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sábado, 28 de novembro de 2020

Homilia: I Domingo do Advento - Ano B

Santo Agostinho
Sermão 18
Guardou silêncio quando era julgado, porém não guardará quando vier para julgar

Vem o nosso Deus e não se calará. Cristo, o Senhor, Deus nosso e Filho de Deus, em sua primeira vinda se apresentou de forma velada, porém em sua segunda vinda aparecerá publicamente. Quando se apresentou de forma velada, somente se deu a conhecer aos seus servos; quando aparecer publicamente, se dará a conhecer aos bons e aos maus. Apresentando-se veladamente, veio para ser julgado; quando aparecer publicamente, virá para julgar. Por fim, quando foi julgado guardou o silêncio, e deste silêncio havia predito o profeta: Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha ante o tosquiador, emudeceu e não abriu a boca.

Porém, vem o nosso Deus e não se calará. Guardou silêncio quando era julgado, porém não guardará quando vier para julgar. Na realidade, nem mesmo agora Ele guarda silêncio se houver quem o escute; porém se disse: então Ele não se calará, quando reconhecerão a sua voz inclusive os que agora a desprezam. Atualmente, quando os mandamentos de Deus são recitados, há aqueles que se põem a rir. E como, por enquanto, o que Deus prometeu não é visível, nem é comprovável o cumprimento de suas ameaças, faz-se burla de seus preceitos. Por enquanto, até mesmo os maus desfrutam do que o mundo chama de felicidade; enquanto que a nomeada infelicidade deste mundo, sofrem-na até mesmo os bons.
Os homens que acreditam nas realidades presentes, porém não nas futuras, observam que os bens e os males da vida presente são vividos indistintamente por bons e maus. Anseiam-se pelas riquezas, e veem que entre os ricos há homens maldosos e homens de bem. E se sentem pânico ante a pobreza e as misérias deste mundo, observam igualmente que nestas misérias se debatem não somente os bons, mas também os maus. E dizem para si mesmos que Deus não se ocupa nem governa as coisas humanas, mas as têm abandonado completamente à má sorte no profundo abismo deste mundo, e não se preocupa em absoluto conosco. E passam então a desdenhar dos mandamentos, pois não veem manifestação alguma do juízo.

Porém, também agora cada um deve refletir que, quando Deus quer, observa e condena sem demora, e, quando quer, usa de paciência. E por que age assim? Porque se no presente Ele nunca exercesse seu poder judicial, se chegaria à conclusão de que Deus não existe; e se julgar tudo agora, não reservaria nada para o juízo final. A razão de diferir muitas coisas até o juízo final, e de julgar outras em seguida, é para que aqueles aos quais seja concedida uma trégua, temam e se convertam. Pois Deus não tem prazer em condenar, mas em salvar; por isso usa de paciência com os maus, para convertê-los em bons. Diz o Apóstolo que Deus revela sua reprovação de toda a impiedade, e pagará a cada um conforme as suas obras. E ao pejorativo o admoesta, o corrige e lhe diz: Como desprezas o tesouro de sua bondade, tolerância e paciência? Porque Deus é bom contigo, porque é tolerante, porque te concede a mercê de sua paciência, porque te concede tempo e não te retira do teu ambiente, desprezas e fazes pouco caso do juízo de Deus, ignorando que essa mesma bondade tem por finalidade te levar à conversão. Com a dureza do teu coração impenitente estás armazenando para ti os castigos do dia do castigo, quando então se revelará o justo juízo de Deus, pagando a cada um conforme as suas obras.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 274-275. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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