.
Foram as primeiras a acolher o anúncio: “Ressuscitou! Não está aqui! (...) Ide
dizer a seus discípulos e a Pedro...” (Mc 16,6-7). “Lembrai-vos de como
vos falou, estando ainda na Galileia: ‘É necessário que o Filho do homem seja
entregue nas mãos dos pecadores, seja crucificado e, ao terceiro dia, ressuscite’.
Então as mulheres lembraram das palavras de Jesus” (Lc 24,6-8).
Certamente as mulheres estavam surpreendidas
e assustadas (cf. Mc 16,8; Lc 24,5). Nem
mesmo elas estavam dispostas a render-se facilmente a um fato que, embora previsto
por Jesus, estava efetivamente além de qualquer possibilidade de imaginação e invenção.
Mas em sua sensibilidade e sutileza intuitiva, elas, especialmente Maria Madalena,
se apegaram à realidade e correram aos Apóstolos para dar-lhes a alegre notícia.
O Evangelho de Mateus nos
informa que no caminho o próprio Jesus as encontrou, saudou-as e renovou o
mandato de levar o anúncio aos irmãos (Mt 28,10). Assim as mulheres
foram as primeiras mensageiras da Ressurreição de Cristo, e o foram para os próprios
Apóstolos (Lc 24,10). Fato eloquente sobre a importância da mulher já
nos dias do acontecimento pascal!
7. Entre os que receberam o anúncio
de Maria Madalena estavam Pedro e João (cf. Jo 20,3-8).
Eles foram ao sepulcro não sem hesitar, sobretudo porque Maria tinha falado de um
roubo do corpo de Jesus (v. 2). Ao chegar ao sepulcro, também eles o encontraram
vazio. Terminaram acreditando, não sem muito hesitar, porque, como diz João, “eles
ainda não haviam compreendido a Escritura, segundo a qual Ele deveria ressuscitar
dos mortos” (v. 9).
Digamos a verdade: o fato era surpreendente
para aqueles homens, que se encontravam diante de coisas demasiado superiores. Essa
dificuldade, que as tradições do acontecimento demonstram em uma relação plenamente
coerente, confirma seu caráter extraordinário e o impacto desconcertante que teve
no ânimo das afortunadas testemunhas. A referência à “Escritura” é
a prova da obscura percepção que tiveram de estar diante de um mistério sobre o
qual só a Revelação podia portar luz.
8. Há, contudo, outro dato que deve
ser considerado: se o “sepulcro vazio” à primeira vista causava
espanto e podia até mesmo gerar certa suspeita, o gradual conhecimento desse fato
inicial, como notam os Evangelhos, terminou levando à descoberta da verdade da Ressurreição.
Com efeito, é dito que as mulheres,
e sucessivamente os Apóstolos, se encontraram diante de um “sinal”
particular: o sinal da vitória sobre a morte. Se o próprio sepulcro, fechado
por uma pesada pedra, testemunhava a morte, o sepulcro vazio e a pedra removida
davam o primeiro anúncio de que ali a morte havia sido derrotada.
Não deixa de impressionar a
consideração do estado de ânimo das três mulheres que, dirigindo-se ao sepulcro
ao amanhecer, diziam entre si: “Quem vai remover para nós a pedra da entrada
do sepulcro?” (Mc 16,3), e que depois, quando chegaram, constataram
com grande maravilha que “a pedra já havia sido removida” (v. 4), embora fosse
muito grande. Segundo o Evangelho de Marcos, elas encontraram no sepulcro
alguém que lhes anunciou a Ressurreição (v. 5): mas elas tinham medo e, apesar
das afirmações do jovem vestido de branco, “trêmulas e fora de si, fugiram do
sepulcro” (v. 8). Como não compreendê-las? E, no entanto, a comparação com os
textos paralelos dos outros evangelistas permite afirmar que, embora assustadas,
as mulheres levaram o anúncio da Ressurreição, da qual o “sepulcro vazio” com a
pedra removida foi o primeiro sinal.
9. Para as mulheres e os Apóstolos
o caminho aberto por esse “sinal” se concluiu no encontro com o Ressuscitado:
então a percepção ainda tímida e incerta se converte em convicção e,
mais ainda, em fé n’Aquele que “verdadeiramente ressuscitou”. Assim aconteceu com
as mulheres que, ao ver Jesus no caminho e ao ouvir sua saudação, se prostraram
a seus pés e o adoraram (cf. Mt 28,9). Assim aconteceu
especialmente com Maria Madalena, que, ouvindo Jesus chama-la pelo nome, dirigiu-se
a Ele primeiro com o apelativo habitual: “Rabuni, Mestre!” (Jo 20,16),
e quando foi iluminada por Ele sobre o Mistério Pascal, correu radiante a levar
o anúncio aos discípulos: Vi o Senhor!” (v. 18). Assim aconteceu com os
discípulos no Cenáculo, que na tarde daquele “primeiro dia depois do sábado”, o
“primeiro dia da semana”, quando finalmente viram Jesus no meio deles, se sentiram
felizes pela nova certeza que havia entrado em seu coração: “Se alegraram por
ver o Senhor” (v. 20).
