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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Homilia: Solenidade de Cristo Rei - Ano C

São João Crisóstomo
Sermão sobre a cruz e o ladrão
A cruz, símbolo do reino

Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. Não teve a audácia de dizer: lembra-te de mim quando entrares no teu reino, antes de ter destituído pela confissão o peso dos seus pecados. Percebes a importância da confissão? Confessou-se e abriu o paraíso. Confessou-se e tal confiança lhe penetrou que, de ladrão, passou a pedir o reino. Vês quantos benefícios nos alcança a cruz? Pedes o reino? E o que vês que o recomende a ti? Diante de ti tens os cravos e a cruz. Sim, porém esta mesma cruz - diz - é o símbolo do reino. Por isso o chamo rei, porque o vejo crucificado: já que é próprio de um rei morrer pelos seus súditos. Ele mesmo o disse: O bom pastor dá a vida pelas ovelhas; portanto, o bom rei dá a vida pelos seus súditos. E visto que realmente deu a sua vida, por isso o chamo rei: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.
Vês como a cruz é o símbolo do reino? Queres outra confirmação desta verdade? Não a deixou na terra, mas a tomou e a levou consigo ao céu. E como me demonstras isto? Muito simples: porque naquela sua gloriosa e segunda vinda aparecerá com ela, para que aprendas que a cruz é algo digno de honra. Por isso a chamou sua “glória”.
Mas vejamos como ele virá com a cruz, pois neste tema convém pôs as cartas viradas para cima. Diz o Evangelho: Se insistirem: “Vede, Cristo está no porão”, não creias neles; “vede, que está no deserto”, não vá. Ele falava deste modo de sua segunda vinda em glória, prevenindo-nos contra os falsos cristos e contra o anticristo, para que ninguém, seduzido, caísse em seus laços.
Como antes de Cristo deve aparecer o anticristo, para que ninguém, buscando o pastor, caia nas mãos do lobo, por isso te deu um sinal para que identifiques a vinda do pastor. Pois como a primeira vinda foi anônima, para que não penses que a segunda ocorrerá de maneira semelhante, te deu esta contrassenha. E com razão a primeira vinda a realizou como desconhecido, pois veio buscar o que estava perdido. Mas a segunda não será assim. Então, como? Porque assim como o relâmpago sai do oriente e brilha até o ocidente, assim ocorrerá com a vinda do Filho do Homem. Imediatamente será manifesto a todos, e ninguém terá que perguntar se Cristo está aqui ou está ali.
Assim como quando brilha o relâmpago não é necessário perguntar se ele ocorreu ou não, assim também na vida de Cristo: não será necessário indagar se Cristo veio ou não veio. Porém, o problema era se aparecerá com a cruz, pois não nos esquecemos do prometido. Escuta, pois, o que segue. Então, diz. Então, mas quando? Quando vier o Filho do Homem o sol se escurecerá, a lua não brilhará. Naquele dia será tal a intensidade da luz que se escurecerão até as estrelas mais luminosas. Então as estrelas cairão; então brilhará no céu o sinal do Filho do Homem. Vês qual é o poder do sinal da cruz?
E assim como um rei ao fazer a sua entrada na cidade, os soldados lhe precedem levando as insígnias do soberano, precursoras de sua chegada, assim também, ao descer o Senhor dos céus, lhe precederão os exércitos de anjos e arcanjos erguendo o glorioso estandarte da cruz, e anunciando-nos desta maneira sua entrada real.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 759-761. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Cesário de Arles para essa Solenidade clicando aqui.

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