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sábado, 6 de outubro de 2018

Homilia: XXVII Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Gregório Nazianzeno
Sermão 37 sobre São Mateus
Este é um grande mistério

Alguns fariseus se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram para pô-lo a prova: É lícito ao homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo? Novamente os fariseus o colocam à prova, novamente aqueles que leem a lei não entendem a lei, novamente aqueles que se dizem intérpretes da lei necessitam de outros mestres. Não bastava com que os saduceus lhe tivessem estendido uma cilada a propósito da ressurreição, que os doutores lhe interrogassem sobre a perfeição, os herodianos a propósito do imposto, e outros sobre as credenciais de seu poder. Todavia há quem quer sondá-lo a respeito do matrimônio, a ele que não é suscetível de ser tentado, a ele que instituiu o matrimônio, a ele que criou todo este gênero humano a partir de uma primeira causa.

E ele, respondendo-lhes, lhes disse: Não lestes que o Criador no princípio os criou homem e mulher? Entendo que este problema que me tendes proposto - disse - diz respeito à estima e à honra da castidade, e requer uma resposta humana e justa. Pois observo que sobre esta questão existem muitos malpredispostos e que lisonjeiam ideias injustas e incoerentes.

Por que, que razão existe para usar de coação contra a mulher, enquanto se é indulgente com o marido ao qual se deixa em liberdade? Realmente, se uma mulher houvesse consentido em desonrar o tálamo nupcial, ficaria obrigada a expiar seu adultério, penalizando-a legalmente com duríssimas sanções; por que, pois, o marido que tivesse violado com o adultério a fidelidade prometida à sua mulher, fica absolvido de toda condenação? Eu não posso de jeito nenhum dar a minha aprovação a esta lei; estou em completa discordância com esta tradição.

Aqueles que sancionaram esta lei eram homens, e por isso foi promulgada contra a mulher; e como colocaram aos filhos sob o pátrio poder, deixaram ao sexo frágil na ignorância e no abandono. Onde está, portanto, a equidade da lei? Um é o Criador do homem e da mulher, ambos foram formados do mesmo barro, uma mesma é a imagem, única a lei, única é a morte, a mesma ressurreição. Todos fomos procriados a partir de um homem e de uma mulher: um e idêntico é o dever que têm os filhos para com os seus progenitores.

Com que cara exiges, pois, uma honestidade com a qual tu não correspondes? Como pedes o que não dás? Como podes estabelecer uma lei desigual para um corpo dotado de igual honra? Se te fixas na culpabilidade, pecou a mulher, mas também Adão pecou: a serpente enganou a ambos, induzindo-os ao pecado. Não pode dizer-se que um era mais fraco e o outro mais forte. Preferes insistir na bondade? Cristo salvou a ambos com sua Paixão. Ou será que se encarnou somente pelo homem? Também para a mulher proporcionou a salvação mediante a sua Morte.

Porém, me dirás que Cristo é proclamado descendente da estirpe de Davi e talvez concluirás disto que aos homens lhes corresponde o primado de honra. Eu sei, porém, não é menos certo que nasceu da Virgem, o que é válido igualmente para as mulheres. Serão, portanto - diz -, os dois uma só carne. Por isso, a carne, que é uma só, tenha igual valor.

Contudo, São Paulo - inclusive com o seu exemplo - concede à castidade caráter de lei. E o que é que diz e em que se fundamenta? Este é um grande mistério: refiro-me a Cristo e à Igreja. É bonito para uma mulher reverenciar Cristo em seu marido; é igualmente bonito para o marido não menosprezar a Igreja em sua mulher. Que a mulher - diz - respeite ao marido, como a Cristo. Por outro lado, que o marido dê à sua esposa alimento e calor, como Cristo faz com a Igreja.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 478-480. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo, clique aqui.

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