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quinta-feira, 18 de julho de 2024

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Jesus Cristo 53

Dando continuidade à sua reflexão sobre a Ressurreição, confira as Catequeses nn. 78-79 do Papa São João Paulo II sobre Jesus Cristo, destacando as aparições do Ressuscitado.

Confira também o índice com os links para as demais Catequeses clicando aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM JESUS CRISTO

78. Do sepulcro vazio ao encontro com o Ressuscitado
João Paulo II - 01 de fevereiro de 1989

1. A profissão de fé que fazemos no Creio quando proclamamos que Jesus Cristo “ressuscitou ao terceiro dia” fundamenta-se nos textos evangélicos que, por sua vez, nos transmitem e dão a conhecer a primeira pregação dos Apóstolos. Dessas fontes resulta que a fé na Ressurreição é, desde o início, uma convicção baseada em um fato, em um acontecimento real, e não um mito ou uma “concepção”, uma ideia inventada pelos Apóstolos ou produzida pela comunidade pós-pascal reunida em torno dos Apóstolos em Jerusalém, para superar junto com eles o sentimento de decepção após a Morte de Cristo na cruz. Os textos demonstram todo o contrário e, portanto, como dissemos, a hipótese levantada é também crítica e historicamente insustentável.

Os Apóstolos e os discípulos não inventaram a Ressurreição (e é fácil compreender que eram totalmente incapazes de semelhante ação). Não há traços de uma exaltação pessoal ou de grupo que os tenha levado a conjecturar um acontecimento desejado e esperado e a projetá-lo na opinião e na crença comum como real, quase por contraste e como compensação pela decepção sofrida. Não há traços de um processo criativo de ordem psicológico-sociológico-literário nem mesmo na comunidade primitiva ou nos autores dos primeiros séculos.

Encontro do Ressuscitado com Maria Madalena
(Alexander Ivanov)

Os Apóstolos foram os primeiros a acreditar, não sem forte resistência, que Cristo tinha ressuscitado simplesmente porque viveram a Ressurreição como um acontecimento real, do qual puderam convencer-se pessoalmente encontrando-se várias vezes com Cristo novamente vivo, ao longo de quarenta dias. As sucessivas gerações cristãs aceitaram esse testemunho, confiando nos Apóstolos e nos demais discípulos como testemunhas credíveis. A fé cristã na Ressurreição de Cristo está ligada, portanto, a um fato, que possui uma dimensão histórica precisa.

2. E, no entanto, a Ressurreição é uma verdade que, em sua dimensão mais profunda, pertence à Revelação divina: com efeito, ela foi gradualmente anunciada por Cristo ao longo da sua atividade messiânica, durante o período pré-pascal. Jesus predisse explicitamente várias vezes que, após sofrer muito e ser morto, ressuscitaria. Assim, no Evangelho de Marcos é dito que, após a profissão de fé de Pedro próximo a Cesareia de Filipe, Jesus “começou a ensinar que o Filho do homem deveria sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. Falava disso abertamente” (Mc 8,31-32). Também segundo Marcos, depois da transfiguração, “ao desceram da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos” (Mc 9,9). Os discípulos não compreenderam o significado dessa “ressurreição” e passaram à questão, já agitada no mundo judaico, do retorno de Elias (v. 11); mas Jesus reafirmou a ideia de que o Filho do homem deveria “sofrer muito e ser desprezado” (v. 12).

Depois da cura do endemoniado epiléptico, no caminho pela Galileia percorrido quase clandestinamente, Jesus volta a instrui-los: “’O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão; e depois de morto, aos terceiro dia, ressuscitará’. Eles, porém, não compreendiam o que Ele dizia e tinham medo de perguntar” (Mc 9,31-32). É o segundo anúncio da Paixão e da Ressurreição, ao qual segue o terceiro, quando já se encontram a caminho de Jerusalém: “Eis que estamos subindo a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte, o entregarão aos gentios, zombarão dele, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão, mas ao terceiro dia ressuscitará” (Mc 10,33-34).

