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quarta-feira, 30 de março de 2022

Dom Henrique Soares da Costa: Paixão segundo Lucas 13-14

“Mas eles gritavam: Crucifica-O! Crucifica-O!” (Lc 23,21).

Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas

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Paixão segundo Lucas XIII: Lc 23,8-12

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-Lo. Já ouvira falar a Seu respeito e esperava vê-Lo fazer algum milagre. Ele interrogou-O com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu. Os sumos sacerdotes e os escribas estavam presentes e O acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou Dele, vestiu-O com uma roupa vistosa e mandou-O de volta a Pilatos. Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos (Lc 23,8-12).

Herodes desejava conhecer Jesus, ver um milagre Seu, presenciar um show, um espetáculo, talvez um show da fé... Trata-se de um conhecimento exterior, sem amor, sem adesão. Um conhecimento assim não tem serventia alguma para o Reino de Deus e para a salvação.

Conhece Jesus quem crê n’Ele, conhece Jesus quem a Ele adere com toda a vida, conhece Jesus quem O ama e se dispõe a segui-Lo! Qualquer outro conhecimento, o de Herodes, o do filósofo descrente, o do teólogo racionalista e soberbo, o do ministro sagrado sem devoção e relativista, à procura de aprovação e aplauso do mundo, o do estudante de teologia sem unção, o do cristão sem piedade, é um conhecimento exterior, insuficiente, distorcido, falso; não passa de despiste, de fraude, de embuste!

Pilatos condena Jesus à morte - Duccio di Buoninsegna

Por isso mesmo, para Herodes não haverá milagre algum - não se pode encomendar milagre, não se pode fazer do milagre um show ou um circo! O nosso Senhor não Se presta a isto! Herodes não terá milagre e nem mesmo uma única palavra de Cristo, uma única resposta! O Senhor não responde a quem o indaga de modo soberbo e ímpio: para esses, Deus Se cala, Deus a esses lhe esconde o Rosto...

Herodes dispensa Jesus com uma roupa lustrosa, ridícula, de rei-palhaço... O Senhor mantém-Se silencioso. Quanta dignidade ante a superficialidade e a vulgaridade de Herodes e do mundo atual, que brinca com Deus e ridiculariza a fé cristã.

E naquele dia, na maldade, Pilatos e Herodes tornam-se amigos... Mas, que amizade, essa, fundada na maldade, na injustiça, nos interesses escusos; maldade tão diversa daquela que Cristo nos propõe: “Já não vos chamo servos, mas amigos!” (Jo 15,15). Amizade verdadeira é a de Cristo e em Cristo, que enche nosso coração, que dá alento e sentido à nossa vida.

- Obrigado, Jesus, pela Tua amizade! Para que eu fosse Teu amigo, foste levado a Pilatos, foste conduzido a Herodes, foste ridicularizado e tratado como um louco! Obrigado, Jesus, pelo que sofreste por mim!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Paixão segundo Lucas XIV: Lc 23,13-25

Então Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e lhes disse: “Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já O interroguei diante de vós e não encontrei Nele nenhum dos crimes de que O acusais; nem Herodes, pois O mandou de volta para nós. Como podeis ver, Ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-Lo e O soltarei”. Toda a multidão começou a gritar: “Fora com Ele! Solta-nos Barrabás!” Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cidade e por homicídio. Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-O! Crucifica-O!” E Pilatos falou pela terceira vez: “Que mal fez este homem? Não encontrei Nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-Lo e O soltarei”. Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles aumentava sempre mais. Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam - aquele que fora preso por revolta e homicídio - e entregou Jesus à vontade deles (Lc 23,13-25).

Pilatos tinha consciência de que Jesus era inocente daquelas acusações políticas que Lhe faziam. Pressentia claramente que a questão era religiosa, disputas teológicas entre judeus. Por isso desejava libertar Jesus. Lucas, aqui, na sua narrativa, é muito incompleto. É preciso recorrer aos outros evangelhos, sobretudo aquele de João. Não foi o povo quem propôs que se soltasse Barrabás. Foi uma estratégia de Pilatos: Barrabás era um bandido perigoso, provavelmente temido e odiado. Se fosse colocado ao lado de Jesus, certamente o povo escolheria que se soltasse Jesus. Pilatos estava enganado. O ódio contra Jesus tinha sido bem disseminado. É tão fácil manipular a opinião das massas, é tão fácil tornar um inocente em alguém execrável. Basta a técnica, bastam pessoas sujas de intenções e consciência e meios de comunicação bem conjugados e igualmente sujos... E, assim, a multidão preferiu Barrabás, um bandido perigoso, a Jesus, o Inocente, o manso Cordeiro!

Há ainda um detalhe que Lucas não apresenta. Não foi uma simples gritaria que fez Pilatos entregar Jesus. A gritaria poderia ser resolvida a golpes de cacetetes pelos guardas. Certamente, Pilatos não tinha medo de gritaria... A questão foi outra, a trama foi bem armada pelos homens do Sinédrio de Israel: “Se O soltas não és amigo de César! Todo o que se faz rei é inimigo de César!” (Jo 19,12). Os judeus colocaram Pilatos numa armadilha! Aqui existe uma ameaça velada a Pilatos: “Se tu soltares este homem, te denunciaremos a César, te acusaremos de fraqueza, de não defenderes os interesses do Imperador, deixando solto um perigoso revoltoso...” E Pilatos, covardemente, entregou Aquele que ele sabia inocente, para ser crucificado!

Tocamos, meu caro irmão, como que apalpando, o mal do mundo! Não, não! O mundo não é bonzinho e a existência humana não é um passeio! Há o mal, tremendo, há a mentira, há a treva, há o cego ódio do coração humano, há interesses porcos, inconfessáveis, inclusive em muitos corações de gente de Igreja! Não foi à toa que o Cristo precisou morrer! Não foi por nada que o nosso Salvado nos ensinou a pedir ao Pai que nos livrasse do Maligno! Não foi por acaso que a salvação do mundo teve que passar pelo drama tão tremendo da Cruz e Morte do Senhor da Vida! “Vigiai e orai para que não entreis em tentação! É a vossa hora e do poder das trevas! Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro Me odiou a Mim!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!

Dom Henrique venera a Cruz

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