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sexta-feira, 7 de maio de 2021

XXXII Catequese do Papa sobre a oração

Dando continuidade às suas Catequeses sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, dentro do bloco das “expressões da oração”, o Papa Francisco refletiu na última quarta-feira sobre a oração de contemplação (nn. 2709-2719):

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 05 de maio de 2021
A oração (32): A oração contemplativa

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos as catequeses sobre a oração e, nesta catequese, gostaria de me concentrar na oração de contemplação.
A dimensão contemplativa do ser humano - que ainda não é a oração contemplativa - é um pouco como o “sal” da vida: dá sabor, dá gosto aos nossos dias. Podemos contemplar olhando de manhã para o nascer do sol, ou para as árvores que se vestem  de verde na primavera; podemos contemplar ouvindo música ou o canto dos pássaros, ao ler um livro, diante de uma obra de arte ou daquela obra-prima que é o rosto humano... Carlo Maria Martini, enviado como Bispo para Milão, intitulou a sua primeira Carta Pastoral “A dimensão contemplativa da vida”: de fato, quem  vive numa grande cidade, onde tudo - podemos dizer - é artificial, tudo é funcional, corre o risco de perder a capacidade de contemplar. Antes de tudo, contemplar não é um modo de fazer, mas um modo de serser contemplativo.
Ser contemplativo não depende dos olhos, mas do coração. E nisto entra em jogo a oração, como um ato de fé e amor, como “respiro” da nossa relação com Deus. A oração purifica o coração e, com ele, ilumina também o olhar, permitindo que captemos a realidade sob outro ponto de vista. O Catecismo descreve esta transformação do coração através da oração, citando um famoso testemunho do Santo Cura d’Ars: «A contemplação é o olhar da fé, fixado em Jesus. “Eu olho para Ele e Ele olha para mim” - dizia, no tempo do seu santo Cura, um camponês de Ars em oração diante do sacrário. (...) A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos do nosso coração; ensina-nos a ver tudo à luz da sua verdade e da sua compaixão para com todos os homens» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2715). Tudo nasce disto: de um coração que se sente visto com amor. Então a realidade é contemplada com olhos diferentes.
“Eu olho para Ele, e Ele olha para mim!”. Pois bem: na contemplação amorosa, típica da oração mais íntima, não há necessidade de muitas palavras: basta um olhar, basta estarmos convencidos de que a nossa vida está rodeada por um grande e fiel amor do qual nada nos pode separar.
Jesus era um mestre deste olhar. Na sua vida nunca faltaram os tempos, os espaços, os silêncios, a comunhão amorosa, que permite que a existência não seja devastada pelas provações inevitáveis, mas que a sua beleza seja preservada intacta. O seu segredo era a relação com o Pai celestial.
Pensemos no evento da Transfiguração. Os Evangelhos situam este episódio num momento difícil da missão de Jesus, quando aumentam à sua volta a contestação e a rejeição. Até muitos dos seus discípulos não o compreendem e vão embora; um dos Doze concebe pensamentos de traição. Jesus começa a falar abertamente do sofrimento e da morte que o espera em Jerusalém. É neste contexto que Jesus sobe a um monte elevado com Pedro, Tiago e João. O Evangelho de Marcos diz: «Transfigurou-se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura, que lavadeira alguma sobre a terra as poderia branquear assim» (Mc 9,2-3). Precisamente no momento em que Jesus é mal compreendido ­- iam embora, deixavam-no sozinho porque não o compreendiam, neste momento no qual não o compreendem - precisamente quando tudo parece estar desfocado num turbilhão de desentendimentos, então resplandece uma luz divina. É a luz do amor do Pai, que enche o coração do Filho e transfigura toda a sua Pessoa.
Alguns mestres de espiritualidade do passado compreenderam a contemplação em oposição à ação, e exaltaram aquelas vocações que fogem do mundo e dos seus problemas, a fim de se dedicarem inteiramente à oração. Na realidade, em Jesus Cristo, na sua pessoa e no Evangelho não há oposição entre a contemplação e a ação, não. No Evangelho, em Jesus não há contradição.  Isto veio provavelmente da influência de algum filósofo neoplatônico, mas é certamente um dualismo que não pertence à mensagem cristã.
Há apenas uma grande chamada no Evangelho, que é seguir Jesus no caminho do amor. Este é o ápice e o centro de tudo. Neste sentido, caridade e contemplação são sinônimos, dizem a mesma coisa. São João da Cruz afirmava que um pequeno gesto de amor puro é mais útil para a Igreja do que todas as outras obras juntas. O que nasce da oração e não da presunção do nosso ego, o que é purificado pela humildade, mesmo que seja um gesto de amor isolado e silencioso, é o maior milagre que um cristão pode realizar. E este é o caminho da oração de contemplação: eu olho para Ele, Ele olha para mim! Esta ação de amor em diálogo silencioso com Jesus faz tão bem à Igreja.


Fonte: Santa Sé

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