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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Formações sobre o Missal (6): Uma catequese mistagógica

Prossegue nossa série com a tradução do subsídio “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do Missal Romano. Esta postagem está dedicada ao tema da mistagogia, palavra que significa "conduzir ao mistério".

6. Uma catequese mistagógica

O Missal (...), junto aos outros livros em uso na Celebração Eucarística, está a serviço do mistério que constitui a fonte e o ápice de toda a vida cristã. Desta consciência deriva a importância de promover e encorajar uma ação pastoral que visa valorizar o conhecimento e o bom uso do livro litúrgico, sobre a dupla vertente da celebração e do seu aprofundamento na mistagogia (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 5).

A Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis do Papa Bento XVI (2007) articula a catequese de caráter mistagógico em torno de três núcleos: a interpretação da Celebração Eucarística à luz dos acontecimentos salvíficos; a introdução ao sentido dos sinais contidos na Eucaristia; o significado dos ritos em relação à vida cristã (cf. n. 64). Em cada uma dessas dimensões a referência ao Missal é determinante para compreender o sentido profundo do mistério eucarístico a partir da sua celebração concreta: “a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada” (ibid.).

Os discípulos de Emaús: um itinerário mistagógico

Mistagogia como celebração

Na celebração, a experiência concreta precede sempre a reflexão sobre ela. Daí decorre a necessidade, para apreender o seu sentido profundo, de introduzir diretamente às modalidades nas quais o rito ocorre. Disto derivam duas consequências interessantes, de relevância também prática.
A primeira consequência importante de tal abordagem da mistagogia é aquela pela qual o tempo no qual “ocorre” a experiência celebrativa não deve coincidir com aquele em que se pode e se deve falar. O momento da Missa e aquele da Catequese não podem sobrepor-se nem são intercambiáveis entre si, mas são ambos necessários. A “explicação” de “o que” se celebra e de “como” participar de um rito deve acontecer “em outro lugar” no que diz respeito ao acontecimento do rito.
A segunda consequência da abordagem mistagógica está relacionada com a importância de “entrelaçar” os diversos momentos formativos em torno do centro celebrativo. Em busca de um método formativo respeitoso à natureza da Eucarística e à prática iniciática que ela requer, propomos articular a catequese mistagógica sobre a Eucaristia em torno de três verbos: introduzir, exercitar, retomar.

Introduzir

Para entrar na experiência viva e frutuosa da Celebração Eucarística é importante introduzir ao sentido global do rito eucarístico e às formas em que ele ocorre. Neste nível é útil responder a pergunta sobre o “por que” celebrar o rito eucarístico e sobre o “que” esperar dele, assim como reforçar as razões para participar do rito e orientar as expectativas para ele. Quanto à introdução às modalidades da experiência, é necessário que se conheça, pelo menos resumidamente, o que se deve “fazer” no rito, para assim poder participar de modo adequado.

Exercitar

Celebrar aprende-se celebrando. É a atenção ao ato celebrativo que constitui a porta de entrada para a capacidade de celebrar. Aqui surge a necessidade de criar um “tecido” de experiências celebrativas de um extremo a outro do verdadeiro e próprio rito comunitário: um “tecido” que se apoie necessariamente na celebração, mas que também seja “enxertado” em outras experiências rituais. A eficácia de uma iniciação à experiência celebrativa se fundamenta sobre a sábia e contínua integração do elemento celebrativo com as outras dimensões da formação. A celebração não possui um caráter simplesmente ilustrativo ou didático: propor formas de experiência ritual no itinerário catequética possui uma intrínseca relevância pedagógica e “iniciática”, na intersecção dos gestos sacramentais do rito com os gestos simbólicos da vida.

Retomar

Para deixar-se plasmar pelo rito não é suficiente apenas a sua execução pontual.  Não se trata, com efeito, apenas de conhecê-lo, mas de compreendê-lo de modo adequado e, para atingir este último objetivo, não basta apenas a sua repetição mais ou menos frequente. A apropriação de um rito acontece sempre de maneira historicamente determinada, ou seja, correspondente à maturidade humana e cristã, à cultura e à experiência de vida, de quem, aqui e agora, realiza e vive o rito. Por este motivo, o exercício ritual deve ser acompanhado de uma retomada mistagógica, capaz de reler a experiência vivida em relação aos eventos salvíficos narrados na Escritura e em relação aos eventos da vida, que se deixam iluminar pelo sacramento.

Um exemplo: a Liturgia da Palavra

Introduzir: Deus, também hoje, nos fala e tem algo de importante a dizer para a nossa vida. Sua palavra interpela e aguarda uma resposta. Limitar-se, porém, a dizer simplesmente “Deus nos fala” não é suficiente. O problema está no significado concreto do verbo “falar”, que, embora possa ser claro quando em relação à ação de pessoas humanas, não o é quando atribuído a Deus. Quem, de fato, já ouviu a voz de Deus com os próprios ouvidos? Para que a fórmula não permaneça apenas teórica, é necessário que todos sejam introduzidos com paciência na experiência de uma escuta pessoal e comunitária da Palavra de Deus, na qual cada um aprenda a descobrir que verdadeiramente ela pode “falar” a cada um e como isso acontece. A Liturgia da Palavra, através do seu dinamismo de proclamação, aclamação e veneração, está estruturada de modo que a própria pessoa experimente que Deus entra em relação conosco e nos fala.

Exercitar: Se nos interrogamos sobre o modo mais apropriado para introduzir a Liturgia da Palavra de forma experiencial, no contexto da Catequese e em vista do momento da sua celebração efetiva, notamos que existem experiências prévias que devem ser vividas antes de aproximar-se da Liturgia da Palavra e da forma como ela ocorre: a educação ao silêncio e à escuta; a introdução a um método acessível com o qual concretamente realizar uma leitura espiritual da Escritura, particularmente do Evangelho. Depois, será oportuno favorecer a experiência da resposta orante ao que foi ouvido: também neste caso, se realizará na medida em que as orações que iniciam ou concluem um momento de catequese tenham uma ligação temática perceptível com a Palavra que se ouvirá ou que foi ouvida. Por fim, será necessário adquirir familiaridade ritual com os principais gestos e sinais que normalmente formam parte da Liturgia da Palavra, em particular no rito do Evangelho.

Retomar: Trata-se certamente de educar para cultivar o “fazer ecoar” na vida o que foi escutado na celebração; e isso pode acontecer ao menos em duas direções: o prolongamento na oração, ou seja, mediante a retomada do texto bíblico ouvido e a sua re-expressão orante; e o prolongamento na vida vivida, ou seja, através da formulação de uma pequena (ou grande) decisão, para traduzir existencialmente o ensinamento recebido na escuta celebrativa.

"Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava?" (Lc 24,33)

Para refletir juntos:

- Onde, na prática usual da nossa comunidade, costuma acontecer a iniciação à Celebração Eucarística?
- Onde parece haver acordo e sinergia entre introdução-explicação-retomada catequética e atuação celebrativa? E onde não há?
- Quais experiências rituais no itinerário catequético podem ajudar a introduzir à experiência da Celebração Eucarística?

Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Una catechesi mistagogica. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 37-41.

Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/

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