3. Estamos aqui diante de uma previsão profética dos acontecimentos, na qual Jesus exerce sua função de revelador, relacionando a Morte e a Ressurreição, unificadas na finalidade redentora, e referindo-se ao desígnio divino segundo o qual tudo o que prevê “deve” acontecer. Jesus, portanto, dá a conhecer aos discípulos - espantados e mesmo assustados - algo do mistério teológico subjacente aos próximos acontecimentos, como ademais a toda a sua vida. Outros vislumbres desse mistério se encontram na alusão ao “sinal de Jonas” (Mt 12,40), que Jesus faz seu e aplica aos dias da sua Morte e Ressurreição, e no desafio aos judeus sobre a “reconstrução em três dias do templo que será destruído” (cf. Jo 2,19). João observa que Jesus “se referia ao templo (santuário) que é seu corpo. Depois que Jesus ressuscitou dentre os mortos, os discípulos recordaram que Ele tinha dito isso, e acreditaram na Escritura e na palavra que Jesus havia dito” (Jo 2,20-21). Mais uma vez nos encontramos diante da relação entre a Ressurreição de Cristo e a sua Palavra, dos seus anúncios ligados “às Escrituras”.

4. Mas, além das palavras de Jesus, também a atividade messiânica que Ele realizou no período pré-pascal mostra o poder sobre a vida e a morte do qual Ele dispõe, e a consciência desse poder, como a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,39-42), a ressurreição do jovem de Naim (Lc 7,12-15) e sobretudo a ressurreição de Lázaro (Jo 11,42-44), que é apresentada no Quarto Evangelho como anúncio e prefiguração da Ressurreição de Jesus. Nas palavras dirigidas a Marta durante este último episódio há uma clara manifestação da autoconsciência de Jesus sobre sua identidade de Senhor da vida e da morte e de possuidor das chaves do mistério da ressurreição: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26). São palavras e fatos que contêm de diversas formas a revelação da verdade sobre a Ressurreição no período pré-pascal.

5. No âmbito dos acontecimentos pascais, o primeiro elemento com que nos deparamos é o “sepulcro vazio”. Sem dúvida este não é por si mesmo uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no sepulcro em que foi depositado podia ser explicada de outra forma, como de fato pensou por um momento Maria Madalena quando, vendo o sepulcro vazio, supôs que alguém havia roubado o corpo de Jesus (cf. Jo 20,13). O Sinédrio até tentou espalhar o rumor de que, enquanto os soldados dormiam, o corpo havia sido roubado pelos discípulos. “Essa versão foi divulgada entre os judeus até o dia de hoje” (Mt 28,15), observa Mateus.

No entanto, o “sepulcro vazio foi um sinal impressionante para todos, amigos e inimigos. Para as pessoas de boa vontade, sua descoberta foi o primeiro passo para reconhecer o “fato” da Ressurreição como uma verdade que não podia ser rejeitada.

6. Assim foi antes de tudo para as mulheres, que foram de madrugada ao sepulcro para ungir o corpo de Cristo. Foram as primeiras a acolher o anúncio: “Ressuscitou! Não está aqui! (...) Ide dizer a seus discípulos e a Pedro...” (Mc 16,6-7). “Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galileia: ‘É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos dos pecadores, seja crucificado e, ao terceiro dia, ressuscite’. Então as mulheres lembraram das palavras de Jesus” (Lc 24,6-8).

Certamente as mulheres estavam surpreendidas e assustadas (cf. Mc 16,8; Lc 24,5). Nem mesmo elas estavam dispostas a render-se facilmente a um fato que, embora previsto por Jesus, estava efetivamente além de qualquer possibilidade de imaginação e invenção. Mas em sua sensibilidade e sutileza intuitiva, elas, especialmente Maria Madalena, se apegaram à realidade e correram aos Apóstolos para dar-lhes a alegre notícia.

O Evangelho de Mateus nos informa que no caminho o próprio Jesus as encontrou, saudou-as e renovou o mandato de levar o anúncio aos irmãos (Mt 28,10). Assim as mulheres foram as primeiras mensageiras da Ressurreição de Cristo, e o foram para os próprios Apóstolos (Lc 24,10). Fato eloquente sobre a importância da mulher já nos dias do acontecimento pascal!

