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sábado, 14 de setembro de 2019

Homilia: XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano C

São Gregório Magno
Sermão sobre os Evangelhos
“Existe mais alegria no céu pela conversão do pecador do que pela perseverança do justo”

Eu vos digo que haverá mais alegria no céu por um pecador que faça penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão. Devemos considerar, meus irmãos, por que o Senhor diz que existe no céu maior alegria na conversão dos pecadores do que na perseverança dos justos; e é pelo mesmo que estamos vendo todos os dias, ou seja, porque muitas vezes aqueles que sabem que não estão contaminados pelos pecadores se encontram, sim, no caminho da justiça, não cometem nenhuma coisa ilícita, mas, no entanto, não desejam ansiosamente irem para a pátria celestial, e se permitem usar de coisas lícitas, enquanto lembram-se de não ter cometido nada de ilícito. E muitas vezes são fracos para praticar as principais virtudes, porque estão muito seguros de que não cometeram nenhuma falta grave.
Mas, pelo contrário, algumas vezes aqueles que sabem que fizeram alguma coisa ilícita, oprimidos por sua própria dor, incendeiam-se no amor de Deus, exercitam-se nas maiores virtudes, empreendem com santo valor tudo que é mais difícil, deixam todas as coisas deste mundo, fogem das honras, alegram-se com as afrontas que lhes serão inferidas, ardem em santos desejos e anelam ir para a pátria celestial, e considerando que se afastaram de Deus, recompensam os prejuízos precedentes com os bens que alcançam depois.
Portanto, existe mais alegria no céu pela conversão do pecador do que pela perseverança do justo, porque um capitão ama mais numa batalha aquele soldado que, tendo voltado ao combate após ter fugido, ataca com coragem o inimigo, que ao outro que, embora nunca tenha voltado às costas, contudo, também nunca fez nada de valor. Assim também o lavrador estima mais aquela terra que, depois de ter ervas daninhas, dá abundantes frutos, que aquela que nunca teve espinhos, porém tampouco produz messe em abundância.
Apesar do que foi dito, devemos considerar também que existem muitos justos, em cuja vida existe tanta alegria, que de nenhuma forma será postergada aquela que se experimenta com qualquer penitência dos pecadores. Pois muitos justos sabem perfeitamente que não têm pecado algum e, contudo, afligem-se de tal maneira como se estivessem manchados com todos os pecados do mundo. Privam-se de todas as coisas, até mesmo das lícitas; submetem-se com abnegação ao desprezo do mundo, não querem permitir-se nem sequer as menores coisas; abstém-se dos bens, mesmo daqueles que lhes foram concedidos; alegram-se com os seus sofrimentos e se humilham em todas as coisas; e, como alguns, choram os pecados de atos, lamentam os pecados de pensamento.
Como se há de chamar a estes, senão justos e penitentes, que se humilham no pecado de pensamento e perseveram sempre retos nas obras? Daqui temos de inferir quão grande será a alegria do Senhor quando humildemente chora o justo, sendo que há alegria no céu quando o injusto reprova pela penitência o mal que fez.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 715-717. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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