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segunda-feira, 14 de março de 2022

Ângelus: II Domingo da Quaresma - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 13 de março de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia deste II Domingo de Quaresma narra a Transfiguração de Jesus (Lc 9,28-36). Enquanto Ele reza no alto de um monte, muda de aparência, a sua veste torna-se branca e radiante, e na luz da sua glória aparecem Moisés e Elias, que falam com Ele da Páscoa que o espera em Jerusalém, ou seja, da sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Testemunhas deste acontecimento extraordinário são os Apóstolos Pedro, João e Tiago, que subiram ao monte com Jesus. Imaginamo-los com os olhos bem abertos diante daquele espetáculo único. E deve ter sido certamente assim. Mas o evangelista Lucas observa que «Pedro e os seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono» e que «ao despertar» viram a glória de Jesus (cf. v. 32). O sono dos três discípulos aparece como uma nota discordante. Os próprios Apóstolos também adormeceram no Getsêmani, durante a oração angustiada de Jesus, que lhes tinha pedido para vigiarem (cf. Mc 14,37-41). Esta sonolência em momentos tão importantes é surpreendente.

No entanto, se lermos com atenção, vemos que Pedro, João e Tiago adormecem antes do início da Transfiguração, ou seja, precisamente enquanto Jesus rezava. O mesmo acontecerá no Getsêmani. Trata-se evidentemente de uma oração que durou muito tempo, em silêncio e recolhimento. Podemos pensar que no início também eles estavam a rezar, até que o cansaço, o sono, prevaleceu.

Irmãos, irmãs, este sono inoportuno não se assemelha a tantos dos nossos sonos que chegam até nós durante tempos que sabemos serem importantes? Talvez à noite, quando gostaríamos de rezar, para transcorrer algum tempo com Jesus depois de um dia passado em mil corridas e compromissos. Ou quando é tempo de trocar algumas palavras com a família e já não temos força para isso. Gostaríamos de estar mais despertos, atentos, partícipes para não perder oportunidades preciosas, mas não conseguimos, ou conseguimos de algum modo, mas pouco.

O tempo forte da Quaresma é uma oportunidade neste sentido. É um período em que Deus quer acordar-nos da letargia interior, desta sonolência que não permite que o Espírito se expresse. Porque - lembremo-nos bem - manter desperto o coração não depende apenas de nós: é uma graça, e deve ser pedida. Isto é demonstrado pelos três discípulos no Evangelho: eram bons, seguiram Jesus ao monte, mas com as próprias forças não conseguiam ficar acordados. Isto também acontece a nós. Mas eles acordam precisamente durante a Transfiguração. Podemos pensar que foi a luz de Jesus que os despertou. Como eles, também nós precisamos da luz de Deus, que nos faz ver tudo de forma diversa; atrai-nos, desperta-nos, reacende o desejo e a força de rezar, de olhar para dentro de nós mesmos, e de dedicar tempo aos outros. Podemos superar o cansaço do corpo com a força do Espírito de Deus. E quando não o podemos superar, devemos dizer ao Espírito Santo: “Ajuda-nos, vem Espírito Santo. Ajuda-me: quero encontrar Jesus, quero estar atento, desperto”. Peçamos ao Espírito Santo que nos salve desta sonolência que nos impede de rezar.

Neste tempo quaresmal, após o trabalho de cada dia, nos fará bem não apagar a luz do nosso quarto sem estarmos na luz de Deus. Rezar um pouco antes de dormir. Demos ao Senhor uma oportunidade de nos surpreender e despertar o coração. Podemos fazer isto, por exemplo, abrindo o Evangelho, deixando-nos surpreender pela Palavra de Deus, pois a Escritura ilumina os nossos passos e faz arder o coração. Ou podemos olhar para o Crucifixo e maravilhar-nos com o amor louco de Deus, que nunca se cansa de nós e tem o poder de transfigurar os nossos dias, de lhes dar um novo significado, uma luz diferente, uma luz inesperada.

Que a Virgem Maria nos ajude a manter o coração desperto para acolher este tempo de graça que Deus nos oferece.

Transfiguração (Rafael)

Fonte: Santa Sé.

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