O contato direto com Cristo
desencadeia a chama que acende a fé!
79. Características das aparições do Ressuscitado
João Paulo II - 22 de fevereiro de 1989
1. Conhecemos a passagem da Primeira Carta
aos Coríntios onde Paulo, o primeiro cronologicamente, anota a verdade sobre
a Ressurreição de Cristo: “Eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo recebi,
a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,
foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras;
e apareceu a Cefas e, depois, aos Doze...” (1Cor 15,3-5). Como
podemos ver, trata-se de uma verdade transmitida, recebida e novamente
transmitida. Uma verdade que pertence ao “depósito da Revelação” que o próprio Jesus,
através dos seus Apóstolos e evangelistas, deixou à sua Igreja.
2. Jesus revelou gradualmente
esta verdade no seu ensinamento pré-pascal. Esta encontrou depois sua
realização concreta nos acontecimentos da Páscoa de Cristo em Jerusalém,
certificados historicamente, mas cheios de mistério.
Os anúncios e os fatos tiveram sua
confirmação sobretudo nos encontros com Cristo Ressuscitado, que os
Evangelhos e Paulo relatam. É preciso dizer que o texto paulino apresenta esses
encontros - nos quais se revela o Cristo Ressuscitado - de modo global e
sintético - acrescentando ao final o próprio encontro com o Ressuscitado às portas
de Damasco (At 9,3-6). Nos Evangelhos há anotações um tanto fragmentárias
a respeito.
Não é difícil captar e
comparar alguns traços característicos de cada uma dessas aparições
e do seu conjunto, para chegarmos cada vez mais perto de descobrir o significado
dessa verdade revelada.
3. Podemos observar antes de tudo
que, depois da Ressurreição, Jesus se apresenta às mulheres e aos discípulos com
seu corpo transformado, feito espiritual e participante da glória da alma: mas
sem qualquer característica triunfalista. Jesus se manifesta com uma
grande simplicidade. Fala como amigo aos amigos, com os quais se encontra
nas circunstâncias ordinárias da vida terrena. Não quis confrontar seus adversários,
assumindo a atitude de vencedor, nem se preocupou em mostrar-lhes sua
“superioridade”, muito menos queria fulminá-los. Não consta sequer que os tenha
encontrado. Tudo o que nos diz o Evangelho nos leva a excluir que tenha
aparecido, por exemplo, a Pilatos, que o entregou aos sumos sacerdotes para que
fosse crucificado (cf. Jo 19,16), ou a Caifás, que rasgou as
vestes diante da afirmação da sua divindade (Mt 26,63-66).
Aos privilegiados por suas aparições, Jesus
se dá a conhecer na sua identidade física: aquele rosto, aquelas
mãos, aqueles traços que conheciam bem, aquele lado que viram transpassado, aquela
voz que tantas vezes escutaram. Só no encontro com Paulo próximo a Damasco a
luz que circunda o Ressuscitado quase cega o ardente perseguidor dos cristãos e
o lança ao solo (cf. At 9,3-8): mas é uma manifestação
do poder d’Aquele que, já elevado ao céu, impressiona um homem do qual quer fazer
um “instrumento de eleição” (v. 15), um missionário do Evangelho.
4. Notemos também um fato
significativo: Jesus Cristo aparece primeiro às mulheres, suas fiéis
seguidoras, e não aos discípulos e aos próprios Apóstolos, apesar de tê-los escolhido
como portadores do seu Evangelho ao mundo. Às mulheres Ele confia por primeiro o
mistério da sua Ressurreição, fazendo delas as primeiras testemunhas dessa
verdade. Talvez quisesse premiar sua delicadeza, sua sensibilidade à sua mensagem,
sua fortaleza que impulsionou até o Calvário. Talvez quisesse manifestar um
delicado traço da sua humanidade, que consiste na amabilidade e na gentileza com
quem se aproxima e que beneficia as pessoas que menos contam no grande mundo do
seu tempo. É o que parece resultar de um texto de Mateus: “O próprio Jesus veio
ao encontro delas (das mulheres que corriam para levar o anúncio aos discípulos)
e disse-lhes: ‘Alegrai-vos!’. Elas se aproximaram e, abraçando seus pés,
prostraram-se diante d’Ele. Jesus lhes disse: ‘Não tenhais medo. Ide anunciar a
meus irmãos que se dirijam à Galileia. Lá me verão’” (Mt 28,9-10).
