Páginas

domingo, 21 de outubro de 2018

Homilia: XXIX Domingo do Tempo Comum - Ano B

Santo Agostinho
Sermão 20A
O Senhor viu neles um desejo de grandeza e se dignou ensinar-lhes o caminho da humildade

Dois discípulos de nosso Senhor, os santos e ilustres irmãos João e Tiago, desejaram do Senhor nosso Deus, conforme lemos no Evangelho, o sentar-se em seu reino um à sua direita e o outro à sua esquerda. Não desejaram ser reis da terra, não desejaram de nosso Senhor honras perecedouras, nem ser cumulados de riquezas, nem ver-se rodeados de numerosa família, nem ser venerados por súditos, nem ser bajulados por aduladores; mas pediram algo grande e duradouro: ocupar algumas cadeiras imperecíveis no Reino de Deus.

Desejaram uma grande coisa! Não foram repreendidos em seu desejo, porém foram encaminhados para uma ordem. O Senhor viu neles um desejo de grandeza e se dignou ensinar-lhes o caminho da humildade, como que lhes dizendo: “Percebes o que desejais, percebes que eu estou convosco; e eu que vos fiz e desci até vós, cheguei até a humilhar-me por vós”. Estas palavras que vos narro não aparecem no Evangelho; contudo, expresso o sentido do que se lê no Evangelho.

Convido-vos agora para pensar nas palavras que se leem no Evangelho, para que vejais de onde saíram as palavras que vos disse. Uma vez que o Senhor escutou a petição dos irmãos, lhes disse: Podeis beber o cálice que eu vou beber? Vós desejais sentar-vos ao meu lado, porém antes deveis contestar-me ao que vos pergunto: Podeis beber o cálice que eu vou beber? A vós, que buscais postos de grandeza, não vos é amargo o cálice da humildade? Ali onde se impõe um preceito duro, ali há um grande consolo. Os homens se negam a beber o cálice da paixão, o cálice da humilhação. Aspiram a coisas mais sublimes? Amem antes de tudo as coisas humildes. Partindo do humilde se chega ao sublime.

Ó homem! Tu tinhas medo de suportar as afrontas da humilhação. Porém, te convém beber o cálice amargo da paixão. Tuas vísceras estão irritadas, tens inflamadas as entranhas. Bebe a amargura para conseguir a saúde. Bebeu-a o médico são, e não a quer beber o enfermo debilitado? O Senhor disse aos filhos de Zebedeu: Podeis beber o cálice? Não lhes disse: “Podeis beber o cálice das afrontas, o cálice do fel, o cálice do vinagre, o cálice amarguíssimo, o cálice cheio de veneno, o cálice de todo tipo de dores?” Se tivesse lhes dito isto, lhes teria atemorizado em vez de animar-lhes. Onde há participação, também se dá o consolo.

Por que desdenhas este cálice, ó servo? O Senhor o bebeu. Por que o desprezas, ó enfermo? O médico o bebeu. Por que o desprezas, ó homem fraco? O são o bebeu. Podeis beber o cálice que eu hei de beber? Naquele momento, eles, ávidos de grandeza, ignorando as suas forças e prometendo o que ainda não tinham, dizem: Podemos. O Senhor lhes contesta: Bebereis certamente meu cálice, já que vos dou para beber, já que vos farei de fracos fortes, vos concedo a graça de padecer para que bebais o cálice da humildade; porém, não está em meu poder o sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, senão para aqueles para os quais foram preparados por meu Pai.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 490-491. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo, clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário