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domingo, 4 de abril de 2021

Homilia: Domingo de Páscoa

Santo Epifânio de Salamina
Sermão 3 (atribuído) sobre a Ressurreição de Cristo
Mistérios antigos e novos

Este é o dia em que o Senhor agiu: seja nossa alegria espiritual e rejubilemo-nos n’Ele com divina alegria. Para nós, realmente esta é a festa das festas, a festa do mundo inteiro que celebra, como em única solenidade, a consagração e a salvação universal. Neste dia tem o seu cumprimento todo tipo de figuras, sombras e profecias. Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, ou seja, a verdadeira Páscoa, e o que vive com Cristo é uma criatura nova; o que vive com Cristo possui uma nova fé, novas leis, é o novo povo de Deus; o novo, sim, não o velho Israel; nova é a Páscoa, nova e espiritual é a circuncisão, novo e incruento o sacrifício, novo e divino o testamento.

Renovai-vos no dia de hoje, renovai-vos por dentro com espírito firme, para que vos seja dado perceber os mistérios desta nova e verdadeira festa e possais desfrutar profundamente das delícias celestiais; para que sejais iluminados e iniciados, não pelos da antiga, mas pelos indeléveis e sempre vigentes símbolos da nova Páscoa; para que conheçais a grande diferença existente entre nossos mistérios e os do povo judeu, assim como a distância que existe entre a figura e a realidade. Seja, portanto, tal confrontação o ponto de partida desta nossa reflexão e contemplação sobre o mistério da Páscoa e da Ressurreição de Cristo.

Assim como no passado e para a salvação do povo Moisés foi enviado por Deus como legislador desde o sublime monte para esboçar um avanço da lei, assim também Aquele que é a própria verdade, legislador, Deus e Senhor, foi enviado por Deus, o monte pelo monte, desde as montanhas celestes, para a salvação de nosso povo. Moisés redimiu nosso povo do faraó e dos egípcios; Cristo o libertou do diabo e da servidão dos demônios. Moisés alcançou a paz entre dois de seus irmãos que estavam brigando; Cristo reconciliou entre si aos seus dois povos e uniu o céu com a terra. No passado, a filha do faraó, quando foi banhar-se, encontrou Moisés e o adotou; por outro lado, a Igreja de Cristo - que também é sua filha -, ao descer às águas batismais, recebe a Cristo: porém, não como Moisés, resgatado da cesta de vime com a idade de três meses, mas, em vez de Moisés, recebe a Cristo saído do sepulcro ao terceiro dia.

No passado, Israel celebrou a Páscoa em figura e de noite; mas agora celebramos a Páscoa em um dia de luz e de esplendor. No passado, ao declinar o dia; agora, ao entardecer e no ocaso dos tempos. No passado, com o sangue se aspergiram as ombreiras e o dintel das casas; agora, com o sangue de Cristo são selados os corações dos crentes. Naquela ocasião, de noite se matou ao cordeiro e de noite atravessaram o Mar Vermelho; agora, por sua vez, dispomos da salvação e de um mar batismal esplêndido e vermelho, que reluz com o fulgor do Espírito; mar sobre o qual realmente esvoaçava o Espírito de Deus; mar no qual se percebe sua presença; mar em cujas águas foi abatida a cabeça do dragão; ainda mais: a cabeça do príncipe dos dragões, ou seja, dos satélites do diabo. Naquela ocasião, Moisés lavou aos israelitas com um batismo noturno, e uma nuvem cobriu o povo; mas ao povo de Cristo a força do Altíssimo o cobre com sua sombra. Naquela ocasião, ao ser libertado o povo, Maria, a irmã de Moisés, dirigiu a dança; agora, libertado o povo dos gentios, a Igreja de Cristo celebra festejos com todas as suas igrejas.

Naquela ocasião Moisés se abrigou junto a uma rocha natural; agora o povo se abriga junto à rocha da fé. No passado, foram quebradas as pedras da lei, o que foi indício de uma lei chamada a perecer e a envelhecer; agora, as leis divinas se mantêm íntegras e invioladas. Naquele tempo, para castigo do povo, fabricou-se um bezerro fundido; agora, para salvação do povo, é imolado o Cordeiro de Deus. No passado, a rocha foi golpeada por uma vara; mas agora uma lança transpassa o lado de Cristo, que é a verdadeira rocha. Então, da rocha brotou água; agora, do lado vivificante de Cristo manou sangue e água. Eles receberam do céu a carne de codornizes; nós recebemos do alto a pomba do Espírito Santo. Eles comeram o maná temporal e morreram; nós comemos o pão que dá a vida eterna.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 341-342. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de Eusébio de Cesareia para este domingo, clique aqui.

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