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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Homilia: Corpus Christi - Ano B

São João Crisóstomo
Sermão sobre o Evangelho de São Mateus
Tenho desejado ardentemente comer esta comida pascal

Durante a ceia, tomou o pão e o partiu. Por que instituiu este mistério durante a Páscoa? Para que se conclua de todos os seus atos que Ele foi o legislador do Antigo Testamento, e que todas as coisas que nele se contêm foram esboçadas em vista à nova aliança. Por isso, onde estava a figura, Cristo entronizou a verdade. A tarde era o símbolo da plenitude dos tempos e indicava que as coisas já estavam chegando ao seu fim. Pronunciou a bênção, ensinando-nos como nós temos de celebrar este mistério, mostrando que não vai coagido para a Paixão, e preparando-nos para que tudo quanto soframos o saibamos suportar com ação de graças, e tirando do sofrimento um avigoramento da esperança.

Pois se já o tipo ou a figura foi capaz de libertar de tão grande escravidão, com mais razão libertará a verdade ao redor da terra e resultará em benefício de nossa raça. Por isso Cristo não instituiu este mistério antes, mas tão somente no momento em que estavam para cessaras prescrições legais. Aboliu a mais importante das solenidades judaicas, convocando os judeus em torno a outra mesa, muito mais santa, e disse: Tomai e comei: isto é meu Corpo, que será entregue por vós.

E como não se perturbaram ao ouvir isto? Porque anteriormente Cristo já lhes tinha dito muitas e grandiosas coisas deste mistério. Por isso agora Ele não se estende em explicações, porque já tinham escutado bastante sobre esta matéria. Apesar disso, sei que lhes diz qual é a causa da Paixão: o perdão dos pecados. Chama a seu Sangue “sangue da nova aliança”, ou seja, da promessa e da nova lei. De fato, isto é o que antigamente já tinha prometido e o confirma a nova aliança. E assim como a antiga aliança ofereceu ovelhas e novilhos, a nova oferece o Sangue do Senhor. Esta passagem também insinua que Ele tinha que morrer; por isso fez alusão ao testamento e menciona também o antigo. Daí que também não faltasse sangue na inauguração da primeira aliança. Novamente declara: Que será derramado por muitos para o perdão dos pecados. E acrescenta: Fazei isto em minha memória.

Não percebes como retrai e afasta os seus discípulos dos ritos judaicos? Que é como se dissesse: Vós celebrais aquela ceia em comemoração dos prodígios operados no Egito; celebrai a nova ceia em minha comemoração. Aquele sangue foi derramado para salvar os primogênitos; este, para o perdão dos pecados de todo o mundo. Este é o meu Sangue, diz, que será derramado para o perdão dos pecados. Disse isto, sem dúvida, tanto para demonstrar que a Paixão e a Morte são um mistério, como para, desta forma, consolar novamente aos seus discípulos. E, assim como Moisés disse: É lei perpétua para vós, assim Ele também disse: Em minha comemoração, até que Eu volte. Por isso afirma: Tenho desejado ardentemente comer esta comida pascal; ou seja, desejei entregar-vos esta nova realidade, dar-vos uma Páscoa com a qual vos convertereis em homens espirituais.

E Ele mesmo bebeu também dele. Para evitar que, ao ouvir estas palavras, replicassem: “Como? Vamos beber sangue e comer carne?”, e se escandalizassem - pois, falando em outra ocasião deste tema, muitos se escandalizaram de suas palavras; pois bem, para que não tivessem motivo de escândalo, Ele é o primeiro em dar o exemplo, induzindo-os a participar nestes mistérios com o espírito tranquilo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 518-519. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler outra homilia de São João Crisóstomo para esta Solenidade, clique aqui.

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