7. Entre os que receberam o anúncio de Maria Madalena estavam Pedro e João (cf. Jo 20,3-8). Eles foram ao sepulcro não sem hesitar, sobretudo porque Maria tinha falado de um roubo do corpo de Jesus (v.  2). Ao chegar ao sepulcro, também eles o encontraram vazio. Terminaram acreditando, não sem muito hesitar, porque, como diz João, “eles ainda não haviam compreendido a Escritura, segundo a qual Ele deveria ressuscitar dos mortos” (v. 9).

Digamos a verdade: o fato era surpreendente para aqueles homens, que se encontravam diante de coisas demasiado superiores. Essa dificuldade, que as tradições do acontecimento demonstram em uma relação plenamente coerente, confirma seu caráter extraordinário e o impacto desconcertante que teve no ânimo das afortunadas testemunhas. A referência à Escritura é a prova da obscura percepção que tiveram de estar diante de um mistério sobre o qual só a Revelação podia portar luz.

8. Há, contudo, outro dato que deve ser considerado: se o “sepulcro vazio” à primeira vista causava espanto e podia até mesmo gerar certa suspeita, o gradual conhecimento desse fato inicial, como notam os Evangelhos, terminou levando à descoberta da verdade da Ressurreição.

Com efeito, é dito que as mulheres, e sucessivamente os Apóstolos, se encontraram diante de um “sinal” particular: o sinal da vitória sobre a morte. Se o próprio sepulcro, fechado por uma pesada pedra, testemunhava a morte, o sepulcro vazio e a pedra removida davam o primeiro anúncio de que ali a morte havia sido derrotada.

Não deixa de impressionar a consideração do estado de ânimo das três mulheres que, dirigindo-se ao sepulcro ao amanhecer, diziam entre si: “Quem vai remover para nós a pedra da entrada do sepulcro?” (Mc 16,3), e que depois, quando chegaram, constataram com grande maravilha que “a pedra já havia sido removida” (v. 4), embora fosse muito grande. Segundo o Evangelho de Marcos, elas encontraram no sepulcro alguém que lhes anunciou a Ressurreição (v. 5): mas elas tinham medo e, apesar das afirmações do jovem vestido de branco, “trêmulas e fora de si, fugiram do sepulcro” (v. 8). Como não compreendê-las? E, no entanto, a comparação com os textos paralelos dos outros evangelistas permite afirmar que, embora assustadas, as mulheres levaram o anúncio da Ressurreição, da qual o “sepulcro vazio” com a pedra removida foi o primeiro sinal.

9. Para as mulheres e os Apóstolos o caminho aberto por esse “sinal” se concluiu no encontro com o Ressuscitado: então a percepção ainda tímida e incerta se converte em convicção e, mais ainda, em fé n’Aquele que “verdadeiramente ressuscitou”. Assim aconteceu com as mulheres que, ao ver Jesus no caminho e ao ouvir sua saudação, se prostraram a seus pés e o adoraram (cf. Mt 28,9). Assim aconteceu especialmente com Maria Madalena, que, ouvindo Jesus chama-la pelo nome, dirigiu-se a Ele primeiro com o apelativo habitual: “Rabuni, Mestre!” (Jo 20,16), e quando foi iluminada por Ele sobre o Mistério Pascal, correu radiante a levar o anúncio aos discípulos: Vi o Senhor!” (v. 18). Assim aconteceu com os discípulos no Cenáculo, que na tarde daquele “primeiro dia depois do sábado”, o “primeiro dia da semana”, quando finalmente viram Jesus no meio deles, se sentiram felizes pela nova certeza que havia entrado em seu coração: “Se alegraram por ver o Senhor” (v. 20).
O contato direto com Cristo desencadeia a chama que acende a fé!

