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sábado, 21 de setembro de 2019

Homilia: XXV Domingo do Tempo Comum - Ano C

Autor anônimo do século IV
Sermão 48
Sobre a perfeita fé em Deus

Querendo o Senhor conduzir seus discípulos para fé perfeita, disse no Evangelho: Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. O que são as coisas pequenas? As pequenas são os bens desta vida, que ele prometeu dar aos que creem nele, tais como o sustento, as vestes e outras necessidades corporais, como a saúde e coisas do tipo, ordenando-nos categoricamente que não andemos preocupados com elas, mas esperemos com confiança n’Ele, pois Deus é a providência daquele que a Ele se acolhem, providência total e segura.
As coisas grandes são os dons da vida eterna e incorruptível, que Ele prometeu a quantos creiam n’Ele e aos que continuamente estão dependentes destas coisas e a Ele buscam em suas necessidades, porque assim está ordenado: Vós, porém, buscai sobretudo o Reino de Deus e a sua justiça, e as outras coisas vos serão dadas por acréscimo. Nestas coisas pequenas e temporais se demonstrará se alguém crê em Deus, que prometeu concedê-las a nós, na condição, porém, de que não andemos oprimidos por elas, mas unicamente nos preocupemos das realidades futuras e eternas.
E ficará perfeitamente estabelecido que alguém crê nos bens incorruptíveis e busca de verdade os bens eternos se conserva uma fé sadia nestes bens. De fato, cada um dos que aceitaram a Palavra de verdade deve provar-se e examinar a si mesmo, ou ser examinado e provado por mestres do espírito, sobre quais são as razões de sua fé e quais as motivações de sua entrega a Deus: deve ponderar se crê realmente e de verdade apoiado na Palavra de Deus, ou se crê mais induzido pela opinião que formou sobre a justificação e a fé.
Toda pessoa tem ao seu alcance a possibilidade de comprovar e demonstrar a si mesmo se é fiel nas pequenas coisas – refiro-me aos bens temporais. De que forma? Escuta: te crês digno do Reino dos Céus? Te confessas filho de Deus nascido do alto? Te consideras co-herdeiro de Cristo, destinado a reinar eternamente com Ele e a gozar das delícias na misteriosa luz por séculos incontáveis e infinitos, assim como Deus? Me contestarás, sem dúvida: Certamente! Essa é precisamente a razão pela qual deixei o mundo e me entreguei em corpo e alma ao Senhor.
Examina-te, portanto, e observa se as preocupações terrenas ainda não te retêm, ou o desmedido cuidado do sustento e da veste corporal, ou também outros interesses e o conforto, como se tu fosses capaz de prover-te por ti mesmo do que te foi ordenado de não preocupar-te de forma alguma, ou seja, de tua vida. Pois se estás convencido de poder alcançar os bens imortais, eternos, permanentes e carentes de inveja, muito mais convencido tem de estar de que o Senhor te concederá estes bens efêmeros e terrenos, que Ele concede inclusive aos homens ímpios e até aos próprios pássaros, havendo-te Ele mesmo ensinado a não preocupar-te com nada destas coisas.
Portanto, você, que te fizeste peregrino deste mundo, deves obter uma fé nova e peregrina, um modo de pensar e de viver superior ao de todos os homens deste mundo. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo pelos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 718-720. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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