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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Homilia: Natal do Senhor - Missa do Dia

São Proclo de Constantinopla
Sermão 1 em louvor de Santa Maria
Vinha para salvar, mas também lhe era necessário morrer

Cristo, que por natureza era impassível, por sua misericórdia se submeteu a muitos padecimentos. É inadmissível que Cristo se fizesse passar por Deus em proveito próprio. Nem sequer ousemos pensá-lo! Muito pelo contrário: sendo - como nos ensina a fé - Deus, fez-se homem nas aras de sua misericórdia. Não pregamos a um homem deificado; antes, proclamamos a um Deus encarnado. Adotou por mãe a uma escrava quem por natureza não conhece mãe, e que, contudo, apareceu sobre a terra sem pai, segundo a economia divina.

Observa em primeiro lugar, ó homem, a economia e as motivações de sua vinda, para exaltar em um segundo momento o poder do que se encarnou. Pois o gênero humano tinha contraído, pelo pecado, uma imensa dívida, dívida que de modo algum podia saldar. Porque em Adão todos tinham assinado o recibo do pecado: éramos escravos do diabo. Ele tinha em seu poder o contrato de nossa escravidão, e exibia títulos de possessão sobre nós assinalando nosso corpo, joguete das mais variadas paixões. Pois bem: ao encontrar-se o homem marcado pela dívida do pecado, não podia pretender salvar a si mesmo. Nem sequer um anjo poderia redimir o gênero humano: o preço do resgate não seria suficiente. Não restava mais do que uma única solução: que o único que não estava submetido ao pecado, ou seja, Deus, morresse pelos pecadores. Não havia outra alternativa para tirar o homem do pecado.

E o que ocorreu? Pois que o mesmo que tinha tirado do nada todas as coisas conferindo-lhes a existência, e que possuía plenos poderes para saldar a dívida, planejou um seguro de vida para os condenados à morte, e uma estupenda solução ao problema da morte. Fez-se homem nascendo da virgem de um modo muito conhecido para ele. Não há palavra humana capaz de explicar este mistério: morreu na natureza que tinha assumido, e levou a cabo a redenção em virtude do que já era, conforme o que diz São Paulo: por cujo sangue temos recebido a redenção, o perdão dos pecados.

Ó prodígio realmente estupendo! Negociou e obteve para os demais a imortalidade aquele que por natureza era imortal. Em nível de encarnação, jamais existiu, nem existe nem existirá um ser semelhante, a não ser o nascido de Maria, Deus e homem. E não somente pelo mero fato de adequar-se à multidão de réus suscetíveis de redenção, mas porque era, sob todos os aspectos, superior a eles. Pois, enquanto Filho, conserva imutável a mesma natureza que seu Pai; como Criador do universo, possui plenos poderes; como misericordioso, possui uma imensa e inesgotável misericórdia; e finalmente, como pontífice, está ao nosso lado qual idôneo intercessor. Sob qualquer um destes aspectos, jamais encontrarás nenhum outro que se lhe possa comparar. Considera, por exemplo, sua clemência: entregue espontaneamente e, condenado à morte, destruiu a morte que tinham de sofrer os que o crucificavam. Trocou em saudável a perfídia daqueles que o matavam, e que se convertiam por isso mesmo em feitores de iniquidade.

Vinha para salvar, porém lhe era também necessário morrer. Sendo Deus, o Emanuel se fez homem; a natureza que possuía nos trouxe a salvação, a natureza assumida suportou a paixão e a morte. O que está no seio do Pai é o mesmo que se encarna no seio da mãe; o que repousa no regaço da mãe é o mesmo que caminha sobre as asas do vento. O mesmo que nos céus é adorado pelos anjos, na terra se senta na mesa com os arrecadadores de impostos.

Ó grande mistério! Vejo os milagres e proclamo a divindade; contemplo seus sofrimentos e não nego a humanidade. Da mesma forma, o Emanuel, enquanto homem, abriu as portas da humanidade, porém, enquanto Deus nem violou nem rompeu os selos da virgindade. Ainda mais: saiu do útero como entrou pelo ouvido; nasceu do modo que foi concebido. Entrou sem paixão e saiu sem corrupção.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 290-291. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Agostinho para essa Missa clicando aqui.

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