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sábado, 4 de maio de 2019

Homilia: III Domingo da Páscoa - Ano C

São Gregório Magno
Sermão sobre o Evangelho de São João
As redes continuam lançadas

Podíamos também perguntar: por que o Senhor se mostrou na margem aos discípulos que estavam trabalhando no mar, agora após sua sagrada Ressurreição, e antes de sua Paixão mostrou-se a eles nas ondas do mar, andando sobre elas? E se pensarmos bem a causa de tudo, facilmente acharemos o motivo para que procedesse assim.
O mar não nos denota outra coisa a não ser o século presente, que continuamente se move com alterações de muitas e diversas questões como com diferentes ondas. Pela segurança e repouso da margem, o que podemos entender, a não ser aquele repouso da vida eterna? Portanto, dos discípulos que ainda estavam nas ondas da mortalidade, dizemos que trabalhavam no mar; enquanto que nosso Redentor já estava livre da corrupção da carne, viram-lhe depois da Ressurreição na margem, como se pelo fato de estar na margem ressuscitado, falasse com seus discípulos dizendo: “Já não me revelo no mar, porque não estou convosco nas ondas dos trabalhos em que primeiro me encontrava”; e, de acordo com isto, disse o Senhor em outro lugar após sua Ressurreição: Estas são as palavras que vos falei “quando ainda estava convosco”.
E mesmo que digamos que estava com eles - pois corporalmente mostrava-se a eles com sua presença -, disse que não está com eles, porque com a imortalidade estava afastado da mortalidade deles; e que ele diga que não está ali com eles, está muito claro, pois eles estão navegando nas águas, e o Senhor está na margem. Advindo aos sagrados discípulos uma necessidade na pesca, permitindo-o Deus, para que o auxílio de seu Mestre lhes causasse grande assombro; e vendo-os em necessidade dissesse: Lançai a rede à direita da barca e achareis.
Duas vezes lemos nos Evangelhos que o Senhor tenha mandado lançar as redes para pescar. Uma vez foi antes de sua Paixão, e a outra foi depois da Ressurreição. Antes que nosso Senhor sofresse sua Paixão e ressuscitasse, é verdade que mandou lançarem a rede para pescar, mas não encontramos que a mandou lançar à sua direita, nem à sua esquerda. Aparecendo aos seus discípulos após a Ressurreição, encontramos que lhes mande lançar a mão direita, e os peixes que pegaram na primeira pesca foram tantos que se romperam as redes. Nesta segunda foram muitos os que pescaram, mas as redes não se romperam.
Todos sabemos que os maus são representados pela esquerda, e os bons pela direita. Diremos, pois, que a primeira pesca, aonde o Senhor não assinala a que lado lançar a rede, representa o estado da Igreja militante, na qual todos estão recolhidos: os bons e os maus; e ainda não os separa uns dos outros, porque enquanto estamos aqui, convém que bons e maus estejam juntos, para que os bons mereçam mais sofrendo pela ação dos maus, e os maus no dia do juízo não tenham desculpa de que lhes faltou o exemplo dos bons.
Mas esta pesca que se fez depois da Ressurreição do Senhor foi mandada que a fizessem ao lado direito da barca, denotando que só a Igreja dos escolhidos é que alcança a visão da claridade da glória soberana; e que os membros desta Igreja não têm pacto algum com o lado esquerdo. Na primeira pesca falamos que se rompia a rede com a multidão dos pescados, porque naquela entram bons e maus misturados, como o vemos nesta Igreja militante, onde à volta dos bons há um grande número de maus, e alguns hereges e cismáticos que saem da rede da Igreja. Já nesta pesca da Igreja soberana, são recebidos muitos pescados grandes, e a rede não se rompe, porque aquela Igreja santa dos escolhidos, repousando na paz do Criador não pode ser alterada com discórdia nem com provação alguma.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 600-601. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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