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sábado, 4 de setembro de 2021

Homilia: XXIII Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santo Efrém
Sermão sobre nosso Senhor
Aquele que preenche a deficiência das criaturas possui a maestria do Criador

O intangível Poder desceu e se recobriu de membros que se podem tocar, para que os necessitados pudessem aproximar-se d’Ele, e, ao tocar sua humanidade, conseguissem perceber a sua divindade. Aquele surdo-mudo sentiu os dedos da carne que se aproximaram de seus ouvidos e tocaram a sua língua; porém, mediante os dedos que podem ser tocados, tocou a intangível divindade, quando esta desatou a sua língua e abriu as portas dos ouvidos lacrados.

De fato, o construtor do corpo, o artífice do organismo, veio a ele, e com sua suave voz, sem dor fez uma abertura nos ouvidos obstruídos. E a boca fechada, que não podia produzir a palavra, deu à luz o louvor d’Aquele que tinha tornado fecunda sua esterilidade com o nascimento das palavras. Pois o mesmo que deu a Adão a capacidade de falar em um instante, sem necessidade de instrução, concedeu aos mudos que pudessem falar facilmente línguas que só se aprendem com dificuldade.

Vede, outra questão vem à luz: perguntemo-nos com que línguas nosso Senhor deu o poder de falar aos mudos, que recorriam a Ele de todas as línguas. Porém, se isto é fácil de saber, voltemo-nos a algo maior que isto, isto é, a reconhecer que o primeiro homem foi criado através do Filho. Realmente, no fato de que por meio d’Ele foi dada a palavra aos mudos, filhos de Adão, conhecemos que por meio d’Ele foi concedia a palavra a Adão, seu primeiro pai. Também aqui uma natureza deficiente recebe sua plenitude de nosso Senhor. Na realidade é claro que quem é capaz de levar à plenitude uma deficiência da natureza, tem em sua mão a plenitude da natureza.

Entretanto, não há deficiência maior que quando um homem nasce mudo. Pois se graças à palavra estamos acima de todas as criaturas, o defeito da palavra é maior que todos os defeitos, e, em consequência, Aquele por meio de quem se repara esta grande deficiência, está claro que por Ele se sustenta toda plenitude. Porque por meio d’Ele os membros recebem ocultamente toda plenitude no seio materno, pode um defeito deles ser levado à plenitude à luz do dia, para que aprendamos que, no princípio, se compôs por meio d’Ele todo o organismo.

Colocou saliva em seus dedos e a depositou nos ouvidos do surdo, assim como amassou barro com saliva e esfregou nos olhos do cego, para que aprendamos que, assim como a deficiência que havia nas pupilas daquele cego tinha origem no seio de sua mãe, assim também era a deficiência que havia nos ouvidos deste. Com o fermento, pois, de seu corpo perfeito foi preenchida a deficiência de nossa massa.
Não estava bem que nosso Senhor dividisse algum membro de seu corpo para preencher a deficiência de outros corpos, porém com algo que facilmente podia ser tomado de seu corpo preencheu a deficiência dos defeituosos. Preencheu, portanto, a deficiência, e deu a vida aos mortos, para que aprendêssemos que a deficiência dos defeituosos se preenche do Corpo em que habitava a plenitude, e que a vida se dava aos mortais daquele mesmo Corpo no qual habitava a vida.

Os profetas haviam feito todo tipo de sinais, porém jamais preencheram uma deficiência dos membros. A deficiência corporal estava reservada para que fosse preenchida por nosso Senhor, e assim os homens pudessem compreender que todo defeito é reparado por Ele. Os capazes de discernimento deviam perceber que Aquele que preenche a deficiência das criaturas possui a maestria do Criador.

Enquanto nosso Senhor estava na terra, concedeu aos surdos a graça de poderem ouvir e a capacidade de falar algumas línguas que não aprenderam a falar, para que se reconhecesse que é Ele quem, após sua exaltação, deu aos discípulos a capacidade de falar em todas as línguas.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 416-462. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Beda, o Venerável, para este domingo, clique aqui.

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