79. Características das aparições do Ressuscitado
João Paulo II - 22 de fevereiro de 1989

1. Conhecemos a passagem da Primeira Carta aos Coríntios onde Paulo, o primeiro cronologicamente, anota a verdade sobre a Ressurreição de Cristo: “Eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo recebi, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e, depois, aos Doze...” (1Cor 15,3-5). Como podemos ver, trata-se de uma verdade transmitida, recebida e novamente transmitida. Uma verdade que pertence ao “depósito da Revelação” que o próprio Jesus, através dos seus Apóstolos e evangelistas, deixou à sua Igreja.

2. Jesus revelou gradualmente esta verdade no seu ensinamento pré-pascal. Esta encontrou depois sua realização concreta nos acontecimentos da Páscoa de Cristo em Jerusalém, certificados historicamente, mas cheios de mistério.

Os anúncios e os fatos tiveram sua confirmação sobretudo nos encontros com Cristo Ressuscitado, que os Evangelhos e Paulo relatam. É preciso dizer que o texto paulino apresenta esses encontros - nos quais se revela o Cristo Ressuscitado - de modo global e sintético - acrescentando ao final o próprio encontro com o Ressuscitado às portas de Damasco (At 9,3-6). Nos Evangelhos há anotações um tanto fragmentárias a respeito.

Não é difícil captar e comparar alguns traços característicos de cada uma dessas aparições e do seu conjunto, para chegarmos cada vez mais perto de descobrir o significado dessa verdade revelada.

3. Podemos observar antes de tudo que, depois da Ressurreição, Jesus se apresenta às mulheres e aos discípulos com seu corpo transformado, feito espiritual e participante da glória da alma: mas sem qualquer característica triunfalista. Jesus se manifesta com uma grande simplicidade. Fala como amigo aos amigos, com os quais se encontra nas circunstâncias ordinárias da vida terrena. Não quis confrontar seus adversários, assumindo a atitude de vencedor, nem se preocupou em mostrar-lhes sua “superioridade”, muito menos queria fulminá-los. Não consta sequer que os tenha encontrado. Tudo o que nos diz o Evangelho nos leva a excluir que tenha aparecido, por exemplo, a Pilatos, que o entregou aos sumos sacerdotes para que fosse crucificado (cf. Jo 19,16), ou a Caifás, que rasgou as vestes diante da afirmação da sua divindade (Mt 26,63-66).

Aos privilegiados por suas aparições, Jesus se dá a conhecer na sua identidade física: aquele rosto, aquelas mãos, aqueles traços que conheciam bem, aquele lado que viram transpassado, aquela voz que tantas vezes escutaram. Só no encontro com Paulo próximo a Damasco a luz que circunda o Ressuscitado quase cega o ardente perseguidor dos cristãos e o lança ao solo (cf. At 9,3-8): mas é uma manifestação do poder d’Aquele que, já elevado ao céu, impressiona um homem do qual quer fazer um “instrumento de eleição” (v. 15), um missionário do Evangelho.

4. Notemos também um fato significativo: Jesus Cristo aparece primeiro às mulheres, suas fiéis seguidoras, e não aos discípulos e aos próprios Apóstolos, apesar de tê-los escolhido como portadores do seu Evangelho ao mundo. Às mulheres Ele confia por primeiro o mistério da sua Ressurreição, fazendo delas as primeiras testemunhas dessa verdade. Talvez quisesse premiar sua delicadeza, sua sensibilidade à sua mensagem, sua fortaleza que impulsionou até o Calvário. Talvez quisesse manifestar um delicado traço da sua humanidade, que consiste na amabilidade e na gentileza com quem se aproxima e que beneficia as pessoas que menos contam no grande mundo do seu tempo. É o que parece resultar de um texto de Mateus: “O próprio Jesus veio ao encontro delas (das mulheres que corriam para levar o anúncio aos discípulos) e disse-lhes: ‘Alegrai-vos!’. Elas se aproximaram e, abraçando seus pés, prostraram-se diante d’Ele. Jesus lhes disse: ‘Não tenhais medo. Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam à Galileia. Lá me verão’” (Mt 28,9-10).