Também o episódio da aparição a Maria
Madalena (Jo 20,11-18) é de extraordinária sutileza, seja por parte
da mulher, que revela toda a sua apaixonada e serena entrega ao seguimento de Jesus,
seja por parte do Mestre, que a trata com requintada delicadeza e benevolência.
Nesta prioridade das mulheres nos
acontecimentos pascais deverá inspirar-se a Igreja, que ao longo dos séculos pôde
contar enormemente com elas para sua vida de fé, de oração e de apostolado.
5. Algumas características desses encontros
pós-pascais os tornam de certo modo paradigmáticos, devido às situações
espirituais que tantas vezes se criam na relação do homem com Cristo, quando se
sente chamado ou “visitado” por Ele.
Antes de tudo há uma dificuldade inicial em
reconhecer Cristo por parte daqueles que o encontram, como vemos no
caso da própria Madalena (Jo 20,14-16) ou dos discípulos de Emaús (Lc 24,16).
Não falta certo sentimento de temor diante d’Ele: o amamos, o buscamos, mas, quando
o encontramos, experimentamos certa hesitação...
Mas Jesus conduz gradualmente ao
reconhecimento e à fé tanto Maria Madalena (Jo 20,16) como os
discípulos de Emaús (Lc 24,26ss) e, analogamente, os outros discípulos
(cf. Lc 24,25-48). Sinal da paciente pedagogia de
Cristo ao revelar-se ao homem, ao atrai-lo, ao convertê-lo, ao levá-lo ao conhecimento
das riquezas do seu coração e à salvação.
6. É interessante analisar o processo
psicológico que os diversos encontros deixam entrever: os discípulos experimentam
certa dificuldade em reconhecer não só a verdade da Ressurreição, mas também a
identidade d’Aquele que está diante deles e aparece como o mesmo, mas também
como outro: um Cristo “transformado”. Não é fácil para eles fazer uma
identificação imediata. Intuem, sim, que é Jesus, mas ao mesmo tempo sentem que
Ele não se encontra mais na condição anterior, e diante d’Ele são tomados de
reverência e temor.
Quando se dão conta, com sua ajuda,
de que não se trata de outro, mas d’Ele mesmo transformado, brota neles uma nova
capacidade de descoberta, de inteligência, de caridade e de fé. É como um
despertar de fé: “Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava pelo
caminho e nos abria as Escrituras?” (Lc 24,32); “Meu Senhor e meu Deus!”
(Jo 20,28); “Vi o Senhor” (v. 18). Então uma luz
absolutamente nova ilumina aos seus olhos também o acontecimento da Cruz,
e dá o verdadeiro e pleno sentido daquele mistério de dor e de morte, que se
conclui na glória da vida nova! Este será um dos elementos principais da mensagem
de salvação levado pelos Apóstolos desde o início ao povo judeu e, pouco a pouco,
a todos os povos.
7. É preciso destacar uma última
característica das aparições do Cristo Ressuscitado: nelas,
especialmente nas últimas, Jesus realiza a definitiva entrega aos Apóstolos (e
à Igreja) da missão de evangelizar o mundo para levar-lhe o anúncio da
sua Palavra e o dom da sua graça.
Recordemos a aparição aos
discípulos no Cenáculo na tarde da Páscoa: “Como o Pai me enviou, Eu também vos
envio” (Jo 20,21): e lhes dá o poder de perdoar os pecados!
E na aparição no mar de Tiberíades,
seguida da pesca milagrosa, que simboliza e anuncia a fecundidade da missão, é
evidente que Jesus quer orientar o seus espírito para a obra que lhes espera (cf. Jo 21,1-23).
Confirma-o a entrega definitiva da particular missão a Pedro: “Tu me amas?... Tu
sabes que te amo... Apascenta meus cordeiros... Apascenta minhas ovelhas...” (vv.
15-18).
João observa que “esta foi a terceira
vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, se manifestou aos discípulos” (v. 14). Desta
vez eles não só se deram conta da sua identidade: “É o Senhor!” (v. 7), mas também
compreenderam que tudo o que tinha acontecido naqueles dias pascais comprometia
cada um deles - e Pedro de modo particular - na construção da nova era da história,
a qual teve início naquela manhã de Páscoa.
Aparição do Ressuscitado aos Apóstolos (Duccio) |
Tradução
nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (01 de fevereiro
e 22 de fevereiro de 1989).
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