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quinta-feira, 28 de maio de 2020

Jubileu da Diocese de Roma no ano 2000

No dia 28 de maio do ano 2000 o Papa João Paulo II presidiu na Praça de São Pedro a Missa do VI Domingo da Páscoa (Ano B) por ocasião do Jubileu da Diocese de Roma no contexto do Ano Santo. Confira sua homilia na ocasião:

Jubileu da Diocese de Roma
Homilia do Papa João Paulo II
28 de maio de 2000

1. “Assim como o Pai me amou, também Eu vos amei: permanecei no meu amor” (Jo 15,9). Na véspera da sua morte, Cristo abre o próprio coração aos discípulos reunidos no Cenáculo, deixando-lhes o seu testamento espiritual. No período pascal, a Igreja regressa constantemente em espírito ao Cenáculo, para ouvir de novo com reverência as palavras do Senhor e delas haurir luz e conforto para o seu caminho ao longo das sendas do mundo.
A nossa Igreja de Roma, que celebra o seu Jubileu, retorna hoje ao Cenáculo com o coração trepidante. Volta ali para se deixar interpelar pelo Mestre divino, para meditar sobre as suas palavras e descobrir a resposta mais oportuna aos pedidos que Ele lhe apresenta.
A palavra que hoje a nossa Igreja escuta dos lábios do seu Senhor é vigorosa e clarividente: “Permanecei no meu amor... O meu mandamento é este: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei” (Jo 15,9.12). Como deixar de sentir particularmente “nossas” estas palavras de Jesus? Não tem acaso a Igreja de Roma a tarefa específica de “presidir na caridade” à inteira oecumene cristã? (cf. Santo Inácio, Ad Rom, inscr.). Sim, o mandamento do amor compromete a nossa Igreja de Roma com vigor e exigência especiais.
E o amor é exigente. Cristo diz: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). O amor levará Jesus à cruz. Cada discípulo deve recordar-se disto. O amor provém do Cenáculo e para ali reconduz. Com efeito, depois da Ressurreição será de novo ao Cenáculo que os Apóstolos irão com a mente, para evocar as palavras pronunciadas por Jesus na Quinta-Feira Santa, conscientes do conteúdo salvífico das mesmas. Em virtude do amor de Cristo, recebido e retribuído, eles já são seus amigos: “Não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que o patrão faz; chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi do meu Pai” (Jo 15,15).

João Paulo II toma posse da Basílica do Latrão,
Catedral do Bispo de Roma (1978)

Congregados no Cenáculo depois da Ressurreição e da Ascensão ao Céu do Mestre divino, os Apóstolos compreenderão plenamente o sentido das suas palavras: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16). Sob a ação do Espírito Santo, estas palavras farão deles a comunidade salvífica, que é a Igreja. Os Apóstolos entenderão que foram eleitos para a especial missão de testificar o amor: “Assim como o Pai me amou, também Eu vos amei: permanecei no meu amor”.
Hoje, este mandamento chega a nós: enquanto cristãos, somos chamados a ser testemunhas do amor. Este é o “fruto” que somos chamados a dar, e este fruto “permanece” no tempo e para a eternidade!

2. A leitura, tirada dos Atos dos Apóstolos, fala da missão apostólica que brota deste amor. Convocado pelo centurião romano Cornélio, Pedro vai a Cesareia e ali assiste à sua conversão, à conversão de um pagão. O mesmo Apóstolo comenta esse importantíssimo evento: “Agora compreendo que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, Ele aceita quem O teme e pratica a justiça, seja qual for a nação a que pertença” (At 10,34-35). Depois, quando o Espírito Santo desce sobre aquele grupo de crentes provenientes do paganismo, Pedro comenta: “Será que podemos negar a água do Batismo a estas pessoas que receberam o Espírito Santo, da mesma forma que nós o recebemos?” (At 10,47). Iluminado do Alto, Pedro compreende e atesta que todos são interpelados pelo amor de Cristo.
Encontramo-nos aqui diante de uma fase decisiva da vida da Igreja: uma viragem a que o Livro dos Atos atribui um grande relevo. De fato, os Apóstolos, e em particular Pedro, ainda não tinham entendido de forma clara que a sua missão não se limitava unicamente aos filhos de Israel. O que aconteceu na casa de Cornélio persuadiu-os de que não era assim. Doravante teve início o desenvolvimento do cristianismo fora de Israel e começou a consolidar-se uma consciência cada vez mais profunda da universalidade da Igreja: cada homem e cada mulher são chamados, sem distinção de raça e de cultura, a receber o Evangelho. O amor de Cristo é destinado a todos, e o cristão é testemunha deste amor divino e universal.

