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quinta-feira, 30 de março de 2017

Homilia: III Domingo da Quaresma - Ano A

São Beda, o Venerável
Sermão sobre a samaritana no poço de Jacó
Se conhecesses o dom de Deus

Naquele tempo, Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José. Era aí que ficava o poço de Jacó. Vejam como o Senhor vinha cansado do caminho: Ele pode se cansar entre nós e por nós, estando, ao mesmo tempo, sempre em si mesmo sem nenhum movimento e em perpétuo repouso; e sendo estável em seu movimento e em sua estabilidade móvel. Sentou-se, então, sobre a fonte para aliviar-se de seu cansaço, e em tudo isso teve respeito à sua dignidade e magistério, porque estar sentado é próprio dos mestres que ensinam.
E veio à cidade dos samaritanos para dar-lhes de passagem algum benefício de sua sacra doutrina; e teve por bem achegar-se à herança que Jacó deu a seu filho José, a fim de mostrar a todos como Ele era verdadeiramente Aquele ao qual o santo José havia prefigurado, e aquele ao qual o verdadeiro sol e a verdadeira lua adoram, e ao qual todas as estrelas servem. Ele era, igualmente, aquele José ao qual os irmãos cruéis – que eram os judeus – perseguiam injustamente. Sentou-se sobre a fonte, porque sabia muito bem que ali viria uma mulher, que desde a eternidade Ele soberanamente tinha escolhido para que viesse a crer e se salvar. E assim segue:
Chegou uma mulher da Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: Dá-me de beber. Mas o que é isto, o Senhor pede de beber a uma mulher samaritana, prometendo-lhe - como logo o veremos - a abundância de uma fonte para que bebam os que n’Ele crerem? Mas, na realidade, o Senhor tinha sede, não tanto de beber água, mas da saúde espiritual daquela mulher; e que tal sede era de fato assim, as seguintes palavras o declaram: O meu alimento é fazer a vontade de meu Pai. Pois acrediteis, este é o seu beber, este o seu comer; o seu desejo de alimento e de bebida era ver cumprida naquela mulher a soberana vontade do Pai. Mas a mulher, tendo ainda entendimento carnal, e crendo que a sede do Senhor era corporal, respondeu-lhe:
Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana? A razão de seu espanto explica-se nas seguintes palavras: De fato, os judeus não se dão com os samaritanos. E isto de tal maneira que não dão nem recebem nada deles: os têm por inimigos, porque lhes têm sua terra ocupada, e tendo-os por desprezíveis porque adoram os ídolos juntamente com Deus. Por isso era tido como injurioso chamar um samaritano. Desta injúria se serviram muitas vezes os judeus contra nosso Redentor, chamando-o também de samaritano. Ouçamos o que o Senhor respondeu a esta mulher que ainda estava em trevas e não tinha nenhuma luz:
Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: “Dá-me de beber”, tu mesma lhe pedirias a Ele, e Ele te daria água viva. O dom de Deus não é outra coisa a não ser o Espírito Santo: este é o dom que o Senhor enviou aos seus amigos depois de sua gloriosa Ascensão. Porque, como a santa Escritura o diz: Subindo ao céu levou cativa a catividade, e deu dádivas aos homens; e o santo evangelista diz em outro lugar: Não foi ainda dado o Espírito Santo, porque Jesus Cristo ainda não estava glorificado pela sua Ascensão, de maneira que o Senhor declara à boa mulher que Ele não tinha sede da água que ela pensava, porque sua sede era da sua fé, e para isto queria dar-lhe o dom do Espírito Santo, com o qual apagasse nela a sede espiritual que tinha. Esta água é a mesma da qual o Senhor falou quando estava no templo dizendo: O que tem sede venha a mim e beba, e de seu interior manarão fontes de água viva. O sagrado evangelista, ao declarar estas palavras, acrescentou: Isto dizia o Senhor a respeito do Espírito que havia de vir sobre todos os que cressem n’Ele.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 61-63. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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