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sábado, 22 de agosto de 2020

O solidéu, o barrete e o saturno

Para acessar a postagem introdutória desta série, na qual explicamos os conceitos de vestes corais e vestes talares, clique aqui.

Nesta postagem vamos tratar de três coberturas para a cabeça que fazem parte das vestes talares e corais: o solidéu, o barrete e o saturno.

O solidéu

O solidéu (do latim soli Deo, só para Deus) é um pequeno gorro redondo de seda que se usa no alto da cabeça.


Derivado de coberturas de cabeça ordinárias, foi reduzindo de tamanho ao longo da história e adquiriu um sentido simbólico “inverso”, isto é, o solidéu em si não significa nada. Ele só tem sentido quando é retirado, pois só é removido na presença do Santíssimo Sacramento exposto e, na Sexta-feira Santa, da Santa Cruz.

Na Missa, o Bispo usa o solidéu desde o início, depondo-o logo após a oração sobre as oferendas e repondo-o antes da oração após a Comunhão [1], exceto na Missa da Ceia do Senhor e na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, quando não retoma o solidéu, uma vez que o Santíssimo Sacramento permanece sobre o altar.
  
Sobre o uso do solidéu pelos distintos membros da hierarquia:

Presbíteros, cônegos, monsenhores: Embora o Cerimonial não prescreva, podem por tradição usar o solidéu negro fora da Missa. Todos os antigos manuais de Liturgia são concordes em afirmar que os presbíteros não usam o solidéu na Missa [3];
  
Bispos: Podem usar sempre, mesmo no quotidiano, o solidéu violáceo;

Cardeais: O mesmo dos Bispos, porém com o solidéu vermelho;

Papa: Usa sempre o solidéu branco.

O barrete

Também o barrete (do latim biretum) deriva de uma cobertura de cabeça ordinária. Trata-se de um chapéu quadrado, com três palas levantadas e geralmente uma borla ao centro.


Embora o atual Cerimonial não prescreva, tradicionalmente aquele que preside uma celebração usa o barrete nos seguintes momentos:

- nas procissões de entrada e de saída, exceto se o Santíssimo Sacramento estiver exposto (como na procissão de saída de Corpus Christi);

- enquanto se está sentado, exceto se o Santíssimo Sacramento estiver exposto (por exemplo, durante a Comunhão);

- para fazer a homilia.

Os antigos manuais de Liturgia são enfáticos ao afirmar que não se usa o barrete para realizar ações sagradas [4]. Por exemplo, o presbítero não pode dar a bênção no final da Missa com o barrete, nem, administrando o Batismo, realizar a infusão da água ou as unções endossando o barrete.

Também o barrete doutoral, com quatro palas, usado pelos sacerdotes que possuem um Doutorado, é proibido na Liturgia, sendo permitido apenas fora dela.

O barrete geralmente integra as vestes corais dos diversos clérigos, podendo ser usado também com a veste talar de uso quotidiano (exceto, como veremos, os Cardeais):


Presbíteros: Barrete negro com borla também negra;

Cônegos: conforme os estatutos de cada Cabido. Se não houver, usam o barrete negro, como os presbíteros;

Monsenhores: para os Capelães de Sua Santidade o Cerimonial não especifica, ficando subentendido que poderiam usar o mesmo barrete dos presbíteros, uma vez que este é prescrito para os Monsenhores Prelados de honra;

Protonotários apostólicos numerários: são os únicos a quem o Cerimonial prescreve o barrete negro com borla vermelha;

Bispos: barrete violáceo com borla na mesma cor;

Cardeais: barrete vermelho sem borla. Por ser o sinal distintivo do Cardinalato, imposto pelo Papa na cabeça de cada Cardeal, o barrete cardinalício só pode ser usado com as vestes corais.

O saturno

Por fim, temos o saturno, um chapéu redondo de felpo preto com aba larga que é assim chamado por sua semelhança com o planeta Saturno e o anel que o rodeia.


O saturno pode ser usado em ocasiões solenes fora das celebrações litúrgicas (e nunca dentro da Liturgia) ou no quotidiano por todos os clérigos. O chapéu é preto para todos, exceto para o Papa, que usa um saturno vermelho.

O saturno pode ainda ser ornado com cordões e borlas, que são pretas para os presbíteros, verdes para os Bispos e vermelhas para os cardeais.

Bento XVI com o saturno vermelho

[1] cf. CERIMONIAL DOS BISPOS, nn. 153.166.
[2] ibid., n. 322.
[3] cf. COELHO, Dom António. Curso de Liturgia Romana. Tomo II: Liturgia sacrifical. Editora Pax: Braga, 1943, p. 238; ROWER, Frei Basílio. Dicionário Litúrgico para uso do revmo. clero e dos fiéis. Petrópolis: Vozes, 1947, p. 183.
[4] cf. REUS, Pe. João Batista. Curso de Liturgia. São Paulo: Cultor de Livros, 2018, p. 142.

Fonte:
CERIMONIAL DOS BISPOS, Cerimonial da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. Apêndice I: Vestes prelatícias. São Paulo: Paulus, 1988, pp. 311-313.

2 comentários:

  1. Boa noiteAndre tudo bom?

    Quando o uso do barrete é obrigatório?
    Reitor de Basílica...etc ?

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    Respostas
    1. O barrete nunca é obrigatório. O Cerimonial dos Bispos o menciona apenas como parte da veste coral dos Cardeais, Bispos e alguns Prelados (nn. 1199-1208).
      O Decreto Domus Dei (1968, confirmado pela Congregação do Culto Divino em 1975), que elenca as concessões para as Basílicas não menciona o uso do barrete pelo reitor.

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