3. Fortemente persuadido desta verdade, Pedro partiu primeiro para a Antioquia e, enfim, para Roma. É a ele que a Igreja de Roma deve o seu início. O hodierno encontro da comunidade eclesial de Roma, no cerne do Grande Jubileu do Ano 2000, reanima em todos nós a memória desta origem apostólica, a memória de Pedro, primeiro Pastor da nossa Cidade. Nestes dias estão a chegar ao seu túmulo numerosos peregrinos de todas as partes da terra, para celebrarem o Jubileu da Encarnação do Senhor e professarem a mesma fé de Pedro em Cristo, Filho de Deus vivo.
Assim, manifesta-se uma vez mais a especial vocação que a Divina Providência reservou a Roma: ser um ponto de referência para a comunhão e a unidade de toda a Igreja, para a retomada espiritual da inteira humanidade.

4. Caríssimos fiéis desta amada Igreja de Roma, estou feliz por vos dirigir a minha afetuosa saudação nesta circunstância, que nos vê reunidos para celebrar o Jubileu Diocesano. Saúdo o Cardeal Vigário, o Vice-Gerente, os Bispos Auxiliares, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos, as religiosas e todos vós, leigos ativamente comprometidos nas paróquias, nos movimentos, nos grupos e nos vários ambientes de trabalho e de vida da Cidade. Cumprimento também o Presidente da Câmara Municipal e as autoridade aqui presentes.
O dia de hoje constitui o ápice ideal de um inteiro caminho preparatório. Do Sínodo diocesano à Missão da Cidade, a nossa Igreja de Roma nas suas várias componentes demonstrou durante estes anos uma grande vitalidade pastoral e um ardente impulso evangelizador. Hoje queremos dar graças ao Senhor por isto. Através de oportunas iniciativas pastorais, a cidade inteira pôde escutar de novo o anúncio do Evangelho nos lares e nos lugares de trabalho. Assim, manifestou-se de modo claro quanto a Igreja está arraigada no tecido da população e como se sente próxima das pessoas mais pobres e marginalizadas.
No encerramento da Missão da Cidade, na noite da Vigília de Pentecostes do ano passado, tive a oportunidade de vos dizer: não devemos extraviar os frutos desta estação, rica de dons do Senhor. Eis por que o encontro hodierno é, sim, um ponto de chegada, mas também um indispensável ponto de partida. Doravante é necessário despender um esforço geral que faça penetrar o “espírito da Missão da Cidade” cada vez mais na pastoral ordinária e diária das paróquias e das realidades eclesiais. É preciso que todos considerem isto como um “compromisso permanente”, empenhando todo o povo de Deus, a começar pelos “missionários”, sacerdotes, religiosos e leigos que experimentaram pessoalmente a beleza e o júbilo da evangelização. E mesmo em vista desta necessária retomada nas famílias e nos ambientes da Cidade, é mais oportuno do que nunca que no próximo ano pastoral se dê início a um atento discernimento dos frutos do caminho até aqui percorrido.

5. Damos graças a Deus por tudo o que a Diocese está a viver; estamos gratos sobretudo pelos eventos que pouco a pouco se estão a celebrar durante este Ano jubilar. Já nos encontramos na vigília de grandes e imponentes encontros, que exigem a mais vasta e generosa colaboração. Penso em primeiro lugar no Congresso Eucarístico Internacional, “coração do Jubileu”, que celebra a presença viva no meio de nós e para nós do Verbo que se fez carne, “pão de vida para o mundo”.
E depois, a XV Jornada Mundial da Juventude, que no mês de agosto verá reunir-se em Roma uma multidão de jovens oriundos de todas as partes do mundo, que esperam ser recebidos com júbilo e simpatia pelos seus coetâneos romanos, e ser hospedados pelas famílias e pela inteira comunidade cristã da Cidade.
Além disso, no mês de outubro celebraremos o Jubileu das Famílias, que exigirá um cuidado especial por parte da Diocese e das famílias cristãs. Preparemo-nos para estes eventos com íntima participação.

6. Igreja de Roma, sê consciente da singularidade da tua missão, também em vista do Jubileu! Não te desencorajes diante das dificuldades que encontrares no teu caminho quotidiano!
Anima-te o testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo, que consagraram os teus primórdios com o seu sangue; encoraja-te o exemplo dos santos e dos mártires, que te entregaram a tocha de uma invicta dedicação ao Evangelho. Não temas! Graças ao empenhamento dos teus filhos, o amor de Cristo chegue a todos os habitantes da cidade; difunda-se em cada ambiente, para levar alegria e esperança a todas as partes.
E Tu, Maria, Salus populi romani, Nossa Senhora do Divino Amor, ajuda-nos! Entregamo-nos a ti com confiança. Através da tua intercessão materna, oxalá se renove na Igreja de Roma a descida do Espírito Santo, princípio da sua unidade e força para a sua missão. Amém.

Abside da Basílica do Latrão, Catedral de Roma

Fonte: Santa Sé.

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