Homilia: IV Domingo da Páscoa - Ano C

São Clemente de Alexandria

Protréptico

“Os cristãos são ungidos com o unguento da fé”

Ó mistérios verdadeiramente santos! Ó luz puríssima! Com a tocha que levo posso contemplar os céus e a Deus; chego a ser santo iniciado, e o Senhor explica os mistérios sagrados e enquanto o ilumina sela ao iniciado, e àquele que acreditou o confia ao Pai para que o guarde para sempre.

Estas são as festas báquicas [1] de meus mistérios! Se queres, inicia-te também tu, e participarás do coro dos anjos, em torno ao único Deus verdadeiro, ao ingênito e imperecedouro; conosco canta o Verbo de Deus. Este é o eterno Jesus, o único sumo sacerdote do Deus único e seu Pai; aquele que suplica em favor dos homens e os anima: “Escutai, tribos inumeráveis”, e sobretudo quantos são homens racionais, bárbaros e gregos. Chamo a toda categoria de homens, dos quais eu sou Criador por vontade do Pai.

Venham até mim, para receber um lugar sob o único Deus e o único Verbo de Deus, e como racionais, não somente tirarão mais proveito que os animais irracionais, mas somente a vocês dentre todos os mortais lhe concedo recolher o fruto da imortalidade. De fato, aspiro e quero que também vocês participem da graça, concedendo-lhes o benefício pleno, a incorruptibilidade; concedo-lhes o Verbo, a gnose de Deus, e a mim mesmo completamente.

Isto sou eu, isto quer Deus, isto é sinfonia, harmonia do Pai, Filho, Cristo, Verbo de Deus, braço do Senhor, força universal, vontade do Pai. Ó imagens todas [2], porém nem todas convenientes! Pretendo restaurá-los conforme o modelo, para que também cheguem a ser semelhantes a mim.

Os ungirei com o unguento da fé, pelo qual se libertarão da corrupção, e lhes revelarei a figura da justiça, pela qual poderão subir até Deus. Vinde a mim todos os cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei. Carregai o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as suas almas; porque meu jugo é suave e meu fardo é leve.

Apressemo-nos, corramos, nós os homens que somos imagens do Verbo, que amamos a Deus e somos semelhantes a Ele. Apresemo-nos, corramos, tomemos seu jugo, lancemo-nos para a incorruptibilidade, amemos a Cristo, o formoso condutor dos homens. Pôs debaixo do jugo o asno jovem com o velho e, depois de unir a junta dos homens, dirige o carro até a imortalidade, apressando-se diante de Deus por cumprir com clareza o que tinha anunciado obscuramente; dirigindo-se primeiro a Jerusalém, mas agora aos céus; belíssimo espetáculo é para o Pai o Filho eterno vitorioso!

Sejamos ambiciosos a respeito da beleza, e homens enamorados de Deus, procuremos os bens maiores: Deus e a vida. O Verbo é protetor; tenhamos confiança nele, e não cobicemos a prata, ouro ou glória, mas desejemos o próprio Verbo da verdade.

[1] Referência irônica às festas pagãs em honra ao deus Baco.

[2] Referência aos homens, criados à imagem de Deus.

Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 603-604. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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