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sábado, 18 de abril de 2020

Homilia: II Domingo de Páscoa - Ano A

São Basílio de Selêucia
Sermão na solenidade pascal
 A inefável benignidade de Cristo cumulou a sua Igreja de inumeráveis dons

Aquela inefável benignidade de Cristo para conosco cumulou a sua Igreja de inumeráveis dons. Cristo, magnífico em sua sabedoria e poderoso em suas obras, resgatou-nos da antiga cegueira da lei e isentou a nossa natureza do protocolo que nos condenava com suas cláusulas. Na cruz, triunfou sobre a serpente, origem de todos os males. Abateu o aguilhão da temível morte e renovou com a água, não com o fogo, aos que se encontravam extenuados pela antiguidade do pecado. Abriu as portas da Ressurreição. Aos que estavam excluídos da cidadania de Israel, os converteu em cidadãos e familiares dos santos. Aos que eram alheios às promessas da aliança, confiou-lhes os mistérios celestiais. Aos que careciam de esperança, concedeu-lhes a torrente do Espírito, como dom de salvação.
Aos ímpios e sem Deus deste mundo, os converteu em templos sagrados da Trindade. Aos que em outro tempo estavam longe devido à conduta e não pelo lugar, pela mentalidade e não pela distância, pela religião e não pela região, os acolheu mediante o salutífero lenho, abraçando aos eram dignos de desprezo.
Com razão disse o profeta: Quem ouviu tal coisa, ou quem viu algo semelhante? Mistério este que enche de assombro a todos os anjos. Prodígio tal que os poderes supracelestes veneram possuídos de temor. Seu trono não ficou vazio, e o mundo foi refeito; em outro tempo foi criado, mas agora foi restaurado. Tu, que acabas de ser iluminado pelo Batismo, considera, por favor, de que mistérios foi feito digno. Reconhece a eficácia. Foste libertado das mãos do salteador: não te constituas novamente prisioneiro. Renunciaste: não voltes outra vez, seduzido ou desiludido, para a situação anterior. Firmaste um pacto: mantém com valentia os compromissos adquiridos. Foi-te confiado o talento de tua fé: trata de fazê-lo produzir fruto. Celebraste realmente bodas: não cometas o adultério dos blasfemos. Foste inscrito no catálogo dos filhos: não injuries ao teu libertador, como se fosse um escravo. Vestiste um traje esplêndido: fulja esplendorosa tua consciência. Te despojaste do velho vestido: não contristeis ao Espírito.
Na verdade, o profeta, recomendando já faz tempo este mistério do Batismo, e a imensa graça do Crucificado, em um célebre oráculo dizia com voz sonora: Ele se compraz na misericórdia. Quem, o profeta? Aquele que por misericórdia se fez homem: Cristo. Aquele que, ao nascer, não menosprezou a integridade da Virgem. Ele mesmo voltará e terá piedade de nós.
Quando você tiver saído do erro, Ele te redimirá e terá compaixão de ti. Na realidade, na cruz alcançou o triunfo sobre os pecados de todos nós, sepultou nas místicas águas do Batismo nossas vestes de injustiça e precipitou na profundeza do mar todos os nossos pecados. Pensa na fonte do santo Batismo e proclama a graça, pois o Batismo é a suma de todos os bens, a expiação do mundo, a instauração da natureza, uma correção acelerada, uma medicina sempre disponível, uma esponja que limpa as consciências, um vestido que não envelhece com o tempo, entranhas que concebem virginalmente, um sepulcro que devolve a vida aos sepultados, uma caverna que engole os pecados, um elemento que extingue a Geena, convite para a mesa do Senhor, graças dos mistérios antigos e novos vislumbrada já em Moisés, glória pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 93-95. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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