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sábado, 24 de março de 2018

Homilia: Domingo de Ramos - Ano B

Santo Ambrósio
Comentário sobre o Salmo 118
Carreguemos a cruz do Senhor para que, crucificando a nossa carne, destrua o pecado

Quem ama os preceitos do Senhor, sujeita com cravos a própria carne, sabendo que, quando seu homem velho esteja com Cristo crucificado na cruz, destruirá a luxúria da carne. Sujeita-a, pois, com cravos e terás destruído os incentivos ao pecado. Existe um cravo espiritual capaz de sujeitar essa tua carne ao patíbulo da cruz do Senhor. Que o temor do Senhor e de seus juízos crucifique esta carne, reduzindo-a à servidão. Porque se esta carne rejeita os cravos do temor do Senhor, indiscutivelmente terá de ouvir: Meu sopro não durará para sempre no homem, visto que é carne. Portanto, a menos que esta carne seja cravada à cruz, e se lhe sujeite com os cravos do temor de nosso Deus, o sopro de Deus não perdurará no homem.

Está cravado com estes cravos quem morre com Cristo para ressuscitar com ele; está cravado com estes cravos quem merece escutar, dito por Jesus: Grava-me como um selo em teu braço, como um selo em teu coração, porque é forte o amor como a morte, é cruel a paixão como o abismo. Grava, portanto, em teu peito e em teu coração este selo do crucificado, grava-o em teu braço, para que tuas obras estejam mortas ao pecado.

Não te escandalize a dureza dos cravos, pois é a dureza da caridade; nem te assuste o poderoso rigor dos cravos, porque também o amor é forte como a morte. Na realidade, o amor dá morte à culpa e a todo pecado; o amor mata como uma apunhalada fatal. Finalmente, quando amamos os preceitos do Senhor, morremos às ações vergonhosas e ao pecado.

A caridade é Deus, a caridade é a Palavra de Deus, uma palavra viva e eficaz, mais cortante que uma espada de fio duplo, penetrante até o ponto onde se dividem alma e espírito, juntas e medula. Que nossa alma e nossa carne estejam sujeitas com estes cravos do amor, para que também ela possa dizer: Estou enferma de amor. Pois também o amor tem seus próprios cravos, como tem sua espada com a qual fere a alma. Bem-aventurado o que merece ser ferido por semelhante espada!

Ofereçamo-nos para receber estas feridas, feridas pelas quais, se alguém morre, não saberá o que é a morte. Tal é, de fato, a morte dos que seguiam ao Senhor, e dos quais se disse: Alguns dos que aqui estão presentes, não morrerão sem antes terem visto ao Filho do Homem com majestade. Com razão Pedro não temia esta morte, não a temia aquele que se dizia disposto a morrer por Cristo, antes de abandoná-lo ou negá-lo. Carreguemos, portanto, com a cruz do Senhor para que, crucificando nossa carne, destrua o pecado. É o temor que crucifica a carne: Aquele que não carrega a cruz e me segue, não é digno de mim. Digno é aquele que está possuído pelo amor de Cristo, até o ponto de crucificar o pecado da carne. A este temor segue-se a caridade que, sepultada com Cristo, não se separa de Cristo, morre com Cristo, é enterrada com Cristo, ressuscita com Cristo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 324-325. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Cirilo de Alexandria para este domingo, clique aqui.

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