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sábado, 15 de junho de 2019

Homilia: Santíssima Trindade - Ano C

São Gregório Nazianzeno
Discursos Teológicos
A revelação progressiva da Trindade”

A coisa se deu da seguinte maneira: o Antigo Testamento claramente proclama ao Pai e obscuramente o Filho; o Novo revelou ao Filho e insinuou a divindade do Espírito, onde ele manifestou-se mais explicitamente. Já que não seria bem acertado, antes de confessar a divindade do Pai, proclamar abertamente ao Filho; nem pregar a divindade do Espírito Santo antes de admitir a do Filho; pois, se posso atrever-me a me expressar assim, nos sentiríamos sobrecarregados: para não ser que, indigestos com alimentos acima de nossas forças, ou deslumbrados os olhos com o fulgor dos raios solares, corrêssemos o perigo de cair exaustos sob o seu peso.
Passo a passo, por paulatinas aproximações ou subidas, como Davi as chamou, e avançando e progredindo de glória em glória, bilha a Trindade com luz cada vez mais resplandecente. Por este motivo, ao meu parecer, progressivamente se aproxima dos discípulos: ao princípio do Evangelho se comunica na medida de sua capacidade receptiva; depois de sua Paixão e de sua partida, ao soprar confere-lhes a plenitude do poder, e por fim manifesta-se em línguas de fogo. Progressivamente o próprio Jesus o revelou, como o entenderás se te familiarizas cuidadosamente com a sua palavra: Rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, o Espírito da Verdade, para que não parecesse que este é um adversário de Deus, ou que falava recebendo de outro a potestade de fazê-lo. Depois acrescentou que o enviará em seu nome. Nesta segunda oração, repetiu “enviará” e omitiu “rogarei”. Depois acrescentou “enviarei”, para mostrar sua própria autoridade. E finalmente “virá”, aonde indica o poder do Espírito.
Deste modo poderás descobrir como as iluminações são paulatinas, assim como a ordem da teologia, que também nós queremos observar: nem revelando tudo de uma vez, nem o ocultando até o fim. O que não se faz com sutileza não é de Deus. O primeiro pode ofender aos estranhos; o segundo, desorientar aos nossos. Assim como alguns outros (exemplos) têm vindo à mente, eu também o recolho como fruto do meu próprio pensamento, e ainda acrescentarei algo ao que já tenho dito.
Ainda que o Salvador tenha transmitido abundantes ensinamentos aos discípulos, contudo, dizia que estes ainda não podiam suportar tudo, pelas mesmas causas acima assinaladas; e por isso as ocultava deles. Mas também disse que, uma vez vindo o Espírito Santo, ele nos ensinaria todas as coisas. Por isso penso que ele (o Espírito) é um deles (da Trindade), e que pelo mesmo motivo a divindade do Espírito foi explicada ao final, ou seja, quando já tinham acolhido o conhecimento do Senhor de maneira bem delimitada e determinada, e depois que o Salvador tinha regressado (ao Pai), de modo que com tal maravilha não se perdesse a fé nele. Pois que coisa maior ele podia prometer, ou o Espírito ensinar? Porque se podemos pensar algo grande e digno da majestade de Deus, é o que ele nos prometeu e ensinou.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 764-765. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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