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sábado, 17 de dezembro de 2016

Homilia: IV Domingo do Advento - Ano A

São Beda, o Venerável
Sermão V na Vigília do Natal
Ó grande e insondável mistério!

Em poucas palavras, porém cheias de realismo, o evangelista São Mateus descreve o nascimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pelo qual o Filho de Deus, eterno antes do tempo, apareceu no tempo como Filho do homem. Conduzindo o evangelista à sucessão genealógica, partindo de Abraão até chegar a José, o esposo de Maria, e enumerar - conforme o modo costumeiro de narrar as gerações humanas - a totalidade seja dos genitores como dos gerados, e dispondo-se a falar do nascimento de Cristo ressaltou a enorme diferença que existe entre ele e os demais nascimentos: os outros nascimentos ocorrem através da união normal do homem e da mulher, enquanto que Ele, por ser o Filho de Deus, veio ao mundo através de uma Virgem. E era conveniente sob todos os aspectos que Deus, ao decidir tornar-se homem para salvar os homens, não nascesse senão de uma virgem, pois era impensável que uma virgem não gerasse a nenhum outro, senão a um que, sendo Deus, ela o gerasse como Filho.
Eis que, disse o profeta, a Virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel (que significa “Deus conosco”). O nome que o profeta dá ao Salvador, “Deus conosco”, indica a dupla natureza de sua única pessoa. Na verdade, aquele que é Deus nascido do Pai antes de todos os séculos, é o mesmo que, na plenitude dos tempos, tornou-se, no seio materno, no Emanuel, isto é, em “Deus conosco”, porque se dignou assumir a fragilidade de nossa natureza na unidade de sua pessoa, quando a Palavra se fez carne e habitou entre nós, isto é, quando de modo admirável começou a ser o que nós somos, sem deixar de ser o que era, assumindo de tal forma nossa natureza que não ficasse obrigado a deixar de ser o que Ele era.
Maria deu à luz, pois, a seu filho primogênito, isto é, ao filho de sua própria carne. Deu à luz aquele que, antes da criação, nasceu Deus de Deus, e na humanidade, na qual foi criado, superava superabundantemente a toda criatura. E ele lhe pôs, diz, o nome de Jesus. Jesus é o nome do Filho que nasceu da Virgem; nome que significa - conforme a explicação angélica - que Ele salvaria o seu povo dos seus pecados. E aquele que salva dos pecados salvará do mesma forma das corrupções da alma e do corpo, que são sequelas do pecado.
 A palavra “Cristo” designa a dignidade sacerdotal ou régia. Na lei, tanto os sacerdotes como os reis eram chamados “cristos” pela crisma, isto é, pela unção com o óleo sagrado: Eram um sinal de alguém que, ao manifestar-se no mundo como verdadeiro Rei e Pontífice, foi ungido com o óleo de júbilo entre todos os seus companheiros.
Devido a esta unção ou crisma, é chamado Cristo; aos que participam desta unção, ou seja, desta graça espiritual, são chamados de “cristãos”. Que Ele, por ser nosso Salvador, nos salve de nossos pecados; enquanto Pontífice nos reconcilie com Deus Pai; na sua qualidade de Rei, digne-se conceder-nos o reino eterno de seu Pai, Jesus nosso Senhor, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina e é Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 32-33. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

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