Também o episódio da aparição a Maria Madalena (Jo 20,11-18) é de extraordinária sutileza, seja por parte da mulher, que revela toda a sua apaixonada e serena entrega ao seguimento de Jesus, seja por parte do Mestre, que a trata com requintada delicadeza e benevolência.

Nesta prioridade das mulheres nos acontecimentos pascais deverá inspirar-se a Igreja, que ao longo dos séculos pôde contar enormemente com elas para sua vida de fé, de oração e de apostolado.

5. Algumas características desses encontros pós-pascais os tornam de certo modo paradigmáticos, devido às situações espirituais que tantas vezes se criam na relação do homem com Cristo, quando se sente chamado ou “visitado” por Ele.

Antes de tudo há uma dificuldade inicial em reconhecer Cristo por parte daqueles que o encontram, como vemos no caso da própria Madalena (Jo 20,14-16) ou dos discípulos de Emaús (Lc 24,16). Não falta certo sentimento de temor diante d’Ele: o amamos, o buscamos, mas, quando o encontramos, experimentamos certa hesitação...

Mas Jesus conduz gradualmente ao reconhecimento e à fé tanto Maria Madalena (Jo 20,16) como os discípulos de Emaús (Lc 24,26ss) e, analogamente, os outros discípulos (cf. Lc 24,25-48). Sinal da paciente pedagogia de Cristo ao revelar-se ao homem, ao atrai-lo, ao convertê-lo, ao levá-lo ao conhecimento das riquezas do seu coração e à salvação.

6. É interessante analisar o processo psicológico que os diversos encontros deixam entrever: os discípulos experimentam certa dificuldade em reconhecer não só a verdade da Ressurreição, mas também a identidade d’Aquele que está diante deles e aparece como o mesmo, mas também como outro: um Cristo “transformado”. Não é fácil para eles fazer uma identificação imediata. Intuem, sim, que é Jesus, mas ao mesmo tempo sentem que Ele não se encontra mais na condição anterior, e diante d’Ele são tomados de reverência e temor.

Quando se dão conta, com sua ajuda, de que não se trata de outro, mas d’Ele mesmo transformado, brota neles uma nova capacidade de descoberta, de inteligência, de caridade e de fé. É como um despertar de fé: “Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos abria as Escrituras?” (Lc 24,32); “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28); “Vi o Senhor” (v. 18). Então uma luz absolutamente nova ilumina aos seus olhos também o acontecimento da Cruz, e dá o verdadeiro e pleno sentido daquele mistério de dor e de morte, que se conclui na glória da vida nova! Este será um dos elementos principais da mensagem de salvação levado pelos Apóstolos desde o início ao povo judeu e, pouco a pouco, a todos os povos.

7. É preciso destacar uma última característica das aparições do Cristo Ressuscitado: nelas, especialmente nas últimas, Jesus realiza a definitiva entrega aos Apóstolos (e à Igreja) da missão de evangelizar o mundo para levar-lhe o anúncio da sua Palavra e o dom da sua graça.

Recordemos a aparição aos discípulos no Cenáculo na tarde da Páscoa: “Como o Pai me enviou, Eu também vos envio” (Jo 20,21): e lhes dá o poder de perdoar os pecados!

E na aparição no mar de Tiberíades, seguida da pesca milagrosa, que simboliza e anuncia a fecundidade da missão, é evidente que Jesus quer orientar o seus espírito para a obra que lhes espera (cf. Jo 21,1-23). Confirma-o a entrega definitiva da particular missão a Pedro: “Tu me amas?... Tu sabes que te amo... Apascenta meus cordeiros... Apascenta minhas ovelhas...” (vv. 15-18).

João observa que “esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, se manifestou aos discípulos” (v. 14). Desta vez eles não só se deram conta da sua identidade: “É o Senhor!” (v. 7), mas também compreenderam que tudo o que tinha acontecido naqueles dias pascais comprometia cada um deles - e Pedro de modo particular - na construção da nova era da história, a qual teve início naquela manhã de Páscoa.


Aparição do Ressuscitado aos Apóstolos
(Duccio)

Tradução nossa a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé (01 de fevereiro e 22 de fevereiro de 1989). 

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