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sábado, 18 de maio de 2019

Homilia: V Domingo da Páscoa - Ano C

Santo Ambrósio
Comentário sobre o Salmo 118
No momento da tentação, a esperança nos consola

Este é meu consolo na aflição: que tua promessa me dá vida. Esta é a esperança, sim, esta é a esperança que vem ao meu encontro com tua Palavra e que me traz o consolo necessário para tolerar as amarguras da vida presente. Enquanto Paulo persegue o nome de Jesus, do consolo brota a esperança. E uma vez tendo-se tornado crente, escuta como ele nos consola: Quem poderá afastar-nos do amor de Cristo? A aflição? A angústia? A perseguição? A fome? O perigo? A espada? Como disse a Escritura: Por tua causa somos degolados cada dia, nos tratam como ovelhas no matadouro. E na continuação assinala o motivo dessa paciente tolerância: Mas em tudo isso somos mais do que vencedores por aquele que nos amou.
Portanto, se alguém deseja superar a adversidade, a perseguição, o perigo, a morte, uma grave enfermidade, a intrusão de ladrões, a confiscação de bens, ou qualquer desses acontecimentos que o mundo considera como adversos, o conseguirá facilmente se tem a esperança que o console. Pois, mesmo que tais coisas aconteçam, não podem tornar-se graves a quem afirma: Sustento que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos será revelada. Pois para quem espera coisas melhores não podem abater-lhe as frivolidades.
Deste modo, no momento de nossa humilhação a esperança nos consola, uma esperança que não engana. E por momento de humilhação de nossa alma entendo o tempo de prova. Realmente, nossa alma se sente humilhada quando se deixa à mercê do tentador, para ser provada com duros sofrimentos, experimentando desta forma na luta e no combate o choque das forças contrárias. Porém, nestas tentações se sente vivificada pela Palavra de Deus.
Consequentemente, esta Palavra é a substância vital de nossa alma, substância que a nutre, a faz crescer e a governa. Fora desta Palavra de Deus não existe nada capaz de manter na vida a alma dotada de razão. De fato, assim como a Palavra de Deus vai crescendo na alma em proporção direta à sua acolhida, sua inteligência e sua compreensão, assim também vai em progressivo aumento a vida da alma. E vice-versa: na medida em que decai a Palavra de Deus em nossa alma, em idêntica proporção enfraquece a vida da alma. Assim, do mesmo modo que o binômio alma e corpo é animado, alimentado e sustentado graças ao sopro da vida, assim também nossa alma é vivificada pela Palavra de Deus e a graça espiritual.
Do que foi dito se segue que, adiando todas as outras coisas, temos de esforçar-nos por todos os meios a nosso alcance em entesourar a Palavra de Deus, vertendo-a ao mais íntimo de nosso ser, aos nossos sentimentos, preocupações, reflexões e ao nosso obrar, de maneira que os nossos atos sintonizem com as palavra da Escritura, de modo que nossas ações não estejam em desacordo com a globalidade dos preceitos celestiais. Assim também nós poderemos dizer: Porque tua promessa me dá vida.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 606-608. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo clicando aqui.

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